Início › Fóruns › Fórum Sobre Filósofos › Nietzsche › Além do bem, do mal e da cognoscibilidade humana
- Este tópico está vazio.
-
AutorPosts
-
12/09/2007 às 18:54 #70737BrasilMembro
Críticas a NietzscheA falsidade de um juízo não pode constituir, em nossaopinião, uma objeção contra esse juízo. Esta poderia ser umadas afirmativas mais surpreendentes de nossa linguagem. Aquestão é saber em que medida este juízo serve para conservara espécie, para acelerar, enriquecer e manter a vida. Porprincípio estamos dispostos a sustentar que os juízos maisfalsos (e entre estes os "juízos sintéticos a priori") são para nósmais indispensáveis, que o homem não poderia viver sem asficções da lógica, sem relacionar a realidade com a medida domundo puramente imaginário do incondicionado e sem falsearconstantemente o mundo através do número; renunciar aosjuízos falsos eqüivaleria a renunciar à vida, a renegar à vida.Admitir que o não-verdadeiro é a condição da vida, é opor-seaudazmente ao sentimento que se tem habitualmente dosvalores. Uma filosofia que se permita tal intrepidez se coloca,apenas por este fato, além do bem e do mal.Além do bem, do mal e da cognoscibilidade humana! Se um juízo “serve” para conservar a espécie, ele é um juízo imprescindível, portanto de certa forma inato.Se renunciar a um determinado juízo equivale a renunciar à vida... Qual o sentido de colocá-lo em pauta? Qual o sentido de cogitar uma renúncia a este juízo? Alguém consegue pensar estando morto?Acho que o homem até poderia viver sem a ficção da lógica, mas não consigo ver o homem em pleno século XIX, XX ou XXI, fazendo ferramentas de pedra e puxando sua fêmea pelos cabelos no meio de um mundão sem objetivo, forma, sentido, tamanho, tempo, propósito nem direção. Talvez minha visão não tenha ido tão longe quanto a do autor da obra que aqui se pretende contemplar.Também pode acontecer que existam fanáticosda consciência, puritanos que preferem morrer sobre uma vãilusão e não .sobre uma incerta realidade. Mas isto não só énihilismo, mas também sintoma de uma alma que se sentedesesperada e fatigada até a morte, por muito valorosa quepossam parecer as atitudes de semelhante virtude. Parece, semdúvida, que nos pensadores mais vigorosos e vivazes, que aindasentem o desejo de viver, as coisas sucedem de outra forma...Os pensadores mais vigorosos e vivazes “que ainda sentem o desejo de viver”, na opinião de Nietzsche seriam os que não acreditam na existência de Deus? Bem, na minha opinião, morrer sobre uma vã ilusão ou sobre uma incerta realidade é a mesma coisa. Acreditar em Deus, pensar que Deus criou o mundo não dá ao pensador certeza de nada, pode ao máximo dar conforto de espírito, nada mais. Dizer que não há lei de causa e efeito e que o Universo pode ter surgido de diversas e incognoscíveis maneiras, incluindo nisso a possibilidade que tenha vindo do nada, também não livra o pensador de uma necessária e infeliz ilusão. Os teístas não sabem como, quando e nem porque Deus criou o Universo, assim como os ateístas , apesar de terem “certeza” de que Deus não existe, não sabem explicar a origem do Universo, nem o propósito da vida. Ilusões e incertezas predominam nos dois pensamentos. Quando um filósofo diz que algo é inexplicável, ele está dizendo que nós humanos não conseguimos explicar, ou que aquilo a que ele se refere não tem absolutamente explicação? Existe por acaso, do nada, sem absolutamente qualquer motivo que o tenha criado/formado/constituído?Para TUDO há uma explicação. Mesmo que esteja muito longe de nosso conhecimento.Não há qualquer ser, livre de incertezas. Uns são ou acreditam ser felizes outros não.A vontade de viver certamente estará relacionada à vontade de potência, mas não é obviamente esta, a ÚNICA FONTE da vontade de viver.Segundo me parece, todo mundo se esforça hoje paraminimizar a influência real que Kant exerceu na filosofia alemãe por dar importância ao problema do valor que ele mesmo seatribuía; Kant estava extremamente orgulhoso de sua tábua decategorias.Pode parecer para Nietzsche que todo mundo se esforça, nos altos do século XIX, para minimizar a influência de Kant no pensamento filosófico mundial, especialmente na Alemanha, mas essa opinião está muito longe de ser um conceito que se possa chamar de fluente ou reconhecido. Contudo, o mundo, desde antes de Homero se esforça para minimizar o que se concebeu como “errado” e, maximizar o que se concebeu como “correto” no decorrer do desenvolvimento da Filosofia ao longo de alguns milênios. Não existiu neste mundo, filósofo que tenha acertado em TODAS as suas teses, assim como não há aquele que tenha errado em absoluto.Isto que digo se afirma em outras palavras pelo próprio Nietzsche:é oportuno repetir afirmativamente que em todafilosofia a "convicção" do filósofo, num preciso momentomostra-se de uma maneira que poderia ser bem expressadaatravés da linguagem de um antigo mistério medieval...Não se distinguia ainda entre "descobrir" e "inventar". A principal descoberta foi a dafaculdade "supra-sensível". Schelling denominou-a intuição intelectual, satisfazendo assim aos mais fervorosos desejos de seus queridos alemães, cujos corações apenas aspiram àpiedade.Aqui Nietzsche demonstra um conceito demasiado generalizador, fazendo um juízo de valor não exatamente contemplando as idéias de Schelling, mas sim, “adivinhando” seus objetivos e aspirações ao concebê-las. Vejamos o que Baumgarten nos diz sobre o supra-sensível:"Objetar-se-á que as faculdades inferiores – a sensibilidade – devem sermais subjugadas do que excitadas e reforçadas. Minha resposta é que: a) o que se exige é o império sobre as faculdades inferiores, não a tirania;b) para esse fim, na medida em que isso pode ser obtido naturalmente,a estética nos leva como que pela mão; c) não se trata, para os estetas,de excitar e reforçar as faculdades inferiores, uma vez que elas estãocorrompidas, mas sim de as dirigir para que não sejam ainda maiscorrompidas por deploráveis exercícios ou, sob o pretexto preguiçosode evitar o abuso, para não deixarmos desaparecer o uso de um talentoque Deus nos concedeu" (Alexander Gottlieb Baumgarten)Aos que desprezam a possibilidade da existência da intuição intelectual ou do supra-sensível, seria conveniente pedir para tentarem definir e dar explicação à origem do sentimento de “compaixão”.Estaria a compaixão - este sentimento que na minha opinião ainda está por ser explicado e definido - relacionado com a vontade de potência? Creio que não. Estaria fundado na necessidade de conservação da espécie? Talvez mas, nesse caso a vontade de potência materializada no mundo financeiro e econômico – que é o mundo em que vivemos - estaria na contra-mão da necessidade de conservação da espécie. Seria um agente contrário à vida e não motivador. Digo isto, dado ao caráter competitivo e inevitavelmente predatório do mundo financeiro e econômico.Estaria a compaixão relacionada com o que? Qual a explicação para tal sentimento? Considerando a existência ou não existência do supra-sensível, caberia perguntar sobre uma possível explicação para a fenomenologia parapsicológica. A para-normalidade, este fenômeno que estranhamente se mantém incógnito às massas. Este fato concreto que estranhamente se mantém afastado das óticas científica e filosófica.A possibilidade da existência ou da inexistência de Deus é colocada sobre o crivo filosófico quase que rotineiramente, porém a para-normalidade, apesar de ser um conjunto de fenômenos cientificamente comprovados, permanecem sem qualquer parecer científico ou filosófico que dê conta de explicá-la.E mais, permanece inacreditavelmente desprezada como campo de estudos. Fenômenos anômalos, formalmente reconhecidos como a psicocinese (efeitos da mente sobre a matéria) por exemplo, são banalizados na medida em que são de difícil explicação para os modelos científicos tradicionais.Assim como o pensamento mundano tenta dar à política um caráter nocivo e corrompido, ao mesmo tempo em que necessitamos da política para manter um mínimo de ordem nas relações sociais e na própria sobrevivência, também da mesma forma se tenta dar um caráter de charlatanice a algo de indiscutível e inquestionável importância. A parapsicologia, no que tange à para-normalidade é visivelmente ignorada no meio acadêmico e corriqueiramente confundida ou maliciosamente rotulada de ocultismo. Mas, existem exceções, e é nas exceções que se revela a sua importância e os motivos dessa aparente falta de atenção do mundo científico e filosófico para com a para-normalidade. Basta dizer que a mais renomada universidade dedicada aos estudos da para-normalidade está situada na Suíça e é mantida pelo Estado, funcionando muito mais como um grande laboratório do que como uma escola formadora de especialistas. Deve-se dizer também que, suas “descobertas” e avanços não são compartilhados com o mundo acadêmico em geral. Enquanto isto causa estranheza em alguns, em outros causa o desconhecimento sobre o assunto e em outros causa ainda a indiferença quanto ao assunto. E, antes de pretender adentrar pelos campos da parapsicologia, mais especificamente da para-normalidade, eu encerro esta parte específica dizendo que: Diante da evidência científica da existência da para-normalidade é IMPOSSÍVEL NEGAR o supra-sensível detectado por Kant, muito menos tentar ridicularizá-lo como tentou fazer o autor da obra aqui criticada. Talvez Nietzsche não tivesse conhecimento destes fenômenos, hoje formalmente reconhecidos em âmbito mundial, contudo, ainda anômalos.A vontade se me apresenta antes de mais nada, como algocomplexo, algo que não possui outra unidade que seu nome enesta unicidade de nome é precisamente onde encontra seufundamento o preconceito que enganou a prudência sempremuito deficiente dos filósofos. Sejamos, pois, mais discretos,menos filósofos e admitamos que em cada vontade existe, antesde mais nada uma infinidade de sentimentos: o do estado doqual se quer sair, o do estado ao qual se tende, a sensaçãodestas duas direções, ou seja "daqui" — "até lá"; enfim, umasensação muscular que, sem chegar a pôr em movimentobraços e pernas, toma parte dele assim que nos dispomos a"querer". Do mesmo modo que o sentir, um sentir multíplice, éevidente que um dos componentes da vontade, contém tambémum "pensar", em todo ato voluntário há um pensamento diretore portanto, deve-se evitar a crença que se pode afastar essepensamento do “querer” para obter um precipitado quecontinuaria sendo vontade. Em terceiro lugar a vontade não é apenas um conjunto de sensações e pensamentos, mas também e antes de tudo um estado afetivo, a emoção derivada do mando, do poderio. O que se chama "livre arbítrio" é essencialmente o sentimento de superioridade que se sente ante um subalterno. "Eu sou livre, ele deve obedecer", eis o que háno fundo de toda vontade, a certeza intima que constitui oestado de ânimo de quem manda. Querer significa ordenar aalgo em si mesmo que obedece ou, pelo menos, é consideradocomo obediente. Mas observemos agora a própria essência davontade, essa coisa tão complexa para a qual o vulgo usaapenas uma palavra. Se fôssemos a um só tempo, aquele quemanda e o que obedece, sentiríamos ao obedecer a impressãode que estávamos sendo obrigados, pressionados esimultaneamente impulsionados a resistir ao movimento,impressões que sequem imediatamente ao ato da volição;porém na medida em que, por outro lado, temos o costume denão fazer caso dessa ambivalência, de enganar-nos a seurespeito graças ao conceito sintético do eu", toda uma cadeia deconclusões errôneas e conseqüentemente, de falsas apreciaçõesda vontade também se ligam ao querer. Como quem acredita deboa fé que basta querer para atuar, assim, na maioria dos casos,alguém se contentou em querer e como também se deve esperaro efeito da ordem, isto é, a obediência, o cumprimento do atoprescrito, a aparência se traduz pelo sentimento de que o atodeveria se produzir necessariamente. Em outras palavras,aquele que quer, acredita que querer e fazer se resumem numaúnica coisa. Para ele o êxito e a execução do querer são efeitosdo próprio querer e esta crença torna mais forte o sentimento depoder, que ele sente, e que o êxito traz como companheiro. O"livre arbítrio": esta é a designação desse complexo estado deprazer do homem que quer, que manda, e que, ao mesmotempo, se confunde com o que executa, gozando assim o prazerde superar obstáculos com a idéia de que é sua própria vontadeque triunfa sobre as resistências.Assim pois, o ato voluntário soma, deste modo, ao prazerde dar uma ordem, o prazer do instrumento que o executa comêxito; à vontade são acrescentadas vontades "subalternas",almas subalternas e dóceis, pois nosso corpo não é mais que ahabitação de muitas almas. L'effet c'est moi: acontece aqui omesmo que em toda coletividade feliz e bem organizada; aclasse dirigente se apropria dos êxitos da coletividade. Em todoquerer se trata simplesmente de mandar e de obedecer dentrode uma estrutura coletiva complexa, constituída, como já disse,por "muitas almas". Portanto o filósofo deveria considerar oquerer a partir do ângulo da moral, a moral como conceito deuma ciência dominante. Donde brota o fenômeno da vida.Concordo que se deva considerar o ângulo moral ao avaliar, tentar definir e explicar a vontade, o querer e o sentir, porém esse não deve ser o único ângulo a se considerar. Vê-se claramente que Nietzsche tem uma ótica centrada no “querer”, por um ângulo político-hierárquico-social, na “vontade” associada às questões de ordem sociológica. Contemplando somente as relações sociais, esquecendo-se da vontade relacionada a outros fatores pessoais. Na minha opinião ele esqueceu-se das vontades que não visam outras pessoas, que não visam ter efeito sobre outros e nem sobre si em relação a outros. Vontades, quereres e sentimentos desvinculados de qualquer intenção consciente ou inconsciente primeira. A vontade, o querer e o sentir não estão necessariamente vinculados e nem são derivados de um sentimento de superioridade sobre o subalterno como disse o autor criticado. Podem sim estar presentes em alguns casos, não em todos. Qual a natureza do sentimento de superioridade sobre o subalterno, na vontade de comer ameixa? E no sentimento de compaixão?Qual o “pensamento diretor” nesses casos? O poder? Creio que não. O poder e a vontade de poder são um caso à parte, extremamente complexos e intrínsecos nos humanos, mas não são em absoluto explicação! Muito pelo contrário: são incógnitas, devendo ser ainda objetos de muita investigação filosófica. Humildemente digo que a vontade não pode ser definida como: “ a certeza intima que constitui oestado de ânimo de quem manda.”. Quer-me parecer que falta muita coisa aí, quase tudo. O que se chama "livre arbítrio" é essencialmente o sentimento de superioridade que se sente ante um subalterno.Meu livre arbítrio permitiu-me a comer ameixas... o que ou quem é superior e o que ou quem é subalterno neste caso específico?Antes de afirmar que o instinto de conservação é o instintomotor do ser orgânico, dever-se-ia refletir. O ser vivo necessitae deseja antes de mais nada e acima de todas as coisas darliberdade de ação à sua força, ao seu potencial. A própria vida évontade de potência. O instinto de conservação vem a ser umaconseqüência indireta, e em todo caso, das mais freqüentes.Resumindo, neste ponto como em outros deve-se desconfiar deprincípios teológicos inúteis tais como o instinto deconservação e o esforço de preservar o ser que se deve àinconseqüência de Spinoza. Assim o exige o método, que deveser essencialmente parco de princípios.Deve-se desconfiar dos princípios inúteis quer sejam eles teológicos ou não. Para tratar de princípios inúteis, evidentemente é conveniente ser parco. Diz-se da Filosofia que esta não atribui muita força ao conceito de “útil”. Eu não concordo! Não concordo que ela não atribui força ao conceito de útil e não concordo que o conceito de útil não tenha força. E mais, entendo que o conceito de útil tem força porque tem valia legítima. Acho que Nietzsche concordaria comigo, afinal, ao menos às suas teorias ele atribui o conceito de utilidade. E é óbvio que a elas ele atribuiu valia legítima também.Não é preciso cometer o erro detornar condicionados causa e efeito, como fazem os naturalistas(e todos que sequem seu método de pensar) segundo ascretinices mecanicistas em voga, que querem que toda causaimpulsione e pressione até produzir um efeito. É convenienteentretanto, não se servir da “causa” e do “efeito” senão emtermos de puros conceitos, ou seja, como ficções convencionaisque servem para designar, para pôr-se de acordo, porém demodo algum para explicar alguma coisa. As “cretinices mecanicistas” da época, sobre causa e efeito, ainda permanecem... Não havendo teoria contrária, ou seja, provando que a primeira está errada, elas permanecem em voga. Longe de pretender explicar, elas são hoje indagações consistentes, pura e simplesmente. No "em si" não há nenhum vestígio de "nexo causal", de "necessidade", de"determinismo psicológico", o "efeito" não é conseqüência denenhuma "causa" , nenhuma "lei" impera ali. Ninguém maisque nós foi o inventor de tais ficções como: a causa, a sucessão,a reciprocidade, a relatividade, a necessidade, o número, a lei, aliberdade, a razão, o fim, e quando introduzimos falsamente nas"coisas" este mundo de símbolos inventados, quando oincorporamos às coisas como se lhes, pertencesse "em si" maisuma vez, como sempre fizemos, criamos uma mitologia. E, se tentarmos nos ver sem esse mundo de símbolos, se tentarmos nos ver alheios a tudo isso, jamais veremos seres humanos. Veremos seres vivos vegetativos, é até possível que vejamos seres que se movam, não muito mais que isso. Entendo que essa seja uma visão no mínimo coerente. Não sei que orgulho limitado me inspira esta Insensataesperança, posto que, ainda que estando conscientes de que soisvosso próprio tirano, insistis em vosso erro, acreditando, que aNatureza se prestará à tirania, como se o estoicismo não fossetambém parte da natureza. Tudo isso, entretanto, é uma velha eeterna história, a filosofia, no fundo da Natureza, e seu contextovisível, é apenas esse instinto tirânico: a vontade de potênciaem seu aspecto mais intelectual, a vontade de "criar o mundo" eimplantar nele a causa primeira.Então, a causa primeira é uma invenção fruto da vontade de potência? Bem, falando-se em origem ou explicação para o Universo, é difícil acreditar que a ação causai seja fruto da vontade de potência, a não ser que Nietzsche estivesse referindo-se à vontade de potência do ser onipotente; Deus.Aqui tem uma brilhante explanação sobre isso: O efeito preexiste na causa. Este axioma significa, não apenas que o efeito preexiste virtualmente na causa, mas ainda que ele preexiste de uma maneira mais perfeita nela do que existe em si mesmo, enquanto produzido e realizado.De um lado, se a causa não possuísse virtualmente toda a perfeição do efeito, este viria do nada, ou o mais viria do menos, o que é absurdo. — De outro lado o efeito, antes de ser produzido, nada mais é do que a causa enquanto potência de produzi-lo, e, realizado, não é senão um aspecto parcial da perfeição da causa, o que equivale a dizer que a causa é necessariamente mais perfeita do que o efeito. (Régis Jolivet)Creio que é chegado o momento de substituir a pergunta deKant: "Como são possíveis os juízos sintéticos a priori?" poresta outra pergunta: "Por que é necessário acreditar nesta classede juízos?" Devemos lembrar que a conservação de seres denossa espécie necessita desses juízos que devem ser tidos!como verdadeiros, o que não impede por suposição, quepossam ser falsos, ou, para sermos mais claros, mais chãos eradicais: os juízos sintéticos a priori não deveriam ser "prováveis".Bem, isso implicaria em nada mais nada menos que ignorar a Matemática, a Geometria, a Física, a Cosmologia, e tantas outras ciências que nos tornaram parte considerável do que somos, incluindo nisso, a vasta cultura e a produtiva intelectualidade do autor da obra mundialmente consagrada que aqui tentamos refutar. A assertiva abaixo explica isso com um pouco mais de propriedade:A solução de Kant então é essa, que o conhecimento sintético depende de formas de sensibilidade e intelecção previamente existentes na qual as impressões são colocadas. É porque possui o espaço como uma estrutura inerente à sua sensibilidade que o sujeito cognoscente pode perceber os objetos como relacionados espacialmente. Pode-se pensar o espaço sem coisas, mas não as coisas sem o espaço. (Rubem Queiroz Cobra) Nós não temos nenhum direito sobre eles ( juízos sintéticos a priori) , sãocomo tantos outros juízos falsos que pronunciamos. Entretanto,necessitamos considerá-los verdadeiros: isto nada mais é queuma suposição imprescindível para viver.Se necessitamos considerá-los verdadeiros, se são imprescindíveis para se viver... E, se para viver é preciso “falsear o mundo”... Assim o faremos. Para falsear o mundo é preciso pensar... Podemos até tentar nos negar a pensar, mas não podemos tentar nos negar a viver. [hr]A presente crítica ou possível elogio à obra Além do Bem e do Mal de Friedrich Nietzsche tem o objetivo de ser continuada com a livre colaboração dos demais freqüentadores deste fórum, sendo que a leitura que deu origem até este ponto da crítica, foi apenas o primeiro capítulo denominado: O Preconceito dos Filósofos.
13/09/2007 às 3:11 #85398AlanoMembroSobre o conjunto das afirmações, penso o seguinte,Há muito devaneio na história do pensamento humano. Não me parece gratuito. Parece-me um resultado ou da ignorância ou da má-intenção.Todos nós, formigas, amebas, cabras, elefantes e homens, existimos para apenas um propósito: SOBREVIVÊNCIA (e, se possível, expansão) da ESPÉCIE.Todo o restante são lutas de caráter POLÍTICO-HIERÁRQUICO-MILITAR, que, em outras palavras, é luta pela vida, em suas diversas arenas. A velha LEI-DO-MAIS-FORTE ainda é a mais atuante. Há muita Filosofia e pouca razão prática! Se queremos ter um pé na realidade e não apenas no devaneio, precisamos entender a arena POLÍTICO-HIERÁRQUICO-MILITAR e a velha LEI-DO-MAIS-FORTE. Ignorá-la é uma ingenuidade cujo preço pagam os inocentes.Desculpem o mal-jeito!
13/09/2007 às 15:09 #85399BrasilMembroHá muito devaneio na história do pensamento humano. Não me parece gratuito. Parece-me um resultado ou da ignorância ou da má-intenção.
Sim, eu diria que são as duas coisas concomitantemente responsáveis por isso.
Todos nós, formigas, amebas, cabras, elefantes e homens, existimos para apenas um propósito: SOBREVIVÊNCIA (e, se possível, expansão) da ESPÉCIE.
Concordo.
Todo o restante são lutas de caráter POLÍTICO-HIERÁRQUICO-MILITAR, que, em outras palavras, é luta pela vida, em suas diversas arenas. A velha LEI-DO-MAIS-FORTE ainda é a mais atuante.
Gostaria de ver suas considerações a respeito disto, pois para mim o “mais forte” pode significar uma coisa e pra você pode significar outra.
Se queremos ter um pé na realidade e não apenas no devaneio, precisamos entender a arena POLÍTICO-HIERÁRQUICO-MILITAR e a velha LEI-DO-MAIS-FORTE. Ignorá-la é uma ingenuidade cujo preço pagam os inocentes.
Por favor dê-nos algumas palavras sobre sua visão desta “arena”, pois eu também concordo com esta definição, mas novamente precisamos saber se estamos falando da mesma coisa.Att
14/09/2007 às 16:07 #85400AlanoMembroResondendo às inquirições do Sr. Brasil:1- Lei-do-mais-forteForça-maior não significa necessariamente força fisica. Pode ser o nivel de energia do individuo ou grupo, pode ser sua inteligência ou argúcia. Em termos gerais, o que caracteriza os mais fortes são coisas como: Força física, Número, Energia (Incisividade e persistênci), Inteligência, Argúcia, Experiência.2- Arena Politico-HierárquicaA vida dos animais superiores, como o Homem, se organiza hierarquicamente. Os mais hábeis ou fortes, ocupando lugares de privilégio ou mando em relação a seus supostos iguais. Este privilégio não é apenas vantagem militar, mas ganhos devidos, pois tais indivíduos são os líderes mais capazes do grupo em questão. Não fossem, não teriam meios de ocupar seus nichos de espaço, pois o grupo todo não é acéfalo e tem poder de julgamento, mesmo que limitado, em comparação com a elite dominante. Enganos acontecem, mas, normalmente, quem ocupa as melhores cadeiras hierárquicas as ocupam por justo merecimento. No mínimo são os mais fortes, senão os mais honestos ou justos; o que basta para que ocupem competentemente seus posto. Donde vem a máxima popular: "A lei-do-mais-forte todavia não foi revogada." e eu acrescentaria: Gostemos ou não!Abraço a todos!
14/09/2007 às 18:39 #85401BrasilMembroForça-maior não significa necessariamente força fisica. Pode ser o nivel de energia do individuo ou grupo, pode ser sua inteligência ou argúcia. Em termos gerais, o que caracteriza os mais fortes são coisas como: Força física, Número, Energia (Incisividade e persistênci), Inteligência, Argúcia, Experiência.
Número? Poderia explicar melhor?
15/09/2007 às 8:06 #85402BrasilMembroCríticas a NietzscheNinguém, por muito complacente que seja, admitirá queuma doutrina é verdadeira pelo simples motivo de que nostorne felizes e virtuosos, excetuando-se talvez, os amáveisidealistas, entusiastas, do bom, do verdadeiro, e do belo, queacreditam estar circundados por toda classe de coisas que,ainda que confusas, são tão rústicas quanto aprazíveis.A felicidade e a virtude não são argumentos. Entretanto existemespíritos reflexivos com tendência a esquecer que a desgraça ea maldade não são também objeções válidas. Uma coisa podeser verdadeira ainda quando prejudicial e perigosa no mais altograu, pois poderia acontecer que o fundamento radical daexistência implicaria que não se pudesse ser conhecido a fundo,a não ser através da morte, de modo que o vigor de um espíritofosse medido pela dose de "verdade" que pudesse suportar, ou,mais exatamente, até que grau fosse preciso adoçar a verdade,velá-la, falseá-la. Porém é indubitável que os maus e osdeserdados possuem mais e maiores dotes para descobrir certaspartes da verdade e tem mais possibilidades de consegui-lo eisto pode ser percebido sem que se fale aqui dos maus que sãofelizes, espécie acerca da qual os moralistas preferem calar. Épossível que para o nascimento do espírito vigoroso eindependente sejam mais favoráveis a dureza e a astúcia queessa fina, doce e complacente frivolidade e essa arte de aceitálafacilmente, que apreciamos com tanta justeza no homemcultivado. Stendhal acrescenta um último traço ao esboço dofilósofo de pensamento livre, traço que não quero deixar desublinhar para o refinamento do gosto alemão e porque vaicontra esse gosto: "Para ser filósofo — disse esse último grandepsicólogo — é preciso ser claro, seco, equânime, isto é, paraver claro dentro do que é.Um banqueiro que enriqueceu tem uma parte do caráterrequerido para fazer descobertas em filosofia, isto é, para verclaro no que é”.Não é a toa que Nietzsche tenha evoluído à loucura... Digo isso sem qualquer ironia! Nietzsche via sabedoria filosófica na astúcia de um banqueiro! Isso pode ser muito prático para esse mundo que ele pensava estar nos revelando... Porém, de filosofia não tem absolutamente nada!As palavras são de Stendhal, mas Nietzsche corrobora o seu raciocínio.Um “banqueiro que enriqueceu” tem capacidade de avaliar com sabedoria “o que é”, dentro de um jogo do qual ele já está viciado; o jogo financeiro. Nada mais. Dentro desse jogo ele é “o maior” Porém o mundo não é um jogo financeiro! Muito ao contrário disso! O mundo não existe e evolui devido aos juros nem às hipotecas.Filosoficamente falando, um banqueiro é a não-filosofia em pessoa.Todo espírito profundo necessita uma máscara.Mas, entretanto, em torno de todo espírito profundo se formaconstantemente uma máscara, graças à interpretação,continuamente falsa, isto é, superficial, dada a todas suaspalavras e a todas manifestações de sua vida.É importante demonstrar a si mesmo que se está destinadoà independência e ao mando, porém é preciso que se o faça atempo. Não se deve afastar a obrigação de fazer estas provas,más também não ligar-se a ninguém, porque toda pessoa é umaprisão. E muito menos ligar-se a uma pátria, ainda que seja amais maltrapilha e mendicante, e não esquecer que é menosdifícil desligar-se de uma pátria vitoriosa. Realmente, para empreender todas essa artimanhas é necessário uma máscara!Não se deixar prender por um sentimento de compaixão, ainda que seja emfavor de homens superiores, cujo martírio e angústia nãotivesse defesa. Não se apegar a uma ciência, ainda que nos.seduzam as descobertas que parece nos reservar. Não seprender às próprias virtudes e ser vitimado, como um todo, poruma de nossas qualidades particulares, por exemplo, por nossa"hospitalidade"; como o perigo dos perigos nos alunos nobres ericos que se dissipam prodigamente e quase com indiferença,desenvolvendo mesmo o vicio da virtude da liberalidade! Nãonos apegarmos a nossas virtudes, não nos sacrificarmos a umainclinação particular. Deve-se saber concentrar-se e conservarse,o que é a melhor prova de independência.Sim! Independência, egoísmo e um instinto super-potencializado e totalmente desnecessário de auto-preservação. Qual o problema com o sentimento de compaixão? Faz mal a quem? Ao mundo? Aos homens? Na verdade o autor parece nunca terminar um raciocínio pulando diretamente a outro sem dar definição a nada... Lança ao ar diversas propostas sugestivas totalmente absurdas sem dizer exatamente a que interessaria tal atitude ou ponto de vista. Coisas como: ignorar a lógica, abolir a moral, não ter compaixão, etc. "Insanidades intelectuais”. Coisas que, em se tratando de filosofia, até seriam frases perdoáveis se tivessem um sentido, uma explicação e não raciocínio novo em cima de raciocínio novo sem dar definição ou justificativa para tais propostas. É irremediável: é necessário responsabilizar e julgar sempiedade, os sentimentos de dedicação e sacrifício pelo próximo,toda a moral da abnegação; com a estética da "concepçãodesinteressada" pela qual a desvirilização da arte tenta, muisutilmente, conseguir uma boa consciência.Os sentimentos que pretendem existir "para os demais" e "nãopara mim" possuem um encanto excessivo e uma dulçura que,por serem muito insinuantes, nos tornam desconfiados. E nosperguntamos: "Não será tentativa de sedução?" O fato de taissentimentos serem do agrado daqueles que os experimentam einclusive do simples espectador, não é um argumento a seufavor, mas sim um convite à prudência. Sejamos, pois,prudentes.Maravilhoso! Esta é a receita para a sociedade perfeita!“Não será tentativa de sedução?” Pelo sim e pelo não... Sejamos prudentes e extirpemos de nossas mentes todos os resquícios que ainda sobrarem dos sentimentos de compaixão. Com certeza isto resolverá muitos problemas existenciais.Oh! Voltaire! Oh! Humanidade! Oh! Estupidez! A“verdade”, a busca da verdade são coisas delicadas. Desde omomento em que o homem se conduz nesse aspecto de ummodo demasiado humano, — quando busca a verdade apenaspara fazer o bem" -, pode-se dizer, e eu o sustento, que nãoencontra nada.Mais uma vez, sem dar definição ao raciocínio. Se não buscar para o bem, vai buscar para que?O que é bom para mim, não ébom para o paladar do vizinho. E como poderia haver um "bemcomum"? Esta frase encerra uma contradição. O que pode serdesfrutado em comum é sempre coisa de baixa, definição, depouco valor. Enfim, as grandes coisas estão reservadas para osgrandes espíritos, os abismos para os espíritos profundos; asdelicadezas e os calafrios reservados aos refinados, numapalavra, raridades para os raros.O conceito de “bem comum” não pode ser reduzido ao fútil prazer de um paladar. Isso é uma leviandade para com o pensamento humano. Uma subestimação da real consciência da condição humana.Um bom vinho permanece por anos esperando o seu felizardo e raro consumidor, num processo que consiste em nada mais nada menos que esperar para consumir... Portanto não há porque ser chamado raro. Todo o processo que o torna “especial” e por isso reservado aos “raros”, consiste numa simples enganação, num falsete comercial. Só é raro porque ficou guardado por um prazo comercialmente estipulado.Isso é só um exemplo para demonstrar que o conceito de “raro” do autor, está completamente equivocado seja ele qual for, partindo destes termos.Para falar semmeias palavras, são niveladores, desses que se chamamerroneamente "livre-pensadores", escravos a serviço do gostodemocrático, homens privos de solidão, de uma solidão quelhes seja própria, são, enfim, ridiculamente superficiais,sobretudo por sua tendência fundamental de ver nas formas daantigüidade a causa de toda miséria humana. Sua aspiração é afelicidade do rebanho, as verdes pastagens, a segurança e obem-estar. As duas cantilenas que repetem até o cansaço são "aigualdade dos direitos" e a "compaixão relativamente a todo serque sofre"; consideram que o sofrimento é algo que deve serexterminado. Nós vemos as coisas a partir de um ponto de vistaoposto a este, e nosso espírito está aberto diante desteproblema. Em que condições e em que forma a planta humanadesenvolveu-se mais vigorosamente até agora? Acreditamosque isto se produziu sempre em condições completamenteopostas, que foi necessário que o perigo que acicata a vidahumana crescesse até a enormidade. Acreditamos que ainsensibilidade, o perigo, a escravidão, que se encontramsempre na rua e nos corações, a clandestinidade, a austeridade,toda classe de bruxarias, tudo o que é mau, terrível, tirânica,tudo que existe no homem de animal predador ou de réptil, é damesma forma que seu oposto, útil para elevar o nível da espéciehumana. E com isto não dizemos o bastante; o que devemosdizer e calar aqui rim coloca contra a teologia moderna e contratodos os desejos do rebanho. E que há de surpreendente se nós."espíritos livres", somos infimamente comunicativos? Se nós,em nenhuma forma e nem sob nenhum aspecto, não nospreocupamos em descobrir de que o espírito deve livrar-se e aoque deve lançar-se depois? Deveria livrar-se da segurança, da felicidade do rebanho, do bem-estar, das verdes pastagens etc. e lançar-se ao mal? Novamente sem conclusão do raciocínio...Os homens modernos, com sua indiferença por todanomenclatura cristã, não se ressentem mais dosuperlativamente horrível, que para o gosto dos antigos seencerrava no paradoxo da fórmula: "Deus na Cruz". Mas emnenhum outro lugar se encontrou até agora tamanha ousadia nainversão de idéias, nada de tão terrível, de tão interrogativo e dediscutível como aquela fórmula: prometia uma revolução totalde todos os valores antigos. É o Oriente, o profundo Oriente, oescravo oriental, que assim se vinga de Roma e de suatolerância aristocrática e frívola, do "catolicismo" romano dainficredulidade, e sempre foi assim, não em termos de fé, masda liberdade da fé, a indiferença estóica e sorridente contra aseriedade da fé, que suscitou o desdém dos escravos contra seussenhores, que os lançou em rebelião contra esses. O"Liberalismo" provoca a desdém, uma vez que o escravo desejaapenas o incondicionado, ele compreende apenas o tirânico,ainda que na moral, ame como odeia, sem gradações, mas até aúltima profundidade, até a dor, até a moléstia — toda suagrande miséria oculta rebela-se contra o gosto aristocrático queparece negar a dor. Manter-se céptico diante da dor, que nofundo é uma postura da moral aristocrática, contribuiugrandemente para a grande insurreição dos escravos, começadacom a revolução francesa.Este é o autor lido e elogiado por celebridades e intelectuais alegres da nossa mídia?"A filosofia de Pascal é o suicídio da razão, Voltaire é estúpido, Lutero era um bárbaro do norte, Spinoza que era um inconseqüente, da mesma forma que Giordano Bruno, eram eremitas por necessidade e tornaram-se mestres em matéria de ódio e nuns envenenadores, Schopenhauer além de ter crenças supersticiosas, fez como os “outros filósofos” adotando e exagerando ao máximo um preconceito popular... O mundo se esforça para minimizar a influência de Kant... Platão e seus seguidores eram simples comediantes sem a menor sombra de seriedade..."Sinceramente, isso não é filosofia. E eu só estou no terceiro capítulo...
15/09/2007 às 13:32 #85403AlanoMembroBrasil,Com número quero dizer a quantidade de individuos de um grupo político-militar (todos são, não?)PS: Estão muito boas suas observações sobre o Nietzsche! Abraço,
16/09/2007 às 4:49 #85404BrasilMembroExiste uma grande variedade na crueldade religiosa: mas trêstipos são os mais importantes. Sacrificavam-se homens ao Deuse precisamente aqueles mais amados entre os outros — a estacategoria pertenciam os sacrifícios das primícias, comum atodas religiões pré-históricas e também o sacrifício doimperador Tibério na gruta de Mitra na ilha de Capri, o maishorrível de todos os anacronismos romanos. Depois durante aépoca moral da humanidade sacrificou-se ao próprio Deus ospróprios instintos mais poderosos, a “natureza”; a alegria detais sacrifícios brilha no olhar cruel do asceta, do fanáticocontra-natura. Finalmente o que restava a sacrificar? Não sechegaria ao ponto de sacrificar tudo aquilo que havia deconfortante, de sagrado, de sadio, a ponto de sacrificar aesperança, a fé numa secreta harmonia, na beatitude e na justiçaeterna? Não se devia sacrificar ainda a Deus e por crueldadecontra si mesmo adorar a pedra, a estupidez, a força dagravidade, o destino, o nada?Sacrificar Deus ao nada — este mistério paradoxal daextrema crueldade foi reservado à geração presente: todos nósjá sabemos alguma coisa.Se no final do século XIX Nietzsche já tinha esta opinião, que dirá se ele vivesse em nossos dias? Caberia refletir até que ponto as teorias de Nietzsche foram assimiladas e de que forma foram interpretadas pela geração subseqüente à sua. A geração que 14 anos após sua morte deu início a uma das mais horrendas passagens da história da humanidade, onde todo o ódio e desumanidade “contidos pela moral” se afloraram. Onde caberia também dizer que o “Deus na Cruz” citado por Nietzsche, pareceria uma banalidade infantil diante de tanta “genialidade bélica”. E mais adiante em 1945 quando o mundo assistiu perplexo o extermínio de nada mais nada menos que 60 milhões de pessoas em 5 anos e, num espetáculo de desenvolvimento humano-armamentista jamais antes imaginado, viu queimar cem mil em um segundo no Japão.Se "o mundo se esforça para minimizar a influência de Kant" , como acreditava o autor da obra aqui criticada, vale refletir o quanto o mundo maximizou as suas.
16/09/2007 às 19:58 #85405AlanoMembroComentado as observações do Brasil sobre Nietsche.Lí sua biografia, mas pouco li da obra de Nietzsche. Não gostei de Lê-lo. Ele se mostra francamente confuso, insensato e com a intenção manifesta de chocar. Mostrava-se um homem isolado, desadaptado e atormentado; corroido pela solidão e pelo sentimento de infortúnio. Não pretendocom isto tirar o brilho de algumas de suas criações, como o SuperHomem e a Morte de Deus, que foram conceitos que marcaram época. Sua ótica parece ter sido a de DENUNCIAR o homem-lobo que, astutamente, insiste em mostrar-se em pele de cordeiro. Gosto desta abordagem, creio que convém à filosofia DESNUDAR o homem até que apareçam indubitáveis, todos seu ossos, garras e afiados caninos.Abraço,Alano
16/09/2007 às 21:50 #85406Miguel DuclósMembroOlá Brasil, muito interessante esta sua proposta de nos colocar a par de sua leitura cuidadosa de uma obra de Nietzsche. Em filosofia este “corpo a corpo” direto com o texto clássico, sem intermediação de comentadores, pode nos proporcionar uma riqueza de leitura e podemos enxergar o autor livre dos “direcionamentos” que a visão do comentador necessariamente impõe, já que um texto clássico admite sempre um sem número de correntes e tradições interpretativas. No caso de Nietzsche a recepção de sua obra através dos pensadores franceses do final do século XIX e principalmente no XX (Bataille, Derrida, Foucault, Deleuze e outros) foi significativa para que ele adquirisse esta dimensão que hoje tem… Se você tomar a filosofia como uma laranja dividida em dois grandes gomos, podemos considerar que o gomo maior representa a tradição durante muito tempo triunfante, a platônico-aristotélica, realista que considera que é possível conhecer; que o homem é dotado do instrumento da razão e esse é suficiente para desvendar o mundo. Outra tradição menor, a qual Nietzsche se liga, não considera que é possível à razão tudo conhecer... aí estão o relativismo dos sofistas, o ceticismo pirrônico... Nietzsche elege o devir heraclatiano como o melhor representante do esplendor da cultura grega e Sócrates e Platão como agentes da decadênica corporal e espiritual. O cerne desta questão está na subordinação deste mundo em um outro mundo... o chamado "Mundo Verdade", que seria o verdadeiro, incorpóreo, sobre-mundano. Para Nietzsche é uma desconfiança mesquinha em relação à abundância da Terra e à vida plena supor que a vida não é essa, que o mundo não é esse.Para criticar boa parte dos pensadores da filosofia e se colocar na posição de antípoda foi necessário uma boa dose de coragem e também pagar-se um alto preço... talvez a própria loucura e a solidão perante a doença. Por outro lado, penso que se Nietzsche adquiriu o estatuto de grande filósofo, também não foi a toa. É preciso pois ler os escritos com os olhos livres... Se existem muitos pontos polêmicos e outros tantos que parecem absurdos, encontramos também uma escrita sofisticada e muitas vezes brilhantes (e aí é necessário tomar cuidado com a tradução para que isto não se perca). Como você notou, o modo de exposição dele não é, em geral, sistemático, mas antes a-sistemático, aforismático, e muitas vezes mesmo poético. Porém, o domínio da linguagem em Nietzsche é pleno.Abs
16/09/2007 às 23:09 #85407BrasilMembroOlá AlanoImaginei que ao usar a palavra “número” vc estivesse se referindo às posses dos indivíduos ou grupos. Pois, sem querer te desdizer até porque concordei com vc, mas vc não citou a real condição que dá característica de força a um indivíduo ou grupo; O dinheiro acumulado; as posses. Essa é a real condição que caracteriza força. Veja, quando vc definiu a arena político-hierárquica, vc disse como deveria ser, mas não disse como realmente é. As pessoas que ocupam as mais importantes cadeiras hierárquicas não as ocupam por justo merecimento. As influências de todos os tipos de interesses simplesmente comandam tudo. Se o “justo merecimento” estiver associado ou relacionado à capacidade de articulação política, eleitoral e consequentemente mafiosa, eu diria que sim, mas se o justo merecimento estiver relacionado com o propósito original da Política, aí eu digo que não.Vc disse: “No mínimo são os mais fortes, senão os mais honestos ou justos” - Eu diria que vc acertou em cheio na primeira, mas nas outras... acho que não.A força está totalmente relacionada ao dinheiro e é daí a origem de toda as “lutas” políticas, hierárquicas, militares e humanas em geral.Abolir o uso de dinheiro é algo muito difícil de se fazer, mas possível, e tem uma finalidade, já, abolir a lógica, a moral e a compaixão, me parece mesmo loucura.Fico admirado ao ver as pessoas afirmarem categoricamente que a moral deveria ser extinta, a moral aprisiona o homem, etc. Elas conseguem ver um mundo harmônico e feliz, sem moral, mas não conseguem ver esse mesmo mundo sem dinheiro.Do mesmo modo procedem os entusiastas do Anarquismo; vêem um mundo melhor sem leis e sem governo, mas nem cogitam sobre a origem de todas corrupções legislativas, executivas, judiciárias e sobretudo as sociais.Abraço
16/09/2007 às 23:09 #85408BrasilMembroOlá Miguel, obrigado pelo seu comentário sempre ponderado e principalmente cheio de informações importantes e em pró do bom e livre pensamento filosófico.Abração
18/09/2007 às 23:46 #85409BrasilMembroQuem observou bem o mundo, adivinha facilmente quantasabedoria existe no fato dos homens serem superficiais. Oinstinto de conservação ensina rapidamente a ser leviano,volúvel e falso. Há sabedoria nesse instinto de conservação animal? Eu sempre encarei esses instintos como selvagens e, portanto em involução nos humanos. Pois, para conservar um ser humano vivo e sadio basta a Natureza. Para usufruir da Natureza não é necessário ser leviano, falso e nem volúvel. Esse “mundo” que Nietzche observa é o mundo financeiro e econômico; o mundo competitivo inventado pelos homens. Não é o mundo natural, é o mundo alterado em conformidade com os erros e acertos dos homens. Isso é indiscutível na minha opinião. Se estamos questionando valores humanos que datam desde os primórdios da humanidade, como a compaixão, a moral, a ética etc., há que se considerar o homem desde os seus primórdios e não só o homem de hoje preso a um mundo hipócrita que ele mesmo inventou e se esqueceu deste "pequeno" detalhe. Encontra-se cá e lá uma adoração apaixonada eexagerada pelas "formas puras" tanto entre os filósofos, quantoentre os artistas: mas, sem dúvida, aquele que acha tãonecessário o culto da superfície deve ter feito algumastentativas mal sucedidas de ver "sob" a mesma. E ainda existeum grupo em relação com estes cérebros inflamados, filhos dosartistas natos, para os quais não existe outra forma de gozar avida além da alteração de sua imagem (de certa forma, penosavingança contra a vida). Poder-se-ia deduzir o grau ou a medidaem que lhes é detestável a vida de acordo com o modo peloqual desejam falsear sua imagem, diluí-la, transcendê-la,divinizá-la. O temor profundo de cair num pessimismoincurável obriga a aferrar-se a uma interpretação religiosa daexistência. O instinto teme a verdade que chega ao homemantes que este tenha se tomado suficientemente forte, duro eartista. Neste aspecto, a "compaixão", a "vida em Deus"apareceriam como o produto mais refinado e esquisito do medoà verdade, como uma devoção e embriaguez de artista ante amais sistemática de todas as falsificações. Possivelmentejamais tenha havido meio mais eficaz para embelezar o homemque a piedade; é ela que o transforma em arte, em superfície,em jogo de cores, bondade, chegando até a deixar de sofrer.Assim, pois, poder-se-ia considerar a todos esses artistas comohomines religiosi do mais alto grau.Bem, se sendo piedoso chega-se até a parar de sofrer... Ótimo! Aí está um ótimo remédio para parar de sofrer segundo Nietzsche. Quando Nietzsche diz que a compaixão “apareceria como um produto mais refinado do medo” aos que acreditam em Deus, ele se esquece que os que NÃO acreditam em Deus, também têm este mesmo sentimento. Como Nietzsche explicaria isso? Os ateus e admiradores de Nietzsche deveriam fazer-se esta pergunta. Ou será que os ateus não sentem compaixão em hipótese alguma?Abraços inquiridores ;D
19/09/2007 às 2:29 #85410BrasilMembroEntre os homens como em qualquer outra espécie de animaishá um resíduo de abortados, de doentes, de degenerados, defracos, que sofrem necessariamente, os casos bem sucedidossão também no homem sempre uma exceção e pode-se dizer,refletindo que o homem é um animal ainda não determinado,que esses são uma rara exceção. Mas, pior ainda, quanto maiselevado é o tipo do homem, que é representado por esseindivíduo, tanto menos provável que seja bem sucedido; ocasual, a lei do irracional se manifestam em toda a economia dohomem na forma mais terrível, no efeito distributivo queexercem sobre os homens superiores, nos quais as condições devida são delicadas, múltiplas e dificilmente calculáveis.Que atitude assumem as maiores religiões frente a esteexcesso de casos falhados? Tendem a conservá-los, mantê-losvivos com todos os meios possíveis, tomam partido por eles,uma vez que são religiões dos sofredores, dão razão a todosaqueles para os quais a vida é uma moléstia e querem fazer crere tornar possível que todos os outros modos de viver e sentir avida são falsos e impossíveis. Por mais alto que se possavalorar uma tal terna preocupação de tomar compatível econservar, ao mesmo tempo em que a mesma se estendeinclusive ao tipo mais elevado, e até agora sempre o maissofredor, do homem — afinal de contas as religiões soberanastêm sido a principal causa da manutenção do tipo "homem"num grau mais baixo — conservaram demasiado daquilo queestava destinado a perecer. Devem-se a elas benefíciosinestimáveis, e quem tem um tesouro de reconhecimento paranão se tornar pobre diante disso, que, por exemplo. fizeram os"homens espirituais" do cristianismo para a Europa?!Confortavam-se os sofredores, infundia-se coragem aosoprimidos e aos desesperados, emprestavam seu braço paraaqueles que não podiam caminhar por si mesmos, atiravam-se,longe do mundo, nos conventos, casas de correção da alma,todos os insatisfeitos, os náufragos da sociedade humana; o quedeviam fazer ainda para poder contribuir com boa consciência epremeditadamente para a conservação máxima de tudo aquiloque estivesse doente e sofrendo, ou para falar mais claramente,para a deterioração da raça européia?“lebendig die Ariere!!” He he he...O que dizer? Fazer um discurso em pró da vida humana seja ela de um fraco ou forte, bonito ou feio, europeu ou congolês? Evocar inutilmente o nome de Deus? Falar do direito inalienável à vida? Palavras, palavras, palavras... O que são as palavras? O que são as opiniões?Uma velha estória oriental me veio à mente: Era costume num país do extremo oriente, os jovens levarem seus pais para viverem sós nas montanhas quando estes atingiam idade avançada e já não conseguiam mais se locomover nem fazer sua higiene íntima sem ajuda de outros. Eram levados às montanhas e abandonados.Um jovem que levou seu pai para este destino, ao chegar no locar que pretendia abandoná-lo, disse ao velho: Pai, como é costume de nosso povo, eu o trouxe até aqui para abandonar-te, mas não quero que sofras; trouxe estes dois cobertores para não passares frio. O pai, atencioso como sempre, disse: Guarda um pra ti filho. Quando teu filho te trouxer para cá, ele pode não ser com você, tão piedoso quanto você está sendo comigo, obrigado filho.
19/09/2007 às 20:39 #85411AlanoMembroGrande parte da minha dificuldade de compreender o homem foi ter partido do pressuposto que “O homem é um animal racional” (Esta pouca-verdade se aprende na infância e me parece bem popular). Se trocarmos "racional" por "emocional" fica bem mais conforme. Se suprimirmos o adjetivo inteiramente, tangemos muito mais ainda a verdade. Abraço!
-
AutorPosts
- Você deve fazer login para responder a este tópico.