Início › Fóruns › Fórum Sobre Filósofos › Nietzsche › Além do bem, do mal e da cognoscibilidade humana
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20/09/2007 às 1:59 #85412BrasilMembro
Os princípios servem para tiranizar os próprios hábitos, ajustificá-los, honrá-los, vituperá-los ou escondê-los — doishomens de princípios iguais desejam alcançar, provavelmente,coisas fundamentalmente diferentes.Os princípios devem ser honrosos, as honras devem ser morais, a moral deve ser justa, a justiça deve ser imparcial e a imparcialidade deve ser honesta, a honestidade é útil e a utilidade da honestidade é preservar a espécie."Piedade para todos" — seria dureza e tirania contra timesmo, meu Caro!Só se eu fosse o rei da cocada preta na Bahia!! Piedade só pode fazer mal à ganância, à crueldade e à perversidade.Envergonhar-se da própria imoralidade é um degrau daescada no extremo da qual se sentirá vergonha da própriamoralidade.Envergonhar-se da própria imoralidade é o primeiro degrau a ser vencido rumo à correção do caráter.O delinqüente de modo muito freqüente não está à altura deseu delito: ele o empequenece e o calunia.he he, "há que se ter muito caráter e grandeza para delinqüir"!Os advogados dos delinqüentes são raramente tão artistas queconsigam fazer ressaltar a favor de quem cometeu, quanto detão terrivelmente belo existe na ação cometida.Tão belo que motivou o delinqüente a praticar o delito e, o delito só é considerado delito porque houve consenso. Se inverter os valores fosse algo útil, então não precisaríamos de valores. Cada qual faria o que bem quisesse... “Fazer literalmente o que bem entender”Isto pode parecer muito romântico e poético, mas é a mais pura tradução do que se poderia chamar de absoluto caos social. As grandes épocas de nossa vida ocorrem quando sentimos acoragem de rebatizar o mal que em nós existe como o melhorde nós mesmos.Sim!! Magnífico! Matar passarinho! Afogar o gato! Passar a mão na bunda do cego! The best!! Quando somos obrigados a mudar de opinião acerca de umindivíduo, fazemos com que pague muito caro o trabalho, quecusta uma tal mudança.Isso é próprio dos vingativos. Quando mudo de opinião sobre uma pessoa, me afasto dela ou então me aproximo, pois posso mudar de opinião também a favor do indivíduo e não só contra.O diabo tem as mais amplas perspectivas relativamente aDeus, por isso se mantém tão distante dele: o diabo, quer dizer,o mais antigo amigo do conhecimento.Sim, os praticantes de rituais satânicos e missa negra "devem ter muito a nos ensinar"...O ser verdadeiro começa a mostrar-se quando o seu talentodeclina, quando deixa de mostrar o quanto pode. O talentotambém é um adorno e um adorno também serve para esconder.Quando o ser perde seu talento, os outros passam a vê-lo com “outros olhos”. Passam a vê-lo com os olhos do esquecimento e da indiferença. Isto acontece não porque o ser deixou de mostrar o quanto pode, mas sim porque deixou de poder. O interesse no lucro é uma m****.O farisaísmo do homem bom não é uma degeneração; é, pelocontrário, em grande parte, uma condição para ser bom.“Bom” pra quem? Ou, "bom" pra que?A idéia do suicídio é um potente meio de conforto: com elasuperamos muitas noites más.Noites peculiares aos que acreditam piamente serem fortes, virtuosos e vivazes.Deve-se devolver o bem e o mal; mas por que precisamente àmesma pessoa que fez o bem ou o mal?Para não fugir da velha e boa lei da causa e efeito... Estamos errados? Então talvez devêssemos fazer mal aos bons e bem aos maus. “Isso seria uma experiência e tanto”! “Uma sadia experiência”!Não se ama suficientemente o próprio conhecimento quandose o comunica a outros.“Sim, deve-se guardar para si, em sinal de amor ao conhecimento”...Nos homens rudes a ternura é objeto de vergonha — etambém algo precioso.Acredito que é no meio termo que se encontra o sentido de perfeição. Um grande e verdadeiro herói disse um dia: Devemos ser duros, mas jamais perder a ternura. (Che)Em um homem de ciência a compaixão quase faz rir, comoum ciclope com mãos feminilmente delicadas.Até enquanto ele não esteja implorando por ela...Abraçamos, por amor à humanidade. Abraçamos ao primeiroque chega (porque não se pode abraçar a humanidade inteira),mas é precisamente isto que não é preciso fazer compreenderao primeiro que chega...Sim, ser emotivo em meio a abutres acaba por fazer-nos errar.Na bondade há por vezes uma insolência que me parecemalícia.Especialmente quando ela é midiática, propagandística, pois, quando é autentica e desinteressada, a insolência consiste em prejulgá-la como maliciosa.
20/09/2007 às 14:01 #85413AlanoMembroO velho Nietzsche foi mesmo um maluquete! Mas estas passagens me parecem altamente DIALÉTICAS e poderiamos escrever um belo artigo (senão um livro todo) sobre cada uma delas.Abraço!
20/09/2007 às 15:13 #85414BrasilMembroO velho Nietzsche foi mesmo um maluquete! Mas estas passagens me parecem altamente DIALÉTICAS...
A dialética é própria de bons advogados e de péssimos juízes.Abs
20/09/2007 às 20:59 #85415AlanoMembrodialético (Babylon) adj. dialectic, logical, rational Dialética (Wikipedia) era , na Grécia Antiga, a arte do diálogo, da contraposição e contradição de idéias que leva a outras idéias. "Aos poucos, passou a ser a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão." Desculpe, não quero contrariá-lo, mas...Conheço um professor de filosofia que pensa um pouco diferente,Ele até editou um CD multimidia chamado "Dialética para Todos",onde fica bem claro que dialética e filosofia são muito interligados.Estarei muito errado? :)
20/09/2007 às 22:15 #85416BrasilMembroNão vou dizer que vc está muito errado, isso depende muito do ponto de vista de cada um e não caberia classificar como certo ou errado, pois as questõs aqui tartadas são perenes. Mas, como eu disse, cada um vê de um ponto de vista. Eu fico com Kant.O alemão Immanuel Kant retoma a noção aristotélica quando define a dialética como a "lógica da aparência". Para ele, a dialética é uma ilusão, pois baseia-se em princípios que, na verdade, são subjetivos.O método dialético possui várias definições, tal como a hegeliana, a marxista entre outras. Para alguns, ela consiste em um modo esquemático de explicação da realidade que se baseia em oposições e em choques entre situações diversas ou opostas. Diferentemente do método causal, no qual se estabelecem relações de causa e efeito entre os fatos (ex: a evaporação da água causa a formação de nuvens, que, por sua vez, causa as chuvas), o modo dialético busca elementos conflitantes entre dois ou mais fatos para explicar uma nova situação decorrente desse conflito.http://pt.wikipedia.org/wiki/Dial%C3%A9ticaHá quem goste de complicar... eu prefiro facilitar, mas se por exemplo alguém estiver disposto a explorar a possibilidade da chuva ocorrer por causa de “outros fenômenos” que não a evaporação da água... eu saberei contemplar todas as idéias. Só vou achar inútil que se levante hipóteses malucas e inverossímeis como as que Nietsche levanta a respeito da lógica, da compaixão, da piedade, da bondade, da reciprocidade, etc. Hipóteses que terminam sempre com perguntas e não com respostas. Sinceramente gostaria que alguém se propusesse a defender essas idéias para eu ver quais são as novidades humanas da moda. Pois eu, nas idéias de Nietzsche, estou boiando e, pelo que estou lendo, prefiro continuar na superfície destas idéias. Não estou te desafiando, mas em quais afirmações exatamente vc acha que Nietzsche está ou estaria certo, além das afirmações de que Deus é uma grande bobagem?
21/09/2007 às 16:46 #85417AlanoMembroBrasil, Não gostaria de ofender a tua inteligência, mas, assim mesmo, para aclarar, vou colocar: O que eu quero dizer com dialética (que me lembra diálogo) é que, apesar de que é muito mais fácil ver as coisas "preto no branco", de forma simples e "direta", a totalidade dos fatos, a "verdade" toda acerca de uma passagem, afirmação, fato ou episódio (seja lá que nome queiramos dar) nunca é muito simples. Ela depende do ponto de vista, da ótica de quem a observa. Assim, o bem de um pode ser o mal de outro, e por ai afora. A ótica de um deles esta correta, mas isto não significa que a ótica do outro tenha de estar "errada". Ela pode estar igualmente correta. Assim, a ótica dos EUA é boa para eles, mas a ótica que eles condenam pode ser boa para o Irã, para a Rússia ou o Brasil. Quem está "certo" e quem está "errado"? Será que, dentro da dialética existem "certo e errado"? o que seria, de fato, Certo e Errado? Penso que este é o cerne do pensamento filosófico: Questionar verdades tidas com certas.Abraço,Alano
21/09/2007 às 22:41 #85418BrasilMembroAlanoAcho que nesse caso nossa divergência está na acepção da palavra “dialética”. Vc a toma no sentido antigo, no sentido de diálogo mesmo. Dialogo e argumentação. Desta maneira eu concordo com você; o diálogo é a base para toda a Filosofia. Já na acepção moderna da palavra “dialética”, ela significa: o modo de pensarmos as contradições da realidade. Para pensarmos as contradições da realidade precisamos necessariamente de uma tese, uma antítese e uma síntese. Nietzsche não dá a síntese de seu raciocínio. Abraço
22/09/2007 às 5:15 #85419BrasilMembro“Nietzsche não dá a síntese de seu raciocínio.”Exemplo flagrante: A “verdade”, a busca da verdade são coisas delicadas. Desde omomento em que o homem se conduz nesse aspecto de ummodo demasiado humano, — quando busca a verdade apenaspara fazer o bem" -, pode-se dizer, e eu o sustento, que nãoencontra nada.Aí está a tese.Qual é a antítese; Nietzsche não diz, mas podemos entender que seja; procurar a verdade também para fazer o mal.Qual seria a síntese deste raciocínio? Ele não dá. E eu é que não serei o louco que vai tentar fazê-lo... hehehe
22/09/2007 às 5:48 #85420Henry ThoreauMembro“Nietzsche não dá a síntese de seu raciocínio.”Exemplo flagrante: A “verdade”, a busca da verdade são coisas delicadas. Desde omomento em que o homem se conduz nesse aspecto de ummodo demasiado humano, — quando busca a verdade apenaspara fazer o bem" -, pode-se dizer, e eu o sustento, que nãoencontra nada.Aí está a tese.Qual é a antítese; Nietzsche não diz, mas podemos entender que seja; procurar a verdade também para fazer o mal.Qual seria a síntese deste raciocínio? Ele não dá. E eu é que não serei o louco que vai tentar fazê-lo... hehehe
Por que haveria de ser a verdade algo necessariamente bom?
22/09/2007 às 5:54 #85421BrasilMembroPor que haveria de ser a verdade algo necessariamente bom?
Boa pergunta! Se vc tiver uma boa resposta para ela, leremos com prazer.
22/09/2007 às 13:56 #85422BrasilMembroBem, já que vc não tentou responder sua própria pergunta – complicadíssima, por sinal – eu vou dizer algo apenas para não deixar vc “falando com as paredes”.1º - Na msg que vc citou, não há qualquer questionamento sobre a verdade ser boa ou má. Por isso não entendi o porque da pergunta. Sugiro que abra um tópico para esta pergunta.2º - O questionamento que existe na frase de Nietzsche é: Por que procurar a verdade apenas para fazer o bem.3º - Ele afirma ainda que procurando-se a verdade apenas para fazer o bem, não a encontrará.4º - Será que não vai aparecer nenhum admirador de Nietzsche para tentar dar inteligibilidade para estes questionamentos, sem fazer outras perguntas absurdas e, também sem resposta?Se é assim que se faz filosofia... então tá fácil!Por que estar vivo haveria de ser necessariamente bom?Por que morrer haveria de ser necessariamente mau?Por que o “bem” haveria de ser necessariamente bom?Por que o “mal” haveria de ser necessariamente mau?Por que existem os porquês? Existem porquês?Por que?O bem e o mal vêm de braços e abraços num romance astral, como disse o Raúl?Fiquem bem! Se é que alguém sabe o que é isso...
22/09/2007 às 17:28 #85423AlanoMembroPor muito tempo não se sabia – de fato – o que era o BEM e o MAL. Hoje não se pode dizer mais isto; Bem e Mal são coisas bem definíveis:1- Conceitos de Bem e Mal só se aplicam a seres vivos, especialmente aos animais sencientes.2- MAL é tudo aquilo que causa SOFRIMENTO EXACERBADO aos seres sencientes. Por exacerbado entendo todo o sofrimento desnecessário e evitável e todo aquele que não seja útil ao aprendizado e crescimento dos seres, tanto a curto como a longo prazo.3- Em oposição, BEM é tudo aquilo que conduz ao prazer e ao bem-estar dos seres sencientes; sem, no entando, causar maiores prejuízos futuros ou privar o indivíduo das necessárias "dores" do crescimento e da aprendizagem.Penso que toda a Moral e a Ética tem a obrigação (moral? ;)) de basear-se nestes pressupostos fundamentais.Parece-me que o exposto é suficiente e que os detalhes faltantes sejam facilmente deduzíveis. Dialético? A fundo, tudo é, mas estes pressupostos fundamentais não acomodam muita contradição; são fundamentos rasos.Abraço,
22/09/2007 às 19:44 #85424BrasilMembroPenso que toda a Moral e a Ética tem a obrigação (moral? ;)) de basear-se nestes pressupostos fundamentais.
Li esta frase noutro tópico sobre Nietzsche e achei interessante:Filosofar "com o martelo" é muito mais fácil do que ajuntar depois os cacos.
24/09/2007 às 3:41 #85425BrasilMembroA degeneração universal do homem rumo a isto, que aossocialistas — aos cabeças de abóbora se apresenta como o"homem do futuro" — como o seu ideal esta degeneração, estadiminuição do homem até torná-lo um homem de rebanhoperfeito (ou ainda, como dizem, o homem da "sociedadelivre"), um embrutecimento do homem ao nível dos direitosiguais e deveres é possível, não há dúvida! Quem meditou atéàs últimas conseqüências sobre essa possibilidade, chegou aconhecer uma nova espécie de náusea — e também um novodever!Quem dá ares de embrutecimento aos direitos iguais, aspira quais idéias políticas e sociais? Indagar sobre a vontade de potência, sobre a moral, sobre a piedade, é muito filosófico, mas quando se entra no campo social os “valores” se confrontam. Direitos e deveres iguais “é embrutecer o homem”? Quando digo que Nietzsche não dá a síntese de seu raciocínio, faço isso com base nestas explanações intrincadas e confusas do autor. Se igualdade de direitos e deveres torna o homem brutalizado, então é de se esperar que quem esteja dizendo isso, explore o outro lado, ou seja: A antítese; direitos e deveres iguais brutaliza, então o que civiliza ou humaniza é O QUE? Qual é a ANTÍTESE deste raciocínio? Somos obrigados a permanecer o tempo todos dando múltiplas interpretações àquilo que na primeira leitura já se havia constatado. Quando Nietzsche ataca duramente a moral, ele não explora o outro lado! Ele deveria expor uma antítese, para depois tentar dar uma síntese, o que ele também não faz.Acho que um filósofo, um douto, como ele mesmo se autodenomina deveria se dar o prestígio de fazer entender sua obra. Aceirar é outra coisa, mas pelo menos, fazer entender!Quando o ilustre diz “arrebentem com a moral”, fatalmente arranja admiradores... Pessoas que estavam em conflito com suas próprias vontades e vêem nisso um amparo, uma muleta ou um salvo-conduto.O que esta pessoa tem de avaliar é que suas intimidades são importantes para ela, então ela tem que agir dentro da lei, como achar melhor, e NÃO querer que TODA a sociedade compartilhe de suas intimidades ou ainda venha a lhe proteger de qualquer discriminação banal. A lei, na sua constituição, já avaliou os princípios morais da sociedade que a constituiu, desta forma, não há com o que condenar a moral e sim, se for o caso, abordar o caso específico que por ventura esteja em desacordo com os direitos individuais e questionar a LEI e não a moral. Exatamente por essas e outras que a Política é intrínseca à Filosofia.O próprio Nietzsche, defensor do fim da moral, se mostra um altivo moralista em diversas passagens desta obra, referindo-se a outros, em tom pejorativo como: “efeminados”. O sentido real e principal da palavra “moral”, é muito mais amplo que qualquer individualidade poderia alcançar. Não nos esqueçamos que somos seres sociais, vivemos em sociedade. Não haverá sobretudonecessidade de guerras e complicações nas Índias, para que aEuropa seja liberada do maior perigo a ela atinente, comorevoluções internas, de um desagregamento do império empequenas partes e ademais da introdução da absurdidadeparlamentar, com a obrigação de cada um ler o seu própriojornal. Digo isso não como pessoa que o deseje. o contrário éque corresponde ao meu desejo, isto é, um tal crescendo naameaça russa que forçasse a Europa a tomar-se igualmenteameaçadora, isto é, unir-se numa vontade única de uma novacasta dominante na Europa, numa vontade durável, terrível,especial, que pudesse prefixar-se uma meta — a fim de que acomédia, de muito longa duração, de sua divisão em pequenosestados, da pluralidade de vontade dinástica e democráticapossam finalmente cessar. O tempo da pequena política passou,o próximo século promete a luta pelo domínio do mundo, anecessidade de fazer a grande política.Até que ponto a nova época belicosa, na qualevidentemente entramos nós europeus, possa ser talvezfavorável ao desenvolvimento de uma nova espécie deceticismo mais robusto...Sim, a Europa fez a “grande política belicosa” 14 anos após sua morte.
26/09/2007 às 15:48 #85426Miguel DuclósMembroCríticas a NietzscheAos que desprezam a possibilidade da existência da intuição intelectual ou do supra-sensível, seria conveniente pedir para tentarem definir e dar explicação à origem do sentimento de “compaixão”.Estaria a compaixão - este sentimento que na minha opinião ainda está por ser explicado e definido - relacionado com a vontade de potência? Creio que não. Estaria fundado na necessidade de conservação da espécie? Talvez mas, nesse caso a vontade de potência materializada no mundo financeiro e econômico – que é o mundo em que vivemos - estaria na contra-mão da necessidade de conservação da espécie. Seria um agente contrário à vida e não motivador. Digo isto, dado ao caráter competitivo e inevitavelmente predatório do mundo financeiro e econômico.Estaria a compaixão relacionada com o que? Qual a explicação para tal sentimento?
A vontade de potência é um conceito Nietzscheano complicado, especialmente se nós observamos que ele identifica a vida como vontade de potência. O que é a vida como a vontade de potência? Para entendermos isso, é preciso entender a "transmutação de todos valores". Nietzsche considera que venceu o niilismo negativo. Apesar de enfrentar a doença e a morte de maneira brutal, sozinho, à margem dos círculos que antes pertencia (chegou a ser dado como morto), conseguiu reunir em si as forças para viver, e considera-se que deu um "sim" à vida, apesar do sofrimento, com o título do livro de sua convalescença...que chama-se "Aurora". Mas todos os valores, todas as morais, foram desmontados, desconstruídos, mutados. O homem superior afirma e cria a valores, o "rebanho" acata esses valores de forma institucional. Nietzsche investigando a origem da moral, inaugura o método genealógico, que será aproveitado por outros pensadores, como Foucault, e aponta a inversão como a origem da moral... tudo que era bom é transformado pelos escravos em mal, dessa forma consegue-se vencê-lo.Nietzsche considera a ambição ao conhecimento, de forma absoluta, uma pretensão mirabolante. A pretensão iluminista de tudo conhecer pela razão é tão criticada quanto a obsessão religiosa que coloca o homem como centro da criação e da revelação da presença de Deus. Critica por exemplo os ascetas estóicos com sua noção de "contra" e "a favor" da natureza. A natureza não pode ser fechada em uma unidade do conceito, como um deus antropocêntrico... Não é possível ir contra a natureza, em sua incomensurabilidade ela abarca tudo. Todas estas pretensões são fagulhas mínimas que se acendem na noite dos tempos. São pois, vidas, a vontade de potência. Veja o trecho a seguir:
“Em algum remoto rincão do universo cintilante que se derrama em um sem-número de sistemas solares, havia uma vez um astro, em que animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da ‘história universal’: mas também foi somente um minuto. Passados poucos fôlegos da natureza, congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer. -Assim poderia alguém inventar uma fábula e nem por isso teria ilustrado suficientemente quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto humano (grifo meu). Houve eternidades, em que ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada terá acontecido”
A vida é o único valor em si mesmo, para Nietzsche. O único valor que não pode ser transmutado, pois, pela definição é a própria vida que cria todos os valores. Negar a vida é um niilismo destrutivo, mesquinho, rancoroso, que nada tem a ver com a idéia de Nietzsche do homem superior. Este viveria a vida plena, sofreria mesmo de superabundância de vida. Com apenas uma inflexão afasta de si todos os males, a memória de derrotas anteriores, ou...o ressentimento. A arte de criar e destruir valores...e de confrontá-los, não seria para "qualquer um". Nietzsche critica o socialismo e defende a estrutura piramidal da sociedade. Mas isso não tem a ver com condições econômicas (ele mesmo foi extremamente pobre a vida inteira) mas com esta digamos, "elevação espiritual"... Mas de espírito livre , e não religioso. Nietzsche era contra o ascetismo e a crença na vida após a morte (desconfiança mesquinha em relação à vida e ao mundo terreno)... "obriguemos os ascetas a comer um quilo de maizena", ele brinca. Confrontar valores seria um "nobre jogo", no qual é necessário saber as regras de conduta :D.Sobre a compaixão: Zaratustra é um ermitão que por dez anos vive na companhia de dois animais rapinaces, dando asas ao espírito no topo de uma montanha. Porém ele volta para a aldeia por amor à humanidade. Para anunciar ao povo feito escravo a morte de deus e a vinda do "além-do-homem". Lembramos disso no trecho a seguir, que é maliciosamente taxado com as acusações de sempre, por parte dos críticos... Pretensão, loucura etc.
“Entre minhas obras ocupa o meu Zaratustra um lugar à parte. Com ele fiz à humanidade o maior presente que até agora lhe foi feito. Esse livro, com uma voz de atravessar milênios, é não apenas o livro mais elevado que existe, autêntico livro do ar das alturas [...] é também o mais profundo, o nascido da mais oculta riqueza da verdade, poço inesgotável onde balde nenhum desce sem que volte repleto de ouro e bondade”
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