Início › Fóruns › Fórum Sobre Filósofos › Nietzsche › Alguém leva Nietzsche à sério?
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20/08/2007 às 2:00 #70728Henry ThoreauMembro
Para dar mais elementos a esta discussão, leiamos pelo menos a seguinte passagem de Nietzsche em A Gaia Ciência:"As nossas forças levam-nos por vezes tão longe que não podemos continuar a suportar as nossas fraquezas e disso perecemos: bem nos sucede prever esse resultado, mas não lhe podemos introduzir nenhuma modificação. Usamos então a dureza contra o que seria necessário poupar em nós memos, e a nossa grandeza faz a nossa barbárie. Esta experiência, que acabamos por pagar com a vida, simboliza a ação dos grandes homens nos outros e no seu tempo: é com aquilo que têm de melhor, com aquilo que são os únicos a poder fazer, que arruinam grande número de seres fracos, incertos, sem vontade própria, ainda em mudança, é com aquilo que têm de melhor em si próprios que se tornam nocivos. Pode até acontecer que só prejudiquem porque aquilo que há de melhor nele só pode ser absorvido, esvaziado de um trago, de qualquer maneira, por seres que ali afogam a sua razão e a sua individualidade, como se fosse num licor excessivamente forte: estão de tal modo embriagados que não poderão deixar de partir os membros em todos os caminhos em que a sua embriaguez os fulminará." Seria bom, aos mais empenhados, ler também esta passagem que selecionei do mesmo livro:"Eu odeio, no fundo, toda a moral que diz:"Não faças isto, não faças aquilo.Renuncia. Domina-te...". Gosto, pelo contrário, da moral que me leva a fazer uma coisa, a refazê-la, a pensar nela de manhã à noite, a sonhar com ela durante a noite, e a não ter jamais outra preocupação que não seja fazê-la bem, tão bem quanto for capaz entre todos os homens. A viver assim despojamo-nos, uma a uma, de todas as preocupações que não têm nada a ver com esta vida: vê-se sem ódio nem repugnância desaparecer hoje isto, amanhã aquilo, folhas amarelas que o menor sopro um pouco vivo solta da árvore; ou mesmo nem sequer se dá por isso, de tal modo o objectivo absorve o olhar, de tal modo o olhar se obstina em ver para diante, não se desviando nunca, nem para a direita nem para a esquerda, nem para cima nem para baixo.É a nossa actividade que deve determinar o que temos de abandonar; é actuando que deixaremos, eis o que amo, eis o meu próprio placitum! Mas eu não quero trabalhar para me empobrecer mantendo os olhos abertos, não quero essas virtudes negativas que têm por essência a negação e a renúncia."Seria isso tudo meras metáforas, quimeras?Não me parece.Nietzsche está nos dizendo que não se conhesse o mundo num quarto, entretido com castelos de cartas abstratos através de Kant ou Descartes.Mas agindo sobre o mundo.Enfim, percebemos nestas passagens(não apenas nestas) que a filosofia nietzscheana é uma filosofia da ação.Nietzsche luta contra a metafísica e propõe uma filosofia de vida, no mundo sensível, nesse nosso mundinho aqui.Em Nietzsche há um encorajamento no sentido de se ir até o fim de nossa razão, ou melhor, de dar ouvidos às nossas forças, instintos.A ênfase que Nietzsche dá à necessidade do homem libertar-se do rebanho, conduzido por uma cultura decadente, é imensa.Esta seria a verdadeira vitória do ser humano, um desbravar quase cego em direção ao desconhecido, suprimindo-se as forças fracas.Ora, alguém leva as entusiasmadas proposições nietzschianas à sério?Alguém permanece fieal a si mesmo a tal ponto?Se não, seria então nosso sinal de fraqueza?Seria necessário que para julgarmos o filósofo termos de seguir suas diretrizes primeiro?Mas alguém está disposto a trocar a segurança mundana por uma aventura como a de seu herói Zaratustra?Pois me parece que o próprio Nietzsche não levou à cabo sua filosofia, embora suas rebeliões contra a cultura dominante tivéssem se dado num estágio mais avançado de sua vida, e talvez se arrependeu que elas(contra Wagner, contra Schopenhauer, contra a democracia) não tivessem vindo na mocidade, para deixar de ser um Espírito Livre nas obras e dirigí-lo às montanhas e cidades(por que não?).Pra concluir, por que muitos são adeptos de Nietzsche mas "não são Nietzsche" tal como os discípulos de Platão eram Platão e como os de Marx eram e são Marx?Por último, será que o que um homem tem de melhor é limpar a rua, distribuir panfletos, ou o que ocorre é que estamos reprimindo a todo momento nossas forças, aquilo que em Nietzsche é considerado o bem?
13/10/2007 às 6:42 #85332BrasilMembroSeria isso tudo meras metáforas, quimeras?Não me parece.Nietzsche está nos dizendo que não se conhesse o mundo num quarto, entretido com castelos de cartas abstratos através de Kant ou Descartes.Mas agindo sobre o mundo.
Castelo de cartas abstrato??!! Kant e Descartes foram minuciosos, detalhistas, didáticos, abrangentes, CLAROS, PRECISOS. Ninguém precisa dizer ou dar a sua interpretação pessoal sobre o que eles quiseram dizer! O que eles quiseram dizer foi dito com TODAS AS LETRAS.Nietzsche e seus aforismos dão margem a diversas interpretações. O que é claro pra mim é que ele além de condenar a moral afirmava a força despida de escrúpulos, baseada apenas na vontade, no instinto. Acho que 90% dos princípios morais estão garantidos por lei, o que significa que não é só uma questão religiosa ou de tradição, mas sim algo que traduz o consenso geral da sociedade. Para Nietzsche a moral é quase que um conceito religioso e nós sabemos que não é bem assim, alias não é nem um pouco assim.Pergunto eu; aqui no Brasil quantos são católicos? Uns 70%. E quantos vão à missa aos domingos? Uns 2% Quantos obedecem TODOS os mandamentos? Ninguém.Moral é consenso, não é uma doutrina religiosa. Além disso quando Nietzsche joga a moral para o alto como quem joga um punhado de pedras, ele não recolhe nada, ou seja; viveríamos num mundo sem princípios, onde cada um faz o que for da sua vontade?Onde cada um pode expressar e empreender sua vontade de potência sem o menor constrangimento. Isso é muito bonito de se dizer, mas muito desagradável de se presenciar. Acho que é necessário uma grande dose de ingenuidade ou loucura para cogitar isso.Até os mais admiradores de Nietzsche concordarão comigo que ele levanta a questão, mas a deixa totalmente aberta. Não sintetiza seu raciocínio de forma clara muito menos didática.E isso ele faz também com seus outros conceitos quanto à distinção sistemática entre homens “fortes” e homens “fracos”. Também é necessário observar o caráter político-social em Nietzsche: Como seria a vontade de potência dos legisladores e gestores da sociedade. Saberiam eles controlar essa vontade de potência de lesa-pátria? O que seria dos "fracos, escravos, ressentidos, vingativos, mansos, baixos e covardes" que acreditam em Deus e na moral?Voltaríamos à idade média, quando os hereges eram queimados na fogueira? Ao invés de hereges queimaríamos religiosos, fracos, etc."Não sendo possível fazer-se com que aquilo que é justo seja forte, faz-se com que o que é forte seja justo."Blaise Pascal
Pra concluir, por que muitos são adeptos de Nietzsche mas "não são Nietzsche" tal como os discípulos de Platão eram Platão e como os de Marx eram e são Marx?Por último, será que o que um homem tem de melhor é limpar a rua, distribuir panfletos, ou o que ocorre é que estamos reprimindo a todo momento nossas forças, aquilo que em Nietzsche é considerado o bem?
Quais forças? Sob quais circunstâncias? Vc poderia ser mais claro?
19/10/2007 às 2:52 #85333BrasilMembroNietzsche define o instinto de sobrevivência nos humanos, como “a essência” do Homem. Vejamos em que isso implica: Implica dizer que a ÚNICA espécie que raciocina, a única espécie que se emociona, a única espécie que tem piedade e compaixão, TEM A MESMA ESSÊNCIA que um rato ou um cão. Ou então as outras espécies vivem por acaso, ou por sorte, sem instinto de sobrevivência como “sua essência”. Se a essência do Homem é o instinto de sobrevivência, qual é a essência dos outros animais? A mesma? Será que o fato de o Homem ter uma CONSCIÊNCIA, não difere a sua “essência”, da essência dos outros animais? Com que bases se poderia fazer essa afirmação, uma vez que não temos parâmetros comparativos? Somos únicos! Não há qualquer espécie sequer parecida com os humanos!Para estudar os animais observamos espécie por espécie. Vamos estudar os símios? Então observaremos o gorila, o orangotango, o chipanzé, o babuíno, o sagüi, etc.Os mamíferos aquáticos? A baleia, o golfinho, o peixe boi, etc.Os roedores? O rato, a paca, o preá, o esquilo, a capivara, etc.Os cinos? O cão, a raposa, o lobo, o guará, etc.Os felinos? O gato, o tigre, a onça, o puma, etc.Os répteis? A cobra, o lagarto, o jacaré, o camaleão, etc.Os batráquios? O sapo, a rã, a salamandra, etc.E os humanos? Se sua essência fosse a mesma dos outros animais, naturalmente sua espécie deveria se aproximar mais das outras ao invés se afastar de maneira evidente e enfática. Teríamos parentesco com outras espécies, ao menos parecidas, não seríamos únicos. Não há comparativos para essa espécie. Isso, por si só, já torna sua “essência”, bem como a concepção de sua essência, totalmente diferente dos demais animais. O fato de raciocinar, muda a “essência” individual de cada ser humano (cada consciência): Como explicar o suicida? Como explicar o assassino? Como explicar o masoquista? Como explicar a perversidade? Cadê o instinto de sobrevivência? Alguém alguma vez já teve notícia de algum animal irracional que tenha se suicidado?A “essência” dos humanos não é e nem poderia ser a mesma dos demais animais.
24/10/2007 às 3:17 #85334Henry ThoreauMembroSeria isso tudo meras metáforas, quimeras?Não me parece.Nietzsche está nos dizendo que não se conhesse o mundo num quarto, entretido com castelos de cartas abstratos através de Kant ou Descartes.Mas agindo sobre o mundo.
Castelo de cartas abstrato??!! Kant e Descartes foram minuciosos, detalhistas, didáticos, abrangentes, CLAROS, PRECISOS. Ninguém precisa dizer ou dar a sua interpretação pessoal sobre o que eles quiseram dizer! O que eles quiseram dizer foi dito com TODAS AS LETRAS.
Pra concluir, por que muitos são adeptos de Nietzsche mas "não são Nietzsche" tal como os discípulos de Platão eram Platão e como os de Marx eram e são Marx?Por último, será que o que um homem tem de melhor é limpar a rua, distribuir panfletos, ou o que ocorre é que estamos reprimindo a todo momento nossas forças, aquilo que em Nietzsche é considerado o bem?
Quais forças? Sob quais circunstâncias? Vc poderia ser mais claro?
Caro Brasil, não me leve a mal, gostei do que vc escreveu sobre Kant e Descartes: Eu também fui minucioso, detalhista, didático, abrangente, CLARO, PRECISO. Ninguém precisa dizer ou dar a sua interpretação pessoal sobre o que eu quis dizer! O que eu quis dizer também foi dito com TODAS AS LETRAS. ;DRespeitosamente, não sou moderador(ainda bem) mas sugiro que abra um outro tópico.Vi muita discussão biológica, psicológica e sobretudo sociológica, mas pouca filosofia.Agradeço seu empenho, mas o que vi aí de filosofia não vai muito de encontro com a proposta de debate que apresentei explanadamente pra todo mundo entender.Pelo menos serviu para livrar o tópico das moscas.
24/10/2007 às 15:38 #85335BrasilMembroO que eu quis dizer também foi dito com TODAS AS LETRAS.
Caro amigo, meu comentário sobre a falta de objetividade e clareza não tinha vc como alvo e sim Nietzsche. Não me referi a vc e sim a Nietzsche.Apenas não entendi sua observação sobre Kant e Descartes, pois estes, independentemente de estarem certos ou não, foram claros em suas CONCLUSÕES. Não querer dar atenção à metafísica não a torna inexistente, não a torna um castelo de cartas, etc... Ela continua aí, na nossa cara, gostemos ou não.
Vi muita discussão biológica, psicológica e sobretudo sociológica, mas pouca filosofia.
E o que é a Filosofia senão a observação e a crítica à somatória de todas estas ciências e mais algumas?Não se zangue comigo, mas vc não quer debater... Vc quer conversar com leitores e admiradores de Nietzsche; trocar informações e elogios... Bem, se eu tiver de elogiar Nietzsche começarei pela sua habilidade em passar mensagens cujas interpretações podem satisfazer toda a sorte de leitores. Ao final de cada aforismo; múltiplas interpretações. Se alguém quiser entender que ele vislumbrava um mundo melhor e mais justo para todos, é possível...Se alguém quiser entender que ele vislumbrava um mundo dividido entre "fortes e fracos", "dignos e indignos", "nobres e baixos", "sãos e doentes", "vigorosos e mansos", também é possível.Isso se deve à falta de síntese. Na Poesia a síntese é apenas um acessório, na Filosofia é tudo. Sem síntese= sem filosofia.
Agradeço seu empenho, mas o que vi aí de filosofia não vai muito de encontro com a proposta de debate que apresentei explanadamente pra todo mundo entender.
Me desculpe se não sou a pessoa certa para trocar elogios sobre Nietzsche com vc, mas independentemente da minha presença neste fórum, vc poderia dar clareza às tuas afirmações. Não é só este “espantador de moscas” que lhe escreve, quem lê as mensagens deste fórum.
Por último, será que o que um homem tem de melhor é limpar a rua, distribuir panfletos, ou o que ocorre é que estamos reprimindo a todo momento nossas forças, aquilo que em Nietzsche é considerado o bem?
Quais forças? Sob quais circunstâncias? Vc poderia ser mais claro?
(vou acrescentar mais uma, se vc me permitir...)O que o Homem tem de melhor? ;D
27/10/2007 às 5:23 #85336Miguel DuclósMembroEnfim, percebemos nestas passagens(não apenas nestas) que a filosofia nietzscheana é uma filosofia da ação.Nietzsche luta contra a metafísica e propõe uma filosofia de vida, no mundo sensível, nesse nosso mundinho aqui.Em Nietzsche há um encorajamento no sentido de se ir até o fim de nossa razão, ou melhor, de dar ouvidos às nossas forças, instintos.A ênfase que Nietzsche dá à necessidade do homem libertar-se do rebanho, conduzido por uma cultura decadente, é imensa.Esta seria a verdadeira vitória do ser humano, um desbravar quase cego em direção ao desconhecido, suprimindo-se as forças fracas.
Esta viagem em direção ao desconhecido não está indo contra a noção de que o mundo sensível é um "mundinho"? Acho interessante chamar a filosofia de Nietzsche de filosofia da ação, mas este termo é um pouco impregnado pela "práxis" marxista, que motiva também o panfleto de Lênin, Que fazer? Ou seja, Nietzsche não é um transformador social no sentido estrito. Porém, ele sabia que suas idéias iriam encontrar grande repercurssão no futuro, e mesmo alterar o destino do homem. Em Nietzsche, não obstante o firmo propósito anti-metafísico, como você apontou, temos também uma noção de profundeza de Espírito. Algumas vezes se dirige a seus leitores como "espíritos livres". Quer dizer, não vejo somente ação nesse libertar-se do rebanho. Libertar-se do rebanho é também tornar a alma leve, vivendo o presente e parando de recarregar a herança do ressentimento, da "consciência infeliz". Uma criança constrói o mundo brincando e esquece tudo a noite, para reconstruir no dia seguinte. Essa passagem para um perspectivismo, do homem que afirma seus próprios valores, gera necessariamente conflitos entre os grandes homens, e repetição monotóna por parte do "rebanho". Nietzsche era contrário aos movimentos sociais socialistas que queria libertar o proletário da sua condição de explorado, pois via como natural uma estrutura piramidal da sociedade. Ou seja, não seria de bom tom, para o autor, esta "tomada de consciência" que pusesse dúvida no afazer do homem operoso, que faz toda a roda da sociedade girar. Porém, este "elitismo" do Nietzsche não tem nada a ver com um elitismo econômico ou de classe. E, como disse, não diminui as pretensões de alcance deste crítico da cultura. Este paradoxo é sintetizado pelo próprio autor, no subtítulo de Assim Falou Zaratustra: "Um livro para todos e para ninguém".
Ora, alguém leva as entusiasmadas proposições nietzschianas à sério?Alguém permanece fieal a si mesmo a tal ponto?Se não, seria então nosso sinal de fraqueza?Seria necessário que para julgarmos o filósofo termos de seguir suas diretrizes primeiro?Mas alguém está disposto a trocar a segurança mundana por uma aventura como a de seu herói Zaratustra?Pois me parece que o próprio Nietzsche não levou à cabo sua filosofia, embora suas rebeliões contra a cultura dominante tivéssem se dado num estágio mais avançado de sua vida, e talvez se arrependeu que elas(contra Wagner, contra Schopenhauer, contra a democracia) não tivessem vindo na mocidade, para deixar de ser um Espírito Livre nas obras e dirigí-lo às montanhas e cidades(por que não?).Pra concluir, por que muitos são adeptos de Nietzsche mas "não são Nietzsche" tal como os discípulos de Platão eram Platão e como os de Marx eram e são Marx?Por último, será que o que um homem tem de melhor é limpar a rua, distribuir panfletos, ou o que ocorre é que estamos reprimindo a todo momento nossas forças, aquilo que em Nietzsche é considerado o bem?
Bom, primeiramente gostaria de notar que esta questão da relação do autor com a obra me parece um pouco irrelevante. Quer dizer, é devido à própria singularidade do filósofo que vemos necessidade de saber se a radicalidade das suas idéias condiz com o decurso de sua vida. Apesar das afirmações em contrário, me parece que a biografia de Nietzsche é intimamente ligada com seus escritos. Está tudo ali, afinal todo escritor tira da realidade os recursos e idéias para poder escrever. O que você vê em desacordo? Vejamos, é certo que os escritos quando ele fazia parte do círculo de Wagner trazem ainda um otimismo em relação à produção cultural da Europa, no momento. Mas o movimento de Nietzsche é em direção à radicalidade, ele vai ficando cada vez mais solitário e ermitão (saindo do rebanho), apesar da constância de algumas amizades durante toda a vida. Ele fica doente e sai do círculo, enfrenta a doença e a morte sozinho, e sai em buscas de novos ares, carregando uma mala de mais de 100kg de livros pensões afora. Tenta casar, mas não consegue, com isso sua reabolitação segundo os valores conservadores (família, religiosidade etc) ficam quase todos suprimidos. Abre mão inclusive da estabilidade da carrreira de professor para viver a carreira literária, encontrando muito pouco sucesso em seu próprio tempo, no tocante a vendas. As últimas partes de Zaratustra foram custeadas pelo seu próprio bolso (ele recebia uma pensão vitalícia, minguada, mas salvadora).Dizer que Nietzsche não foi "guerreiro o suficiente" me parece igualmente insatisfatório. Um escritor tem a pena para levar o recado ao público. A figura que existe é que "de dois se fez um, e Zaratustra passou por mim". Quer dizer, o profeta do "ubermensch" é o Alter Ego literário de Nietzsche sim. Depois de dar asas ao espirito durante dez anos, Zaratustra desce à aldeia por amor à humanidade, para levar a boa nova da morte de deus e a consequente vida do seu ubermensch.Se as pessoas levam a filosofia de Nietzsche a sério, a fundo? Me parece que sim, a influência em correntes tanto de pensamento quanto de formação de personalidades é notória, porém você tem razão em notar um desvio do propósito. Toda esta radicalidade de filósofo é difícil de aceitar pela "gente bem" que não abre mão de seus confortos, de sua vida certeira. No fim parece que essa moda de Nietzsche encontra sim alguns elementos nefastos, mas no mínimo ele aparece como uma figura literária diante da qual é difícil de ficar indiferente. Me parece que a filosofia de Nietzsche está intimamente ligada às várias revoluções que ocorreram no século XX, algo realmente sem paralelo que desmontou muitas bases sólidas da construção de nossos valores ocidentais. Porém, daí surgiu uma espécie de vácuo. Não que tudo tenha sido invalidado, mas foi de certa forma asfixiado por um modo de proceder que se traduz em categorização e estrangulamento economico.Fazendo um paralelo tosco com Jesus Cristo, ele também foi martirizado, mas seus ensinamentos foram desvirtuados pelos discípulos. Ou seja, quando a coisa se institucioanaliza, os algozes que tiraram sua vida mantém o triunfo. No Corão tem uma passagem interessante em que, admitindo a veracidade de Cristo, Maomé no entando condena a Igreja Católica:"27 Então, após eles, enviamos outros mensageiros Nossos e, após estes, enviamos Jesus, filho de Maria, a quem concedemos o Evangelho; e infundimos nos corações daqueles que o seguem compaixão e clemência(1602). No entanto, seguem a vida monástica, que inventaram, mas que não lhes prescrevemos; (Nós lhes prescrevemos) apenas compraz a Deus; porém, não o observaram devidamente. E recompensamos os fiéis, dentre eles; porém, a maioria é depravada(1603)."
27/10/2007 às 18:50 #85337BrasilMembroNietzsche luta contra a metafísica e propõe uma filosofia de vida, no mundo sensível, nesse nosso mundinho aqui. Em Nietzsche há um encorajamento no sentido de se ir até o fim de nossa razão, ou melhor, de dar ouvidos às nossas forças, instintos.
Na minha opinião é um erro entender que esse nosso mundo é um “mundinho” única e exclusivamente interessado na metafísica em detrimento da possibilidade de irmos até o fim de nossas razões. Irmos até o fim de nossas razões é tudo o que eu TENTO dentro do “possível” “pregar” o tempo todo, em tudo o que faço e falo! Irmos até o fim de nossas razões é a coisa mais sábia que o Homem poderia fazer!! Contudo, não vejo o Homem neste caminho ao mesmo tempo em que valoriza sobremaneira os “bem sucedidos” e não os mais capazes, os fortes de poder e não os fortes de razão... Condenando os doentes fanáticos religiosos e não os doentes fanáticos materialistas que se utilizam de QUALQUER expediente para alcançar seus objetivos...O "homem bem sucedido", “o forte”, - termos usados por ele -, não é, em verdade, o mais capaz . Está sendo, em decorrência de uma contingência provocada pela nossa própria instabilidade e indefinição quanto à real importância de nossos valores. Está sendo na realidade, o mais apto dentro deste nosso contexto totalmente errado, contraditório, predatório e portanto IMPRÓPRIO. Esta avaliação de "forte" e "fraco" deveria ter outros princípios e parâmetros que não estes indefinidos propostos pelo autor.Não vejo o Homem trilhando esse caminho rumo ao escato de nossas razões, atacando o racionalismo, subjugando uns e outros, atribuindo todos os males da humanidade a uma SUPOSTA supressão dos instintos pela razão, à piedade e à compaixão.Não vejo o Homem trilhando um caminho em pró do fim último das nossas razões, somente pelo simples fato de se questionar duramente a moral, a piedade, a religiosidade sem sequer dar uma opinião de como deveria ser então. Qual seria essa “nova moral”? Baseada em que ela se projetaria? Baseada única e simplesmente pela vontade de poder, pela idéia de que a vida é vontade de poder? Isso é possível num mundo competitivo e demasiado materialista? Possível até é... Mas é sensato?
Me parece que a filosofia de Nietzsche está intimamente ligada às várias revoluções que ocorreram no século XX, algo realmente sem paralelo que desmontou muitas bases sólidas da construção de nossos valores ocidentais. Porém, daí surgiu uma espécie de vácuo. Não que tudo tenha sido invalidado, mas foi de certa forma asfixiado por um modo de proceder que se traduz em categorização e estrangulamento economico.
Muito bem observado, na minha opinião.Erroneamente muitos desatrelam a Filosofia da Política, mas isso é um ledo engano! Nietzsche formou boa parte de seus conceitos e opiniões a partir da tomada de poder pela Comuna de Paris. Declarou que esse era um movimento que deveria ser combatido a QUALQUER CUSTO, e o fato sequer aconteceu em seu país.Não farei nenhuma defesa a qualquer ideologia, mas Política não é algo que se desenvolva com vistas a um objetivo A QUALQUER CUSTO. “O homem é um animal político” (Aristóteles)Os fatos que se sucederam durante a Comuna de Paris, como a destruição da Coluna de Vendôme, por exemplo, serviram de inspiração para suas obras durante os 20 anos subseqüentes ao episódio. A ira da população explorada por séculos de elitismo tirano, então revoltada e desorientada, serviu de parâmetro para ele reprovar e condenar duramente a igualdade social. Se alinhou ativamente aos políticos fascistas antidemocratas e anti-socialistas apesar de nunca ter sido político. Aliou-se a elite apesar de depois não ter suportado viver entre eles. A Política falou alto em suas obras, muito alto!Nietzsche tornou-se um apologista da distinção. Na minha opinião, as diferenças devem ser respeitadas e não incentivadas. As diferenças devem ser respeitadas, mas não as DIFERENCIAÇÕES preconceituosas e embasadas no fato de crer ou não em Deus... Essas não! Como já disseram neste fórum anteriormente: Ideologia é sempre ideologia, seja ela de direita, de esquerda, de cima ou de baixo.A noção que eu tenho da “Política” não é a noção dada por Maquiavel, mas sim a noção ensinada por Platão. Na minha opinião, a vontade de poder dos poderosos é que desvirtua até os conceitos mais básicos e primordiais...
Esta viagem em direção ao desconhecido não está indo contra a noção de que o mundo sensível é um "mundinho"?
Creio que sim. Para Nietzsche o “mundinho” é o mundo das razões e, o mundo "apropriado" seria o mundo das vontades e instintos alheios às conseqüências.Acho que muito tempo se passou para que deixássemos de ser animais e passássemos ao estágio de humanos. Para isso acredito que alguns instintos e vontades tiveram de ser suprimidos. Será que erramos? Será que monstruosidades humanas como a escravidão teriam acabado ou não teriam renascido nesse "mundo das vontades e instintos nietzscheanos"? O super-homem de Nietzsche é o Homem “raro”, senhor dos rebanhos, algoz dos fracos, explorador dos ignorantes e eliminador das castas “baixas”. Só resta saber como esse Homem poderia sobreviver e ter tantas raridades à sua disposição, uma vez que eliminaria os seus escravos e/ou explorados. Quem iria prover suas raridades, uma vez que os fracos jamais deveriam ser ajudados, a piedade jamais deveria existir. Se TODOS os homens adotassem os princípios nietzsheanos, quem iria prover as raridades para os raros? Uma vez que não existiria mais homens “fracos”, operosos e ignorantes para se explorar e ostentar sua posição de “raro”, “forte”, “virtuoso” e “bem sucedido”.Abs
01/01/2010 às 19:51 #85338erickMembroNietzsche define o instinto de sobrevivência nos humanos, como “a essência” do Homem. Vejamos em que isso implica: Implica dizer que a ÚNICA espécie que raciocina, a única espécie que se emociona, a única espécie que tem piedade e compaixão, TEM A MESMA ESSÊNCIA que um rato ou um cão. Ou então as outras espécies vivem por acaso, ou por sorte, sem instinto de sobrevivência como “sua essência”. Se a essência do Homem é o instinto de sobrevivência, qual é a essência dos outros animais? A mesma? Será que o fato de o Homem ter uma CONSCIÊNCIA, não difere a sua “essência”, da essência dos outros animais? Com que bases se poderia fazer essa afirmação, uma vez que não temos parâmetros comparativos? Somos únicos! Não há qualquer espécie sequer parecida com os humanos!Para estudar os animais observamos espécie por espécie. Vamos estudar os símios? Então observaremos o gorila, o orangotango, o chipanzé, o babuíno, o sagüi, etc.Os mamíferos aquáticos? A baleia, o golfinho, o peixe boi, etc.Os roedores? O rato, a paca, o preá, o esquilo, a capivara, etc.Os cinos? O cão, a raposa, o lobo, o guará, etc.Os felinos? O gato, o tigre, a onça, o puma, etc.Os répteis? A cobra, o lagarto, o jacaré, o camaleão, etc.Os batráquios? O sapo, a rã, a salamandra, etc.E os humanos? Se sua essência fosse a mesma dos outros animais, naturalmente sua espécie deveria se aproximar mais das outras ao invés se afastar de maneira evidente e enfática. Teríamos parentesco com outras espécies, ao menos parecidas, não seríamos únicos. Não há comparativos para essa espécie. Isso, por si só, já torna sua “essência”, bem como a concepção de sua essência, totalmente diferente dos demais animais. O fato de raciocinar, muda a “essência” individual de cada ser humano (cada consciência): Como explicar o suicida? Como explicar o assassino? Como explicar o masoquista? Como explicar a perversidade? Cadê o instinto de sobrevivência? Alguém alguma vez já teve notícia de algum animal irracional que tenha se suicidado?A “essência” dos humanos não é e nem poderia ser a mesma dos demais animais. Qual é o problema de termos a mesma essência dos animais?É verdade que possuìmos uma racionalidade, inteligência, emoção, sentimentos e compaixão;mas devemos observar que são com essas qualidades que fazemos a guerra, a devastação do meio ambiente e a extinção de outras espécies. Causa da nosso egoísmo, inveja, ganância, etc.. Talvez não haja tanta diferença na essência, ao não ser que a essência humana nos torne inclinados à destruição do própio meio, ao contrário dos outros animais.
02/01/2010 às 0:18 #85339BrasilMembroQual é o problema de termos a mesma essência dos animais?
Depende do que você entende por “essência”.
É verdade que possuìmos uma racionalidade, inteligência, emoção, sentimentos e compaixão;mas devemos observar que são com essas qualidades que fazemos a guerra, a devastação do meio ambiente e a extinção de outras espécies.
Não, amigo! Não é por causa de nossa essência que isso acontece! Isso se dá por causa do nosso errôneo sistema de produção e distribuição de bens e serviços. O que causa as guerras e a devastação ao meio ambiente são os interesses INDIVIDUAIS e corporativistas!Não é essa a essência do Homem! A essência do Homem é o raciocínio!Essa é a grande diferença entre nós e os demais animais: Nós somos a ÚNICA espécie dotada deste privilégio. Nenhuma outra espécie pode fazer isso!!Se erramos e reconhecemos que erramos, devemos então encontrar a causa do erro e, não condenar o próprio raciocínio!! Pois, foi ELE quem identificou e apontou o erro!A compaixão, por exemplo, é um produto do nosso raciocínio. Os outros animais não têm este atributo tão nobre e preservador da espécie!!
20/01/2010 às 4:04 #85343Phaf!MembroBrasil, por que dizes que a compaixão é produto do nosso raciocínio. A mim parece que nenhuma emoção é produto de raciocínio, mas de características adquiridas ao longo da evolução biológica.
24/01/2010 às 20:08 #85344BrasilMembroBrasil, por que dizes que a compaixão é produto do nosso raciocínio. A mim parece que nenhuma emoção é produto de raciocínio, mas de características adquiridas ao longo da evolução biológica.
Para emocionar-se é preciso raciocinar. Quem não raciocina, como nos casos de pessoas que vivem em estado vegetativo, por exemplo, não sentem qualquer emoção, apenas vivem e só.Não há emoção sem raciocínio e não há raciocínio sem emoção.
25/01/2010 às 19:22 #85342Phaf!MembroEntão achas que os seres não-humanos não apresentam emoções, visto que disseste que eles não apresentam raciocínio?
Não é essa a essência do Homem! A essência do Homem é o raciocínio!Essa é a grande diferença entre nós e os demais animais: Nós somos a ÚNICA espécie dotada deste privilégio. Nenhuma outra espécie pode fazer isso!!Se erramos e reconhecemos que erramos, devemos então encontrar a causa do erro e, não condenar o próprio raciocínio!! Pois, foi ELE quem identificou e apontou o erro!A compaixão, por exemplo, é um produto do nosso raciocínio. Os outros animais não têm este atributo tão nobre e preservador da espécie!!
Em caso afirmativo eu não posso concordar, pois me parece óbvio que tais seres apresentam sim emoções (ou sentimentos), você nunca teve um animal de estimação? (Só pra ficar nos mais práticos). Penso então que as emoções primitivas, como compaixão por exemplo, não dependem de raciocínio, aliás é até perigoso raciocinar demais sobre isso pois podemos acabar achando que ela não serve pra muita coisa atualmente, ou seja, é ilógica (não estou dizendo que a acho). Não achas que, na evolução, primeiro vieram os sentimentos com os animais antigos, depois o raciocínio com os animais mais evoluídos e depois a auto-consciência com os humanos? Quanto a questão do estado vegetativo deves saber que é bastante polêmica e não serve de argumento comprovado para se dizer que pessoas em tal estado não apresentam razão e por consequente não tem mais sentimentos; há inúmeros casos nos quais estas pessoas voltaram a ter uma vida normal. O que está parecendo para mim é que fazes segmentações radicais entre emoção e raciocínio, pois acho que muitas emoções humanas apareceram graças a co-evoluão com o raciocínio, afinal é difícil se imaginar como sentiremos alegria ao ganhar um carro (especificamente alegria com esse presente, pois a alegria é uma emoção muito primitiva) sem saber o que é um carro e pra que ele serve. Concordas com algo que eu disse, caro Brasil?
01/02/2010 às 2:21 #85340BrasilMembroEntão achas que os seres não-humanos não apresentam emoções, visto que disseste que eles não apresentam raciocínio?
Os seres não humanos dotados de cérebro apresentam atividade cerebral... Mas não podemos chamar isso de “raciocínio” e nem as suas demonstrações de alegria, tristeza, dor, raiva e medo, de “emoções”.
Em caso afirmativo eu não posso concordar, pois me parece óbvio que tais seres apresentam sim emoções (ou sentimentos), você nunca teve um animal de estimação?
Raciocinar é muito mais que ter atividade cerebral e, emocionar-se é muito mais que demonstrar sentimentos primários. Para emocionar-se é preciso entender o que se passa e prever ou avaliar, tanto as causas quantos as consequências do que se passa. Para isso é necessário o raciocínio, e este só é possível aos humanos.
Quanto a questão do estado vegetativo deves saber que é bastante polêmica e não serve de argumento comprovado para se dizer que pessoas em tal estado não apresentam razão e por consequente não tem mais sentimentos; há inúmeros casos nos quais estas pessoas voltaram a ter uma vida normal.
O fato de existir alguns casos raríssimos de pessoas que estiveram em coma profundo e voltaram a ter uma vida normal, não indica absolutamente que durante o período em que estiveram em coma seus cérebros tenham tido atividade consciente. Muito pelo contrário, absolutamente nenhum deles se lembra de nada que aconteceu durante o coma. Ou seja, não raciocinavam e, portanto não tinham emoções.
O que está parecendo para mim é que fazes segmentações radicais entre emoção e raciocínio
Caro amigo, eu não sei o que quer dizer “segmentações radicais”. Mas não me parece razoável confundir “emoções” com reações decorrentes de atividades cerebrais primárias inerentes a todos os seres dotados de cérebro. Menos razoável ainda me parece entender que simples atividade cerebral seja “raciocínio”.
02/02/2010 às 13:22 #85341cleopratrazMembroNietzsche e Rousseau são os melhores filósofos da História. Mas Nietzsche assim o é porque reconhece a fraqueza do homem como uma fortaleza. Os instintos capazes de construir uma realidade supera a compaixão, caráter do homem fraco, pois a partir da mesma, a consciencia pode se manifestar e então todos ficarão a mercê da razão. Melhor talvez que pudessemos continuar a sonhar mas com moderação para evitarmos o triste fim da raça humana.
04/04/2011 às 2:36 #85345RubineroMembroEu levo Nietzsche a sério! É preciso lembrar que ele foi um humanista, pois acreditou no Homem e, apesar de falar de fortes e fracos, a sua filosofia foi para todos! Para além disso, Nietzsche disse que o amor do além-do-homem é o mais nobre, pois ele não é cruel e vingativo como aqueles que vivem no ressentimento: o além-do-homem não perdoa porque sempre… esquece. O além-do-homem acompanha o ritmo da vida, não parando um segundo para perder tempo com respostas ou vinganças. Quanto a dizerem que o ser humano é único, só se for na complexidade do cérebro. Os outros animais também têm emoções. Não se esqueçam que também somos animais.
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