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12/06/2005 às 18:41 #76709Miguel (admin)Mestre
Eu terei que fazer um trabalho para faculdade sobre Estruturalismo valendo nota maxima.Sera que podem me ajudar.
obrigado,beijinhos13/06/2005 às 22:50 #76647Miguel (admin)MestreGostaria de entender como Lacan baseou sua prática psicanalítica no estruturalismo de Saussure.
13/06/2005 às 22:50 #76710Miguel (admin)MestreGostaria de entender como Lacan baseou sua prática psicanalítica no estruturalismo de Saussure.
13/06/2005 às 23:42 #76648Miguel (admin)MestreSerá? Será que ele se baseou no estruturalismo?
Ou será que ele emprestou os modelos estruturalistas para explicar sua teoria?
13/06/2005 às 23:42 #76711Miguel (admin)MestreSerá? Será que ele se baseou no estruturalismo?
Ou será que ele emprestou os modelos estruturalistas para explicar sua teoria?
14/06/2005 às 21:33 #76649Miguel (admin)MestreEu gostaria de saber como se dá a aplicação do método estruturalista? Por exemplo, eu tenho o discurso do método de descartes, e aplicarei o método estruturalista como leitura. Como se dá essa aplicação, como eu encontro o movimento do texto? entre outros…
14/06/2005 às 21:33 #76712Miguel (admin)MestreEu gostaria de saber como se dá a aplicação do método estruturalista? Por exemplo, eu tenho o discurso do método de descartes, e aplicarei o método estruturalista como leitura. Como se dá essa aplicação, como eu encontro o movimento do texto? entre outros…
06/10/2005 às 0:10 #76650Miguel (admin)Mestrealguem pode me ajudar???
queria saber sobre as contribuiçoes do estruturalismo para a psicologia…06/10/2005 às 0:10 #76713Miguel (admin)Mestrealguem pode me ajudar???
queria saber sobre as contribuiçoes do estruturalismo para a psicologia…08/11/2005 às 18:29 #76651Miguel (admin)Mestrepor favor me ajuda.Quais os aspectos investigados por wundt qua provocaram impacto direto sobre a psicologia? descreva cada um.
quais as diferen�aas entre Estruturalismo de tichener e o seculo da mente desenvolvido por wundt?
quais principais pontos de ruptura entre Funcionalismo e o Estruturalismo.obrigado pela ajuda.08/11/2005 às 18:29 #76714Miguel (admin)Mestrepor favor me ajuda.Quais os aspectos investigados por wundt qua provocaram impacto direto sobre a psicologia? descreva cada um.
quais as diferen�aas entre Estruturalismo de tichener e o seculo da mente desenvolvido por wundt?
quais principais pontos de ruptura entre Funcionalismo e o Estruturalismo.obrigado pela ajuda.28/11/2005 às 15:13 #76652Miguel (admin)MestreGostaria de saber qual a cotribuição do estruturalismo à antropologia e as principais categorias,teorias e trabalho por Lévi-strauss?
28/11/2005 às 15:13 #76715Miguel (admin)MestreGostaria de saber qual a cotribuição do estruturalismo à antropologia e as principais categorias,teorias e trabalho por Lévi-strauss?
04/12/2005 às 1:13 #76653Miguel (admin)MestreSegue abaixo digitalização do capítulo sobre estruturalismo da História da Filosofia de Nicola Abbagnano para uso dos estudantes que caírem nesse thread.
_______________________________________
§ 862. MAIS RECENTE EVOLUÇÃO: ESTRUTURALISMO
O estruturalismo não é uma doutrina científica, como a teoria da
informação, nem uma doutrina filosófica como a fenomenologia ou o
existencialismo. É antes urna tendência metodológica que se
manifesta actualmente em muitos campos do saber e que pode manter
relações mais ou menos estreitas
303
com diversas tendências filosóficas. As suas bases filosóficas são,
salvo algumas excepções, as mesmas
em que se apoiam a teoria da informação e a cibernética, o que
representa também uma submissão à exigência de encontrar uma mediação
entre a ordem e a desordem, ou seja, de reduzir a casualidade dos
fenómenos que surgem num certo campo (ou em vários campos) de
investigação ou experiência a uma
ordem relativamente constante que mostre as suas
relações recíprocas e torne possível a sua explicação e provável
previsão.
A palavra “estrutura” é vulgarmente -usada -ia linguagem comum e nas
ciências para indicar o
conjunto formado por aquelas partes dum complexo que têm por fim
garantir a permanência, e o funcionamento do próprio complexo. A
estrutura de uni
edifício é constituída pelas partes que lhe garantem a estabilidade e
consentem a sua utilização para )s
fins a que se destina. Por estrutura de um organismo entende-se o
conjunto de órgãos que permitem a
esse mesmo organismo o desempenho das suas funções e por conseguinte a
sobrevivência e o desenvolvimento. Em qualquer organização a estrutura
constitui o plano da actividade ou dos órgãos, que mantêm em pé a
própria organização, permitindo-lhe funcionar -em atenção aos seus
fins. O termo tem sido frequentemente empregado neste sentido, na
filosofia moderna e contemporânea (Marx, Dilthey, a fenomenologia, o
existencialismo) e até usado pela psicologia da forma ou gestaltismo (§
796) a qual demonstrou que os actos psíquicos não se explicam através
da agregação de elementos simples preexis-
304
tentes mas antes constituem formas ou estruturas que determinam a
natureza dos seus próprios elementos.
Todavia, no sentido de uma orientação metodológica definida, o
estruturalismo, contemporâneo nasceu na linguística por obra de
Fernando de Saussure (1857-1913). O seu Curso de linguística geral,
obra póstuma publicada pela primeira vez em 1916, só depois de 1930
começou a exercer a sua influência. As bases da concepção de Saussure
são as
seguintes: 1)-distinção entre língua e linguagem, considerada esta
como faculdade genérica, usada em
muitos campos (físico, fisiológico, psíquico, social), e entre aquela e
a palavra, que é o acto do sujeito falante; 2) -concepção da língua
como “uma totalidade e um. princípio de classificação”, como “um
sistema que apenas conhece a ordem que lhe é própria”, comparável ao
jogo de xadrez no qual o sistema total das regras permanece imutável,
quer as
peças, individualmente consideradas, sejam de madeira ou de marfim mas
muda completamente se
diminuir ou aumentar o número de peças, ou seja, a “gramática” do jogo
(Cours de linguistique générale, 1922 2@ p. 43).
A concepção da (língua como “sistema” ou, como se dirá mais tarde,
“estrutura”, permitiu a Saussure distinguir a dimensão sincrónica da
dimensão diacrónica da própria língua. A dimensão sincrónica consiste
na simples ordem existente entre os elementos lexicais, gramaticais e
fonológicos próprios de urna língua e que no seu conjunto constituem
não um simples agregado mais um “sistema” de ele-
305
mentos ligados entre si por relações recíprocas. A g
dimensão diacrónica é o conjunto das variações sofridas por um sistema
linguístico sob a acção de acontecimentos que não só lhe são estranhos
como
não formam qualquer sistema entre si. O próprio Saussure insistiu no
carácter não necessitante da estrutura sincrónica: “Na língua”,
escreveu, “não há força que garanta a conservação da regularidade que
eventualmente reine neste ou naquele sector” (Cours, p. 131). E em
vários outros passos no decurso da obra, pôs em evidência os elementos
casuais que interferem em qualquer sistema linguístico.
Uma concepção semelhante da língua, com o
emprego do termo estrutura, apareceu expressa nas
teses anónimas apresentadas ao –primeiro congresso de filologia eslava
que teve lugar em Praga em 1919, inaugurando a actividade do Círculo
Linguístico de Praga. Três linguistas russos, R. Jakobson, S. Karcevsky
e N. Trubetzkoy, referindo-se precisamente a Saussure, apresentaram
mais tarde, no primeiro congresso internacional de linguística, reunido
na
Haia em 1928, uma proposta para que a língua fosse estudada através das
combinações estruturais dos seus elementos, chamados fonemas. “Definir
um fonema”, escrevia Trubetzkoy num artigo, em 1933, “é indicar o seu
lugar no sistema fonológico o que só será possível se se tiver em conta
a estrutura do próprio sistema… A fonologia parte do sistema como de
um todo orgânico do qual estuda a estrutura”.
Deste ponto de vista, cada língua escolhe os seus fonemas, esta escolha
não é porém casual, quer
306
dizer, arbitrária, nem natural ou necessária, porque cada escolha
condiciona ou limita as outras e cada grupo ou série de escolhas é
condicionado pela exigência da eficácia comunicativa da linguagem. Os
fonemas podem portanto reduzir-se a tipos que a ciência da linguagem se
propõe determinar.
Um passo ulterior nessa via foi dado por Noam Chomsky (Aspects of the
Theory of Sintax, 1965), que veio revigorar de novo a velha teoria de
uma gramática universal, ou seja, de uma gramática que estuda aquilo
que todas as línguas têm necessariamente em comum e determina por isso
a estrutura universal de todas as línguas. Chomsky revalorizou os
precedentes históricos desta gramática e, principalmente a gramática
geral raciocinada de Portoreale (Linguistica cartesiana, 1966); falou
ainda de uma gramática generativa, encarada como um “sistema de regras
que de algum modo explícito e bem definido confere descrições
estruturais às frases”, considerando-a, não já como um modelo presente
aos que falam ou escutam uma dada língua mas como “a descrição
estrutural das frases que ocorrem nessa
língua” (Aspects of the Theory Sintax, p. 8 e segs.). Chomsky procurou,
por outras palavras, responder à questão de saber quais são as
estruturas gramaticais que tornam possível a enunciação de previsões
válidas e verificáveis relativamente às várias línguas em particular.
Para responder a esta questão, é necessário encontrar primeiro os
modelos estruturais de cada língua em particular para ;alcançar em
seguida previsões verificáveis relativamente às estruturas comuns a
todas as línguas.
307
A obra de Chomsky, pela sua importância, tem sido por vezes comparada à
revolução de Copérnico ou à de Kant!(IE. Bach em Os problemas actuais
da linguística, 1968, p. 151). Em todo o caso, o método estruturalista
da linguística apresenta analogias substanciais com o método de
axiomatização adoptado pelas ciências matemático-naturais. Trata-se
ainda aqui de construir um modelo que em vez de objectos fornecidos por
caracteres intuitivos se sirva de símbolos apropriados cujas regras de
combinação sejam enunciadas por meio de axiomas. Trata-se em segundo
lugar de “interpretam o modelo, pondo-o à prova num campo específico
(que neste caso é uma língua determinada) e determinando quais os
axiomas que devem ser modificados e mudados para que o modelo se
aproxime o mais possível do campo & experiência que deve descrever.
Não há dúvida que o método estruturalista favorece a dimensão
sincrónica relativamente à diacrónica. Os conceitos de desenvolvimento,
de história, de progresso, permanecem-lhe estranhos. Tende a
reduzir as variações diacrónicas de uma estrutura **ofu ao
funcionamento das regras próprias dessa mesma
estrutura ou às possibilidades compreendidas numa
estrutura mais geral (estrutura de grupo) que compreende conjuntamente
a estrutura original e as suas
variações. Não pretende porém negar o carácter “criador” da linguagem
nem limitar arbitrariamente as escolhas dos indivíduos falantes.
Todavia, o carácter de modelo teórico ou formal que a estrutura assume
nas doutrinas de certos linguistas, levou outros a acentuarem a
concepção funcionalista da lin-
308
guagem. André Martinet, por exemplo, afirma que “na linguagem apenas se
pode encontrar uma estrutura, por assim dizer, no seu funcionamento” e
que “a
função é o critério da realidade dinguística” (A Functional View of
Language, 1962, cap. 1). A consideração da função permite-nos penetrar
mais para o
interior da realidade ida língua, definida como “um
instrumento de continuação segundo o qual a experiência humana se
analisa, de maneira diferente em cada comunidade, em unidades ou mon”as
de conteúdo semântico e forma fóni-ca” e evitar a redução arbitrária da
realidade dinguística a esquemas pre-estabelecidos que poderiam levar a
descurar os factos observáveis.
Na realidade não existe nenhuma oposição de principio entre
estruturalistas e funcionalistas. Os primeiros acentuam a importância
do modelo teórico e os segundos a da sua interpretabilidade em termos
de factos empíricos. É porém claro que um modelo teórico, se não for um
simples esquema formal caso em que, para a sua validade, bastará a
ausência de contradições internas -deve possuir a sua
funcionalidade, que é como quem diz a sua teleologia intrínseca, uma
vez que deve descrever (ou seja, explicar e prever) o modo pelo qual a
realidade a que se reporta, se mantém nos seus traços fundamentais e no
quadro das suas possíveis variações. O modelo de um edifício,
arquitectónico que não garanta a estabilidade do edifício e a
satisfação pelo mesmo dos fins para que foi construído não poderá valer
como “estrutura” desse edifício. Considerações semelhantes se podem
fazer quanto à
309
estrutura dos organismos ’vivos- que não Pode ser entendida, se
abstrairMOS das funções destes-e quanto a qualquer tipo ou qualquer
que espécie de estrutura,
**
seja O campo a que Se refira. A funCIOnalidade de unia estrutura fim
intrín é Por Conseguinte o
**
SI, da Própria estru,tura suavalidade, e a
medida da ’Estas COnsiderações sã, Campos (nurnerOsissirnos)
aosváqluidaaiss seara todos os
**
estendeu ou tenta estender-se a metodologia estruiturajista. Entre
estes campos Pode Considerar-se campeã a antropologia cultural na qual
esta orientação fora já, por volta de 1930, Perfilhada pelo etnólogo
inglês A. R. Radeliffe-Brown, ’tendo POrénI encontrado o seu mais
brilhante defensor na pessoa do francês Claude Levi-Strauss. Já na sua
obra sobre as estruturas elementares do parentesco (1947),
Lévi-Strauss, para explicar essas estruturas e construir-lhes a niatriz
comum, se baseava na analogia com a linguística. Considerando a
Proibição do incesto, comum a todas as sociedades, ainda que em formas
e limites Muito diversos, realçava a relação existente entre o acaso e
a Ordem, que é pressuposto de toda e qualquer consideração
estruturalista. “0 facto da regra”, dizia, “cOnsiderado,
independentemente das suas modalidades, Constitui a Própria essência da
Proibição do incesto, uma vez que se a natureza abandona o conúbio ao
acaso e ao arbítrio, é iMPOSSível à cultura não introduzir uma ordem de
qualquer natureza, já Que ela não existe. A principal tarefa da cultura
é a de garantir a existência do grupo como grupo e Portanto de
substituir, neste domínio como nos
310
outros, a organização ao acaso”. (Les structures élémentaires de Ia
parenté, 19672, p. 37).
Porém a ordem de que aqui se fala é de natureza objectiva e pertence à
própria realidade social. Noutras obras, Lévi-Strauss considerou a
ordem estrutural como um modelo não redutível às relações sociais
observáveis em determinada sociedade. Um modelo estrutural, diz-nos,
deve satisfazer quatro condições. Em primeiro lugar, deve ser
sistemático, quer dizer, consistir em elementos tais que a modificação
de um qualquer deles, arraste a modificação de todos os outros. Em
segundo lugar, deve pertencer a um grupo de transformações, cada uma
das quais corresponda a um modelo da mesma família, de modo que o
conjunto destas transformações constitua um grupo de modelos. Em
terceiro lugar, as
propriedades indicadas devem permitir prever de que maneira reagirá o
-modelo em caso de modificação de um dos seus elementos. E, por fim, o
modelo deve apresentar-se construído de tal maneira que o
seu funcionamento possa dar conta de todos os factos observados
(Anthropologie structurale, 1958, p. 306). Com estas regras,
Lévi-Strauss reconduz a
noção de estrutura à de modelo formal e cita expressamente determinado
passo da obra de Von Neumann e Morgenstern, Teoria dos jogos e
comportamento económico (1944). Este ponto de vista não é todavia
mantido com coerência por Lévi-Strauss, o qual procura uma garantia da
objectividade do modelo estrutural elaborado pelos etnólogos e vai
encontrá-la na actividade inconsciente que domina não apenas os factos
sociais, mas também o estudo
311
e consideração de tais factos e por conseguinte a
construção dos modelos estruturais; reconhece assim a correspondência
necessária entre estes modelos e
as estruturas objectivas da sociedade para cuja compreensão servem. A
“antropologia”, escreveu ele a
propósito disto, “não faz outra coisa senão demonstrar uma homologia de
estrutura entre o pensamento humano = exercício e o objecto humano a
que se aplica”. (Le totémisme aujourd’hui, 1962, trad. ital., p. 129).
Deste ponto de vista, o estruturalismo transforma-se de posição
metodológica em metafísica de tipo antigo. A estrutura não seria um
instrumento conceptual, um modelo teórico destinado a enquadrar os
factos observáveis, a determinar-lhes as regras de combinação e a
tornar possível a previsão, mas sim o Ser ou a Substância, a qual
encontra igualmente expressão na realidade das coisas e ão conhecimento
desta realidade, garantindo a correspondência ou, como diz
Lévi-Strauss, a homologia entre realidade e conhecimento. Nesta base, o
estruturalismo aparece-nos às vezes ligado à metafísica do Ser que
inspira a última fase do pensamento de Heidegger (§ 847). Nas obras de
um psicanalista francês, Jacques Lacan, as estruturas verificáveis nas
mais diversas ;actividades do homem e acima de tudo na que é simbólica
(a dinguística) e dominante, são atribuídas ao Inconsciente que,
precisamente porque
o é, é o outro do homem, outro esse que é também
o Logos, ou seja, a revelação do Ser na linguagem. E é justamente
através de uma análise estruturalista das chamadas “ciências humanas”
(biologia, filolo-
312
gia, economia) que Midhel Foucault formula a sua
profecia sobre o fim próximo do homem (As palavras e as coisas, 1966).
Segundo Foucault, o homem é uma !invenção linguística; o reconhecimento
do mesmo como sujeito capaz de iniciativa, de escolha, etc., deve-se ao
desaparecimento do conceito tradicional da linguagem como pura
representação das coisas na sua ordem mutável, desaparecimento esse que
faz do homem um ente limitado, opaco e impenetrável. Como tal, o homem
torna-se um enigma insolúvel: não se identifica com a vida que está
continuamente a fugir-lhe e lhe prescreve a morte; não se identifica
com o seu trabalho, que lhe foge não apenas quando já acabou mas também
e fr.-quentemente quando nem chegou a começar; e não se identifica com
a linguagem que encontra já expressa e articulada em leis que lhe são
anteriores. Mas se a linguagem, como está a acontecer, retorna à sua
natureza de manifestação do Ser, o homem “regressará à inexistência
serena em que foi mantido durante certo tempo pela unidade imperiosa do
Discurso” (Les mots et les choses, trad. Ital. p. 413). Trata-se aqui,
como se vê, do anúncio profético duma nova “era do Sem de que já
Heidegger falava.
É claro que o estruturalismo, sendo um instrumento metodológico válido
para a sistematização e previsão dos factos observáveis em vários
campos, não se presta de modo algum a ser utilizado por profecias
apocalípticas e totalitárias deste género. Encontra-se todavia uma
rigidez metafísica da noção
313
de estrutura, até mesmo nas interpretações estruturalistas do marxismo.
Louis Althusser, por exemplo, embora proponha uma interpretação do
conceito marxista de “estrutura” em termos de estruturalismo moderno,
insiste no carácter “real” da estrutura, rio sentido de que o real é
independente de todo o
conhecimento ainda que só através do conhecimento possa ser definido.
“0 real”, escreveu, “e os meios do seu conheci-mento formam um todo
único; o real é a sua estrutura conhecida ou a conhecem e neste sentido
é um “campo teórico imenso e vivo, desenvolvendo-se continuamente, no
qual os acontecimentos da história humana podem agora ser dominados
pela experiência do homem, pois estão sujeitos à sua captura
conceptual, ao seu conhecimento” (Pour Marx, 1965, trad. ital., 1967,
p. 221). Deste ponto de vista, a distinção estabelecida por Marx entre
estrutura e superestrutura aparece menos e é substituída pela distinção
entre uma estrutura global que é o modo de produção, o qual inclui
todos os elementos, até mesmo ideológicos, que o condicionam, e uma
estrutura regional que dá a certos fenómenos o carácter de objectos
económicos e que se encontra situada num ponto definido da estrutura
global (Althusser-Balibar, Lire le Capital, 1965, trad. ital., 1968, p.
191-92). O conhecimento global toma-se então a condição indispensável
da praxe política.
Como se vê, o estruturalismo oscila, e às vezes na obra dum mesmo autor
(como no caso de LéviStrauss), entre uma interpretação realista e uma
Interpretação metodológica da estrutura. Segundo a
314
interpretação realista, a estrutura é a “realidade” que constitui o
Homem, ou o Ser ou o Mundo social. Segundo a interpretação
metodológica, cada estrutura é um modelo hipotético que torna possível o
reconhecimento de relações verificáveis entre factos ou conjuntos de
factos e o fornecimento do quadro geral destas relações o qual por sua
vez permite a previsão estatística das suas transformações. Em todo o
caso, porém, o estruturalismo opõe-se a toda e qualquer forma de
subjectivismo idealista (do qual é a liquidação, até mesmo no domínio
das ciências humanas) e de historicismo. Não é anti-histórico e sim
a-histórico. A individualidade histórica, dos eventos, baseados nos
parâmetros cronológicos e geográficos destes está fora da sua
consideração. A dimensão diacrónica dum modelo estrutural nada tem a
ver com um “processo histórico” que é sempre progresso ou regresso,
involução ou desenvolvimento, nascimento ou declínio. A estrutura é
antes um grupo de transformações, no sentido especificamente matemático
do termo “grupo” que indica simplesmente um modelo constituído por
quaisquer elementos entre os quais ocorrem relações de natureza
reversívell como são as existentes entre números inteiros positivos e
negativos. Pondo de lado a sua rigidez metafísica e atendendo ao uso
profícuo que dele fazem as ciências, o estruturalismo aparece-nos como
uma confirmação do carácter finito da razão, em
-luta com o acaso e que do acaso extrai, através do cálculo de
-probabilidades, o fundamento da validade dos seus conhecimentos.04/12/2005 às 1:13 #76716Miguel (admin)MestreSegue abaixo digitalização do capítulo sobre estruturalismo da História da Filosofia de Nicola Abbagnano para uso dos estudantes que caírem nesse thread.
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§ 862. MAIS RECENTE EVOLUÇÃO: ESTRUTURALISMO
O estruturalismo não é uma doutrina científica, como a teoria da
informação, nem uma doutrina filosófica como a fenomenologia ou o
existencialismo. É antes urna tendência metodológica que se
manifesta actualmente em muitos campos do saber e que pode manter
relações mais ou menos estreitas
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com diversas tendências filosóficas. As suas bases filosóficas são,
salvo algumas excepções, as mesmas
em que se apoiam a teoria da informação e a cibernética, o que
representa também uma submissão à exigência de encontrar uma mediação
entre a ordem e a desordem, ou seja, de reduzir a casualidade dos
fenómenos que surgem num certo campo (ou em vários campos) de
investigação ou experiência a uma
ordem relativamente constante que mostre as suas
relações recíprocas e torne possível a sua explicação e provável
previsão.
A palavra “estrutura” é vulgarmente -usada -ia linguagem comum e nas
ciências para indicar o
conjunto formado por aquelas partes dum complexo que têm por fim
garantir a permanência, e o funcionamento do próprio complexo. A
estrutura de uni
edifício é constituída pelas partes que lhe garantem a estabilidade e
consentem a sua utilização para )s
fins a que se destina. Por estrutura de um organismo entende-se o
conjunto de órgãos que permitem a
esse mesmo organismo o desempenho das suas funções e por conseguinte a
sobrevivência e o desenvolvimento. Em qualquer organização a estrutura
constitui o plano da actividade ou dos órgãos, que mantêm em pé a
própria organização, permitindo-lhe funcionar -em atenção aos seus
fins. O termo tem sido frequentemente empregado neste sentido, na
filosofia moderna e contemporânea (Marx, Dilthey, a fenomenologia, o
existencialismo) e até usado pela psicologia da forma ou gestaltismo (§
796) a qual demonstrou que os actos psíquicos não se explicam através
da agregação de elementos simples preexis-
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tentes mas antes constituem formas ou estruturas que determinam a
natureza dos seus próprios elementos.
Todavia, no sentido de uma orientação metodológica definida, o
estruturalismo, contemporâneo nasceu na linguística por obra de
Fernando de Saussure (1857-1913). O seu Curso de linguística geral,
obra póstuma publicada pela primeira vez em 1916, só depois de 1930
começou a exercer a sua influência. As bases da concepção de Saussure
são as
seguintes: 1)-distinção entre língua e linguagem, considerada esta
como faculdade genérica, usada em
muitos campos (físico, fisiológico, psíquico, social), e entre aquela e
a palavra, que é o acto do sujeito falante; 2) -concepção da língua
como “uma totalidade e um. princípio de classificação”, como “um
sistema que apenas conhece a ordem que lhe é própria”, comparável ao
jogo de xadrez no qual o sistema total das regras permanece imutável,
quer as
peças, individualmente consideradas, sejam de madeira ou de marfim mas
muda completamente se
diminuir ou aumentar o número de peças, ou seja, a “gramática” do jogo
(Cours de linguistique générale, 1922 2@ p. 43).
A concepção da (língua como “sistema” ou, como se dirá mais tarde,
“estrutura”, permitiu a Saussure distinguir a dimensão sincrónica da
dimensão diacrónica da própria língua. A dimensão sincrónica consiste
na simples ordem existente entre os elementos lexicais, gramaticais e
fonológicos próprios de urna língua e que no seu conjunto constituem
não um simples agregado mais um “sistema” de ele-
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mentos ligados entre si por relações recíprocas. A g
dimensão diacrónica é o conjunto das variações sofridas por um sistema
linguístico sob a acção de acontecimentos que não só lhe são estranhos
como
não formam qualquer sistema entre si. O próprio Saussure insistiu no
carácter não necessitante da estrutura sincrónica: “Na língua”,
escreveu, “não há força que garanta a conservação da regularidade que
eventualmente reine neste ou naquele sector” (Cours, p. 131). E em
vários outros passos no decurso da obra, pôs em evidência os elementos
casuais que interferem em qualquer sistema linguístico.
Uma concepção semelhante da língua, com o
emprego do termo estrutura, apareceu expressa nas
teses anónimas apresentadas ao –primeiro congresso de filologia eslava
que teve lugar em Praga em 1919, inaugurando a actividade do Círculo
Linguístico de Praga. Três linguistas russos, R. Jakobson, S. Karcevsky
e N. Trubetzkoy, referindo-se precisamente a Saussure, apresentaram
mais tarde, no primeiro congresso internacional de linguística, reunido
na
Haia em 1928, uma proposta para que a língua fosse estudada através das
combinações estruturais dos seus elementos, chamados fonemas. “Definir
um fonema”, escrevia Trubetzkoy num artigo, em 1933, “é indicar o seu
lugar no sistema fonológico o que só será possível se se tiver em conta
a estrutura do próprio sistema… A fonologia parte do sistema como de
um todo orgânico do qual estuda a estrutura”.
Deste ponto de vista, cada língua escolhe os seus fonemas, esta escolha
não é porém casual, quer
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dizer, arbitrária, nem natural ou necessária, porque cada escolha
condiciona ou limita as outras e cada grupo ou série de escolhas é
condicionado pela exigência da eficácia comunicativa da linguagem. Os
fonemas podem portanto reduzir-se a tipos que a ciência da linguagem se
propõe determinar.
Um passo ulterior nessa via foi dado por Noam Chomsky (Aspects of the
Theory of Sintax, 1965), que veio revigorar de novo a velha teoria de
uma gramática universal, ou seja, de uma gramática que estuda aquilo
que todas as línguas têm necessariamente em comum e determina por isso
a estrutura universal de todas as línguas. Chomsky revalorizou os
precedentes históricos desta gramática e, principalmente a gramática
geral raciocinada de Portoreale (Linguistica cartesiana, 1966); falou
ainda de uma gramática generativa, encarada como um “sistema de regras
que de algum modo explícito e bem definido confere descrições
estruturais às frases”, considerando-a, não já como um modelo presente
aos que falam ou escutam uma dada língua mas como “a descrição
estrutural das frases que ocorrem nessa
língua” (Aspects of the Theory Sintax, p. 8 e segs.). Chomsky procurou,
por outras palavras, responder à questão de saber quais são as
estruturas gramaticais que tornam possível a enunciação de previsões
válidas e verificáveis relativamente às várias línguas em particular.
Para responder a esta questão, é necessário encontrar primeiro os
modelos estruturais de cada língua em particular para ;alcançar em
seguida previsões verificáveis relativamente às estruturas comuns a
todas as línguas.
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A obra de Chomsky, pela sua importância, tem sido por vezes comparada à
revolução de Copérnico ou à de Kant!(IE. Bach em Os problemas actuais
da linguística, 1968, p. 151). Em todo o caso, o método estruturalista
da linguística apresenta analogias substanciais com o método de
axiomatização adoptado pelas ciências matemático-naturais. Trata-se
ainda aqui de construir um modelo que em vez de objectos fornecidos por
caracteres intuitivos se sirva de símbolos apropriados cujas regras de
combinação sejam enunciadas por meio de axiomas. Trata-se em segundo
lugar de “interpretam o modelo, pondo-o à prova num campo específico
(que neste caso é uma língua determinada) e determinando quais os
axiomas que devem ser modificados e mudados para que o modelo se
aproxime o mais possível do campo & experiência que deve descrever.
Não há dúvida que o método estruturalista favorece a dimensão
sincrónica relativamente à diacrónica. Os conceitos de desenvolvimento,
de história, de progresso, permanecem-lhe estranhos. Tende a
reduzir as variações diacrónicas de uma estrutura **ofu ao
funcionamento das regras próprias dessa mesma
estrutura ou às possibilidades compreendidas numa
estrutura mais geral (estrutura de grupo) que compreende conjuntamente
a estrutura original e as suas
variações. Não pretende porém negar o carácter “criador” da linguagem
nem limitar arbitrariamente as escolhas dos indivíduos falantes.
Todavia, o carácter de modelo teórico ou formal que a estrutura assume
nas doutrinas de certos linguistas, levou outros a acentuarem a
concepção funcionalista da lin-
308
guagem. André Martinet, por exemplo, afirma que “na linguagem apenas se
pode encontrar uma estrutura, por assim dizer, no seu funcionamento” e
que “a
função é o critério da realidade dinguística” (A Functional View of
Language, 1962, cap. 1). A consideração da função permite-nos penetrar
mais para o
interior da realidade ida língua, definida como “um
instrumento de continuação segundo o qual a experiência humana se
analisa, de maneira diferente em cada comunidade, em unidades ou mon”as
de conteúdo semântico e forma fóni-ca” e evitar a redução arbitrária da
realidade dinguística a esquemas pre-estabelecidos que poderiam levar a
descurar os factos observáveis.
Na realidade não existe nenhuma oposição de principio entre
estruturalistas e funcionalistas. Os primeiros acentuam a importância
do modelo teórico e os segundos a da sua interpretabilidade em termos
de factos empíricos. É porém claro que um modelo teórico, se não for um
simples esquema formal caso em que, para a sua validade, bastará a
ausência de contradições internas -deve possuir a sua
funcionalidade, que é como quem diz a sua teleologia intrínseca, uma
vez que deve descrever (ou seja, explicar e prever) o modo pelo qual a
realidade a que se reporta, se mantém nos seus traços fundamentais e no
quadro das suas possíveis variações. O modelo de um edifício,
arquitectónico que não garanta a estabilidade do edifício e a
satisfação pelo mesmo dos fins para que foi construído não poderá valer
como “estrutura” desse edifício. Considerações semelhantes se podem
fazer quanto à
309
estrutura dos organismos ’vivos- que não Pode ser entendida, se
abstrairMOS das funções destes-e quanto a qualquer tipo ou qualquer
que espécie de estrutura,
**
seja O campo a que Se refira. A funCIOnalidade de unia estrutura fim
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**
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aosváqluidaaiss seara todos os
**
estendeu ou tenta estender-se a metodologia estruiturajista. Entre
estes campos Pode Considerar-se campeã a antropologia cultural na qual
esta orientação fora já, por volta de 1930, Perfilhada pelo etnólogo
inglês A. R. Radeliffe-Brown, ’tendo POrénI encontrado o seu mais
brilhante defensor na pessoa do francês Claude Levi-Strauss. Já na sua
obra sobre as estruturas elementares do parentesco (1947),
Lévi-Strauss, para explicar essas estruturas e construir-lhes a niatriz
comum, se baseava na analogia com a linguística. Considerando a
Proibição do incesto, comum a todas as sociedades, ainda que em formas
e limites Muito diversos, realçava a relação existente entre o acaso e
a Ordem, que é pressuposto de toda e qualquer consideração
estruturalista. “0 facto da regra”, dizia, “cOnsiderado,
independentemente das suas modalidades, Constitui a Própria essência da
Proibição do incesto, uma vez que se a natureza abandona o conúbio ao
acaso e ao arbítrio, é iMPOSSível à cultura não introduzir uma ordem de
qualquer natureza, já Que ela não existe. A principal tarefa da cultura
é a de garantir a existência do grupo como grupo e Portanto de
substituir, neste domínio como nos
310
outros, a organização ao acaso”. (Les structures élémentaires de Ia
parenté, 19672, p. 37).
Porém a ordem de que aqui se fala é de natureza objectiva e pertence à
própria realidade social. Noutras obras, Lévi-Strauss considerou a
ordem estrutural como um modelo não redutível às relações sociais
observáveis em determinada sociedade. Um modelo estrutural, diz-nos,
deve satisfazer quatro condições. Em primeiro lugar, deve ser
sistemático, quer dizer, consistir em elementos tais que a modificação
de um qualquer deles, arraste a modificação de todos os outros. Em
segundo lugar, deve pertencer a um grupo de transformações, cada uma
das quais corresponda a um modelo da mesma família, de modo que o
conjunto destas transformações constitua um grupo de modelos. Em
terceiro lugar, as
propriedades indicadas devem permitir prever de que maneira reagirá o
-modelo em caso de modificação de um dos seus elementos. E, por fim, o
modelo deve apresentar-se construído de tal maneira que o
seu funcionamento possa dar conta de todos os factos observados
(Anthropologie structurale, 1958, p. 306). Com estas regras,
Lévi-Strauss reconduz a
noção de estrutura à de modelo formal e cita expressamente determinado
passo da obra de Von Neumann e Morgenstern, Teoria dos jogos e
comportamento económico (1944). Este ponto de vista não é todavia
mantido com coerência por Lévi-Strauss, o qual procura uma garantia da
objectividade do modelo estrutural elaborado pelos etnólogos e vai
encontrá-la na actividade inconsciente que domina não apenas os factos
sociais, mas também o estudo
311
e consideração de tais factos e por conseguinte a
construção dos modelos estruturais; reconhece assim a correspondência
necessária entre estes modelos e
as estruturas objectivas da sociedade para cuja compreensão servem. A
“antropologia”, escreveu ele a
propósito disto, “não faz outra coisa senão demonstrar uma homologia de
estrutura entre o pensamento humano = exercício e o objecto humano a
que se aplica”. (Le totémisme aujourd’hui, 1962, trad. ital., p. 129).
Deste ponto de vista, o estruturalismo transforma-se de posição
metodológica em metafísica de tipo antigo. A estrutura não seria um
instrumento conceptual, um modelo teórico destinado a enquadrar os
factos observáveis, a determinar-lhes as regras de combinação e a
tornar possível a previsão, mas sim o Ser ou a Substância, a qual
encontra igualmente expressão na realidade das coisas e ão conhecimento
desta realidade, garantindo a correspondência ou, como diz
Lévi-Strauss, a homologia entre realidade e conhecimento. Nesta base, o
estruturalismo aparece-nos às vezes ligado à metafísica do Ser que
inspira a última fase do pensamento de Heidegger (§ 847). Nas obras de
um psicanalista francês, Jacques Lacan, as estruturas verificáveis nas
mais diversas ;actividades do homem e acima de tudo na que é simbólica
(a dinguística) e dominante, são atribuídas ao Inconsciente que,
precisamente porque
o é, é o outro do homem, outro esse que é também
o Logos, ou seja, a revelação do Ser na linguagem. E é justamente
através de uma análise estruturalista das chamadas “ciências humanas”
(biologia, filolo-
312
gia, economia) que Midhel Foucault formula a sua
profecia sobre o fim próximo do homem (As palavras e as coisas, 1966).
Segundo Foucault, o homem é uma !invenção linguística; o reconhecimento
do mesmo como sujeito capaz de iniciativa, de escolha, etc., deve-se ao
desaparecimento do conceito tradicional da linguagem como pura
representação das coisas na sua ordem mutável, desaparecimento esse que
faz do homem um ente limitado, opaco e impenetrável. Como tal, o homem
torna-se um enigma insolúvel: não se identifica com a vida que está
continuamente a fugir-lhe e lhe prescreve a morte; não se identifica
com o seu trabalho, que lhe foge não apenas quando já acabou mas também
e fr.-quentemente quando nem chegou a começar; e não se identifica com
a linguagem que encontra já expressa e articulada em leis que lhe são
anteriores. Mas se a linguagem, como está a acontecer, retorna à sua
natureza de manifestação do Ser, o homem “regressará à inexistência
serena em que foi mantido durante certo tempo pela unidade imperiosa do
Discurso” (Les mots et les choses, trad. Ital. p. 413). Trata-se aqui,
como se vê, do anúncio profético duma nova “era do Sem de que já
Heidegger falava.
É claro que o estruturalismo, sendo um instrumento metodológico válido
para a sistematização e previsão dos factos observáveis em vários
campos, não se presta de modo algum a ser utilizado por profecias
apocalípticas e totalitárias deste género. Encontra-se todavia uma
rigidez metafísica da noção
313
de estrutura, até mesmo nas interpretações estruturalistas do marxismo.
Louis Althusser, por exemplo, embora proponha uma interpretação do
conceito marxista de “estrutura” em termos de estruturalismo moderno,
insiste no carácter “real” da estrutura, rio sentido de que o real é
independente de todo o
conhecimento ainda que só através do conhecimento possa ser definido.
“0 real”, escreveu, “e os meios do seu conheci-mento formam um todo
único; o real é a sua estrutura conhecida ou a conhecem e neste sentido
é um “campo teórico imenso e vivo, desenvolvendo-se continuamente, no
qual os acontecimentos da história humana podem agora ser dominados
pela experiência do homem, pois estão sujeitos à sua captura
conceptual, ao seu conhecimento” (Pour Marx, 1965, trad. ital., 1967,
p. 221). Deste ponto de vista, a distinção estabelecida por Marx entre
estrutura e superestrutura aparece menos e é substituída pela distinção
entre uma estrutura global que é o modo de produção, o qual inclui
todos os elementos, até mesmo ideológicos, que o condicionam, e uma
estrutura regional que dá a certos fenómenos o carácter de objectos
económicos e que se encontra situada num ponto definido da estrutura
global (Althusser-Balibar, Lire le Capital, 1965, trad. ital., 1968, p.
191-92). O conhecimento global toma-se então a condição indispensável
da praxe política.
Como se vê, o estruturalismo oscila, e às vezes na obra dum mesmo autor
(como no caso de LéviStrauss), entre uma interpretação realista e uma
Interpretação metodológica da estrutura. Segundo a
314
interpretação realista, a estrutura é a “realidade” que constitui o
Homem, ou o Ser ou o Mundo social. Segundo a interpretação
metodológica, cada estrutura é um modelo hipotético que torna possível o
reconhecimento de relações verificáveis entre factos ou conjuntos de
factos e o fornecimento do quadro geral destas relações o qual por sua
vez permite a previsão estatística das suas transformações. Em todo o
caso, porém, o estruturalismo opõe-se a toda e qualquer forma de
subjectivismo idealista (do qual é a liquidação, até mesmo no domínio
das ciências humanas) e de historicismo. Não é anti-histórico e sim
a-histórico. A individualidade histórica, dos eventos, baseados nos
parâmetros cronológicos e geográficos destes está fora da sua
consideração. A dimensão diacrónica dum modelo estrutural nada tem a
ver com um “processo histórico” que é sempre progresso ou regresso,
involução ou desenvolvimento, nascimento ou declínio. A estrutura é
antes um grupo de transformações, no sentido especificamente matemático
do termo “grupo” que indica simplesmente um modelo constituído por
quaisquer elementos entre os quais ocorrem relações de natureza
reversívell como são as existentes entre números inteiros positivos e
negativos. Pondo de lado a sua rigidez metafísica e atendendo ao uso
profícuo que dele fazem as ciências, o estruturalismo aparece-nos como
uma confirmação do carácter finito da razão, em
-luta com o acaso e que do acaso extrai, através do cálculo de
-probabilidades, o fundamento da validade dos seus conhecimentos. -
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