Início › Fóruns › Questões sobre Filosofia em geral › Fundamentos Epistemológicos da Filosofia Advaita-Vedanta de Nisargadatta Maharaj
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15/09/2011 às 13:26 #88736ppauloMembro
E onde estão os tais fundamentos epistemológicos?
16/09/2011 às 2:25 #88737MonstrinhoMembroE onde estão os tais fundamentos epistemológicos?
Estão aí no texto. Afinal, o que você entende por Epistemologia? Todos sabemos que episteme vem do grego, e que quer dizer conhecimento, "ciência" etc. Nos moldes gregos - pq as origens da nossa ciência moderna e contemporânea estão na Grécia - penso que você não irá encontrar nada de "epistemológico" no texto do Nisargadatta. Eu ainda não ir discutir isso. Mas o próprio Hans-George Gadamer nos lembra que o termo Alethéia, em grego, significa desocultação :o, e este, tem sido o ideal científico e epistemológico desde os gregos até os dias de hoje. A ciência quer buscar aquilo que está por detrás das aparências das coisas. Este não é, definitivamente, o ideal epistemológico da Filosofia Advaita-Vedanta.Entendo, pois, a Filosofia Oriental como uma Epistemologia dentro da Teoria do Conhecimento. Essa Epistemologia é toda voltada para o conhecimento interior, ao contrário da nossa ciência ocidental, que, apesar de fazer uma crítica sobre a dicotomia sujeito/objeto, ainda continua-se estudando a ciência desse ponto de vista: o sujeito está aqui, e as coisas estão acolá. Mas, lógico, o conhecimento sobre as coisas está no próprio sujeito e não nas coisas em si.Vou tentar resumir a epistemologia do Nisargadatta. Ele diz: "Eu não sou isto e não sou aquilo, do contrário, seria algo fora de mim mesmo, o que é ilógico". "Se eu consigo observar meus pensamentos e sentimentos, então eles não são meus - continua Nisargadatta - uma vez que EU estou observando-os, portanto o observador, o conhecedor não é a coisa observada ou conhecida". "EU SOU" apenas, diz Nisargadatta; não sou isto e não sou aquilo.O resultado desta epistemologia, é que podemos olhar para que o somos, aparentemente, olhar para a persona que não existe senão socialmente de um ponto de vista de um sujeito ou uma testemunha que observa silenciosamente. Desse ponto de vista, os resultados práticos da meditação, baseados na concentração no EU SOU, demonstram que tal persona não tem outra realidade senão aquela construída socialmente. E o pensamento Advaita-Vedanta conclui então: "Eu não sou essa persona, uma vez que ela está revestida de um "invólucro de crenças sociais" (Ego), que se traduz num conjunto de crenças que é incutido no indivíduo, desde a sua infância. Essas crenças variam desde acreditar que somos o corpo, ou que somos fulano ou sicrano - com estória pessoal: nome próprio, identidade social, sexo, profissão, e tudo o mais em termos de crenças sociais que estão relacionadas a essa persona ou Ego. Esse corpo e essa mente com esse conjunto de crenças, dirá Nisargadatta e os demais filósofos da Advaita-vedanta, são ilusões criadas e acreditadas por essa mesma persona que foi construída socialmente. E quem é o EU SOU? é o Self, se você quiser, também chamado de Atman, ou seja, aquele EU que é uma manifestação da divindade, daí o ditado das religiões que proclamam que o "homem é feito à imagem e semelhança de Deus". Mas o que é feito à imagem e semelhança de Deus, é esse Atman. O Corpo e a mente não são feitos à imagem e semelhança de nada. Daí também, Krishna referir-se - quando se mostra a Arjuna - ao dia e à noite de Brahman. O Dia de Brahman, corresponderia à criação do nosso Universo (Big-bang) e a Noite de Brahman corresponde ao fim do Universo, em que tudo e todos os seres são aniquilados. Neste Universo, diz Krishna, há uma série de mundos, menos ou mais evoluídos - que Krishna chama de "mundos terrestres" e "mundos celestes ou dos semi-deuses"- mas que, todos os Atmans uma vez estando neles, estão todos sujeitos à Lei dos renascimentos e mortes - Roda do Samsara ou reencarnação. Para além deste Universo que é destruído com a Noite de Brahman há um mundo causal, que é eterno, preexistente e sobrevivente a tudo, como diz Krishna, e também como é encontrado no Ítem 6, da Introdução de O Livro dos Espíritos de Allan Kardec. No Mundo dos Espíritos, que é esse mundo causal de origem do Self, Atman ou simplesmente Espírito, ninguém está sujeito às Leis de Maya que existem somente no Universo material. Como diz Swami Vivekananda, para além deste Universo não há lei nenhuma. A lei, diz respeito somente àqueles que estão mergulhados em Maya ou Ilusão Cósmica. Bom, acho que fui além do que foi pedido aí, para discorrer sobre os Fundamentos Espistemológicos da Filosofia de Nisargadatta. É que esse termo é chique não? "Epistemologia"... todos gostam de usá-lo. Há similitudes deste pensamento com outras escolas filosóficas orientais, como o Zen por exemplo, cuja "epistemologia" é antípoda da razão, ou seja, os praticantes do Zen, não pensam, não buscam a verdade através da elaboração de teoremas e proposições lógicas. O Monismo defendido por essas várias escolas filosóficas orientais tem o conveniente de solucionar muitos problemas do dualismo, dualismo esse, que, como você deve saber, está presente não só nas religiões dualistas (todas sem exceção de uma sequer), mas também no pensamento científico e filosófico ociental. O primeiro desses problemas, foi apontado pelo psicanalista norte-americano, Rollo May, que advertiu que Deus, não é um ser, mas ele é O ser, uma vez que, se Deus fosse tido apenas como um ser ao lado de tantos outros seres na criação, ele não teria controle algum nem sobre si mesmo, e nem sobre esses seres. E com isso você já derruba todas as proposições lógicas desde Aristóteles e Tomás de Aquino a Descartes, de que Deus seria um ser separado da sua criação, e que, as qualidades atribuídas a Ele, são apenas atributos criados e inventados pela razão humana, de modo que, a razão cria Deus à sua imagem e semelhança.Cabe ressaltar que na Filosofia Ocidental, alguns filósofos defenderam esse tipo de Monismo, como Nicolau de Malebranche, Leibniz, Newton, Henry More e George Berkeley entre outros. Outra solução é a questão do mal: todas as religiões dualistas dizem que, os Espíritos que estão na Roda do Samsara, estão por dois motivos: por "queda espiritual", ou porque foram criados simples e ignorantes, e todos estão, como diria Santo Agostinho, retornando às mãos de Deus (Na linguagem moderna: "evoluindo"), uma vez que delas saíram. Supõe acreditar que os diversos males existentes no mundo são decorrentes de reencarnações pretéritas, em que o Espírito criando o seu Karma, não pode fugir dele, de modo que supostamente escolhe entre o "mal" ou o "bem". Para a Advaita-Vedanta, todos os Espíritos já estão criados perfeitos, e não são maus ou bons, mas apenas são "bons ou maus" refletoresda sua própria perfeição, assim como um homem que olha para o seu rosto em uma poça lodacenta, mas vê apenas um vulto; logo após, ele olha para uma água mais limpa, e já vê melhor o reflexo do seu rosto, até finalmente olhar para um poço de água cristalina e enxergar a si mesmo do modo como realmente é. Assim, um assassino não é mau, ele é apenas um "mau refletor", assim como conceitos como "bom" são criações humanas, e deste modo, alguém que pratica o bem, não é uma pessoa "boa", mas é um bom refletor da sua condição de Atman eternamente ligado a Brahman, o Mundo Causal ou Realidade Absoluta. Então não existe a idéia de evolução psicológica. Não há evolução psicológica, como assevera o pensamento ocidental e as religiões dualistas. O Espírito está mergulhado no Mundo de Maya a fim de, uma vez em contato com a ilusão, discernir o falso do verdadeiro, do real, e as próprias condições materiais de existência fazem com que os Espíritos possam se tornar bons ou maus refletores da sua perfeição. Nesse sentido, como fica nas entrelinhas, o Livre-arbítrio não existe, porque sendo todos os seres apenas manifestações de Deus, todas as ações no mundo, seja no sentido social ou afetivo, seja no sentido de intervir na Natureza (A ciência pesquisando então), são Ações de Deus, e ilusão será acreditar que o ser humano faz alguma coisa. E repare, que nós no ocidente sabemos muito bem disso, afinal todas as Filosofias da Linguagem, e a própria Antropologia, sempre colocam em questão o fato de que, nós apenas criamos e recriamos o mundo e a realidade de acordo com as nossas representações simbólicas sobre o real, e essas representações, sempre são fruto de condicionamentos sociais, que figuram à conta de "a prioris" da razão humana a fim de construir a realidade no intuito de conferir lógica e inteligibilidade tanto em termos de relações sociais, quanto em termos da nossa relação enquanto seres humanos, com o mundo material, o Universo no qual estamos inseridos. Sendo tudo o que existe apenas máscaras ou manifestações de Deus, o desafio que está posto, dentro do panorama epistemológico da Filosofia Advaita-Vedanta - do Nisargadatta ou de outros - é cada um remover o véu de Maya no sentido de parar de enxergar os pares de opostos, como coisas reais. Se tudo e todos são manifestações de Deus, então eu dizer que gosto disso mas não gosto daquilo, ou ainda, que amo fulano, mas detesto sicrano, é uma ilusão, pois todos esses que dizemos gostar ou desgostar não são senão máscaras ou manifestações de Deus.E também, enfim, que todas as realidades constatadas e tidas como reais pelos sentidos humanos - e Krishna concebe a mente como um sentido humano - são apenas ilusões, porque só existem na medida em que são percepcionadas por esses sentidos. Claro que uma flor existe quando eu olho para ela, mas dizer que ela é cheirosa e bonita, é construir um conceito idealístico sobre o que é uma flor. Assim, os diversos significados sobre as coisas e sobre tudo o que existe, são apenas construções simbólicas da razão, que em nada coincidem com a realidade das coisas. Assim, Deus e criação são uma coisa só, e para a Filosofia Advaita-Vedanta, todos nós somos o próprio Deus, bastando entretanto, tomar consciência disto, tornando-nos bons refletores após o processo de desvanecimento de Maya e seus pares de opostos. Bom, é isso. Abçs,
16/09/2011 às 14:23 #88738ppauloMembroNão conheço o filósofo em questão, mas li e reli o texto e sua explanação e, com todo o respeito, não consigo encontrar algo que possa ser chamado de epistemologia. Nem toda filosofia é epistemologia. Do resto não sou habilitado a comentar, dada minha ignorância destes textos.Creio que a epistemologia (lato sensu) apesar de poder se distanciar de comprovação material e científica, não pode nem deve se distanciar de uma sequência lógica demonstrável racionalmente.
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