Início › Fóruns › Fórum Sobre Filósofos › Marx › O ateísmo no pensamento de Marx
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27/10/2000 às 5:26 #69834Miguel (admin)Mestre
Eu gostaria de saber se há alguma passagem na obra de Karl Marx na qual ele se admite ateu (como é o caso de Sartre, que tem um posicionamento muito claro) ou se essa idéia provém do fato dele ter dito que “A Religião é o ópio do povo” e incitar os operários à luta armada?
07/11/2000 às 4:34 #72059Miguel (admin)MestreCaro MHanemann. Toda a obra de Marx é permeada pelo seu ateísmo. Não podemos esquecer que ele foi a princípio herdeiro intelectual de Feuerbach, que em sua obra A Essência do Cristianismo fundamentou todo o ateísmo filosófico do século XIX, de uma forma talvez até mais radical que Nietzsche. O materialismo histórico é uma doutrina totalmente atéia. Agora, essa passagem em que ele diz “eu sou ateu” só com uma varredura. Quanto ao trecho do ópio é mais famoso. Acho que isto que você falou não é exatamente o objetivo imediato expresso na frase. A obra mais panfletárias e exotérica de Marx é o Manifesto do Partido Comunista (em parceria com Engels), e a frase final do “Operários de todo o mundo, uni-vos”, tem uma forte orientação para a práxis. Leia o trecho completo do “òpio do povo” e tire suas próprias conclusões:
“O fundamento da crítica irreligiosa é o seguinte: o homem faz a religião, a religião não faz o homem. Mas o homem não é um ser abstrato, agachado do lado de fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Esse estado, essa sociedade, produzem a atitude invertida da religião em relação ao mundo, porque eles próprios constituem um mundo invertido. Portanto, a luta contra a religião é indiretamente a luta contra aquele mundo cujo aroma especial é a religião… A religião é o suspiro da criatura oprimida, o sentimento de um povo perverso e a alma das circustâncias desalmadas. É o ópio do povo…”
MARX, Karl in Sobre a questão Judaica, segundo artigo sobre O Jahrbücher. apud McLellan, David em As idéias de Marx
08/11/2000 às 5:58 #72060Miguel (admin)MestreJusto, Miguel, eu também acho que não era “eu sou ateu” que Marx queria dizer com a frase sobre o ópio do povo e, justamente por isso, eu vejo um certo preconceito sobre a sua obra. Um homem que diz que a religião serve para embriagar o povo e projeta uma ruptura brusco contra o sistema em vigor há de ser uma vítima de preconceitos muitos. – Não houve tempos em que comunista comia criancinhas? – E é justamente nisso que eu penso. Nunca li uma frase de Marx em que o ateísmo ficasse sub-entendido, sempre há um desprezo pela religião e há nessas duas posições uma diferença muito grande. Uma coisa é crer que os rituais são atos bárbaros ainda cometidos pelos homens “primitivos”, outra coisa é não conceber a idéia de um ser “superior” controlando a História e nos guiando por um caminho correto, repleto de moral e bem-aventurança. (Ao contrário do que parece por essa última frase, eu não sou fanático religioso, nem religioso, se quer saber) Mas é isso: eu não espero encontrar uma declaração clara de Marx e seu ateísmo, mas uma passagem clara em que ele ataque a própria idéia da existência de Deus e não da religião, que é algo muito fácil de se encontrar. Me lembro de Eurípedes, o dramaturgo grego chamado de ateu por Aristófanes (o comediógrafo), e que escrevia coisas colocando os deuses em posição patética, a mesma diferença de Marx: uma coisa é crer que a visão que o homem tem de Deus é distorcida, outra é descrer de Deus.
08/11/2000 às 7:14 #72061Miguel (admin)MestreMHanemann: Em primeiro lugar, eu creio que essa frase é difícil de ser encontrada porque Marx raramente escreve em primeira pessoa. Ele não diz “Eu sou alguma coisa” creio que nunca. Não obstante, ele é partidário de um forte ateísmo, basta saber ler. Na minha opinião esse trecho do ópio do povo não é meramente uma crítica à religião, mas contém um explicíto conteúdo ateu. O materialismo científico ou histórico já pode ser tomado como um ateísmo, pois tira do plano transcendente a causa desse mundo. A ligação com Deus também é negada, ao dizer que “o homem é o mundo do homem”. Há, claro, uma influência do positivismo em Marx, e esse crê numa evolução humana, em estágio teológico, metafísico e científico. Crer que cada mudança na sociedade ocorre devida á estrutura econômica da sociedade, e colocar toda a política, história e religião subordinada à essas questões materiais, senão é um ateísmo, pelo menos é uma maneira diferente dos religiosos de ver a história.
Veja só esse trecho do Capital:
” O reflexo religioso do mundo real só pode desaparecer, quando as condições práticas das atividades cotidianas do homem representem, normalmente, relações racionais claras entre homens e entre estes e a natureza. A estrutura do processo vital da sociedade, isto é, do processo da produção material, só pode desprender-se do véu nebuloso e místico, no dia em que for obra de homens livremente associados, submetida a seu controle e planejado”.Neste trecho vemos mais uma crítica à postura religiosa, no sentido de que esta postura se baseia na visão da existência de um ser superior. Marx propõe em lugar desta, relações racionais e claras. E chama a postura mística de nebulosa.
abs
09/11/2000 às 6:33 #72062Miguel (admin)MestreRejeitar uma causa transcendente para a evolução da sociedade humana não significa descrer da criação divina do homem e da matéria.
A frase “o homem é o mundo do homem” não é propriamente atéia, é agnóstica, posto que, se o homem desconhece outro mundo que não o seu, será impossível para ele ter certeza da existência ou da não-existência de Deus, o que se aproximaria bem mais do Positivismo seguido por Marx.
Para o trecho citado, como resposta cito uma frase de Marx: “Não são ateus os que desprezam os deuses das massas, porém aqueles que atribuem opiniões das massas aos deuses.” Marx ri de quem usa a religião para manipular a sociedade em direção ao “desamor organizado” (termos de Aldous Huxley) para o qual ela sempre caminhou.
Também não espero encontrar uma frase escrita em primeira pessoa, mas encontrar algum pedaço da obra de Marx em que haja uma resistência a Deus, e não ao Deus usado pelos homens para sustentar o nosso sistema ímpio que chamamos sociedade e ao qual, certamente, Marx era contrário.04/01/2001 às 21:25 #72063Miguel (admin)MestreMeus caros colegas;
Gostaria que me explicassem um coisa.
“A religião é o ópio do povo”!!!
1 – Segundo vcs, alguns acreditão que Karl Marx era Ateu, por conta desta afirmação, estou certo?
2 – Ateismo, tem haver com crer em Deus e Religião, segundo o dicionário, é um sistema dogmatico e moral. Como essa relação pode levar alguem a afirmar que Marx era Ateu? Acredito que no maximo, poderiam dizer que ele era contra a religião. O que vcs me dizem???05/01/2001 às 3:49 #72064Miguel (admin)MestreEsta é a posição que eu tenho tentado defender, mas, antes de anunciá-la, eu preferi questionar sobre os motivos que levaram os intérpretes de Marx a chamá-lo Ateu. Note o que eu disse em uma das mensagens acima: “Nunca li uma frase de Marx em que o ateísmo ficasse sub-entendido, sempre há um desprezo pela religião e há nessas duas posições uma diferença muito grande”; e também digo: “Rejeitar uma causa transcendente para a evolução da sociedade humana não significa descrer da criação divina do homem e da matéria”, nas quais deixo em aberto a questão do ateísmo na obra deste grande filósofo, que, para mim, era apenas, positivista, não Ateu.
05/01/2001 às 20:03 #72065Miguel (admin)MestreCaro colega!!!
O homem desde os mais remotos tempos, sempre foi transcendental, os homens primitivos diziam que viam espiritos, que haviam deuses…ou seja o homem é um ser tambem espiritual, agora dai a dize que o homem é religioso é um salto tremendo(o que acha?), não digo que existe um ou varios deuses, pois isso é irrelevante. Tenho minha possição, mas não acredito que Marx era Ateu, e vou mais longe e serei mais ousado ao dizer que: Não acredito quando alguém se denomina Ateu!!!, talves seja ate uma posição extremista, mas todo ser, quanto pessoa tem necessidades transcêndentais, Muitos Ateus famosos, antes de morrer, declararam-se cristãos…
Agora, por conta da banalização e vulgarização de muitas religiões, muitos que não tem conhecimento, e não sabem o que estão dizendo se auto-denominão Ateus!!!
“Há mais coisas entre o céu e a terra, do que supõe nossa vã filosofia.”O que acha???
Ate a proxima!!!
07/01/2001 às 19:02 #72066Miguel (admin)MestreConcordo, eu acredito na posição agnóstica de Marx e acredito também que pode se rotular uma grande fileira de gente com duas palavras: Românticos e Céticos. Não são pessoas que filosofam sobre a sua posição no mundo ou sobre a influência do seu pensamento sobre os outros, elas simplesmente são sonhadoras e acreditam que as boas mocinhas que aparecem na televisão falando com voz doce são “do bem”, ou apenas dizem que tudo aquilo é balela. É o lugar comum que toma conta da alma de vários conhecidos meus e daí eu julgar que é fato corriqueiro em qualquer parte do mundo. Por isso eu concordo contigo quando diz que muitos Ateus não sabem o que é exatamente Deus e por isso não podem se manifestar pela sua não existência. Generalizações não – muitos filósofos eram Ateus e se mantiveram Ateus.
Quanto às necessidades transcendentes dos homens, creio que toda essa transcendência reside fundamentalmente no outro e em si mesmo, no encontro desses dois entes tão próximos e tão distantes de nós. A religação não é feita numa aliança com Deus, mas numa união com os outros. Depois que alguns símios desceram das árvores e passaram a se perguntar coisas, o homem encontrou o vazio da dúvida e o que preenche esse vazio é o contato. Isso, na minha visão, é transcendência. Ou seja: um espetáculo de Teatro é transcendente, uma missa na Igreja também, assim como um congresso de profissionais e da mesma forma quando se escreve um poema que só o próprio autor vai ler. Tudo religa o homem a si mesmo e/ou aos outros e, se religa, é religião. Por isso, discordo de que transcendência possa ser dissociada de religião.O que acha?
15/04/2001 às 10:56 #72067Miguel (admin)MestreRetomando essa discussão inacabada, quero externar meu ponto de vista que, à luz da obra deixada por Marx, não existe a menor possibilidade de se inferir sobre o seu ateísmo ou não. O que Marx registrou, com bastante clareza, foi o efeito nocivo da religião sobre o desenvolvimento do homem como ser social. A religião, e em especial o cristianismo, na visão de Marx, contribuía para inibir uma “praxis” que pudesse levar, ao pleno desenvolvimento material de vida, as classes exploradas (camponeses e proletariado). A religião prometia o reino dos céus, enquanto que para Marx o homem tinha o direito e o dever de construir sua felicidade no plano terreno. Nesse aspecto ele foi tão-somente pragmático e não ateu. De qualquer forma, é irrelevante se saber qual era a crença de Marx, mesmo que tenha sido ateu, legou-nos uma obra permeada de senso de equidade e justiça, talvez tenha sido mais cristão do que o próprio Cristo.
06/07/2001 às 4:26 #72068Miguel (admin)Mestreviva o socialismo e pronto!
26/01/2002 às 5:14 #72069Miguel (admin)MestreMarx e a religiao
Em primeiro lugar gostaria de dizer que acredito em Deus, e que as ideias de marx, embora muitos bonitas na teoria pra mim sao mais utopicas que os socialistas “utopicos” que ousavam discordar do seu “materialismo cientifico” que vai contra a psiche e a liberdade humanas ainda que alegue ser uma ideologia libertadora pois inibe a criatividade empreendedora humana e castra o crescimento intelectual do homem. Se vcs acreditam em Deus como eu e querem protestar contra a injustiça social, muito bem, podem se engajar em grupos de voluntariado do 3 setor, pedir o perdao da divida externa do 3 mundo pleitear quebra de patentes, blz. Agora dizer que marx nao era ateu é uma besteira sem tamanho, quem diz isso é porque nunca leu nada de Marx e desconhece sua teoria do materialismo dialetico, toda. Maexera materialista e discipulo de Feuerbech que dizia que os h criaram Deus e depois esqueceram que Ele era criacao do homem.
Alem disso, vcs n precisam ser socialistas para combater a miseria e a injustica social do capitalismo selvagem, vejam o exemplo do engajamento de varias igrejas, tanto evangelicas e catolicas, como a teologia da libertacao na luta pela dignidade humana e respeito ao trabalhador, a religiao jamais mandou que ficassemos acomodados assistindo o mundo naufragar mas que lutassemos por justiça, cair na demagogia do comunismo é a mesma coisa que apoiar o Taliban só pq os Eua sao desleais em praticas comerciais, um erro nao justifica outro. Por fim para quem le marx seu ateismo fica explicito04/03/2002 às 14:43 #72070Miguel (admin)MestreÉ assim tão dificil perceber que Marx era Ateu…
Ou o Deus de Marx era muito diferente de todos aqueles que nos são dados a conhecer pela boca do homem ou então não entendo onde está a duvida…
A não ser que queiram acreditar que Marx acreditava num ser divino e imutável, e aí paciência, é mais uma deturpação na obra de Marx…
O crer-se num ser divino, implica acreditar numa regência de um ser superior, eu disse REGÊNCIA…
Cara CyberAngel, eu sou Ateu, convicta… e agora? eu digo, quem acredita num Deus, acredita porque precisa dessa crença, por muito que o nege… em que ficamos??
23/06/2002 às 18:51 #72071Miguel (admin)MestreRaquel,o Heráclito explicou tudo tão bem!!!!Longe de tentar atacar tuas convicções,quero dar minha contribuição te dizendo que a questão religiosa para Marx,tem a ver com alienação.Assim como a alienação socioeconômica,alienação política,pra Marx tem a alienação religiosa .Deus e religião seriam, portanto, consequências da miséria do homem.Bastando acabar com a miséria para termos acabado com a religião. Até aí deves concordar,não é mesmo?Só que em primeiro lugar, não é verdade que a religião ensina que é preciso suportar as injustiças sociais porque seremos pagos no céu.Pode-se dizer que essa é apresentação do cristianismo.cf.as encíclicas sociais da igreja.
O progresso técnico e a instauração duma sociedade comunista não parecem causar automaticamente o desaparecimento da religião.
Nos EUA, temos um desenvolvimento impressionante do catolicismo,seja qualitativo,seja quantitativo -país em que o progresso técnico é o mais adiantado.
Desaparece, sim, com o progresso, um grau de reliogidade tradicional,de uma sociedade agrária.
Segundo Leszek Kolakowski,comunista,60%dos universitários poloneses declaram ser crentes em Deus.Portanto a religião não se mantém só através da ignorância.
Pra mim ,Raquel,o homem é um ser religioso.Ou ele crê em Deus ou em um ídulo que para sí fabrica.Como a citação:
Max Schlercontemporâneo Alemão)
“há uma lei essencial:todo espírito finito crê em Deus ou em um ídulo.A descrença em Deus,ou melhor, a alucinação persistente,que leva por um bem similar em lugar de Deus(como o Estado,a arte,uma mulher, um homem,o dinheiro,a ciência…)ou tratá-lo como se fosse um Deus,tem sempre uma causa especial na vida do homem.Se se descobre esta causa se despoja o homem do véu que oculta,se esconde a alma á idéia de Deus;Se se destrói o ídulo que ele colocou ente Deus e ele memo,o ato religioso que havia sido desviado volta por sí mesmo a seu objeto adequado,formando-se a idéia de Deus”.
vou além,como diz o sociólogo Emir Sader:Desconfiemos,desconfiemos dos que não desconfiam,desconfiemos dos que fazem da descrença apenas um instrumento para o ceticismo -e seu corolário,o cinismo- e não uma ponte para o conhecimento da verdade.
Marx nos deixou uma contribuição inigualável.Mas dizer amém a todos os seus escritos,ou o que é pior,às interpretações que fizeram sobre ele, não é legal….
O contexto é outro Raquel….DESCONFIEMOS>….05/03/2003 às 21:10 #72072Miguel (admin)MestreNão há ateísmo no pensamento de Marx, apenas o anti-religiosismo como muito bem nos explicitou o MHanemann.
Raquel,
“O crer-se num ser divino, implica acreditar numa regência de um ser superior, eu disse REGÊNCIA…”
Essa afirmação é falaciosa. Tenho absoluta convicção da existência (e o que é “existir”, pra ti, colega?) de Deus, mas não acredito nessa “regência” por ti mencionada como pressuposto dessa crença. Deus criou o Universo e o Homem e ponto final. O resto é conosco. Mas esse já é outro assunto…
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