La Bruyère – Do Coração

DO CORAÇÃO
Bruyère

Tradução de J. Brito Broca e Wilson Lousada. Fonte: Clássicos Jackson.


um gosto na amizade pura que não podem co­nhecer os que nasceram medíocres.

A
amizade pode subsistir em pessoas de sexos dife­rentes, e mesmo isenta de toda
a grosseria; uma mulher, entretanto, olhará sempre um homem como homem, e,
reciprocamente, uma mulher como mulher. Esta ligação não é nem paixão nem
amizade pura: constitui uma classe à parte.

O amor nasce bruscamente, sem outra reflexão, por temperamento ou fraqueza: um
simples traço de beleza nos fixa, nos determina. A amizade, pelo contrário, for­ma-se
pouco a pouco, com o tempo, pela prática, por uni longo período de relações.
Quanto há de espírito, de bon­dade, de coração, de afeição, de serviços e de
complacên­cia, na amizade, tudo isto para fazer, ao longo de anos, muito menos
do que faz, num momento, um belo rosto ou uma bela mão!

O
tempo, que fortalece as amizades, enfraquece o amor.

Enquanto
dura, o amor dura por si mesmo, e mui­tas vezes tira maior força de coisas que
aparentemente deviam acabar com ele, — os caprichos, os rigores, o afastamento,
o ciúme; a amizade, pelo contrário, tem ne­cessidade de ajuda, e desaparece por
falta de cuidados, de confiança, de condescendência.

É mais
comum ver um amor extremo do que uma perfeita amizade.

   O amor e a amizade excluem-se um ao outro.

Quem teve a experiência de um grande amor faz pouco caso da amizade; e quem se
entregou especialmen­te à amizade foi porque não teve ainda experiência do
amor.

O
amor começa logo pelo amor; e de uma forte ami­zade só se pode passar a um
fraco amor.

Nada se
assemelha mais a uma viva amizade do que essas ligações que o interesse de
nosso amor nos leva a cultivar.

Não se ama verdadeiramente bem senão uma única vez, a primeira; os amores que
seguem são menos invo­luntários.

O amor
que nasce subitamente é o que leva mais tempo a curar.

O
amor que cresce pouco a pouco, e por graus su­cessivos, parece-se demasiado com
a amizade e não é de modo nenhum uma paixão violenta.

Aquele
que ama com tanto excesso que desejaria ainda amar um milhão de vezes mais do
que ama, só perde em amor para aquele que ama ainda mais do que queria amar.

Concedendo que na violência de uma grande paixão é possível amar alguém mais
ainda do que a si mesmo, a quem causará isto maior prazer, — a quem ama ou a
quem é amado 1

Muitas
vezes os homens querem amar e não o con­seguem; procuram as razões da sua
derrota e não a en­contram ; é que, se ouso exprimir-me assim, são forçados a
permanecerem livres.

Os que se
amam, de princípio, com uma grande pai­xão, contribuem depressa, cada um por
sua parte, para se amarem menos, e, finalmente, para não mais se amarem: qual dós dois, o homem ou a mulher, contribui
mais para isso? não é fácil dizê-lo; as mulheres acusam os homens de serem
inconstantes e os homens dizem que elas são levianas.

Por muito delicado que se seja em amor, sempre o amor perdoa mais as faltas do
que a amizade.

É doce
vingança, para quem muito ama, fazer, por sua maneira de proceder, que a pessoa
ingrata se sinta ainda mais ingrata.

É
triste amar sem ter uma grande fortuna para satisfazer todos os desejos da
pessoa amada e torná-la tão feliz que não tenha mais nada a desejar.

Se urna
mulher, por quem tivemos grande paixão, se nos mostrou indiferente, por muito
grandes que sejam os serviços que ela nos venha a prestar, no decorrei- da
vida, sempre seremos inclinados a não os reconhecer, correndo o risco de nos
mostrarmos ingratos.

Um grande
reconhecimento sempre se acompanha de muito gosto e de muita amizade pela
pessoa que nos obrigou a esse sentimento.

Estar junto à pessoa amada é o bastante; falar-lhe, não lhe falar, pensar nela,
ou pensar em outras coisas, indiferentes, mas junto dela, tudo é o mesmo.

A distância é maior da antipatia à amizade que do ódio.

Parece que 6 mais freqüente passar da antipatia ao amor que à amizade.

Confiamos nosso segredo à amizade, mas já reser­vamos esse segredo, no amor.

Pode alguém dar-nos sua confiança sem nos dar seu coração; mas quem tem o coração
já não precisa da confiança nem da revelação: tudo está aberto ante seus olhos.

Na
amizade só vemos os defeitos da nossa, com que podemos prejudicar os nossos
amigos; em amor, só ve­mos os defeitos que na pessoa amada podem fazer-nos sofrer.


só um primeiro despeito, em amor, assim como mim primeira falta, na
amizade, de que possamos tirar um bom proveito.

Parece que dando o nome de ciúme a uma suspeita injusta, bizarra e sem
fundamento, seria melhor escolher outro nome para esse ciúme, diferente, que é
um senti­mento justo,’natural, fundado na razão e na experiência.

O
temperamento entra por muito no ciúme, e este não faz supor sempre uma grande
paixão; e, sem embar­go, é um paradoxo um amor violento sem delicadeza.

Sucede, muitas vezes, que se sofre sozinho por ex­trema delicadeza; mas de ciúme
nunca se sofre sozinho, sempre se faz sofrer os outros.

As
pessoas que nada nos poupam, e nunca perdem ocasião de nos fazerem sofrer com
seus ciúmes, nada me­receriam de nós, nem ciúme, se nos regulássemos mais por
seus sentimentos e por sua conduta do que pelos so­frimentos de. seu coração.

A frieza
e as interrupções na amizade têm sempre suas causas; em amor, porém, a única
razão de se amar menos é ter amado demais.

Ninguém é senhor de decidir, em amor: e tão pouco de amar sempre, como de
nunca. amar.

   Os
amores morrem pelo enfado e enterram-se no  esquecimento.

 O
começo e o declínio do amor se manifestam pelo embaraço cm que nos sentimos
quando nos vemos sós.

Cessar de amar é a prova sensível de que o homem tem um fim e de que o coração
tem seus limites.

Amar é
um fraqueza; mas curar-se do amor é mui­tas vezes outra fraqueza.  

Curar-se
do amor é como consolar-se: nem sempre se tem no coração o bastante para chorar
sempre ou para sempre amar.

Devia haver no coração fontes inesgotáveis de dor para certas perdas. Não é,
decerto, por virtude ou por força do espírito que se sai de uma grande aflição:
cho­ra-se amargamente, sensivelmente tocado pela dor, mas fica-se, depois, tão
fraco ou tão vazio quê logo se aceita, a consolação.

Se uma
mulher feia se faz amar, é forçoso que seja loucamente; porque só pode ser ou
por uma estranha fra­queza de seu amante, ou por mais secretos e mais inven­cíveis
encantos que os da beleza.

Passado o amor, ainda os dois amantes, por muito tempo, se continuam a
encontrar, por hábito, dizendo-se da boca para fora que se amam, quando as
maneiras de um e de outro já dizem que se não amam mais.

Querer
esquecer uma pessoa é pensar nela. O amor tem isto de comum com os escrúpulos:
irrita-se com as reflexões e com as astúcias com que pretendemos liber­tar-nos
dele. É preciso, sendo possível, não pensar numa paixão para poder
enfraquecê-la.

Quer-se
tirar toda a felicidade, ou, quando assim não pode ser, toda a infelicidade, da
pessoa que se ama.

É
melhor sentir a saudade de um amor perdido do que ter de viver com uma pessoa
que se odeia.

Por maior
que seja o nosso desinteresse em face das pessoas amadas, devemos às vezes
violentar-nos, por causa delas, e ser capazes da generosidade de aceitar, em
vez de dar.

Pode tomar alguma coisa parti si, quem experimen­ta tão delicado prazer em
receber, corno o que tem a pes­soa amada em dar esse prazer.

Dar é agir; não é sofrer dos benefícios dados, nem ceder à importunidade
ou à necessidade de quem nos so­licita.

Se, em qualquer tempo, alguma coisa demos de nós à pessoa amada, suceda, o que
suceder, nunca depois de­vemos pensar nos benefícios dados.

Foi dito, em latim, que custa menos odiar do que Minar, ou, se preferem, que a
amizade tem menos encar­gos do que o ódio: é certo que o ódio nos dispensa de
dar qualquer coisa aos nossos inimigos, mas nâo custa também a vingança? ou,
sendo agradável e natural o mal que se faz a um inimigo, é por acaso menos
agradável e natural o bem que fazemos à pessoa, amada? e não custa­ria deixar
de lhe fazer o bem desejado?


um indefinível prazer em encontrar o olhar da pessoa a quem fizemos o dom de
nós mesmos.

Não sei se um benefício de amor feito a um ingrato, e, pois, a quem é indigno
dele, não muda de nome, me­recendo ainda mais reconhecimento.

A
liberalidade não consiste tanto em dar muito,’ como em dar a propósito.

Se é verdade que a piedade e a compaixão são uma volta sobre nós mesmos, pela
qual nos colocamos no lu­gar dos desgraçados, como é que estes tiram de nós tão
pouco alívio para as suas desgraças?

Mais vale expor-se à ingratidão do que
faltar aos desgraçados.

A
experiência confirma que a brandura ou indul­gência consigo mesmo e a dureza
com os outros são um único c mesmo vício.

Um homem que é duro no trabalho e no sofrimento, inexorável consigo mesmo, não
é indulgente com os ou­tros senão por um excesso de raciocínio.

 

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