Teoria da verdade em Leibniz: Necessidade e Contingência


Teoria
da verdade em Leibniz: Necessidade e Contingência

por Carolina Noto


Trabalho originalmente apresentado para a cadeira de Filosofia Moderna – FFLCH USP

A
evidência da verdade para Leibniz  é algo intrínseco às coisas. Seja essa
coisa uma existência ou uma essência, desde que seja possível, a sua verdade é logicamente
válida. Para as coisas impossíveis não há verdade. Quando uma proposição
implica contradição ela é logicamente impossível e é, portanto, falsa. A
construção de uma verdade absoluta é formal e é através dessa perspectiva que
se chega a sua evidência analítica, no âmbito da identidade e da tautologia. As
verdades são de duas espécies: as necessárias e as contingentes.  As
verdades necessárias são válidas para todos os mundos possíveis, pois são eternas,
  por outro lado, as verdades contingentes só são relativas à realidade, por
tempo determinado. As primeiras também são nomeadas “verdades de razão” e as
segundas de “verdades de fato”.

“Verdadeira
é uma afirmação cujo predicado está incluído no sujeito” (Leibiniz; Verdades
necessárias e Contingentes
); em toda  proposição verdadeira e
afirmativa, necessária ou contingente, a
            noção de
predicado está contida na noção do sujeito.

Uma
proposição logicamente necessária é concernente a um ser de essência e é
demonstrada pela análise de seus termos. É aquela que pode se resolver em
proposições idênticas, cujo oposto implica contradição: necessidade metafísica
ou geométrica. O princípio mais importante que determina as verdades de razão é
o Princípio de Identidade que diz respeito às primeiras verdades, fundamento de
todas as outras. O princípio lógico intrínseco às verdades é de caráter
objetivo e independe do arbítrio divino: Deus pensa as verdades lógicas a partir
da conexão lógica intrínseca a própria verdade. O que carece de tal necessidade
lógica é contingente. Para as verdades de fato o princípio de identidade
já  não é mais demonstrável, uma vez que são verdades mais complexas,
formadas de elementos heterogêneos, relativos ao mundo físico. Neste âmbito
trabalha-se com outros princípios, dentre os quais o mais importante é o
Princípio de Razão Suficiente. Este é o princípio mais importante para se
compreender a causa dos seres que não são logicamente necessários, mas que, no
entanto, possuem uma razão de ser. Uma razão de ser que não é absolutamente
necessária, já que não está submetida a regras racionais de expressão lógica; é
uma razão de ser determinada por regras racionais morais, e não lógicas, que
por sua vez também expressa a perfeição de Deus, particularmente a Sua bondade.
As verdades contingentes são concernentes às existências das coisas,
verdadeiras em um tempo determinado e “… não só expressam o que pertence à
possibilidade das coisas, mas também o que existe atualmente ou o que
contingentemente haveria de existir…” (Leibniz; Verdades necessárias e
contingentes
).

Apesar
de serem de dois tipos, as verdades encerram quatro classes de seres, cada uma
determinada por um princípio específico.

Dentre as proposições necessárias, existem as
absolutamente necessárias ou virtualmente idênticas e as derivadas dessas.
Ambos os tipos anunciam verdades eternas que existiriam mesmo que Deus tivesse
criado o mundo segundo outra norma.

A
primeira classe de seres pertencente à esfera das essências e das verdades
necessárias é a dos seres completos, idênticos, absolutos, primeiros possíveis,
que são levados ao infinito por causa própria, que não se contradizem entre si,
que são indefiníveis e que, finalmente, são noções primitivas e absolutamente
simples, atributos de Deus: são as formas que compõe metafisicamente esse Ser.
A esses seres diz respeito as proposições absolutamente necessárias. Como
veremos mais adiante, são os definidores e a razão última do seres da segunda
classe (exemplo: números primos, axiomas geométricos como “ponto”, “espaço”). A
classe dos Idênticos é infinita e é regida pelo Princípio de Identidade ou de
não contradição.

A segunda classe de seres também relativa às essências e
verdades necessárias é a dos definíveis. Um termo definível é aquele que tem
sua identidade posta por meio de pelo menos dois outros termos (os
definidores), por exemplo: o número “3” é definido por “2” e “1”. Os definíveis
são noções derivadas. São simples, as que se definem por meio de duas noções
primitivas sob uma relação simples; são noções derivadas compostas, as que são
definidas por meio de três primitivas ou uma primitiva e uma derivada simples
sob uma relação composta (exemplo: a “linha”, que é definida pelo espaço
intermediário entre dois pontos).

Os
seres definíveis dependem de relações ou combinatórias entre as formas
absolutas, mas continuam sendo independentes de qualquer arbítrio: a relação
lógica necessária dessa combinatória não depende de nenhum ato de criação e
vontade. Deus, constituído de formas absolutas e como um infinito em si, possui
em sua mente essa outra classe de seres, que por sua vez, também é um infinito.
Esse segundo infinito, diferente do infinito dos seres idênticos, não é regido
pelo princípio de identidade, propriamente dito, mas por um Princípio de
Similitude. Um infinito não em si, mas por uma causa. É o infinito dos seres
“extensos” e dos relativamente simples.

A
terceira classe de seres está inserida em uma terceira ordem de infinito, que
abarca os seres chamados, por Deleuze (Deleuze; Leibniz: a dobra)
de “coisas”. As verdades relativas a essa classe são as contingentes. Por não
ser nem absoluta nem relativamente simples, uma “coisa” não é suscetível de
análise que demonstre seu princípio de identidade, ou seja, que todo predicado atribuído
ao sujeito de que é noção já está contido nela.

Sabemos
que uma coisa, entendida como sujeito, pode ter mais de uma noção. Para um
mesmo sujeito, neste caso coisa, Deus pensa várias noções logicamente
possíveis. Por esse motivo, portanto, que a verdade referente a esses seres é
contingente: se, assim como Deus, também  podemos pensar que é possível
existir diferentes noções para um mesmo sujeito sem que nenhuma delas implique
contradição, o que determina a veracidade relativa a esses sujeitos e
predicados não é um princípio lógico, determinante somente das verdades
chamadas de “necessárias”, mas um princípio contingente. Tal princípio é
chamado de “Razão Suficiente”.  Toda noção possível de um sujeito é constituída
de uma série lógica ordenada por regras racionais inerentes a Deus. Um sujeito
ou uma coisa tem tantas noções quanto possibilidades de séries lógicas. 
Sendo toda noção uma série lógica, a série de cada uma deve ser necessariamente
da maneira que é, caso contrário não seria ela mesma. O que observamos aqui é
que apesar de uma noção ser uma série necessariamente lógica de relações entre
os predicados de um sujeito, o oposto dessa série lógica ou o oposto dessa
noção relativa ao mesmo sujeito não é contraditório ou impossível. Diferente
dos seres Idênticos e dos Definíveis, as “coisas” são seres mais complexos e a
necessidade que possuem não é tão absoluta quanto a dos seres de verdades
eternas. Essa é a classe da realidade possível.

Enfim,
a quarta classe de seres é o das substâncias individuais ou mônadas que constituem
a realidade atual. As verdades relativas a tais seres continuam sendo
contingentes. Não são mais coisas possíveis, nem identidades ou extensões: são
individualidades existentes. Não são formas, grandezas ou coisas, são
substâncias. Se tomada como sujeito, os predicados da noção de uma substância
formam ainda uma série lógica infinita assim como as coisas. Porém, a diferença
entre “coisa” e substância, é que esta existe em conformidade com somente uma
noção, enquanto uma “coisa”, tomada como sujeito, possui várias noções
possíveis. Na verdade, uma substância é uma “coisa” que passa a existir, e a
noção da substância existente é uma das noções possíveis da “coisa”. Ao passar
da realidade possível para a atual, uma noção torna-se existente graças a uma
escolha divina. Entre todas as noções possíveis, Deus, através de um critério
“do melhor” e “mais perfeito”, atualiza o maior número possível de noções
compossíveis e harmônicas entre si. Por um ato de vontade Deus cria o mundo
real que é o “melhor dos possíveis”.

O
mundo criado, ou seja, a realidade atual é uma série única e infinita. Para a
classe de seres do mundo real o infinito adquire um quarto sentido. O infinito
define-se por uma lei de ordem que classifica e transforma as séries infinitas
existentes em cada noção atualizadas num conjunto: o conjunto atualmente
infinito do mundo.

Cada
indivíduo real ou mônada contém em si e expressa inteiramente a mesma série
infinita única, embora expressem claramente somente uma porção dela. As
substâncias distinguem-se entre si por suas maneiras internas e particulares de
expressar esse mundo: a singularidade de cada uma.

Sendo
a evidência de uma verdade algo intrínseco às coisas, em relação às substâncias
individuais, dotadas de verdades contingentes, a verdade de seus acidentes está
também incluída no sujeito. Porém, nem indefinidas análises dos termos de uma
proposição que as tome como sujeito demonstram a identidade ou o termo comum da
substância e seus predicados. A razão das verdades concernentes a existência das
coisas só é compreendida a priori pela mente de Deus, que é infinita, e não
pode ser demonstrada por nenhuma análise.

Os
predicados de uma substância individual exprimem seus estados em momentos
diversos: a sua noção expressa o que pertence a possibilidade das coisas ou o
que existe atualmente ou que contingentemente haveria de existir.  A razão
para essas verdades contingentes serem como são, não pode ser descoberta sem o
conhecimento perfeito de todas as partes do universo, o que está fora do
alcance de qualquer criatura: “… las partes de culquier cuerpo son
actualmente infinitas; por lo cual, ni el sol ni cuerpo alguno puede ser
perfectamente conocido por una criatura…” (Leibniz; Verdades
Necessárias e Contingentes
) Deus não precisa fazer a análise das verdades
contingentes, ou de um ente contingente, pois vê a partir da noção de cada
substância individual a verdade de todos seus acidentes, uma vez que cada uma
envolve a seu modo todas as outras e o universo inteiro.

Para
todas essas proposições que compreendem o tempo e a existência, nós só podemos
afirmar a veracidade dos predicados a posteriori, depois que eles se apresentem
para nós como reais: “… Deus, vendo a noção individual ou a ecceidade de
Alexandre Magno, nela vê ao mesmo tempo o fundamento e a razão de todos os
predicado que verdadeiramente dele se podem afirmar, como, por exemplo, que
vencerá Dario e Poro, e até mesmo conhecer nela a priori se morreu de morte
natural ou envenenado, o que nós só podemos saber pela história.” (Leibniz;
Discurso de Metafísica)

Em toda substância individual está encerrada todas suas
propriedades e apesar disso ser válido para qualquer tipo de ser, daí não se
segue que toda conclusão que se possa deduzir da noção de uma substância seja
logicamente necessária.

A
série infinita de cada noção é determinada por um caráter lógico intrínseco à
ela, porém isso não significa que ela deva ser  necessariamente daquele
jeito, tanto que para uma mesma “coisa” existem diversas noções. Absolutamente
necessário é aquilo cujo contrário implica contradição. No caso da noção de um
círculo, que pertence as verdades eternas, podemos dizer que qualquer conclusão
deduzida de sua noção é necessária, uma vez que o contrário de qualquer
propriedade possível do círculo é contraditório e, portanto, impossível. De
outro modo, no que diz respeito às verdades contingentes, o que as noções nos
informam é necessário somente por hipótese, ou por acidente. É uma necessidade
referente ao encadeamento lógico entre os predicados atribuídos ao sujeito. Uma
verdade contingente não é necessária como as verdades eternas, pois na sua
noção, o contrário não implica contradição e é possível. A necessidade do que
se sucede em uma noção em conformidade as determinações e antecipações de Deus
deve ser visto como “o certo” e não como “necessário”, no sentido lógico cujo
oposto implica contradição: “… se alguém fosse capaz de levar a cabo toda a demonstração,
em virtude da qual provaria [a] conexão do sujeito, César, e do predicado, a
sua empresa bem sucedida, mostraria efetivamente, ter a ditadura futura de
César seu fundamento em sua noção ou natureza, e por ela mostrar-se-ia a razão
pela qual preferiu atravessar o Rubicão a deter-se nele […], mas não por ser
necessário em si, nem pelo seu contrário implicar contradição. Quase como é
razoável e certo que Deus fará sempre o melhor, embora o menos perfeito não
implique contradição”. (Leibniz; Discurso de Metafísica).

Esse
tipo de verdade mesmo que de direito demonstre que os predicados de um sujeito
estão contidos na noção atribuída a esse sujeito, não é tão absoluta quanto as
demonstrações das verdades metafísicas ou geométricas. A demonstração dos
predicados de César supõe uma seqüência de elementos logicamente relacionados,
que por um critério moral foi escolhida por Deus para existir, está fundada
sobre o primeiro decreto livre divino “… que estabelece fazer sempre o mais
perfeito”. As verdades fundamentadas em tal decreto são contingentes, como era
de se esperar, pois dependem de uma ação divina que é determinada, não por
regras lógicas e absolutamente necessárias, mas por regras morais do
“melhor". No entanto, essas mesmas verdades são também necessárias ou
“certas” na medida em que existe uma relação lógica dos predicados da série
compreendida na sua noção.

Enfim,
o que caracteriza uma verdade contingente existente certa ou necessária, não é
nem a impossibilidade lógica do contrário, se não ela seria absolutamente
necessária nem só a possibilidade lógica do contrário, o que acontece com as
verdades contingentes relacionadas às “coisas possíveis”. Esse tipo de verdade
possui uma perfeição lógica da série infinita contida na noção do sujeito que
lhe dá o caráter necessário; e uma perfeição moral, expressa pelo ato da
vontade de Deus, que garante que uma substância individual tenha uma série
infinita de predicados e não outra.

O
princípio que esclarece a possibilidade de uma proposição contingente  ser
verdadeira, como vimos, é o princípio de “Razão Suficiente”; no caso de uma
proposição contingente além de ser possível, ser também existente, o princípio
de sua verdade é chamado de “Princípio dos Indiscerníveis". É ele que
determina que a proposição contingente existente seja de uma maneira e não de
outra e que a noção do sujeito existente seja uma e não todas possíveis. Tal
determinação está de acordo com  a perfeição e bondade divina que leva em
conta o que parece “o melhor” dentre diversas coisas e noções igualmente possíveis.    

Cada
substância individual é determinada desde sempre, pois, como vimos, o seu
conceito já está determinado eternamente na mente de Deus. Entretanto, é
precisamente tal determinação que possibilita a espontaneidade e em certos
casos a liberdade das ações das substâncias. O princípio da realização das
ações está sempre dentro da substância: pela determinação desde sempre da sua
noção e  pelo fato de um sujeito sempre compreender qualquer de seus
predicados – passados, presentes ou futuros –  tudo o que possa acontecer
com essa substância depende do que estava prescrito em sua noção, ou seja, nela
mesma.

A
determinação de cada substância permite a autonomia e independência de umas em
relação às outras. Suas ações não estão vinculadas a nada exterior: são
resultados da atualização espontânea de seus predicados. “Em sentido metafísico,
nenhum estado e nenhuma ação de uma substância individual, considerada como
mero possível, é determinado por nada mais que a própria natureza dessa
substância, todo indivíduo é absolutamente espontâneo em todas as suas ações.”
(Luiz Henrique Lopes dos Santos; Leibniz e os futuros contingentes)

Em
relação aos espíritos, a substância individual superior, devemos entender sua
liberdade de forma semelhante de como falamos sobre a ação espontânea. Em toda
substância individual, como já dissemos, o vínculo predicativo entre uma ação e
o agente é necessário uma vez que já está determinado desde sempre no seu
conceito, como qualquer outro predicado. No entanto, essa necessidade
aparentemente absoluta não exclui a possibilidade de qualquer substância possuir
um “futuro contingente”. No que diz respeito aos predicados de uma substância
individual, neste caso uma ação, essa necessidade não possui o caráter lógico:
não seria contraditório nem logicamente impossível imaginar o contrário do ato
de vestir uma blusa branca, uma blusa vermelha, por exemplo, mesmo que tal
ação, a de vestir a blusa branca, já estivesse determinada na noção de tal
substância.

A
necessidade existente, portanto, nesse vínculo entre sujeito e predicado
garante que tudo que diz respeito a tal substância esteja compreendido em sua
noção e, ao mesmo tempo, não exclui a possibilidade do ato livre. Para Leibniz,
esse tipo de necessidade é a “necessidade condicional ou hipotética”, que se
opõe à necessidade absoluta ou lógica e é a mesma, como foi citado
anteriormente, que faz de uma verdade contingente, necessária.

Uma
ação, assim como qualquer outro acidente de um sujeito, é sempre determinada
por uma razão que não a necessidade lógica. E por esse motivo depende da
vontade para existir, pois o que é logicamente necessário não depende, nem da
vontade divina, para existir. A razão que determina a vontade a escolher uma
opção, é a razão “do melhor”. Esse tipo de razão fez Deus escolher o melhor dos
mundos possíveis. De maneira semelhante, essa razão ou regra racional, válida
tanto para Deus como para nós, nos faz escolher a melhor das opções, seja
vestir uma blusa branca ou vermelha, fazendo-nos agir conforme as determinações
de Deus: “… pois elas [as ações voluntárias] não seriam praticadas se não se
quisesse praticá-las. Também sua previsão e pré-determinação não são absolutas,
mas supõe a vontade: se for certo que serão praticadas, não é menos certo que
se quererá praticá-las. Essas ações voluntárias, e suas conseqüências, não
acarretarão o que quer que se faça, queira-se ou não praticá-las, mas porque se
fará, e porque se quererá fazer, o que conduz a elas. E isso está contido na
previsão e na pré-determinação, sendo, de fato, sua razão. E a necessidade de
tais acontecimentos é chamada condicional ou hipotética, ou ainda necessidade
de conseqüência, porque supõe a vontade e os outros requisitos…” (Leibniz;
Ensaios de Teodicéia
).

A
possibilidade de se falar em ação livre dentro desse mundo criado e
pré-determinado detalhadamente por Deus deve levar em conta a definição de
liberdade como uma autodeterminação racional: “Um ser é tanto mais livre quanto
mais sua ação se determina, racionalmente, pelos componentes positivos de sua
natureza própria” (Luiz Henrique Lopes dos Santos; Leibniz e os futuros contingentes).
Além disso, para se considerar tal possibilidade também é preciso retomar o
significado dos termos “verdade necessária” e “verdade contingente”. A
necessidade das primeiras verdades se dá, pois imaginar o contrário do “ser” a
qual afirma é contraditório e impossível. A necessidade das verdades
contingentes, entretanto,   se dá, pois imaginar o contrário do “ser” a
qual afirma é imaginar um outro ser, que por uma razão divina, não foi
escolhido para  existir e pertencer a uma proposição afirmativa de
existência atual.

No
que diz respeito a possibilidade do conhecimento humano e ao alcance do nosso
entendimento é também preciso fazer algumas considerações.

Exercitando
sua onisciência, ao criar o mundo, Deus confronta todos os conjuntos de coisas
e fatos logicamente compossíveis uns com os outros, “… que seu entendimento
concebe da maneira mais adequada".Em relação a sua vontade, Deus decide
dar realidade aos elementos de um desses conjuntos de compossíveis. Finalmente,
ao exercer sua onipotência, Deus dá existência às coisas e fatos escolhidos.

O
entendimento divino, para Leibniz exerce um papel fundamental para as ações
divinas. Além de conceber todos os mundos logicamente possíveis, é também essa
faculdade da mente de Deus que promove os critérios de escolha da vontade, uma
vez que aí que se localiza a razão.

A
substância criada, portanto, depende de Deus; primeiro no que diz respeito a
seu pensamento e depois a sua vontade. Cada substância criada manifesta a
glória divina e corresponde a uma visão que Ele teve de um aspecto possível do
mundo. Quando Deus acha conveniente a sua visão, ou o seu pensamento, produz
tal substância. Depois de criada, cada substância compreende os fenômenos do mundo
que irá expressar. Os fenômenos expressados em uma, no entanto, nunca se
identificam aos expressados em outra, e são no máximo proporcionais e passíveis
de se corresponderem. E a causa de tal correspondência é sem dúvidas, Deus. Ele
vê o universo sob todos os lados e maneiras, a partir de um ponto de vista
geral que compreende a perspectiva de todas as substâncias. Por uma obrigação
emanada de Deus, as substâncias se acomodam entre si e a ação que uma exerce
sobre a outra só é, nessas condições, possível. Quando uma substância age, ou
seja, quando sua expressão torna-se mais perfeita, como efeito, todas as outras
substâncias também se modificam, para melhor ou não, segundo o que já estava
inscrito em suas próprias noções.

O
mundo criado por Deus por ser diferente dele comporta uma limitação. Não possui
todos os atributos positivos nem o mais alto grau de realização; é, portanto, metafísica
e moralmente limitado. O que a vontade divina teve a possibilidade de escolher
foi aquele "… mundo em que a diversidade e a intensidade dos atributos
positivos presentes em seus habitantes sejam os maiores logicamente concebíveis".(Luiz
Henrique Lopes dos Santos; Leibniz e os futuros contingentes
), ou seja, o
mais perfeito e adequado às suas concepções do entendimento.

A
inteligibilidade desse mundo, criado por Deus, ou de tudo que um entendimento
possa conceber como existente – como os outros mundos logicamente possíveis -,
se dá graças a conjunção de sua onisciência, onipotência e perfeição moral. Por
implicar tudo isso, a inteligibilidade completa do mundo exige o conhecimento
do princípio de contradição, o logicamente mais perfeito de todos os
indiscerníveis. E como não podemos demonstrá-lo por nenhum tipo de análise, o
conhecimento perfeito e absoluto do mundo só cabe a Ele.

Para
se conhecer perfeitamente o mundo seria necessário “… entre outras coisas,
ter um conceito perfeitamente adequado de cada uma das criaturas que o habita,
um conceito cuja compreensão defina completamente o que por meio dele se
concebe, distinguindo-o de todos os demais seres, reais ou meramente possíveis.
Tudo aquilo que faz de um indivíduo o que ele é, e o distingue de todos os
demais, deve estar representado na noção que Deus faz desse indivíduo – deve
ser, pois, uma determinação inteligível desse indivíduo, representada por uma
nota característica de seu conceito adequado".(Luiz Henrique Lopes dos
Santos; Leibniz e os futuros contingentes
).

E
é respeitando o Princípio de Não Contradição que este mundo e também as
criaturas são limitadas. Seria logicamente contraditório existir qualquer mundo
desprovido de tais limitações e com pretensões à identificação com Deus. Não existe
nada idêntico a Ele que só é idêntico a si mesmo. O que existe ou o que é
possível de existir é diferente de Deus e não é ele, é sua criação e derivação.
Não é eterno e tão pouco uma verdade necessária ou de razão.

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