O comércio Da Grécia ao Império Romano

Dr. Aluísio Telles de Meirelles.

Fonte: Manual do Executivo. 
Novo Brasil editora brasileira.
   
 

GREGOS E ROMANOS

Da Grécia ao Império Romano

NA GRÉCIA, país extremamente montanhoso, o mar penetra profundamente, pelos golfos ramificados; por sua vez a terra firme é dividida em inumeráveis ilhas e penínsulas que a protegem contra a tempestade e o furor das ondas. Essa a razão por que tal região sempre se prestou muitíssimo para a navegação.

As viagens marítimas eram já naquela época familiares aos gregos, embora eles não se arriscassem ainda a empresas mercantis de grande envergadura, devido a que o domínio do mar pertencia aos fenícios, que o asseguravam pela força.

Só mais tarde, quando os reis assírios e egípcios começaram a impor domínio sobre os fenícios, é que as

< idades gregas conseguiram se libertar das cadeias da hegemonia mercantil fenícia.

Enquanto isso, as regiões litorais da bacia mediterrânea oriental iam-se povoando de elementos gregos, o tràfico intensificando-se em todos os sentidos, os produtos gregos no estrangeiro tendo mercados assegurados. Assim, a atividade industrial tomou considerável impulso na Grécia, que se transformou de país agrícola em

Estado industrial e mercantil.

Conquista a sua hegemonia política sobre o mar, depois do levante jónico e das guerras dos persas, a Grécia conseguiu então o domínio mercantil da sua época.

Atenas passou então à invejável posição de metrópole do tráfico. Assim, ousadamente, os gregos visaram países longínquos. Cansados já das imposições fenícias, trataram de estabelecer imediato contacto com as caravanas que os mercadores fenícios haviam dirigido para

o seu Estado litoral.

As colônias fundadas no Mar Negro, as feitorias estabelecidas em Cirene e na desembocadura do rio Nilo, foram desde então a meta das expedições mercantis procedentes do interior da Ásia.

As mercadorias procedentes da Índia e da China passaram então a descrever um arco em torno dos portos fenícios, e chegando até o mar sem utilizar as funções intermediárias do mercador fenício, punham-se em mãos dos navegantes gregos.

O solo grego nunca se prestou para a agricultura, devido à sua pobreza e infecundidade. Não obstante, produziam mel, azeite e vinho que eram produtos sempre cobiçados. Igualmente os produtos artísticos adquiriram grande desenvolvimento entre os helenos.

Em Atenas, as fábricas de couros, as fundições, manufaturas de armas eram produtos fabricados para exportação. Possuía ainda grande importância a fabricação de objetos de cerâmica.

Com efeito, graças à sua magnífica argila, conseguiu Atenas conquistar os mercados estrangeiros com relativa facilidade. Com os produtos da sua variada indústria, inundaram os helenos todos os postos de comér-rio, cada vez mais os portos fenícios se iam enfraquecendo em face da competência dos gregos.

A época grega, comparada com o período fenício precedente, trouxe consigo um notável desenvolvimento «las rotas do comércio mundial. As praças do mar Negro, principalmente, ofereceram aos gregos magníficas opor-

t unidades para adquirirem toda uma série de artigos mercantis de primeira necessidade.

Com efeito, daquelas regiões Atenas recebia a madeira de construção para os seus arsenais, além dos produtos necessários para equipar suas naves como o cânhamo, o alcatrão, a cera e o couro.

À medida que fòi crescendo a atividade fabril, desempenhou um papel cada vez mais assinalado a impor-lação de escravos, principalmente da Trácia, sendo, daí por diante, maior a necessidade de trazer das colônias artigos alimentícios.

Atenas recebia dos povoados do mar Negro a maior parte dos cereais que necessitava, bem como carnes e peixes.

Em pouco tempo os gregos, à semelhança dos fenícios, JA não se contentavam e não se limitavam ao comércio do mar Egeu. Começaram também a abastecer-se com produtos orientais das localidades do Ocidente — o norte <la África, a Sicília e a Baixa Itália e ainda o sul da França.

Entre as cidades sicilianas que quase exclusivamente deveram a sua importância à abundância em produtos naturais, foi Siracusa, uma das cidades mercantis mais esplêndidas da antigüidade.

Assim, os gregos levaram até aos longínquos mercados do Ocidente mediterrâneo a sua competência, tão perigosa para os fenícios. Estes deram sua influência até  o sul da Espanha e começaram depois a explorar as regiões da desembocadura do Ródano, onde fundaram uma importante praça mercantil: Massília, hoje Marselha.

Filipe II e Alexandre Magno imprimiram um considerável progresso na estrutura do tráfico mundial elevando a Macedônia à categoria de Estado diretor da política da Grécia e criando um centro comum para as localidades geográficas e politicamente diferentes.

Alexandre abriu novos caminhos ao comércio mundial, levando os costumes e a cultura grega ao coração da Ásia. Suas expedições guerreiras foram ao mesmo tempo viagens de exploração, que permitiram o conhecimento das rotas seguidas pelas caravanas da Ásia interior.

As cidades fundadas por Alexandre com finalidades militares, converteram-se mais tarde em centros de colonização grega, pois não menor que o seu interesse estratégico, era sua posição mercantil por estarem situadas na desembocadura de grandes rios ou nas passagens de altas montanhas.

Muitos e muitos emigrantes gregos chegaram às cidades recém-fundadas, ficando assim todo o oriente incluído dentro da esfera cultural dos gregos.

A época macedônica trouxe ainda grande progresso, fazendo com que o mercador grego abandonasse o antigo sistema até então seguido, deixando de ser apenas intermediário, para penetrar por suas próprias forças até os grandes mercados do interior da Ásia.

Já nessa época se manifestava um deslocamento na situação mundial e mercantil; a Grécia não mais se achando no centro da política e do tráfico. Atenas lutando em vão por manter sua privilegiada posição mercantil e marítima.

Assim, a vida comercial do povo grego foi se modi

f ícando gradativamente, tornando-se diferente, enquanto novas praças mercantis iam surgindo em seguida.

Após a morte prematura de Alexandre, seu império mundial foi se desintegrando, muito embora não se perdesem os progressos conseguidos em sua época.

Alexandria, fundada na costa, vasta, de um país riquíssimo, na desembocadura de seu único rio, no limite de duas partes do mundo e unido por um mar mediterrâneo sumamente irregular, desenvolveu-se com extrema rapidez, convertendo-se logo, não só em magnífico centro de arte e ciência, como também na praça comercial mais grandiosa do mundo antigo.

Quanto à península italiana, seu povo dedicou-se a cultivar os vales profundos, a revestir as encostas de suas montanhas de parreiras e oliveiras e a criar cabras e ovelhas nas elevações calcárias, a agricultura e a criação servindo assim de base social aos seus habitantes.

A atividade industrial e mercantil desenvolveu-se primeiramente entre os etruscos, que imprimiram desde muito cedo um grande desenvolvimento à indústria metalúrgica e à confecção de objetos de cerâmica.

Cerca do segundo milênio antes de Cristo, os etruscos entraram em contacto com os fenícios e com o Oriente, fornecendo a esses povos vasos, armas e utensílios de bronze.

A partir dessa época, os etruscos aparecem juntamente com os fenícios e os gregos como uma das nações marítimas mais importantes da antigüidade.

O progresso dessa nação deu motivo igualmente de uma maior extensão do seu domínio político e em pouco

a Etrúria dominava toda a península itálica. Não obstante, sucumbiu, em face dos ataques conjuntos dos seus inimigos exteriores.

A Icália passou então a ser dominada por Roma e sua intervenção na Sicília deu lugar a um choque com o estado semita marítimo que ficava na costa norte da África, Cartago, que tinha-se mantido com seu esplendor colonial um último resto do domínio mercantil fenício.

Cartago, por sua situação super-favorável sobre um promontório da costa africana, no fundo do vasto golfo de Tunis, oferecia vantajosa situação para as relações mercantis.

Naturalmente que as zonas do Mediterrâneo oriental lhes estavam vedadas, pelo exclusivo domínio que ali exerciam os gregos; em compensação, na bacia ocidental seu comércio adquiriu caráter de verdadeiro monopólio. Também no interior da África penetraram as caravanas cartaginesas, trocando produtos de sua atividade fabril por marfim, ouro, sal.

Tal situação permaneceu até que surgiu o inevitável: chocaram-se os cartagineses com os romanos. Como se sabe, Cartago sucumbiu ante os romanos e a recém-for-mada frota romana foi portadora da sua grandeza mundial.

Roma pouco tinha para exportar. Somente azeite e vinho. Os artigos de consumo, em sua grande maioria, eram importados das províncias de ultra-mar e pagos com o dinheiro arrancado das populações submetidas.

Um aumento dos negócios se verificou, naturalmente. A plutocracia romana criou uma ilimitada economia monetária que abrangeu todo o mundo conhecido. E o comércio floresceu. No entanto, a falta de uma base industrial tornou a sua balança mercantil passiva, fazendo com que a prosperidade da Itália se perdesse, apesar dos tesouros que afluíam constantemente para ali.

Então, o comércio no mar Mediterrâneo conheceu um desenvolvimento inigualável, as províncias atingiram o máximo de desenvolvimento, caíram as barreiras que antes separavam os países e a plena liberdade de tráfico beneficiou a todos, de maneira estupenda.

O Mediterrâneo converteu-se então em um mar puramente latino, no qual se dava um intercâmbio universal de cultura, tanto na ordem espiritual como mercantil.

A Sicília, nessa época, constituía um verdadeiro depósito de Roma, a qual oferecia ou fornecia comestíveis de todo gênero — frutas, trigo, reses, etc.

A Espanha enviava lãs, Marselha remetia o toucinho e carnes salgadas, os países orientais enviavam vinho, mel, ostras, aves, etc. A Frigia fornecia seus mármores, que em forma de gigantescos blocos e colunas, foram empregados em magníficas construções.

A maior parte das cidades gregas de então foram caindo de importância, até mesmo Atenas, que afastada das grandes vias mercantis, não exercia outra atração que a de ser metrópole intelectual do mundo.

Alexandria, no Egito, com a conquista do país pelos romanos, adquiriu então um grande prestígio comercial. A fabricação egípcia de linhos manteve a sua fama; seus fornos de cristal adquiriram especial importância para o comércio de exportação, a mesma expansão atingindo as fábricas de papel que davam serviço a um grande número de operários.

Igualmente, os produtos da fabricação de bálsamos o inccnsos, bem como os trabalhos em granito, converteram-se em artigos de exportação muito procurados.

Assim, Alexandria se converteu em uma das capitais do império romano, uma potência quase equiparada a Roma. Todo o comércio com mercadorias asiáticas e árabes era dirigido exclusivamente por Alexandria, o que deu lugar a que perdessem sua importância os portos fenícios.

A evolução do comércio mundial acelerou-se quando o mar Mediterrâneo deixou de ser a única linha mercantil entre o Oriente e o Ocidente.

Além das regiões, antes mais ou menos exploradas dal Ásia, foram unidas pelo comércio romano as longínquas! localidades situadas ao Norte, quando as legiões romanasl se assentaram firmemente no Danúbio e no Reno e construíram todo um sistema de vias artificiais.

Ao longo de ambos os rios, estabeleceram-se em povoados, ricos comerciantes romanos, que faziam levar suas mercadorias às tribos germânicas, valendo-se de mercadores ambulantes.

A esses perigosos vizinhos só não fornecia Roma ferro e armas. Em compensação, utensílios domésticos, vestidos, objetos de cerâmica, e de vidro, assim como miudezas de toda espécie, passavam freqüentemente as fronteiras, em direção à Germânia.

Esse comércio de exportação não durou muito tempo, pois daí a pouco o Norte, embora atrasado fornecia à degenerada linhagem de Roma, certos artigos de luxo, muito cobiçados.

O principal meio de troca empregado no comércio, consistia, da parte germânica, em cavalos, vacas, ovelhas, porcos, etc. Adquiriram-se, principalmente, para os cavaleiros romanos, os cavalos da Tuvíngia, de grande resistência.

 

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