O presente da fada

O presente da fada *)

Na serra, alta e fertilíssima serra, vivia um casal honrado que, pela bondade do coração, mereceu as boas graças da fada

montesina, uma formosa e meia criatura de Deus, porque o diabo não a faria tão bela nem tão boa. Era ela quem enflorava as árvores e quem mudava em fruto a flor; era quem reverdecia as árvores e quem dava água aos riachos; era ela quem protegia os • ninhos e as borboletas.

Quando a mulher se fêz mãe, chamou a protetora dos mon- tes e, vendo-a perto do leito, pediu-lhe que fôsse madrinha da criança que ia nascer.

Aquiesceu [1]) a fada e, vindo ao mundo o infante, ela, porque era uma criatura de Deus, acompanhou o casal à igreja, uma ernida pobre, escondida modestamente entre o arvoredo, e batizou

O menino, dando-lhe, por essa ocasião, com a benção um precioso presente, que, apesar-de não ser visto, foi logo reputado de alto valor, eomo eram todos os votos da protetora dos montes.

Cresceu formoso e forte o menino rústico e, logo que pôde viajar sozinho, lançou-se ao mundo, à aventura.

Os pais, porque muito confiavam na. madrinha do pequeno, não o detiveram, pôsto que muito lhes custasse aquela partida.

Pobres como eram, só lhe podiam dar um cântaro dágua e um farnel, e êle partiu.

Que seria feito dêle? pensavam os pais, já velhos, sentados

tristemente à porta da cabana, mas uma voz lhes dizia sempre da

floresta:

“Em breve o tornareis a ver.” De-fato, uma manhã saía o velho para lenhar, quando ouviu tangeres na montanha, e, sur­preendido, parou, vendo então surgiu, com alegre rumor de flau­tas e de trompas, numerosa cavalgada [2]) de guerreiros todos fidalgamente vestidos, os ginetes fogosos, ajaezados de ouro.

À frente de todos e mais nobre que todos, um lindo mancebo que, pelo porte senhoril e pelo respeito de que o cercavam parecia r. er dêles rei ou soberano.

Mal deu com o velho, lesto saltou da sela e, avançando com os olhos cheios d’água, apertou-o nos braços efusivamente, dan­do-se a conhecer como o filho que dali partira novo [3]) e pobre,

o que fêz com que 4) o velho molhasse as roupas de abundantes lágrimas alegres.

Levado à cabana, não foi menor a comoção da velha; e de­pois de algum repouso, logo quiseram os dois saber como pudera êle conseguir tão alta fortuna a ponto de trazer após si tão grossa comitiva.

Antes de explicar, êle narrou miudamente tôda a sua vida desde que saíra da montanha até que, pelos seus feitos, fôra ele­vado ao trôno de um país rico e de paz.

Depois disse com lentidão: — Tudo devo a minha boa ma­drinha montesina, que tão generosamente me dotou diante da pia.

— E que te deu ela? perguntou a velha, porque ninguém viu êsse presente.

— Vontade! disse uma voz da floresta, e o príncipe apon­tando na direção de onde viera a voz misteriosa:

— Ela mesma o diz: “Vontade”. Foi com êsse condão 2)

maravilhoso que r,udo consegui no mundo.

(Idem)

1) Fada — Ser feminino, criado pela imaginação dos poetas, ao qual atribuem o poder de obrar maravilhas, predizer o futuro; enoantar para o bem ou para o mal.

Levado à cabana, não foi menor a comoção da velha; e depois de algum repouso, logo quiseram os dois saber como pudera êle conseguir tão alta fortuna a ponto de trazer após si tão grossa comitiva.

Antes de explicar, êle narrou miüdamente tôda a sua vida desde que saíra da montanha até que, pelos seus feitos, fôra elevado ao trôno de um país rico e de paz.

Depois disse com lentidão: — Tudo devo a minha boa madrinha montesina, que tão generosamente me dotou diante da pia.

— E que te deu ela? perguntou a velha, porque ninguém viu êsse presente.

— Vontade! disse uma voz da floresta, e o príncipe apontando na direção de onde viera a voz misteriosa:

— Ela mesma o diz: “Vontade”. Foi com êsse condão *) maravilhoso que tudo consegui no mundo.

(Idem)

2) condão — dom, privilégio, poder misterioso.


[1] Aquiesceu — concordou, acendeu, condescendeu, anuiu.

[2] Numerosa cavalgada. Querem -alguns escritores que o adjetivo numeroso só se pode aplicar a substantivos coletivos e consideram êrro grosseiro empregá-lo com substantivos não coletivos, como por ex.: Nume­rosos amigos foram cumprimentá-lo. Entretanto em Alex. Herc., Epifânio Dias, Carlos de Laet e outros* encontramos exemplo? do contrário. Em His- palis, Opas tem consigo numerosos clientes (Eurico 68). Sisebuto e Ebas… com os seus numerosos guerreiros constituíam a vanguarda (Eurico 110). Suas numerosas obras… jazem quase tôdas esquecidas (Laet, Minas 13(>).

[3] novo — sinônimo moço.

presente-da-fada

Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.

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