Fábula – A cigarra e a formiga

A cigarra e a formiga Tendo a cigarra em cantigas Folgado todo o verão, Achou-se em penúria-) extrema Na tormentosa estação. Não lhe restando migalha Que trincasse, a tagarela Foi valer-se da formiga, Que morava perto dela. Rogou-lhe que lhe emprestasse, Pois tinha riqueza e brio, Algum grão com que manter-se Té voltar o aceso … Ler mais

Os rafeiros e o gôzo

Os rafeiros e o gôzo Morreu um nédio cabrito, Sem que a nova agradecesse, E o guardador, dono dêle, O convidado rafeiro, Depois de tirar-lhe a pele, Atrás do gôzo matreiro Aos cães no campo o deitou. De corrida caminhou. Logo dum monte chegado, Eis que à prêsa se aproxima, Tomando os ventos[1]) e o … Ler mais

O passarinho preso – Fábula de Manuel Maria Barbosa Du Bocage

  O passarinho prêso   Na gaiola empoleirado, Um mimoso passarinho Trinava brandos queixumes Com saudades do seu ninho. “Nasci para ser escravo, (Carpia o cantor plumoso) “Não há ninguém neste mundo “Que seja. tão desditoso. “Qu’é do tempo que passava, “Ora descantando amores, “Ora brincando nos ares, “Ora pousando entre flores? “Do entendimento! ah … Ler mais

Os dois coleiros – Fábula com moral

Um dia nunra gaiola Foi um coieiro trancado E por huirain. capricho Viu-se assim escravizado. Chorando dizia o triste: “Maldita, maldita sorte! Em lugar da escravidão Antes me desses a morte!” Um outro coleiro, livre De ramo em ramo saltando, Ouvindo queixumes tais, Ia sonoro cantando: “Tenho o ar, flores e frutos, Ameno campo divino, … Ler mais

Adágios populares e a A luta da Mussurana com a Jararaca

Adágios populares Presunção e água benta cada qual toma a que quer. Nem tudo o que luz é ouro. As obras mostram quem cada um é. Nunca se perde o bem fazer. Quem muito abarca pouco abraça. Quem abrolhos semeia espinhos colhe. Antes só do que mal acompanhado. Bens mal adquiridos não se logram, vão-se … Ler mais

A luta de carneiro com touro

A luta de carneiro com touro Entramos lo campo. Havia muito gado. Árvores surgiam de longe em longe e à sombra delas grupos de animais acarrados. Pouco adiante, a um lado, no alto de uma coxilha, surgiu o vulto imponente de um touro, que vinha numa atitude agressiva; mas chegado a certa distância parou, a … Ler mais

La Fontaine – fábulas “As rãs pedindo um rei”

As rãs pedindo um rei La Fontaine Aborrecidas as rãs do estado democrático, pediram a Júpiter com tanto empenho um rei, que enfim lho transformou em monarquia. Lá do alto caiu-lhe um rei, cidadão pacífico; mas com o barulho da queda afugentou do lodacento reino o povo, gente muito tímida e asna. Escondida nos buracos … Ler mais

A raposa e o bode – fábula de Esopo

A raposa e o bode – fábula de Esopo Em certa digressão, associaram-se uma rapôsa e um bode Era êste tão curto e rombo de bestunto [1]), quanto aquela era ma­nhosa e arteira. Apertados da sêde, procuram modo de a satisfa­zer e só encontram o refrigerante líquido em um poço. Descem; e, depois de beberem … Ler mais

O leão doente e a rapôsa – fábula de La Fontaine

O leão doente e a rapôsa – La Fontaine Achando-se doente o rei dos animais, mandou publicar por todo o seu reino ser de sua vontade que todos os vassalos lhe enviassem embaixada, cada um segundo a sua classe e qualidade, a saber da real saúde e fazer-lhe companhia na sua câmara. Certificou que seriam … Ler mais

O presente da fada

O presente da fada *) Na serra, alta e fertilíssima serra, vivia um casal honrado que, pela bondade do coração, mereceu as boas graças da fada montesina, uma formosa e meia criatura de Deus, porque o diabo não a faria tão bela nem tão boa. Era ela quem enflorava as árvores e quem mudava em … Ler mais

O simba e os Pombos – Fábulas populares

Conto dos pretos Maputos, versão colhida pelo sr. J. Serra Cardoso, “Moçambique”, n.° 4, Outubro-Dezembro de 1935, Lourenço Marques, pp. 77-80.

Muito popular também no Brasil do nordeste e norte. José Carvalho registou uma variante do Ceará, entre a raposa, as rolinhas e o canção (Cyanocorax cyanoleucus) que desmascara a raposa, “O Matuto Cearense e o Caboclo do Pará”, Belém, Pará, 1930, pp. 85-87. João Ribeiro, “O Folk-Lore”, p. 245, Rio de Janeiro, 1919, narra a história como sendo um apólogo árabe do filósofo Sindabar, entre a raposa, os pombinhos e o pardal, que ensina a vencer a manha vulpina. Há um conto dos negros ‘ Kabilas, que Leo Frobenius registou. O chacal ameaça comer todos os pintos da galinha, subindo ao monte íngreme, se esta não os atirar em certa porção diária. A águia termina com essa tragedia, revelando a mentira do chacal e depois, como a Coruja dos Maputos, levando-o pelos ares e jogando-o de alto, “African Gene sis”, trad. de Douglas C. Fox, p. 83, New York 1937. Aurélio M. Espinosa, “Cuentos Populares Españoles”, III, pp. 493-4, encontrou versões em Toro (León) e Rasueros (Ávila), “La pega y sus peguitos”, “La zorra y el alcaraván”. Neste último repete-se a libertação da ave pelo mesmo processo do “Mocho e a Raposa”, Stanford University, California, 1926. Ha urna variante no “El Conde Lucanor”, exemplo XII. (Câmara Cascudo)

A GRATIDÃO DO LEOPARDO – fábula de animais africanos

Popularíssimo conto entre pretos e africanistas. É o XVIII do Folk-Tales of Angola, de Heli Chatelain, Nianga dia Ngenga ni na Ngo, Boston and New York, publicação do The American Folk-Lore Society, 1894, colhido entre os negros caçadores do Mbaka. Tema universal,, ocorre em quási todos os folclores. A mais antiga versão encontra-se no Panchatantra, assim como no seu resumo, Fabulas de Pilpay, entre o Homem e a Serpente que êle salvara do fogo. A Vaca, a Árvore votaram com a Serpente. A Raposa livrou-o, com o mesmo artifício. Corre mundo desde o ano 570.

J. P. Steel e R. C. Temple, no Wide-Awake-Stories, Bombay e Londres, 1884, recolheram uma versão popular no Panjap. O Tigre, ajudado pelo Brâmane, quer devorá-lo. Árvore, Vaca e Caminho opinam pelo Tigre. O Chacal, pretendendo reconstituir a cena, prende o Tigre para sempre. Couto de Magalhães ouviu o mesmo episodio entre os indígenas brasileiros do idioma tupí, O Selvagem, p. 237, Rio de Janeiro, 1876, onde a Onça, posta em liberdade pela Raposa, quer devorá-la. O Homem manda a Onça voltar ao fosso, deixando-a presa. O prof. Espinosa colheu uma variante em Espanha, Un bien con un mal se paga, León; a Cobra quer morder aq Homem que a salvou do frio. O Asno e o Boi foram pela Cobra mas a zorra (Raposa) exigiu a encenação inicial e a Cobra regressou ao alforge do Homem que a matou, ás pauladas, Cuentos Populares ‘Españolen, III.0, 264.°. Na América Central, dona Maria de Noguera registou El Fallo de tio Conejo, sendo o Boi, ameaçado pelo Tigre, salvo pela astucia do conejo (Coelho) ; Cuentos Viejos, p. 145, S. José de Costa Rica, 1938. Na Argentina, é o sr. Rafael Cano, Del Tiempo de Ñaupa, Buenos Aires, p. 213, 1930, quem fixou o conto, tendo como personagens o Tigre, o Homem e o zorro. Na África Oriental Portuguesa, Moçambique, o padre Francisco Manuel de Castro registou uma variante, ouvida aos pretos Macuas e transcrita pelo jornalista brasileiro Amon de Melo, Africa, p. 240, Rio de Janeiro 1941. O Perú’ Bravo, solto de uma armadilha pelos meninos Narrapurrapu e Nantetete, filhos de Moxia, ia comê-los quando o Coelho duvidou que êle tivesse cabido dentro da armadilha. O Peru Bravo, desafiado, voltou à prisão e ainda lá deve estar. Leo Frobenius, no African Génesis, seleção de Douglas C. Fox, p. 163, New York, 1937, tem uma versão dos negros Nupes do Sudão. O caçador livrando um crocodilo de morrer fora do Niger está condenado a morte. Asubi (esteira colorida do Kutigi) e um pedaço de pano, votam a favor do Crocodilo. O Boaji (almíscar) obtém a representação da cena e deixa o crocodilo no seco, escapando o Homem.

Encontrei uma versão brasileira no Nordeste, registrando-a no meu Contos Tradicionais do Brasil. E’ o Mt. 155 de Aarne-Thompson The Ungrateful serpent Returned to Captivity ainda conhecido na Alemanha, Itália, Estônia, Finlândia, Lapônia, Dinamarca, Flandres, Sicília e entre os pretos da Hotentócia. (C. CASCUDO)