Carta de Alexandre Herculano a Antônio Serpa Pimentel

Carta de Alexandre Herculano a Antônio Serpa Pimentel Meu amigo. — Escrevo-lhe do fundo do estreito vale de Lor- vão, defronte do mosteiro onde repousam as filhas de Sancho I; dêste mosteiro melancólico e mal assombrado, como as montanhas abruptas x) que o rodeiam por todos os lados: escrevo-lhe com o coração apertado de dó … Ler mais

Alexandre Herculano – Inteireza dos Andradas

Inteireza 1) dos Andradas Acerca da pobreza de José Bonifácio, que não possuía mais do trinta mil réis quando foi prêso e deportado, contarei uma ane­dota, que não será lida sem interêsse. Os ministros da regência de Dom Pedro reduziram os orde­nados à metade do que eram no tempo de Dom João VI. Fica­ram em … Ler mais

A luta de carneiro com touro

A luta de carneiro com touro Entramos lo campo. Havia muito gado. Árvores surgiam de longe em longe e à sombra delas grupos de animais acarrados. Pouco adiante, a um lado, no alto de uma coxilha, surgiu o vulto imponente de um touro, que vinha numa atitude agressiva; mas chegado a certa distância parou, a … Ler mais

Alcácer – crônica de Alexandre Herculano

Alcácer Alcácer achava-se no século XII decaída da anterior grandeza: mas ainda se distingüia pelo pitoresco do sítio e pelo seu aprazí­vel aspecto. Assentada nas margens do Chetavir, grande número de embarcações subiam e desciam o rio, carregadas com as mer­cadorias que lhe alimentavam o comércio, necessàriamente ativo pela proximidade da populosa e opulenta leborá … Ler mais

O Castelo de Faria – Alexandre Herculano

O castelo de Faria (Exemplo de fidelidade ao juramento dado) Reinava em Portugal D. Fernando. Êste príncipe, que tanto degenerara de seus antepassados em valor e prudência, fôra obri­gado a fazer paz com os castelhanos depois de uma guerra infeliz, intentada -) sem justificados motivos, e em que se esgotaram 3) inteiramente os tesouros do … Ler mais

UM MONUMENTO HISTÓRICO

Oliveira Lima UM MONUMENTO HISTÓRICO O meu correspondente de Goiana, que me tem fornecido alguns elementos de interesse para estes artigos e que conhece perfeitamente as coisas e o viver do nosso interior, o Sr. José Teófilo Carneiro de Albuquerque, chama a minha atenção e pede que eu intervenha junto ao Instituto Arqueológico em prol … Ler mais

ELOGIO A VARNHAGEN

Oliveira Lima ELOGIO A VARNHAGEN Cabem-nos certamente alguns dos defeitos por que somos acoimados. Como raça e como povo — latinos pela cultura, portugueses pelo sangue, brasileiros pela nacionalidade — do que não podemos, entretanto, ser facilmente acusados é de ser minguada a nossa admiração pelo talento, pelo valor e pelo sucesso. Ela é antes … Ler mais

Perfil biográfico de Alexandre Herculano

Oliveira Lima ALEXANDRE HERCULANO DlZIA um poeta francês de outro poeta também francês — não há furor mais terrível do que o de um lírico que se zanga — que há mortos que é preciso matar. Vejam que requinte de crueldade! Chega a parecer uma atrocidade, e esta ocorrida em tempo de paz. Dizia lie … Ler mais

JACINTO FREIRE DE ANDRADE e FR. LUÍS DE SOUZA

Cônego Fernandes Pinheiro (1825 – 1876) CURSO DE LITERATURA NACIONAL Fonte: editora Cátedra – MEC – 1978 LIÇÃO XXVII – biografia O PADRE JACINTO FREIRE DE ANDRADE O Padre Jacinto Freire de Andrade, natural da cidade de Beja, na província do Alentejo, viu a luz em 1597. Revelando desde os mais verdes anos grande propensão … Ler mais

Barão de Paranapiacaba

Silvio Romero (Lagarto, 21 de abril de 1851 — 18 de junho de 1914) – História da Literatura Brasileira

Vol. III. Contribuições e estudos gerais para o exato conhecimento da literatura brasileira. Fonte: José Olympio / MEC.

TERCEIRA ÉPOCA OU PERÍODO DE TRANSFORMAÇÃO ROMÂNTICA — POESIA (1830-1870)

CAPITULO II – continuação

PRIMEIRA FASE DO ROMANTISMO: O EMANUELISMO DE GONÇALVES DE MAGALHÃES E SEU GRUPO

Veja a entrada para o Barão de Paranapiacaba na Antologia Nacional de Escritores

João Cardoso de Meneses e Sousa, Barão de Paranapiacaba (1827…)65 — É também um mito literário este, ao gosto e pelo jeito do Brasil.

A mitologia literária entre nós segue andar inverso a toda mitologia em geral.

Esta foi sempre uma representação do pensamento primitivo, idealização do passado obscuro e longínquo. Aqui a cousa é diversa; os heróis divinizados são sempre recentes e a canonização dura enquanto o indivíduo existe aí em carne e osso e pode prestar algum favor… Morto o homem, desaparecido o semideus, esvai-se a lenda e lá fica um lugar vazio no altar dos crentes fervorosos e… interessados.

Qual o brasileiro notável falecido a distância de mais de dez ou vinte anos, que seja o objeto de uma veneração especial da parte de nós outros, povo superficial e prodigiosamente ingrato?

O INDIANISMO DE GONÇALVES DIAS – Silvio Romero

Silvio Romero (Lagarto, 21 de abril de 1851 — 18 de junho de 1914) – História da Literatura Brasileira

Vol. III. Contribuições e estudos gerais para o exato conhecimento da literatura brasileira. Fonte: José Olympio / MEC.

TERCEIRA ÉPOCA OU PERÍODO DE TRANSFORMAÇÃO ROMÂNTICA — POESIA (1830-1870)

CAPITULO III

SEGUNDA FASE DO ROMANTISMO E SEU MOMENTO CULMINANTE: O INDIANISMO DE GONÇALVES DIAS

É agora o segundo momento do romantismo brasileiro, a fase inaugurada por Gonçalves Dias. É o seu ponto culminante. O poeta maranhense e José de Alencar, o célebre romancista do Ceará, são inquestionavelmente os dous mais ilustres e significativos tipos da literatura romântica entre nós.

Talentos onímodos, quer um, quer outro, prendem-se pelo laço comum do indianismo e pela patriótica empresa de, evitando os exclusivos moldes portugueses, dar cores próprias à nossa literatura. Caminharam impávidos para a frente, guiados por seu ideal, alentados pelo entusiasmo das boas causas.

Quase não ficou um recanto das pátrias letras em que eles não pusessem as mãos e com’ elas os brilhos de seus talentos e os sons festivos de suas vitórias.

Na poesia, no teatro, na história, na etnografia, Gonçalves Dias fez-se ouvir com elevação e inquestionado valor.

Romance, drama, comédia, folhetim, política, crítica, polêmica, poesia, por tudo passou José de Alencar e seria preciso torcer e marear a imparcialidade da história para negar-lhe os desusados títulos de seu merecimento.

Eu não sou e nunca fui indianista: sempre estive na brecha batendo os exageros do sistema, quando das mãos dos dous grandes mestres passou às dos sectários medíocres. Mas esse velho, e por mim tão maltratado indianismo, teve um grandíssimo alcance: foi uma palavra de guerra para unir-nos e fazer-nos trabalhar por nós mesmos nas letras.

Conseguido esse resultado, os dous chefes calaram as tiorbas selvagens e empunharam outros instrumentos. È, destarte, a mor parte de suas obras é construída fora das inspirações do indianismo; mas as melhores, porque escritas com toda a alma, são as que ficam dentro do círculo daquele. É por isso que as poesias americanas são ainda e sempre as mais saborosas de Gonçalves Dias, e O Guarani e a Iracema os mais valentes romances de José de Alencar.

A maior vantagem da romântica entre nós, já o disse uma vez e o repito agora, foi afastar-nos da exclusiva influência da imitação portuguesa. O romantismo português possuía um triunvirato, por todos admirado, em que era vedado tocar: Garrett, Herculano e Castilho. Tiveram no Brasil admiradores e não tiveram imitadores. Isto é significativo.

Os talentos nacionais, embebidos na contemplação da natureza, da vida americana e das belezas da literatura européia, não quedaram a imitar os três corifeus lusos.

Devemos isto aos Gonçalves Dias, aos Alencares, aos Penas, aos Macedos, aos Álvares de Azevedo, aos Agrários.

Antônio Gonçalves Dias (1823-1864) não precisa que lhe trace a biografia. Este trabalho está feito, definitivamente feito, por Antônio Henriques Leal no III vol. do Panteon Maranhense. Consignarei apenas algumas datas e farei algumas observações que me elas despertam. As datas ajudam a compreender a formação do talento do poeta dos Timbiras. Ele é um completo produto de sua raça, do meio em que passou a infância e dos estudos que fez em Coimbra. As viagens posteriores de quase nada lhe serviram.

Nascido em 1823 em Caxias, passou aí e em São Luís os quinze primeiros anos de sua vida. De 1838 a 1845 viveu em Portugal, formando-se em Direito na Universidade coimbrã. Foram sete anos que alguma cousa lhe deixaram no espírito.

Passando rapidamente pelo Maranhão (1845-46), em meados de 1846 achou-se no Rio de Janeiro, que habitou seguidamente até 1854, fazendo apenas uma rápida viagem ao Norte (1851). De 54 a 58 viveu na Europa, que tornou a visitar de 1862 a 64, ano em que faleceu de volta ao Brasil. O intervalo de fins de 1858 a 62, passou-o em viagens pelas províncias do Norte na célebre comissão das borboletas.

Em 1862, antes de seguir pela última vez para o Velho Mundo, à busca de melhoras para sua saúde, tocou ainda rapidamente no seu amado Rio de Janeiro.

Gonçalves Dias morreu aos quarenta e um anos; destes, treze a quatorze foram passados na Europa e o resto no Brasil.

Tais algarismos não vêm aqui a esmo; comparados àqueles em que apareceram os seus livros, e já foram indicados ao tratar do Barão de Paranapiacaba, bem mostram que o poeta, morto em 1864 aos quarenta e um anos, se tivesse desaparecido em 1854, aos trinta e um, nós teríamos o nosso Gonçalves Dias completo.

Todas as suas obras foram escritas até esse ano, compreendendo os Cantos, os dramas, os artigos de crítica da história do Brasil, os Timbiras, e o trabalho etnográfico sob o título O Brasil e a Oceania.

Em dez anos (44-54) Gonçalves Dias desenvolveu pasmosa atividade. O último decênio foi relativamente estéril: relatórios, dando conta de comissões que exerceu, e um punhado de poesias originais e traduzidas, são os produtos desse tempo.

De resto, cumpre notar que o poeta maranhense não passou por dous grandes flagelos que assaltam de ordinário os homens de letras neste país: a guerra literária e a penúria econômica. O talento do poeta não foi jamais contestado. Contribuiu muito para isto o artigo encomiástico escrito por Alexandre Herculano sobre os Primeiros Cantos. Não passou por grandes dificuldades para viver. Teve sempre empregos e boas comissões. Neste sentido foi de grande auxílio a amizade que lhe votou sempre o segundo imperador.

No moço maranhense existem quatro aspectos principais, já o deixei ver: o poeta, o dramatista, o crítico de história e o etnólogo.

Apreciemo-los, principiando pela sua feição preponderante, o poeta.

Há vinte maneiras diversas de estudar e apreciar um escritor. Podem-se procurar as relações gerais que ele teve com a cultura de seu tempo, mostrando o que lhe deveu e em que a adiantou; podem-se, em dadas circunstâncias, indagar o que fez e o que representa na evolução intelectual de seu país; pode-se-lhe desmontar o espírito, procurando os elementos que o constituíram e qual a tendência que nele predominou.

RUI BARBOSA – Resumo da Biografia e Antologia de Obras

Marechal deodoro da fonseca

Biografia de Rui Barbosa e Obras de Rui Barbosa

RUI BARBOSA nasceu a 5 de novembro de 1849, na cidade do Salvador, Bahia e faleceu aos 73 anos, em Petrópolis, a 1 de março de 1923. Cursou as Faculdades do Recife e de São Paulo, bacharelando-se nesta, em 1870.

É o mais copioso dos nossos prosadores e um dos mais perfeitos e opulentos manejadores da nossa língua, pois que a sua pena no jornal, na tribuna, nos livros, nas cartas e nos pareceres jurídicos deixou cabais exemplos do seu extraordinário poder de expressão verbal, não menor do que o dos mais autorizados clássicos do idioma. Os assuntos que submetia a estudo, vasava-os sempre em ampla explanação, segura crítica e impecável forma literária.

Nos cinqüenta e quatro anos de sua ação pública como político e doutrinador, empregou a sua eficientíssima capacidade no estudo dos mais importantes problemas que interessavam ao Brasil.

Desde o seu primeiro discurso em São Paulo, aos 19 anos, "em defesa do escravo contra o senhor", revelou-se estrénuo abolicionista.

Alexandre Herculano

Biografia de ALEXANDRE HERCULANO DE CARVALHO E ARAÚJO (Lisboa, 1810-1877), tendo-se envolvido numa revolta militar em 1831, emigrou para a Bretanha; e no ano seguinte embarcou para a Ilha Terceira, sentou praça de soldado e tomou parte na campanha em prol de D. Maria II contra D. Miguel. Serviu como bibliotecário público no Porto, desempenhando depois igual cargo na biblioteca particular do rei D. Fernando. Ultimamente, desavindo com adversários a quem talvez exacerbava com as asperezas do rijo caráter, retirou-se para a quinta de Val-de-Lôbos, onde faleceu.