O PRÍNCIPE DAS PALMAS VERDES – Histórias Infantis Foclóricas

O PRÍNCIPE DAS PALMAS VERDES

Fonte: Os melhores contos Populares de Portugal. Org. de Câmara Cascudo. Dois Mundos Editora.

UMA moça morava na mesma casa que uma velha que tinha uma filha muito invejosa e desajeitada. Viviam em quartos separados e a velha reparava na moça viver cantando e tratar-se muito bem, como pessoa rica. Não vendo de onde lhe vinha o recurso, começou a espionar e nada sabendo, pediu para dormir uma noite com a moça. Esta não pôde recusar. Entraram e a moça pediu à velha que a ajudasse a arrumar umas malas de roupa. E tanto arrumava a velha de um lado como ela desarrumava do outro, que terminou a velha morrendo de cansada e adormecendo. Amanheceu o dia sem que tivesse visto cousa alguma que contasse. Ficou furiosa. A filha disse que ela era uma tola e não sabia defender-se da arteirice da vizinha. Deixasse ela ir e tudo se esclareceria por completo. A Velha consentiu e a filha lá foi pedir para dormir no quarto e meteu-se cedo na cama, com mostras de estar doente da cabeça e não poder mexer-se. Fez que dormia profundamente e, pela madrugada, viu um grande pássaro verde entrar pela janela e atirar-se a uma bacia de água fresca que a moça pusera no meio do aposento. Banhou-se o pássaro, rufiando as asas e esparrinhando água por todas as bandas. Cada gota que caía se torna va em uma moeda de ouro ou em uma jóia de preço.

Depois o pássaro largou as penas dentro da bacia e levantou-se um mancebo formoso que abraçou a moça e se pôs a conversar alegremente. A filha da velha, tudo reparando, roncava alto como se estives se profundamente mergulhada no sono. Antes do .sol nascer, o moço meteu-se nágua e voltou a ser um pássaro verde, saindo a voar pela janela.

 Ora ai está porque a vizinha tem tanto ouro, resmungou a velha quando a filha lhe contou o que vira. Começou a pensar como afastar o encantado da conversa da moça e trazê-lo para a filha. Não deparando fim, achou de bem acabar com a felicidade que não podia ser sua. Apanhou a moça descuidada e correu ao quarto, pondo navalhas e puas no peitoril da janela. E safou-se.

Pela madrugada o pássaro verde chegou e quando ia entrando cortour-se muito: Ai! ingrata, do braste-me os encantos! Se me quiseres ver, irás ao reino dos Palmas Verdes. Desapareceu, voando.

A moça ficou inconsolável, chorando quantas lágrimas tinha. Ao cabo de meses teve um filho e logo que este enrijou, pôs-se a caminho à procura do Reino das Palmas Verdes.

Depois de muito andar, chegou a uma montanha muito alta, com o pico entre as nuvens. Viu uma luz lá no cimo e trepou até uma casinha branca, asseada, e sem janelas. Gritou e veio atender uma velhinha muito simpática, que a mandou entrar e lhe deu de comer. Depois disse que se fosse embora porque ali era a casa da Lua e esta não tinha amizades.

 Ai minha mãe! Estou a morrer de cansaço e não tenho para onde ir. Deixe-me ficar por aqui

mesmo que pode ser que sua filha tenha piedade de mim.

A velha escondeu-a dentro do forno de assar pão. Algum tempo mais tarde soprou uma ventania gelada e a casinha ficou clara como se fosse luar. Chegou uma moça muito gorda e forte, toda de prata, falando zangada:

 ‘Quero comer! Aqui cheira a sangue real!

 Não se exalte, minha filha, não teve ninguém, apenas uma peregrina passou pedindo o que comer. Vamos cear. O que farias se a peregrina estivesse aqui?

A Lua, farta com o jantar, ficou alegre: Eu? trata-la-ia muito bem . ..

 Apareça, moça, disse a velha. A moça saiu do forno. A Lua recebeu-a bem, mandou-a sentar, perguntando que fazia por ali.

 Procuro o Reino das Palmas Verdes, eu e meu filho.

 Nunca ouvi falar nesse reino. Quem deve saber é o Sol.

A Lua foi-se deitar e pela manhã a moça, com o filhinho no braço, saiu a caminhar, indo para a casa da mãe do Sol, como a velha lhe havia ensinado. Tanto andou que foi parar a uma montanha ainda mais alta. Levou horas para galgar os penedos e grutas, vendo, por fim, uma casa dourada, sem janelas e com uma porta redonda. Chamou, e apareceu uma velhinha morena, muito alegre, que a agasalhou e lhe pediu que fosse embora por causa da maldade do filho que queimava a todos. A moça tanto rogou que a velhinha ocultou-a no banheiro, com o filhinho. Quando o Sol chegou tudo ia se abrasando. Gritou muito que sentia cheiro de san gue real e só se aquietou quando a mãe lhe serviu um bom jantar. Comeu, ficou calmo e risonho. Então a velha disse: Meu filho, se por aqui viesse uma pobre peregrina com um filhinho, que farias tú?

 Ora, que faria! Dava-lhe pão e trata-la-iabem.

 Apareça, moça, disse a velha. A moça veio cumprimentar o Sol e este agradou-a muito, perguntando que fazia naquelas paragens.

 Procuro o Reino das Palmas Verdes, meu filho e eu.

 Não sei onde fica esse Reino. Já ouvi falar. O Vento, sim, deve saber onde é que ele fica.

E foi dormir. A velha deitou a moça com o filho e pela manhã ensinou a estrada para a casa do Vento.

Quando a moça lá chegou estava mais morta do que viva. Viu uma casa comprida, sem janelas e com uma porta estreita. Gritou, e uma velhinha fê-la entrar, com dificuldade. Deu-lhe de comer mas avisou que seu filho era louco e não respeitava ninguém. A moça, com muito rogo, conseguiu apiedá-la. Maudou-a esconder-se num quarto e amarrou-a, com o filho.

O Vento chegou, dobrando árvores e levantando poeira. Sossegou depois do jantar e ficou rindo com a mãe. Esta lhe disse:

 Meu filho, que farias se uma pobre peregri na aqui viesse ter?

 Que pergunta, minha mãe.! Dava-lhe que comer, que beber e onde dormir.

A velha foi soltar a moça e a trouxe. O Vento perguntou seu destino e ela disse que procurava o Reino das Palmas Verdes.

 Ah! Sei onde é, muito longe. Amanhã irei lá e leva-la-ei se não tiver medo.

No outro dia a moça segurou nos pés do Vento e este voou como um desesperado, uivando. De longe, lhe disse: segure-se naquele pinheiro alto.

A moça segurou-se no pinheiro e o Vento passou, desaparecendo. Como o pinheiro era muito alto e a moça estava muito fatigada, custou a descer da árvore. Quási ao chão, ouviu vozes e, com medo, ocultou-se num ramo, pondo-se a escutar:

 Ora que o príncipe das Palmas Verdes morre mesmo com um remédio tão fácil….

 Fácü dizes tu porque sabes, mas ninguém mais o saberá, o que nos custa a vida.

 Dizes bem. Quem se irá lembrar de torrar nosso coração e passar, na ferida do príncipe?

A moça, ouvindo, afastou o ramo e viu duas pombinhas brancas. Arrancou uma vareta e atirou-lha, matando-as a ambas duma só vez. Desceu, fez lume e assou as aves, torrando os corações e guardando o pó. Pôs-se em. marcha e entrou na cidade onde se falava na doença do príncipe. A moça foi ter ao palácio e pediu para ver o príncipe: sai-te daí, esfarrapada! gritou-lhe o porteiro.

Vendo que não podia ver o príncipe, a moça pediu que lhe mostrassem a janela do quarto onde êle estava. Mostraram-na, por esmola. A moça foi para debaixo e cantou:

Príncipe das Palmas Verdes Que não te lembras de mim; Lembra-te do teu filhinho Que o tens ao pé de ti.

Cantou três vezes. Na primeira vez, o príncipe virou-se na cama; na segunda vez mandou ver quem era; e na terceira deu ordem que levassem ao seu quarto quem estava cantando, fosse como fosse.

Levaram a moça e logo que a viu, reconheceu-a, abraçando-a. A moça passou o pó nas feridas e essas foram sarando logo. Veio o rei, veio a rainha, todos alegres, e o príncipe não cabia em si de contente. Com poucos dias ficou bom e recebeu a moça por sua legítima esposa, fazendo o filho príncipe real.

*

Teófilo Braga regista em versão do Algarve, A paraboinha de ouro, e Adolfo Coelho uma de Ourilhe, Celorico de Basto, O Príncipe das palmas verdes, ambas parcialmente dessemelhantes desta variante do Douro. Diz-se no Chile, Uruguai, Argentina, El príncipe Jalma. Sílvio Romero colheu em Sergiipe O papagaio do Limo Verde, XVII da sua coleção Contos Populares do Brasil. E’ o Mt. 432 de Aarne-Thompson, The Prince as Bird. Comum nos folclores da Finlândia, Lapônia, Dinamarca, Noruega, Suécia, ocorrendo na Rússia, Sicília, Grécia, no conto n.° 29 dos irmãos Grimm. Nessas variantes a história não inclue a visita à casa da Lua, do Sol e do Vento. Nessa acepção muito se semelha ao conto espanhol El Castillo de Oropé, com a jornada à casa dei sol, casa de la luna, casa dei aire, que o prof. Espinosa registou em Sória, opus cit, II, 128. (Câmara Cascudo)

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