O QUE É ARTE – HISTÓRIA DA ARTE DE ERNEST GROSSE

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HISTÓRIA DA ARTE DE ERNEST GROSSE (1893)

CAPÍTULO IV – A ARTE

O viajante que quisesse estudar um país estrangeiro, sem ter ao menos uma idéia geral do fim de sua viagem e do caminho que a ele conduz, correria o risco de cometer graves erros. O mesmo se dá conosco. Antes de iniciar nossas pesquisas, ver-nos-emos obrigados a tomar uma orientação geral acerca da natureza dos fenômenos que vamos deparar. Que é arte? — Só ao final de nosso estudo talvez possamos responder de maneira satisfatória à pergunta e ainda não o iniciamos. Entretanto, daremos uma resposta provisória, sendo possível que, no fim, daremos outra inteiramente diversa.

Levantamos a questão de saber qual a natureza da arte. Em um estudo profundo deveríamos perguntar, antes de tudo, qual a natureza das diversas artes. Em verdade, a tarefa da ciência consiste em encontrar o que é comum a um número indefinido de fenômenos particulares. Mas, ao estabelecer leis gerais, faz-se mister não esquecer os fenômenos particulares. Se a crítica estética de uma época é a expressão de sua teoria estética apenas, veremos que um dos progressos mais estranhos da estética moderna se deve ao descuido pela diferença que há entre os elementos particulares e os gerais. A crítica do século XVIII esforçava-se por compreender o caráter particular de cada arte e avaliar suas obras segundo os dados que este lhe fornecesse. A crítica do século XIX pretende que essa velha delimitação do domínio de cada arte é destituída de valor e prefere exigir de cada arte particular o que não é possível que dê. Hoje, uma poesia deve ter antes de tudo colorido e exige-se que um quadro produza impressão sonora. Em uma palavra, as artes desfrutam hoje, diante da crítica, a igualdade que usufruem os cidadãos em face da justiça de seus países. Devemos inclinar-nos respeitosamente diante dessa conquista do liberalismo, mas devemos também acreditar que semelhante progresso teria sido impossível, se se tivesse penetrado mais intimamente nas particularidades das diversas artes.

Contudo, iniciaremos nossas pesquisas particulares, dando uma definição geral de arte, seguindo nesse trabalho o excelente método da crítica de outrora. Mas, assim fazendo, não cremos atingir um resultado definitivo. Nossa definição será, pois, uma espécie de andaime, que demoliremos, uma vez construído o edifício.

Denominamos em geral atividade estética ou artística a que tem por fim despertar, pelo próprio exercício ou pelo seu resultado final, uma sensação imediata — um prazer, na maioria dos casos. A atividade estética cumpre-se, portanto, em vista de um fio direto. Não se trata de um simples meio que lhe permita alcançar um fim que lhe seria estranho. Os efebos atenienses que se atiram contra os persas, em Maratona, desenvolvem uma atividade prática. Mais tarde, porém, quando dançam a pírrica, para festejar a vitória, desenvolvem uma atividade estética. O jogo distingue-se da arte porque tende como atividade prática, a um fim exterior; distingue-se ainda da atividade prática, porque o prazer que lhe é inerente não depende do fim exterior, de pequena importância, mas sim da própria atividade. Podem representar-se por um esquema as relações que existem entre a atividade prática, o jogo e a arte: uma linha reta será a atividade prática; uma linha ondulada, o jogo; e um círculo, a arte. O prazer direto, que caracteriza a atividade artística, obtém-se, como dissemos, quer pelo próprio exercício, quer pelo seu resultado. Para citar exemplos, diremos que um corrobori australiano é uma atividade artística que causa aos dançarinos um prazer que acompanha imediatamente seus próprios movimentos rítmicos. Ao contrário, as pinturas que executam no corpo antes de cada dança não produzem seu efeito artístico senão depois de terminadas as danças.

Em ambos os casos, o prazer artístico não se acha normalmente reservado às pessoas que desenvolvem uma atividade estética. Também se comunica aos ouvintes e espectadores. Esse efeito sobre o espírito dos demais não é, porém, fortuito ou acessório. Ao contrário, era intenção do artista produzi-lo. O artista não trabalha apenas para si próprio, mas também para os outros, e embora não possamos pretender que a criação artística seja unicamente um resultado do desejo do artista, de exercer uma influência sobre outrem, se acha, todavia, submetida ao gosto do público, não do público como realmente é, mas do público como o concebe o artista. Em todo o caso, uma obra de arte tem sua origem não só no artista, como também no público. Mill engana–se ao acreditar ter encontrado a qualidade característica da poesia no fato de "que o poeta nunca pensa em um possível ouvinte"1. Em todos os povos e em todas as épocas, a arte é um fenômeno social. Renuncia-se, de antemão, a compreender-lhe a natureza e a importância, quando se considera como um fenômeno individual exclusivamente. Ao contrário, o poeta não faria poesia se não houvesse público. Uma arte individual, no sentido mais restrito da palavra, ainda que fosse possível concebê-la2, não existe em parte alguma, como já dissemos.

As pesquisas que se seguem referem-se unicamente ao caráter social da produção artística. Vamos considerar a arte dos primitivos como um fenômeno e uma função social. Nossa concepção não encerra nenhuma pretensão de originalidade. É simplesmente a mais antiga, bem como a mais geral, se fizermos abstração dos tempos modernos. A antiguidade não conhecia outra e os seus autores consideravam a arte como assunto público. Somente ao individualismo moderno essa concepção não parece ser a única justa nem possível.

Ainda temos que resolver a questão da ordem a adotar na classificação das artes. Trata–se de assunto puramente prático. O mais simples será escolher a classificação mais conhecida, sem atribuir-lhe outras vantagens senão a da comodidade.

Dividem-se as artes em dois grandes grupos: artes de movimento e artes de repouso. Fechner acentuou com muita clareza a diferença que as separa: umas querem agradar por meio das formas em repouso; outras pelas formas em movimento ou que se vão sucedendo no tempo. Estas transformam ou combinam massas em repouso e aquelas produzem movimentos do corpo ou mudanças no tempo, capazes de atingir o fim artístico3. Começaremos pelas artes do repouso, que ordinariamente se denominam artes plásticas. A forma mais primitiva destas é provavelmente a decoração. O objeto que primeiro se orna é o corpo humano. Por essa razão, estudaremos em primeiro lugar o adorno do corpo. Mas os homens, embora os mais primitivos, não se contentam com ornar o corpo. Enfeitam também suas armas e utensílios. A ornamentação desses objetos ocupará, pois, o segundo lugar em nosso estudo. Em seguida, estudaremos a arte plástica livre ("frei Bildnerei"), cuja finalidade é a criação de obras artísticas independentes e não a decoração. — A dança representa a transição entre as artes de repouso e as de movimento, podendo-se defini-la como arte criadora de movimentos ("leben de Bildneri"), arte plástica animada. A esse gênero da arte dedicaremos um estudo especial, porque inteiramente indicado para aprofundar nossos conhecimentos sobre o papel social da arte, tendo-se em vista que a dança tem muito maior importância entre os primitivos que entre os civilizados. Mas, a dança está sempre ligada ao canto, entre os primitivos. Teremos assim uma cômoda transição para passar à poesia, cujas formas primitivas estudaremos pelo menos em suas linhas gerais. Finalmente, estudaremos a música primitiva. A seguir, nosso trabalho consistirá em resumir os resultados de nossas pesquisas especiais.

(1) Toda poesia pertence à natureza do solilóquio. Sua peculiaridade está em que o poeta fala inconscientemente, sem preocupar-se com seus ouvintes. "Thoughts on Poetry and its Varieties. Dissertations and discussions", I, 7.

(2) Poder-se-iam invocar aqui as manifestações artísticas de prisioneiros isolados, cujas obras são executadas para os próprios artistas. Esse argumento nada prova. Em primeiro lugar, um prisioneiro encontra-se na cela em condições anormais, que não permitem tirar conclusões para condições normais. Em seguida, o prisioneiro nem é sempre encontrado nessas condições. A necessidade de o prisioneiro ocupar seu isolamento numa atividade artística é, como todo seu caráter, um resultado do meio social de que saiu e em que viveu outrora.

(3) Fechner, "Vorschule der Aesthetik", II, 5.

Fonte: Ed. Formar ltda.

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