Cônego Fernandes Pinheiro (1825 – 1876)
CURSO DE LITERATURA NACIONAL
LIÇÃO V
TERCEIRA ÉPOCA — 1495 – 1530
Marca o zénite da glória literária portuguesa o feliz reinado de D. Manuel. Como que à porfia apareceram nessa época os maiores engenhos. Todos os ramos do saber humano foram cultivados e atingiram a subido grau de perfeição: e nenhum país da Europa levava a primazia a Portugal. Entrava ele então em uma dessas fases de incremento intelectual a que chamamos séculos literários e por que passara a Grécia nos dias de Péricles, Roma nos de Augusto, e a Itália no dos Médicis.
“O comércio de países remotos, diz um distinto literato, e o conhecimento de um mundo novo haviam disposto as cabeças portuguesas para nelas conceberem grandes e novas idéias, e, devemos declará-lo, nenhuma de todas as nações da Europa reunia tantos e tamanhos elementos para elevar-se até a imortalidade sobre as asas do engenhof como a portuguesa, pelos seus vastos descobrimentos terrestres e marítimos, de cujos frutos ela tinha ainda por esse tempo o domínio exclusivo ‘.”
Abundante é a messe e portanto difícil a escolha dentre tantos primores. Procuremos distribuí-los conforme o método que adotamos e que oxalá mereça a aceitação dos doutos.
1 F. Freire de Carvalho, Primeiro ensaio sobre a Hist. lit. de Portugal, período X, pág. 74.
Permitindo-no,s a uberdade literária desse século o procedermos à classificação dos gêneros e das espécies, o que até aqui não nos foi possível fazer, mais sistemático e de mais fácil compreensão se tornará este nosso trabalho.
Precedeu em Portugal a poesia à prosa, e primeiro raiou o gênero lírico no horizonte das musas. Fez-se ouvir a flauta pastoral de Bernardim Ribeiro antes que soasse o plectro de Sá de Miranda e Ferreira; e, invertendo a ordem natural, antecedeu o drama à epopéia, mostrando-se Gil Vicente antes de Camões.
Estudando a causa desta aparente anomalia ju1 gamo-la encontrar nesse excesso de vida, nesse luxo de intelectualidade que caracterizou a época, nesse concurso de todos os talentos, nesse acordar de todas as atividades, que lançou Fernão Mendes Pinto através dos continentes, arquipélagos e ilhas, para enriquecer a literatura pátria com as suas Peregrinações; que deu a Fr. Heitor Pinto e a Fr. Amador Arraes a pena de Platão para escreverem seus admiráveis Diálogos; a Jerônimo Osório o estilo de Cícero para compor a vida do novo Augusto; a André de Rezende a erudição de Varrão para pesquisar as antiguidades lusitanas; e finalmente a João de Barros e a Castanheda o pincel de Tiziano para pintar-nos as maravilhas da índia, vasto teatro da glória portuguesa.
Objetar-nos-ão quiçá que todos esses faróis da inteligência não foram contemporâneos de D. Manuel: mas a isto responderemos que a história literária deixa aos homens positivos o escrúpulo das datas, e que matricula no áureo século da literatura latina a Plauto, Lucrécio, Catulo, Cícero, Sa-lústio e César, que viveram muito antes de Augusto. Basta que um príncipe proteja generosamente as letras para que gratas lhe gravem estas o seu nome no século em que vivera, e no qual às vezes ocupará bem curto espaço. Não privou o breve pontificado de Leão X de assinalar ele o terceiro século literário. De mais, não se aproveitou D. João III do impulso dado por seu pai, que tão sabiamente lançou mão dos poderosos elementos acumulados pelos seus gloriosos predecessores? Se jamais um nome próprio deveu simbolizar uma época, nenhum foi mais digno disso do que o de D. Manuel.
Estreando pela poesia lírica, ocupar-nos-emos em prime’ro lugar com a espécie bucólica, e faremos rápido inventário das louçainhas de Bernardim Ribeiro, Sá de Miranda, Ferreira, Bernardes, Caminha, e ainda do grande Ép.co que tão docemente modulava a avena.
Fonte: editora Cátedra – MEC – 1978
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