Antônio João Ribeiro -Um episódio da Guerra do Paraguai

Um verdadeiro patriota – Antônio João Ribeiro

A coluna devastadora vinha dirigida pelo coronel Resquin que, em nome do Paraguai, levara inopinadamente a guerra ao seio do Brasil.

O ataque havia sido tão pouco esperado que os batalhões pa­raguaios, sem oposição alguma à sua marcha de conquista, fo­ram tangendo adiante de si tôda a população tomada de surpresa e possuída de imenso pavor.

Ao passar a divisa do Império, Resquin destacara de sua fôr- ça de mais de cinco mil baionetas, *) uns seiscentos homens para irem abafar a resistência do tenente Antônio João na colônia de Dourados.

Valente homem aquêle tenente!

Isolado no fundo dos sertões, sentinela perdida da fronteira, morreu como um herói, ao lado de onze companheiros, em quem infundira a coragem e o patriotismo que lhe inflamavam o peito.

Não podia esperar socorro de ninguém. Encerrado em sua paliçada, tinha diante e ao redor de si a imensidade do deserto.

Avisado dois dias antes, que para Dourados marchava uma fôrça imponente, não quis desamparar o pôsto. Reuniu a gente da colônia e fêz-lhe uma fala em que citou francês e até latim.

O homem tinha pretensões literárias que afagava com certo orgulho, e se revelavam nos ofícios mensais que costumava diri­gir ao chefe militar de Nioac.

Nessa fala, êle expôs as circunstâncias em que se achava a colônia e a loucura da resistência, e terminou dando a todos licen­ça para o abandonarem.

Ele ficaria.

— Para quê? perguntaram uns soldados.

— Para morrer!

Onze de seus comandados declararam que ficariam também. Todos os mais partiram: mulheres, crianças, velhos e até moços.

Antônio João esperou então os inimigos da Pátria. Fêz içar a bandeira do Brasil e preparou com esmêro o ofício com que ha- via de responder a intimação do invasor.

No dia 28 de dezembro de 1864, um soldado, que saíra a ca- valo a devassar a redondeza, voltou a galope.

A vanguarda paraguaia já vinha aparecendo.

Antônio João mandou tocar a reunir e distribuiu os seus onze

fiéis pela paliçada. Cada um tinha uma espingarda a Manié, duas clavinas carregadas ao lado e não lhes faltava nem munição nem valor.

Por todos os lados se abriam campos imensos, campos que já se iam tingindo de vermelho.

Eram os paraguaios, cujas blusas côr de sangue vivo macula- vam a verdejante relva.

— Estão todos prontos? perguntou Antônio João à sua gente.

— Todos, responderam os onze.

Era Leônidas no meio de Lacedemônios.

De-repente, soou o clarim paraguaio.

Um parlamentário se aproxima.

A bandeira brasileira desdobrou-se aos ventos do deserto. Pa­recia ufana de abrigar aquêles doze sublimes insensatos. Losango amarelo sobre fundo verde; côres que mandam um sorriso de eonsôlo ao moribundo, quando êle deita o olhar de adeus no cam­po de batalha. A coroa imperial como que se preparava para des­cer; sôbre aquelas cabeças, transformada em coroa de glória.

Antônio João prezava-se de civilizado: recebeu, pois, com a maior cortesia, o enviado.

A intimação era curta: meia dúzia de palavras insolentes, como costumavam alinhar os generais de Lopes.

O comandante de Dourados rasgou em pedaços o ofício que preparara com tanto cuidado e carinho, e a lapis traçou esta resposta:

“Sei que morro, mas o meu sangue e o de meus com­panheiros servirá de protesto solene contra a invasão do solo de minha Pátria

Antônio João da Silva.

Seleta 3


Os paraguaios o chamaram cie louco xj, e nem taitou brai leiro que, ao depois, dissesse o mesmo.

Retirou-se o parlamentário, e a fôrça inimiga, em distânci, cercou todo o campo. Para qualquer lado que os defensores de Dourados deitassem os olhos, viam um cordão vermelho que a vinha apertando.

Na guarnição não houve alma que fraqueasse. Quanto ma|l se demorava aquele ataque desproporcionado, mais crescia o entii! siasmo.

— Viva o Imperador! gritou, de-repente, Antônio João.

Era o sinal de fogo. Os brasileiros dispararam a um temp§

as armas, — ligeira detonação para aquelas vastidões, respondidí por uma imensa repercussão.

O herói brasileiro caiu ferido mortalmente.

— Fogo, minha gente, fogo! gritou êle, nos arrancos da agonia.

Raros obedeceram à ordem.

Daí a pouco, era arreada a bandeira da paliçada; mas el;t desceu com ufania, como bandeira de vitória e, quando tocou aa chão, uma das dobras foi ensopar-se no sangue daqueles que tan­to a haviam enobrecido.

Parecia enrubescer de orgulho.

Os paraguaios fizeram justiça a Antônio João.

— Era um valente! disseram êles. Se o, Brasil tiver muitos dêsses, a nossa marcha por Mato Grosso não será um Simples] passeio militar como nos contaram.

Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.

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