A questão do suicidio

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    No âmbito das questões que têm sido abordadas neste fórum penso que faz sentido colocar a questão do suicídio já que “só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia”(Camus). É este o desafio que lanço a todos aqueles que ousam pensar…

    #75704

    bom… depende…por ex:

    no enlatado americano “independence day” um piloto dá a sua vida pela humanidade.

    isto é suicídio?????

    o resgate do soldado rain(este já é um bom filme)tem personagens que enfrentam situações as quais estão fadados a morte. isto é suicídio?

    outro filme, amistade(acho que é assim que se escreve), uma mulher africana com um bebe se lança ao mar em razão das condições repugnantes em que se encontrava com a criança. isto é suicídio?(neste caso é bom assistir os primeiros 20 minutos do filme para entender o que quero dizer)

    sócrates…suicídio?

    o suicídio ocorre em pessoas perturbadas emocionalmente, com disturbios colapsos ou rupturas com a realidade.

    os casos acima acredito que não se tratam de suicídios ou ao menos não são motivados pela perversão.

    de minha parte, como acredito em um “reino”, e este só é agradável se os meus sonhos permitirem, portanto, se gero muito inconsciente, tenho baixa tolerância as frustações, sou depressivo, tenho pena de mim mesmo…. bom os meus sonhos serão pesadelos…e se tiro a minha vida “estou em maus lençois”…como sócrates ensina ” espécie de posto de sentinela é, para nós humanos, nossa permanência na terra, e não devemos ser indiferentes a ela, nem nos evadir”.

    estou com sono…. amanhã a gente continua.

    abs.

    #75705

    Segundo Nietzsche, a vida é o único valor em si mesmo, pois se tirássemos a vida, não haveria como formar valores. Logo, a questão para ele é a da condensação ou dispersão da força da vida, e a verdadeira filosofia seria aquela que afirma a vida, e não a situa num além-mundo.
    O Suícidio seria uma espécie de afirmação do livre arbítrio diante do total descontrole do homem sobre o que ele é e das forças que o cercam. Essa situação paradoxal, segundo os existencialistas, levaria o homem à angústia, da qual só poderia se assumisse a sua responsabilidade diante das consequências de suas ações e da realidade de sua total liberdade com elas.

    Eu gostaria de ouvir o que a Isabel fala a respeito do Camus. Sei que ele trata do Absurdo da existência, mas não li seu livro de teoria “O homem revoltado”. Abs

    #75706

    A questão do Alex de se a morte do Sócrates foi ou não suicídio é interessante, e mereceria, talvez tópico à parte. Isso me fez lembrar na condenação do suicídio em Fédon. Em muitas outras correntes, como o cristianismo, o suício é considerado pecado. Sócrates no livro em questão defende que somos todos escravos de donos excelentes, os deuses, e que está fora do trato tentar escapar, forçando a morte. Os homens também não gostariam se suas ovelhas caíssem no abismo, se safando de produzirem leite lã etc. Acho que isso merece ser lembrado na discussão.

    #75707

    Onofre:
    Embora Sartre e Camus se insiram dentro do Existencialismo ateu defendem posições algo distintas. Apesar da angústia gerada pelo facto de estar condenada a ser livre, de não poder não o ser, embora “os outros sejam um inferno” há, para Sartre, a possibilidade de construir o sentido a partir de nós próprios e das nossas opções…o homem primeiramente não é nada, não existe Deus.Camus diz-nos simplesmente que não há sentido e mesmo que houvesse nunca poderíamos encontrá-lo. O sentido da vida é justamente ela não ter sentido nenhum. O suicídio é “condenado” por Camus na medida em que ele seria o por termo ao absurdo. Como diz Camus” o absurdo é um divórcio que nasce do confronto entre o homem e o mundo…
    A obra de Camus que trata propriamente deste problema é “O Mito de Sísifo” que eu aconselho vivamente e que já li inúmeras vezes.
    Volto daqui a pouco para falarmos do absurdo da existência e de como ele se relaciona com a questão do suicídio.
    Até já.

    #75708

    Para Camus o mundo não pode ser reduzido nem a um princípio racional, nem a um absoluto que lhe confira unidade. Num mundo privado de sentido o homem sente-se um estrangeiro. Esta fractura entre o mundo e o seu espírito deve ser amntida, já que ela é a verdadeira condição humana. Abolir tal fractura, mais não seria do que adormecê-la voluntariamente na ilusão de uma significção para além da condição limitada do homem. Num universo onde reinam a contradição (basta olhar à nossa volta…), a antinomia, a angústia, o impoder entre o sim e o não, o homem não deve tentar concluir (o suicídio seria uma conclusão), uma vez que isso se afirmaria como uma traição à vida. É precisamente o sentimento de divórcio entre o homem e a vida que constitui o sentimento do absurdo. Viver esse absurdo é permanecer clarividente…para um sentimento como o absurdo, a única verdade de que se dispõe é, justamente, o absurdo, não restando outra solução que não seja a de o manter na mais plena lucidez; ele é o limite dentro do qual se tem de organizar a vida, a única coerência de que se dispõe! Qualquer renúncia ao absurdo é um suicídio que pode ser físico -a morte- ou espiritual- apelar a princípios transcendentes ao absurdo e à própria vida. Neste sentido, segundo Camus, a única solução possível é a obstinação desesperada de manter o absurdo, a lucidez…
    Sísifo é o exemplo desta lucidez obstinada. No entanto, Camus diz-nos quase no final de “O Mito de Sísifo”: “Deixo Sísifo no sopé da montanha…é preciso imaginar Sísifo feliz”.
    Todavia, ninguém consegue viver toda a vida neste estado de separação e, assim, o absurdo conduz à revolta, na procura da unidade, da felicidade e do sentido.

    #75709

    o homem cria os seus absurdos baseado nas idéias que o circundam, ou mesmo das idéias que ele faz do mundo que está ao seu redor. as idéias levam ao caos, e o caos a situações insuportáveis. o homem tem o hábito de considerar as suas idéias ilimitadas ou últimas, ou seja, a idéia contém implicitamente uma idéia de que, uma vez que vc tem uma idéia correta esta tudo bem. Isto gera as facturas citadas. Toda idéia deve ser considerada limitada pelo simples fato de ser uma idéia. Do mundo ao nosso redor temos uma idéia que “não corresponde aos fatos”, mas “a verdade é o fato”, logo, o homem enquanto preso ao seu ego é incapaz de conhecer o mundo como ele é(o mundo e não algo além), contudo, não temos noção desta limitação, e a falta de um limitador gera a ruptura ou o colapso. A própria idéia de Camus sobre o mundo que não pode ser reduzido nem a um princípio racional, nem a um absoluto que lhe confira unidade , sendo portanto, um mundo sem sentido, é limitada. o bloqueio para se viver na “felicidade” encontra-se muito mais no ego do que no mundo em sí. o absurdo, é o absurdo do ego criado pelas idéias, que geram inconsciente(idéias de repressão) e o divórcio entre a vida e o homem. A gota sabe que é o oceano, mas a idéia que tem de sí é de gota. A gota está no oceano, mas não está cônscia disto. A idéia do tempo, por ex, é algo que as nossas idéias não abarcam muito bem. O que somos hoje e as espectativas do amanhã geram confusão no atual arcabouço de idéias que temos do tempo em relação a nós mesmos e ao que somos hoje. A consciência humana é carregada de idéias, estas se misturam com o subconsciente, com o inconsciente e com o inconsciente coletivo. Com a idéia de que toda idéia contêm sua limitação o cérebro adquire mais funcionabilidade e acaba agindo como o divisor de águas entre a consciência, o subconsciente, o inconsciente e o inconsciente coletivo. Por vezes a carga de incosnciente é relativamente diminuída, pois com a idéia de que toda idéia é limitada, diminui-se tb a repressão e consequentemente a perversão, mas esta tb é uma idéia e por tal tem em seu bojo uma idéia de limitação. Viver a vida consiste em ter idéias sobre o que venha ser a vida e o mundo ao seu redor, aborigenas australianos(se silvículas ainda) não tiram as suas vidas, ou vivem em um absurdo, isto é uma coisa nossa.

    não sei se me fiz entender, acabo de escrever isto e nem sei se faz sentido à propósta deste fórum

    abs.

    #75710

    a nosso espécie chegou até onde chegou graças a dois fatores básicos que outras espécies não possuem com o mesmo refinamento. são eles a linguagem(simbólica) e a lógica. ambos são úteis e conduzem a nossa espécie ao mundo tecnológico, literário, poético, filosófico etc.
    outrora comentei o perigo das idéias serem encaradas pragmaticamente como últimas na solução de nossos problemas, se não me engano foi no fórum que falava sobre suicídio(este aqui..rs). muito que bem, temos a linguagem e temos a lógica, mas sabemos tb “que um gesto vale mil palavras”. o que isto significa(?), ou seja, um gesto de mil palavras?

    mceus eu não entendo de biologia, mas assisto Discovery. nunca vi no Discovery programas sobre pingüins que se suicidam( o que é o suicídio?), mas eles existem(?). até o momento concordo em gênero nº e grau com a sua explanação desde que o objeto alvo seja os pingüins e, pela sua explicação, acredito que não se trata de pingüins que se suicidam, mas sim de um processo de preservação da espécie. particularmente acredito que quem se suicida é o homem exclusivamente, nunca vi um cachorro se suicidar, tão pouco um cavalo, muito pelo contrário o cavalo puxa carroça e toma chicotadas vive recluso e não sente pena de si mesmo, sabemos que eles tb têm cérebro como nós temos, mas não praticam tamanho ato de loucura(suicídio). os pingüins devem ter um motivo muito particular e que a meu ver, através de observações de um leigo no assunto biologia, observações feitas no Discovery por ex, não se estendem a todas as espécies do nosso planeta. desta forma sequer poderíamos definí-lo como um padrão da vida, até pq temos espécies que sequer defendem os seus filhotes dos predadores. bom vc poderia me dizer que isto estaria atrelado ao nível de refinamento de cada espécie, mas não estou certo de que os pingüins são um modelo de inteligência a ser comparada com a nosso… por ex. os golfinhos se suicidam? definitivamente eu não sei a resposta, mas os golfinhos são animais comprovadamente bastante inteligentes… contudo, em caso de uma resposta positiva poderíamos tentar estudar o assunto observando se os golfinhos que se suicidam vivem ou viveram em cativeiros…

    estou com um pouco de pressa.. mas acredito, de forma bastante natural, que não é pq o animal tem um cérebro que ele se suicida(poderíamos tentar definir a verdadeira função do cérebro?), tão pouco o suicídio é uma forma de preservar a espécie, entenda-se por suicídio a retirada espontânea da vida e não o meio para se preservar uma determinada espécie de animal que optou por este determinado meio tal como outros optaram por meios diversos.

    se partimos da lógica(que não é o meu forte) que o ato praticado pelos pingüins não é um ato de suicídio, mas sim uma forma de preservar a espécie, e analisarmos que um cachorro não se suicida, mas tem cérebro…. pq nós nos suicidamos(?)

    a nossa linguagem é mais refinada que a de um cavalo ou de um cachorro para um fim específico, sendo que para outros poderíamos definí-la como algo simplesmente sem sentido. mas optamos por ela. pq? observamos que outros espécies tb obtiveram sucesso em sua evolução e desenvolvimento sem utilizarem da simbólica(linguagem) como nós utilizamos, logo, poderíamos afirmar até pq somos a minoria, que a linguagem em nada é necessária para a manutenção da vida, mas nós optamos por ela. pq?

    bom somos filhos da terra e estamos longe dela, pagamos um preço. o preço da linguagem e da lógica… os animais de um modo geral são mais sensíveis a eventos naturais do que o homem… principalmente o homem que busca o saber de maneira forçada, o homem intelectual… os silvícolas vivem nas selvas e estão habituados com a medicina do xamã… tem uns gringos que estão neste exato momento na amazônia colhendo informações com um índio “muito louco” sobre plantas que curam… meus cachorros quando não estão legais se viram sozinhos no meio do mato comendo alguns matinhos “selecionados” a dedo. por eles é claro! a propósito quem estuda antropologia poderia ajudar… há suicídio entre os silvícolas(?) e qual a incidência e razões(?) bom mas isto já é outro assunto…nem sei mais onde estou…

    o dedo que aponta a lua não é a lua, não está na lua tão pouco conhece a lua.

    a linguagem aponta a lua(principalmente sentimentos) e causa rupturas de absurdo por causa dos dedos.

    para se cozinhar macarrão precisamos de uma panela, fogo e macarrão. certo?… errado… onde está a água?

    abs.

    #75711

    Alex,desculpe, sei que se dirigiu a mceus, mas não consigo deixar de dizer algo sobre o que referiu…disse “quem se suicida é o homem exclusivamente”. Concordo. Entendo o suicídio como a afirmação de que a vida não tem sentido e, como tal, esse acto requer consciência, consciência ( e não simples sentimento, porque isso os restantes animais possuem…)racionalidade e liberdade. Mas já quando diz, a propósito dos restantes animais que eles “não praticam tamanho acto de loucura (suicídio)” coloco algumas reservas, em relação ao facto de lhe chamar loucura, claro! Porquê loucura? Não será antes a atitude coerente de quem, conscientemente, assume ter perdido esse sentido???Não será mais um acto de coragem o assumir de tal derrota?
    “Porque nos suicidamos”, perguntou? Por que a vida deixou de fazer sentido, e deixou de fazer sentido procurar sentido…

    #75712

    de pleno acordo isabel… tb tive esta sensação após ter lido o texto que enviei…ou seja, não se trata de loucura necessariamente…..ou até mesmo sequer é loucura…

    mais tarde volta a comentar este fórum que é por demais interessante.

    abs.

    #75713

    Maravilha, vamos lá então. Precisamos definir o suicídio. Vamos usar Durkheim? Um texto sobre sua obra O suicídio.
    “A estrutura da obra acenta no pressuposto da existência de três tipos de suicídios: o suicídio egoísta, «que resulta de uma individualização excessiva» e cujo grau de integração do indivíduo na sociedade não se apresenta suficientemente forte; o suicídio altruísta, que ao contrário resulta de uma «individualização insuficiente»; e o suicídio anómico, que se relaciona com uma situação de desregramento, típica dos períodos de crise, que impede o indivíduo de encontrar uma solução bem definida para os seus problemas, situação que favorece um sucessivo acumular de fracassos e decepções propícias ao suicídio. Pela observação de estatísticas oficiais, este autor observou que o suicídio era mais frequente nas comunidades protestantes que nas comunidades católicas, fenómeno que explicou através da noção de integração religiosa. No mesmo sentido, Durkheim verificou que o suicídio ocorria menos entre os indivíduos casados que entre os celibatários, viúvos e divorciados, situação que, segundo ele, se explicaria através da noção de integração familiar. Neste trabalho, notou ainda que a taxa de suicídios diminuía em períodos de grandes acontecimentos políticos, em que aumentava a coesão sócio-política em torno da ideia de nacionalidade. A partir destas observações, o sociólogo francês pôde assim concluir que o suicídio variava na razão inversa do grau de integração da sociedade religiosa, familiar e política.

    O suicídio altruísta apresenta-se como a situação oposta ao suicídio egoísta. Um exemplo deste tipo de suicídio é o existente entre os esquimós, em que um velho que se torne um fardo para a colectividade se deixa morrer ao frio; um outro, que ocorre na índia, é o suicídio da mulher ou dos servidores de um defunto, os quais se deixam imolar no dia do seu funeral. Em qualquer dos casos, o indivíduo determina a sua morte por força de «um imperativo social interiorizado, obedecendo ao que o grupo ordena ao ponto de asfixiar dentro de si próprio o instinto de conservação».

    O terceiro tipo de suicídio, o suicídio anómico, é estudado através do relacionamento do suicídio com os movimentos económicos. A análise das estatísticas revelou que os suicídios aumentavam tanto em períodos de recessão como de crescimento económico. O que se observa desses resultados é que «se a influência reguladora da sociedade deixa de se exercer, o indivíduo deixa de ser capaz de encontrar em si próprio razões para se auto-impor limites». Numa época de rápidas transformações económicas a acção reguladora da sociedade não pode ser exercida de modo eficaz e por forma a garantir ao indivíduo um conjunto normativo conciliável com as suas aspirações. Ora, esta situação de desregramento, que lança o indivíduo num universo sem referências, caracteriza uma situação de anomia que corresponde, no fundo, a uma situação de dissociação da individualidade face à consciência colectiva.”

    Bom, coloquei esse texto para facilitar àqueles que não o conhecem, conhecerem.

    Vamos ao primeiro ponto: Animais não praticam o suicídio?
    Bom, vamos mudar os paradigmas agora. O que vcs acham que acontece com um animal em cativeiro? Não vamos generalizar, mas eles param de comer ou de reproduzir. Morrem. Aprisionados, sem sentido para suas vidas, perdidos anomicamente falando…parece com alguns suicídios humanos, não? E o babuíno idoso que atraca-se ao tigre para que os jovens fujam. Altruísta? Ou só nós que somos?
    Bom, estou atrasadísssimo, mas outro ponto de reflexão. Temos muitos “cativeiros intelectuais” por exemplo, morrer por Deus, pela pátria. Isso um animal não faria. Mas nós contemos um sistema nervoso bem criativo.
    Abs a todos e desculpem a pressa….

    #75714
    mauricio
    Membro

    Realmente olhando pelo ponto de vista da adaptação ao cativeiro, podemos deduzir que é uma forma de suicídio. Muito interessante. Mas com certeza a complexidade humana gera muitas formas de suicídio, talvez o que vc quis dizer com “cativeiros intelectuais” seja isso. Realmente um cão não se mataria porque a bolsa teve queda. Mas se mataria, e ai pela fome, por estar distante do dono de que é muito chegado. O que os homens fazem é inventar milhares de formas de se matar, como veneno, enforcamento, tiro de revólver entre outros. Deve haver uma dependência entre a criatividade de que fala com o processo do suicídio.
    Mas pq há o suicídio? O que isso pode trazer de bom para o que chama de espécie ou para o grupo social em que o suicida vive?

    #75715

    Mceus, vou comentar.Penso que analisar o suicídio de um ponto de vista sociológico é um pouco redutor, deixando-nos um pouco “longe” do fenómeno.Penso que é preciso analisar a relação entre o pensamento individual e o suicídio.O suicídio dá-se quando uma boa razão de viver se transforma numa razão de morrer.O suicídio é uma confissão, a confissão de que a vida não vale a pena quer seja por uma questão de desintegração social, familiar, etc.Há muitas razões que podem conduzir ao suicídio, mas aquelas que são apresentadas pelas análises sociológicas são pouco eficazes. Aliás, é difícil fixar o momento em que se dá esse salto para o vazio…matar-se é confessar que se é ultrapassado pela vida que não se compreende, que simplesmente não vale a pena. Camus diz que “viver, naturalmente nunca é fácil. Continuamos a fazer os gestos que a existência ordena, por muitas razões, a primeira das quais é o hábito. Morrer voluntariamente implica reconhecermos, mesmo instintivamente, o carácter irrisório desse hábito, a ausência de qualquer razão profunda de viver, o carácter insensato dessa agitação quotidiana e a inutilidade do sofrimento”.O suicídio é como uma grande obra de arte que se prepara no silêncio do coração do homem…as estatísticas nada nos dizem sobre esse momento, nem as análises sociológicas.
    Mas procurando responder às suas questões mceus, eu penso que um animal em cativeiro que deixa de comer, adoece, “se deixa” simplesmente morrer,mas não se suicida.”Deixa-se morrer” por uma questão de carácter instintivo uma vez que o meio não reúne as condições ideias para a sua sobrevivência.Para um ser se suicidar ele tem de ter consciência do que isso significa. O homem é o único animal que sabe que vai morrer, é o único animal que gasta tempo com os mortos. Só essa consciência lhe pode dar essa liberdade. O homem é o único animal que se angustia com a iminência da morte e com a sua incapacidade de ultrapassar esse limite. É justamente essa angústia com o conduz aos tais “cativeiros intelectuais” que não são mais do que formas de mascarar esse possível nada que se repudia. O suicídio é um desafio ao nada, ao silêncio.

    #75716

    Isabel, me dê um exemplo de suicídio. Penso o seguinte quanto aos instintos ao qual se referiu e o homem, nós possuímos instintos tbm! Conheço muitos casos de suicídio, e posso lhe afirmar, os que mais espantam são os sem sentido. Aqueles que o indivíduo parece um “robozinho”, planejam calmamente e executam. Pq? Ele sabia? O babuíno sabe que não tem chance, ele se mata. Podemos chamar isto de instinto? Sim, podemos. E a mãe que se põe na frente de uma arma para salvar o filho? Instinto? Creio que sim. Agora o suicídio egoísta, usei essas definições de Durkheim pois seria mais fácil demonstrar, esse que uma alma pertubada, que não tem mais sentido para viver, de repente pula de uma ponte. Consciência? Sim, ele sabe que vai morrer. O animal aprisionado tbm sabe. É uma escolha instintiva?! Creio que sim. Pq? Pra quê? Respondendo ao Mauricio, tenho uma teoria sobre isso. Mas seria uma longa estória.
    Compreendo onde quer chegar Isabel, mas já lidei com muitos suicidas, uns tiveram êxito, outros não. Uma coisa que notei é que a “razão” não imperava. Havia sempre uma grande emoção, sem lógica, potencializada pelos fantasmas todos da pessoa. Algo semelhante nos animais que como disse, deixam-se levar pela morte. Vi isso nessas pessoas. Não eram livres.

    #75717

    Talvez eu tenha entendido a questão, vc quer saber o que passa na cabeça do suicida? A balança que se forma entre viver e morrer etc?

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