Início › Fóruns › Questões sobre Filosofia em geral › Qual é o sentido da vida? › A questão do suicidio
- Este tópico está vazio.
-
AutorPosts
-
21/02/2002 às 22:23 #75718vinnyMembro
Sem querer ser chato…
MEDICINA – Folha de São Paulo, 30 de julho de 2001
Cientistas da UFMG analisam variações na sequência de DNA
que podem estar ligadas ao comportamento humanoEstudo busca influência de genes no suicídio
ISABEL GERHARDT
DA REPORTAGEM LOCALAté que ponto os genes podem moldar variações no
comportamento humano? O debate entre os que acreditam que
a personalidade pode ser geneticamente pré-determinada e
os que condenam essa visão, afirmando que o ambiente é
fundamental, deverá ser enriquecido por um estudo
brasileiro que procura determinar a influência de certos
genes no comportamento suicida das pessoas.
Pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas
Gerais) estão estudando as variações que ocorrem na
sequência de DNA de alguns dos genes de fatores
relacionados à serotonina -um neurotransmissor associado
às alterações do humor, à depressão e aos mecanismos do
sono e da alimentação- e tentando associá-las à
transmissão do comportamento suicida.
“Sabemos que o suicídio é, pelo menos parcialmente,
determinado geneticamente”, afirma Humberto Corrêa, do
Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, um dos autores
do estudo. O desafio, segundo o pesquisador, é descobrir
quais os genes responsáveis por tal comportamento.
Como estudos anteriores do grupo da UFMG revelaram que a
redução da função serotoninérgica pode estar associada ao
comportamento suicida em pacientes deprimidos e
esquizofrênicos, os genes associados a essa função são os
principais candidatos.
De acordo com Corrêa, a função serotoninérgica é “uma
equação complexa”, que depende do funcionamento de
inúmeras enzimas, transportadores e receptores de
serotonina, cada qual codificado por um gene diferente. O
grupo se dedica, no momento, à análise das variações de
cinco genes.Variações individuais
O trabalho de Corrêa envolve uma das áreas mais
promissoras da biologia molecular, o estudo de
polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs, na sigla em
inglês).
Os SNPs (“snips”) são variações numa certa posição do
genoma, que ocorrem aproximadamente a cada mil pares de
bases (as letras A, C, G e T). Ter um A ou um G numa
determinada posição de um gene pode significar a
diferença entre ter uma proteína defeituosa -que causará
o surgimento de uma doença- ou não.
Os pesquisadores da UFMG afirmam que procurar genes
associados ao suicídio não significa ignorar que questões
sociais e culturais estão ligadas ao fenômeno.
Para o médico Marco Aurélio Romano-Silva, coordenador do
estudo, independente da cultura ou da sociedade, o
suicídio ocorrerá nas pessoas que teriam uma
vulnerabilidade biológica (neuroquímica e
genética). “Poderíamos dizer que a cultura serviria como
maior ou menor repressor da expressão da vulnerabilidade
biológica ao suicídio”, afirma.
Romano-Silva afirma que existem culturas em que as taxas
de suicídio são muito baixas (e dá como exemplo a
islâmica) e outras em que são muito altas (países do
Leste Europeu). Assim como existem variações em razão do
sexo -homens se suicidam mais do que mulheres- e da
idade -suicidam-se mais os jovens de 15 a 30 anos e
pessoas idosas.
Os pesquisadores chamam a atenção ainda para o fato de
que, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde),
houve um aumento global de 60% na mortalidade por
suicídio nas últimas décadas e que há uma tendência de
aumento nas taxas de suicídio em países do Terceiro Mundo
como o Brasil.Entre um T e um C
O primeiro gene a ser analisado pelo grupo da UFMG foi o
5HT-2C, um receptor da serotonina. Os pesquisadores
estudaram um polimorfismo desse gene: uma mutação na
posição 102 da sequência de DNA, de um T para um C.
Trabalhos anteriores haviam mostrado que essa variação
poderia estar associada a sintomas psiquiátricos. No
entanto, depois de avaliarem 300 pessoas, Corrêa e Romano-
Silva concluíram que esse polimorfismo particular (no
gene 5HT-2C) não estaria associado ao comportamento
suicida ou ao diagnóstico psiquiátrico. “Estamos
estudando agora os outros genes”, afirma Corrêa.21/02/2002 às 23:40 #75719Miguel (admin)MestreMceus,entendi o que quis dizer. Eu sei que temos instintos embora em nós o instinto seja progressivamente substituido pela aprendizagem. Permita-me só esclarecer uma coisa…eu penso que o animal aprisionado não sabe que vai morrer…ele pressente, detecta, mas saber , para mim, é mais do que isso, é ter consciência, saber o que a morte significa.Concordo consigo quando diz que “a razão não impera”, até porque acho que ninguém se suicida por reflexão.Quando me referia a “reflexão”, referia-me à consciência, ao facto de se premeditar, pesar a decisão.Penso que pôr termo à vida terá de envolver demasiada emoção. Penso que a liberdade está no facto de ser uma decisão do sujeito que contraria a lei da vida.Onde está mais uma vez a reflexão? NO facto de o suicídio ser a tal obra de arte que o homem prepara no silêncio do seu coração. mas são só considerações que estou a tecer…mal podemos falar da morte dos outros…
Em relação ao que disse o vinni, sim, é conhecida já essa predisposição genética para a depressão, para o suicídio. Há pessoas que são potenciais suicidas e aí entra a prevenção e eventualmente o tratamento farmacológico…22/02/2002 às 13:36 #75720márcioMembroVinny, muito bom. De alguma forma essa “capacidade” entrou no bio-codigo. Vamos ter que tira-la.
Por outro lado, olhando de uma forma mais generica, imagino que esse fenomeno (suicidio) esteja associado com uma possivel dificuldade que o nosso cerebro tenha de lidar com a Mudança.
Mudar de: rico para pobre, famoso para anonimo, popular para impopular, com perna para sem perna, certo para errado, etc.
Entendo que o nosso corpo biologico esta bastante preparado para essas mudanças, mas o cerebro …
22/02/2002 às 20:19 #75721vinnyMembroDesculpem novamente, porém acho interessante a ciência hj, leiam se quiserem.
Ciência – The New York Times, 19 de fevereiro de 2002
Maioria das decisões cotidianas são tomadas pelo
subconscienteSandra Blakeslee
Jogar compulsivamente; assistir eventos esportivos; dar
trotes no telefone; investir assiduamente no mercado de
ações. Estas atividades aparentemente não têm muita coisa
em comum. Entretanto, os neurocientistas descobriram um
fio que as conecta.Estes comportamentos são possíveis graças a circuitos
cerebrais desenvolvidos para auxiliar os animais a
identificar recompensas relevantes para sua
sobrevivência, como o sexo e o alimento. Pesquisadores
descobriram que esses mesmos circuitos são empregados
pelo cérebro humano para identificar recompensas sociais
tão diversas entre si como lucros com investimentos e um
gol aos 44 minutos do segundo tempo.E para a surpresa de muitos, os cientistas descobriram
que os sistemas cerebrais responsáveis pela detecção e
avaliação destas recompensas geralmente operam fora da
esfera da consciência. Quando investigam o mundo e buscam
algo recompensador, os humanos agem mais como zumbis do
que como seres pensantes.As descobertas, que contam com apoio cada vez maior entre
neurocientistas, contestam a idéia de que as pessoas
sempre fazem escolhas conscientes acerca daquilo que
querem e de como desejam alcançar suas metas. Na verdade,
grande parte daquilo que se passa no cérebro tem lugar
fora da esfera da consciência.A idéia já estava presente em Freud, afira o Doutor
Gregory Berns, um psiquiatra da Escola de Medicina da
Universidade Emory, em Atlanta. Os psicólogos estudaram o
processamento inconsciente da informação relativos a
efeitos subliminares, memória e aprendizado, e começaram
a mapear quais partes do cérebro estariam envolvidas
neste processamento. Mas só agora eles notaram como de
que maneira estes diferentes circuitos interagem.“Suspeito de que a maior parte das decisões são tomadas
de modo subconsciente, com diversas gradações de
consciência”, disse Berns. “Por exemplo: sei vagamente
como cheguei hoje ao trabalho. Mas a consciência parece
estar reservada para coisas mais importantes”.O Doutor P. Read Montague, um neurocientista da Faculdade
de Medicina Baylor, afirma que a idéia de que as pessoas
podem chegar ao trabalho com uma espécie de “piloto-
automático” levanta duas questões: como o cérebro sabe a
quais coisas deve dar atenção? E de que maneira a
evolução criou um cérebro capaz de fazer tais distinções?A resposta ensaiada a partir de testes com animais e
seres humanos é que o cérebro desenvolveu para adequar-
se, desde a infância, ao que encontra no mundo exterior.Como explica Montague, boa parte do mundo é previsível:
os prédios geralmente permanecem no mesmo lugar, a força
da gravidade faz com que os objetos caiam, a luz em um
ângulo oblíquo cria sombras compridas, e daí por diante.
À medida que a criança cresce, o cérebro constrói modelos
internos para tudo aquilo que encontra, e gradualmente
vai aprendendo a identificar objetos e prever como eles
se movem no espaço e no tempo.À medida que novas informações chegam do mundo exterior,
o cérebro automaticamente as compara com aquelas que ele
já possui. Se elas coincidem como ocorre quando as
pessoas passam diariamente por um mesmo trajeto
acontecimentos, objetos e a passagem do tempo podem não
chegar à esfera da consciência.Mas se há uma surpresa um carro que passa o sinal
vermelho o descompasso entre o que era esperado e o que
ocorre naquele instante lança o cérebro em um novo
estado. Um circuito cerebral encarregado da tomada de
decisões é ativado, novamente fora da esfera da
consciência. Com o auxílio de experiências passadas, toma-
se uma decisão: pisar no freio, virar a direção ou seguir
adiante. Apenas um ou dois segundos depois, quando as
mãos e os pés já iniciaram a decisão eleita, surge a
sensação de se ter tomado uma decisão.Montague estima que 90% das ações cotidianas das pessoas
são executadas por esta espécie de sistema automático e
inconsciente que possibilitou a sobrevivência dos seres
vivos.Os animais utilizam estes circuitos para saber o que
devem esperar, o que devem ignorar e o que vale a pena
aprender. Os seres humanos os utilizam para as mesmas
finalidades que, em função da cultura e de um cérebro
maior, incluem ainda ouvir música, comer chocolate,
avaliar a beleza, jogar, investir em ações e consumir
drogas tópicos que foram estudados no ano passado com
máquinas que filam o cérebro e medem diretamente a
atividade dos circuitos cerebrais humanos.Os dois circuitos que foram estudados mais detalhadamente
estão relacionados ao modo como animais e seres humanos
identificam recompensas. Em ambos está presente um
elemento químico chamado dopamina. O primeiro circuito,
localizado na região média do cérebro, auxilia animais e
humanos a identificar instantaneamente a presença ou
ausência de recompensas.O circuito foi descrito detalhadamente há vários anos por
Wolfram Schultz, um neurocientista da Universidade de
Cambridge, na Inglaterra. Ele averiguou a produção de
dopamina no cérebro de um macaco e fez testes com
diversos tipos de recompensa geralmente doses de suco de
maçã que o animal gostava de beber.Schultz verficou que quando o macaco recebia mais suco do
que esperava, a dopamina invadia vigorosamente os
neurônios. Quando o macaco ingeria a quantidade esperada
de suco, com base em doses anteriores, a dopamina não
aparecia. E quando o macaco esperava receber um pouco de
suco e não recebia nada, a dopamina caía, como uma
espécie de sinal da ausência de recompensa.Cientistas acreditam que este sistema de dopamina está
constantemente fazendo previsões sobre o que deve esperar
em termos de recompensa. O aprendizado ocorre somente
quando algo inesperado ocorre e as taxas de dopamina caem
ou sobem. Quando nada de extraordinário ocorre como a
série regular de doses iguais de suco de maçã o sistema
da dopamina permanece inalterado.Nos animais, diz Montague, estes sinais de dopamina do
mesencéfalo são enviados diretamente para regiões do
cérebro que iniciam os movimentos e o comportamento.
Essas regiões do cérebro definem como conseguir mais suco
de maçã ou ficar ali no mesmo lugar sem fazer nada. Nos
humano, porém, o sinal da dopamina também é enviado a uma
região mais elevada do cérebro, chamada córtex frontal,
para um processamento mais elaborado.Jonathan Cohen, um neurocientista de Princeton, estuda
uma parte do córtex frontal chamado cingulata anterior,
localizada logo atrás da testa. Esta parte do cérebro
encarrega-se de várias funções, afirma Cohen entre elas
a detecção de erros e contradições no fluxo de
informações que é processado automaticamente.Experimentos com imagens cerebrais começam agora a
revelar que quando uma pessoa recebe uma recompensa
inesperada o equivalente a uma grande dose de um
delicioso suco de maçã mais dopamina chega à cingulata
anterior. E quando uma pessoa aguarda uma recompensa e a
recebe, a cingulata anterior permanece inalterada.Quando as pessoas aguardam uma recompensa e não a
recebem, o cérebro necessita de uma forma para registrar
o fato de que falta algo, de modo que possa reajustar as
expectativas para eventos futuros, afirma Cohen. Tal como
nos macacos, os neurônios de dopamina se projetam para
áreas que planejam e controlam movimentos, ele diz.
Oscilações de dopamina fazem com que as pessoas se
levantem de suas camas e façam coisas sem que haja uma
determinação da consciência desperta.22/02/2002 às 22:23 #75722márcioMembroCerto. O que é a mente ?
Minha resposta: É a parte do cerebro que vemos.Semelhante ao que os nossos olhos veem. Apenas a parte do mundo que esta no campo de visao.
No caso da vista, conseguimos girar o pescoço e ver muito mais.No caso da mente, como ainda nao descobrimos como virar esse “terceiro olho”, nao vemos o resto do cerebro. Vemos apenas uma porcao, a qual chamamos de Mente (ou Consciente).
22/02/2002 às 22:37 #75723Miguel (admin)Mestre“Como explica Montague, boa parte do mundo é previsível:
os prédios geralmente permanecem no mesmo lugar, a força
da gravidade faz com que os objetos caiam, a luz em um
ângulo oblíquo cria sombras compridas, e daí por diante.
À medida que a criança cresce, o cérebro constrói modelos
internos para tudo aquilo que encontra, e gradualmente
vai aprendendo a identificar objetos e prever como eles
se movem no espaço e no tempo.”Isabel, não parece Hume? Fantástico não?
24/02/2002 às 0:47 #75724Miguel (admin)MestreSim, Mceus, parece Hume. Eu também acho que há uma grande margem de automatismo na nossa vida manifesta a um nível inconsciente, mas tenho uma certa relutância em aceitar os tais 90%…isso faria da nossa vida uma cortina opaca sobre rasgos de lucidez, reduziria à insignificância o poder deliberativo e autónomo, faria de nós seres predeterminados. Confesso que é uma ideia que me custa a aceitar.Atendendo a que tudo isto que o vinny apresentou se prende com o suicídio, julgo que se trataria de uma forma indirecta de dizer que o suicídio poderia incluir-se nesse conjunto de actos meio mecanizados e vazios de reflexão onde, numa vertigem de mim, poria fim à minha vida. É isso? Embora em cascatas de emoção, o suicídio é uma decisão.A tal confissão de que a vida não vale a pena. Tal como já referi acima, o suicídio é como uma obra de arte que se prepara no silêncio do coração do homem, talvez (e porque não…) como resultado da crença numa tão grande margem de automatismo! Quem sou eu, eu que julgo que decido e que penso? Quem sou eu? Um ser que trespassa a vida executando um sem número de “ordens genéticas” na ilusão de decidir…qual o sentido num mundo assim privado de sentido, de liberdade, de auto-determinação???
abs.24/02/2002 às 2:42 #75725Miguel (admin)MestreFaça então isso Isabel, não aceite. Amanhã o sol nascerá e pronto. Vamos apenas viver. Vamos apenas sentir a vida.
Zaratustra sempre me fala isso, e eu o escuto bem: “…A hora em que digais: “Que importa minha razão! Anda atrás do saber como leão atrás do alimento. A minha razão é pobreza, imundície e conformidade lastimosa!…”24/02/2002 às 14:30 #75726Miguel (admin)MestreMceus, Zaratustra nos dá muitas lições de vida reduzindo a pó o que temos como certo,não é? Contudo, eu também não aceito que “amanhã o sol nascerá e pronto”, com base na crença, no hábito. Penso que é fundamental, quanto mais não seja por uma questão funcional, “munirmo-nos” de crenças deste estilo que nos permitem projectar o futuro.
O que de certa forma eu “recuso” é essa franja tão abrangente de automatismo porque seremos assim levados a repensar de todo o papel da razão e da paixão na nossa vida.Nietzsche é o filósofo da vida porque a vida é paixão!A paixão inscreve uma brecha na racionalidade ao mesmo tempo que a justifica.Um indivíduo suicida-se. Parece-nos irracional, louco, fruto de um impulso incontornável. Procuram-se as causas, os “culpados”.Para a maior parte das pessoas é nisso que o suicídio consiste.Não há “causas objectivas”, não há “culpados” e daí a sua “irracionalidade”.Mas como é que podemos considerar “irracional” um acto apaixonado que resulta do olhar sobre toda uma vida que conclui não fazer mais sentido?? Poderá haver mais racionalidade além dessa coerência??? Não será a paixão o que me leva até ao fim depois de uma vida no automatismo?Não será essa vertigem do nada que me impele para o vazio, a mais cabal prova de que eu sou liberdade de mim que extravasa, no limite, todo e qualquer condicionalismo?
Desculpe…acho que delirei um bocado24/02/2002 às 17:49 #75727Miguel (admin)MestreO que é a Mente?
Devaneio Surrealista
Estava fitando meus olhos. Queria atravessá-los e correr para dentro da cabeça. Mais uma vez consegui entrar. Logo estava na fonte de meu mundo. Escolhi uma direção, justo aquela onde a luz se perdia, e dei o primeiro passo. Andei por seiscentos metros e não mais conseguia enxergar. Estava muito longe de meus olhos, por onde era projetada a luz, e fiquem sem saber como seguir aqueles caminhos além. É triste saber que meus olhos não podem me acompanhar quando estou dentro de minha cabeça. Resolvi descansar as pálpebras, então, pois estavam fadigadas por teimarem a noite inteira em não se encontrar.
Aos poucos o breu absorvia minha visão e mesmo assim eu parti em uma direção qualquer. Depois de três quilômetros inteiros, parei por um segundo e perguntei para qualquer coisa que estivesse por ali o porquê do meu caminhar. Ninguém e nada responderam imediatamente. Resolvi gritar…nada. Pensei em voltar, mas lembrei-me de que meus olhos estavam fechados, cansados, e não quis incomodá-los. Continuei andando sem nada ver, apenas sentindo o chão onde pisava. Andei por cem quilômetros(até este ponto do meu caminhar) quando um sol começou a nascer. Ah, um sol! Luz!…mas não era um sol comum: este era azul e muito pequeno, mas com um belo brilho brando. A singela luz azul iluminou meu corpo, então pude ver o quanto meus pés estavam machucados, muito feridos. Já não tinham mais pele e sangravam muito. O estranho é que eu não sentia nada. Estava muito determinado em andar. Continuei meu caminho, mas desta vez segui flutuando, deste modo meus pés logo estariam recuperados.
O pequeno sol estava por sumir no horizonte poente quando percebi uma sombra. Era um enorme objeto que parecia não ter fim. Cheguei mais perto para ter um contato preciso, estava já com mil quilômetros para trás. O Colossal misterioso era uma muralha ou um paredão, imenso! Sua composição parecia ser de terra e pedras, muita terra e muita pedra. Seria obra da Natureza? Segui o gigante mural em busca de uma fresta ou buraco por onde eu pudesse passar e atingir o outro lado, mas ao invés encontrei uma placa com estas palavras arranhadas:“Cuidado. Aqui começa o Universo.”
Eu estava cansado. Queria voltar. Meus olhos estavam cerrados há muito tempo, já restaurados da fadiga. Precisavam ser abertos. Chegou a minha vez de dormir e descansar – fora de minha cabeça.
24/02/2002 às 23:52 #75728Miguel (admin)MestreBelo texto Daniel…é seu?? Muito rico e trabalhá-lo seriamente sairia deste tópico!!!Pergunta “o que é a mente” e o seu texto refere que “é triste saber que os meus olhos não podem me acompanhar quando estou dentro da minha cabeça”, ou seja, a mente é aquilo que escapa à percepção dos sentidos? Então aí, a sua posição difere de todo da do Márcio que dizia acima, respondendo à mesma pergunta, que a mente “é a parte do cérebro que vemos”?!
“Ao invés encontrei uma placa com estas palavras arranhadas: cuidado que aqui começa o universo”…o universo é uma extensão da mente??
E “cuidado” porquê? Pelo longínquo? Pelo medo do desconhecido? Pelo medo de encontrar a resposta para “o porquê do meu caminhar”??
“Chegou a minha vez de dormir e descansar-fora da minha cabeça”…longe das perguntas? Longe do cansaço da procura? Longe da placa que diz “Cuidado…”???25/02/2002 às 1:29 #75729Miguel (admin)MestreObrigado pelo elogio!…o texto é meu, sim.
Bem…” (…) a mente é aquilo que escapa à percepção dos sentidos?”
…escapa 90% da percepção dos sentidos, não?! “O que vemos” é só os primeiros metros da mente, depois tudo fica escuro. Eu diria que a mente é a parte do cérebro que vemos; e também a imensidão que nos foge à Luz.“…o universo é uma extensão da mente?”
…Aquele Muro Colossal, tão bem posto e tão longe…o universo poderia manter alguns segredos por trás das pedras, não?!
Eu não digo “poderia” manter; afirmo: mantém!” E “cuidado” por quê? Pelo longínquo? Pelo medo do desconhecido? Pelo medo de encontrar a resposta para “o porquê do meu caminhar”?”
…a cautela é equipamento obrigatório quando se trata de “buscar o desconhecido”, pois não sabemos o que iremos encontrar(um bocado óbvia essa minha colocação). Será que havia alguma placa durante o percurso no escuro?“(…) longe das perguntas? Longe do cansaço da procura?(…)”?”
…Longe das perguntas, não. As perguntas permanecem mesmo aqui, no mundo inteligível, embora temos toda a luz que desejamos para nossas procuras. Não buscamos respostas no escuro da mente pois encontramos dificuldade em lidar com a falta de luz. Será que estamos usando a luz certa? Será que não precisamos de um pequeno Sol Azul?…de fato estou usando o tópico errado para este assunto. (É culpa do Márcio!…rs*, brincadeira.)…Longe do cansaço da procura, sim, muita fadiga!…assim como dizia Macário:
“– Eis aí o resultado das viagens. Um burro frouxo. Uma garrafa vazia.”
Um grande abraço.
25/02/2002 às 1:58 #75730Miguel (admin)MestreEsperava isso. Fiz o papel de satanás no deserto (que o valenic não ouça) ofereci água e vc não quis.
Penso no mundo como algo sem cor, nós, os humanos, o colorimos. As vezes a ciência apaga essas cores e o mundo parece ficar sem sentido. Outras vezes pintamos de cinza o mundo e o tornamos feio e sem graça. Mas o mundo com cor ou sem cor continua a ser mundo.
O que o suicida não sabe é pintar o mundo com cores que não o cinza, torná-lo belo. Ao invés disso ele pinta de cinza. Mas o mundo continua a não ter cor! Em que mundo queremos viver?25/02/2002 às 16:57 #75731Miguel (admin)MestreA questão do sentido é uma questão intemporal agravada, certamente, pela ciência moderna que é fundamentalmente descritiva, dizendo-nos como as coisas acontecem e não por que acontecem…
Tolstoi diz que esta pergunta pelo “porquê” se instala devagar…tal como quando uma pessoa adoece gravemente. Inicialmente aparecem alguns sintomas que ela desvaloriza. Esses sintomas vão-se tornando, progressivamente, repetitivos e frequentes começando a confundir-se com um sofrimento temporário e indivisível. O sofrimento continua a crescer a antes de o doente ter tempo para olhar em seu redor, torna-se consciente de que o que tomou como uma indisposição é a coisa mais significativa do mundo para si-a morte. E é assim que a pergunta pelo sentido “cresce” dentro de cada um…25/02/2002 às 17:09 #75732Miguel (admin)MestreContinuando a pensar em fontes de sentido…
Normalmente, uma grande parte das pessoas, os crentes, encontram na mensagem divina a esperança e o fito que lhes permite viver com sentido. Não deixa de ser curiosa esta passagem do Ecclesiastes que em vez de transmitir a tal mensagem positiva, nos dá pelo contrário uma pessimista visão do mundo…é interessante pensar nessa “brecha” cristã…“Vanity of vanities, says the Preacher,
vanity of vanities! All is vanity.
What does man gain by all the toil
at which he toils under the sun?
A generation goes, and a generation comes,
but the Earth remains forever.
The sun rises and the sun goes down,
and hastens to the place where it rises,
The wind blows to the south,
and goes round the north;
round and round goes the wind,
and on its circuits the wind returns.
All streams run to the sea,
but the sea is not full;
to the place where the streams flow,
there they flow again.
All things are full of weariness;
a man cannot utter it;
the eye is not satisfied with the seeing,
nor the ear filled with hearing.
What has been is what will be,
and what has been done is what will be done;
and there is nothing new under the sun (…)”.Desculpem a extensão do texto…
-
AutorPosts
- Você deve fazer login para responder a este tópico.