A questão do suicidio

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  • #75733

    Não entendi por que citar em inglês, se o inglês também é uma tradução. Existem ótimas traduções da Bíblia em português. Quanto à extensão, não está muito grande, mas incomoda alguns outros usuários que simplesmente “colam” longuíssimos textos de outros sites, ao invés de por um link.

    #75734

    Estou adorando este Forum de discussões. Com todo respeito a todos os participantes, acho mesmo que quem aborda de forma mais culta e inteligente a questão do suicídio é a moça Isabel.Por aqui, travei contato sobre a abordagem do suicídio de A. Camus( Já conhecia a de Durkheim, vagamente). Escrevo em momento de depressão( sofro de um tipo de depressão moderada, a distimia, que volta e meia se agrava, mas controlo com medicação). Desistí de encontrar um sentido para a vida, embora encontre alguma alegria no sexo. Por hora é só. Estou pensando em registra-me para participar mais intensamente deste Forum.Abraços

    #75735

    Só não nos matamos à vontade pois não descobrimos ainda nada mais interessante que a vida.

    #75736

    Eu sinto ou eu cito?

    Li os diversos textos sobre o tema proposto, qual seja o do sentido da vida e a questão do suicídio.
    E o que li, com raras excessões, foi uma seqüencia de citações dos diversos filósofos e pensadores sobre o tema em questão.
    Nada contra citações e muito menos contra as diversas correntes filosóficas e suas formas de interpretar o tema.
    No entanto penso que, e aí está a diferença, justamente no “penso que…”, o que importa, pelo menos para mim é como eu, repito eu, vejo, sinto e avalio a questão!
    Se a minha forma de ver, sentir e avaliar este ou aquele tema se encaixa nesta ou naquela escola filosófica, nesta ou naquela corrente de pensamento é algo que vem depois. Primeiro o conteúdo, depois a forma!
    Me considero um livre pensador, portanto saber em qual corrente filosófica ou de pensamento se encaixa minha visão de mundo e do ser humano não tem a menor importância.
    Dito isso, quero aqui deixar registrada minha opinião quanto ao tema proposto e ela é bem clara, direta e objetiva, como os senhores poderão ver.
    Quem não consegue encontrar um sentido para sua vida, chegando ao extremo de, por esse motivo, pensar em suicidar-se é uma pessoa doente, que precisa de ajuda e tratamento.
    O desequilibrio que leva ao estado doentio pode ser de natureza psicológica ou psiquica, com muita freqüencia ambos.
    Qual se desencadeia primeiro é como perguntar quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?
    Temos problemas de natureza psicológica que, por não serem resolvidos, levam a desequilibrios bioquimicos do cerebro, com as conseqüentes perturbações psiquicas.
    Da mesma forma desequilibrios bioquimicos do cerebro produzem transtornos psiquicos que vão afetar o equilibrio psicológico. E é dentro desse estado de coisas que a vida perde o sentido, levando o individuo ao ponto de questionar se vale a pena continuar vivendo e , infelizmente, muitas vezes a resposta dada à essa questão é não.
    Portanto, para um indivíduo equilibrado e centrado, a vida sempre terá um sentido, mesmo que, em certos momentos, esse sentido não pareça tão claro.
    Todo o resto é válido apenas como abstrações, muito embora não deixe de ser importante como forma de buscar uma explicação, uma vez que é extremamente difícil, se não impossível para o ser humano, viver sem uma explicação, mesmo que esta não passe de uma grande ilusão criada por sua mente.
    Para finalizar quero dizer que inclusive este meu pensamento pode estar incluso nesta grande ilusão.}}}

    #75737

    Apesar de tudo, uma coisa é certa. Nunca saberemos o que passa na cabeça de um suícida nos últimos segundos de sua vida.

    #75738
    márcio
    Membro

    Eu particularmente imagino que o tema passa pelo conjunto cerebro/mente.

    Claro que trabalhar com um cerebro/mente distorcido por alguma atuacao quimica deve dificultar muito a situacao (o alvo se torna movel).

    Mas, dentro de certos limites, a estrutura do cerebro pode ser mudada pelo proprio individuo. Cada novo pensamento, muda um pouco a forma como o cerebro pensa. Referencias podem ser mudadas. Associacoes podem ser mudadas. Na mente, tudo é uma grande ilusao (felizmente) .
    Abracos

    #75739

    Escreveu-se aqui, que “indivíduos equilibrados e centrados”não pensam em suicídio. Ora, há vários loucos, psicopatas, “serial-killers”que não são suicidas, ao contrário, praticam todo o tipo de perversidade, sempre procurando sair incólumes. Carrascos nazistas, que escaparam ao cerco ao fim da guerra, viveram tranquilos por anos a fio , escondidos em plácidos lugares da geografia sul-americana. A vontade de viver é apenas um impulso cego biológico que pode ser contestado, por seres como nós que têm um cérebro muito desenvolido. Acho que colocar a questão do suicídio apenas como patologia é uma grande simplificação.

    #75740

    Caro Fernando,

    Desculpe colocar as coisas nesses termos mas, dado seu desconhecimento sobre o assunto, sou forçado a dizer que você esta absoluta e totalmente equivocado em suas colocações. O suicídio está sim associado a desequilíbrios psicológicos e psíquicos, além de possuir um forte componente genético.
    Sugiro que você procure se inteirar do assunto, para que possamos discuti-lo com maior propriedade.
    Quanto à sermos seres possuidores de um cérebro evoluído, não devemos nos esquecer que o que faz esse cérebro funcionar é a sua bioquímica e que só utilizamos 5% de seu potencial.
    Concordo quando você diz que a vontade de viver é um impulso biológico, muito embora não concorde que seja “apenas” um impulso, considerando-o sim como “O Impulso”. No tocante à sua cegueira, devo dizer que ocorre exatamente o contrario, na medida que é fruto do inconsciente, capaz de enxergar com os olhos da mente, através da terceira visão.
    Para finalizar pergunto à você:
    – Quem sairia de uma festa agradável, onde estivesse perfeitamente à vontade?
    – Por que pessoas com grandes problemas de ordem pessoal, familiar, financeira, e tantos outros não se suicidam, enquanto outras, com uma vida estável acabam por faze-lo?

    #75741

    Permita-me fazer uma pequena “incursão” nessas suas duas últimas questões que colocou…quanto à sua primeira questão julgo ser a resposta afirmativa. Posso sentir-me “à vontade” sem que, no entanto, encontre aí “algo” que me faça permanecer.A segunda questão é A QUESTÃO: o que é que leva um indivíduo a decidir morrer?? Por que é que uns lutam desesperadamente para sobreviver nas mais árduas condições enquanto que outros decidem afogar-se na sumptuosa piscina da sua mansão???….

    Há, certamente, uma GRANDE componente genética a nível da depressão (e da depressão que conduz ao suicídio) e há certamente algum tipo de distúrbio mas atenção!!! Tudo é bem mais complicado do que isso…

    O que é o suicídio? É a manifesta afirmação de que a vida não faz sentido mais. Isto é o resultado de um distúrbio? Parece-me bem mais complexo…e é-nos, de todo, impossível julgar e comparar motivos como se fosse “absurdo” que alguém com uma vida estável se suicide!!!Porquê?? E aí entramos outra vez no problema da felicidade…

    Se alguém se suicida é porque assume (e isso é um acto de coragem!!) que a sua vida não faz mais sentido e , se não faz, não há mais por que viver. Poderá dizer que essa pessoa teria que procurar outro sentido…e se não houver outro?? E se não quiser mais desgastar-se procurando o que sabe que vai perder??

    Não interessa o que dá sentido…para mim pode ser um sentimento…para outra pessoa um estilo de vida, etc, etc. O ter em vista algo que pretendo obter traz sentido…mas se não houver mais nada??

    Peço desculpa…posso não estar a ajudar em nada, mas considero o suicídio um acto de coragem e, paradoxalmente, de compromisso com a vida. É por amar a vida, o que dela já não resta, que um indíviduo se suicida. É uma coerência implacável para com a vida e penso que isso merece uma abordagem mais profunda.

    Já agora e, para quem se interessa por esse tema sobre a vida e o sentido, recomendo vivamente um livro (o melhor que já li até hoje…por várias vezes) relativamente ao qual não sei se há tradução brasileira (portuguesa, não há) e que se chama “Life and Meaning: a Reader” e ao autor é Oswald Hanfling (Há dois capítulos fabulosos…o 6 e o 10…).

    abs.

    #75742

    Oi Isabel,

    Peço desculpa…posso não estar a ajudar em nada, mas considero o suicídio um acto de coragem e, paradoxalmente, de compromisso com a vida. É por amar a vida, o que dela já não resta, que um indíviduo se suicida.

    Talvez, e nem estou a afirmar que é este o caso, mas, talvez fosse mais prudente dizer que o suicídio pode ser um acto de coragem. Na verdade pode ser apenas medo, fuga, também.

    Em suma, o homem é muito complexo e cada individuo é original o bastante para nao trabalharmos com somente um tipo de resposta.

    No mais concordo com vc. Na minha opiniao a grande questao parece ser se:

    • já há um sentido dado (e nesse caso ele precisa é ser descoberto), ou
    • é o homem que imprime o sentido (e nesse caso pode retornar a questao de se isso significa ou nao a existencia de um sentido mesmo), ou
    • nada tem sentido.

    Nao acho que a questao do suicidio encontre sua resposta simplesmente atraves dessas questoes, ou apenas em uma dessas posiçoes (ou duas), mas é algo para se considerar. Como disse antes, cada homem é original o bastante para ter a SUA resposta. Estou consciente do risco aqui, com a ameaça de solipcismo. Pessoalmente, acredito que a intersubjetividade abre outro horizonte de busca, a questao de que um homem pode ser muito mais que um homem, ou, em outras palavras, a velha pergunta: o que é o homem? Parece que andamos em círculos! E imagino que será sempre assim se nos limitarmos em um campo fechado; e isso até parece responder afirmativamente pela falta de sentido… Seria a confissao de que cada um encontra somente aquilo que procura? ou de que a resposta será encontrada de acordo com o modo como a pergunta é colocada? Em resumo, a resposta está antes da pergunta?

    Para mim é questao resolvida, o homem é um ser aberto para a transcendencia. Agora, caberia perguntar sobre que tipo de transcendencia, seria ainda outra questao. Haveria nisso alguma pista para a busca de resposta pelo sentido? Com a transcendencia o campo de busca se amplia.

    Ou seja, questoes demais… A pergunta (e a resposta) pode se buscada/encontrada na categoria do biológico, do psíquico ou do espiritual (e se aceito este já está dada).

    []'s

    #75743
    márcio
    Membro

    Percebo o movimento em circulos. Mais especificamente, percebo-o como uma espiral ascendente (tempos atras coloquei uma figurinha sobre como vejo isso).

    Eu particularmente penso que, independentemente do enfoque (biologico, psiquico ou espiritual), ja ha um sentido/objetivo dado pelo proprio fenomeno chamado Vida: Mante-la.

    O fenomeno Vida é maior (muito maior) que a vida de um individuo (ou mesmo de uma especie). Penso que o fenomeno Vida, transcende (a morte) naturalmente, mas a vida individual nao. Desse modo, a palavra vida tem um duplo sentido e portanto a pergunta tambem.

    Abracos

    #75744

    Olá Walace!!

    Bem, o ter-me referido ao suicídio como sendo um acto de coragem e não apenas algo que pode sê-lo tem apenas a ver com o facto de ter sempre em mente o suicídio enquanto resultado de uma deliberação, de algo pensado, reflectido e não no sentido de acto quase instantâneo e impulsivo para quem de, repente, deixa de ter saída…apenas nesse sentido.

    Tem toda a razão, efectivamente…é certo que só há ou pode haver sentido a partir de mim, de mim ser concreto, único e suficientemente original.

    Referiu um aspecto que me remete para uma outra questão…referiu a intersubjectividade como um horizonte de busca para o sentido (estou a recordar-me de Camus…da importância da unidade..), ou seja, procurar/encontrar o sentido passaria pela abertura ao outro…

    E isto conduziu-me a uma questão que é: o sentido pode/poderá/poderia ser encontrado/procurado nessa abertura ao outro, nessa dimensão intersubjectiva..isso traçaria a nossa humanidade até certo ponto, mas não é paradoxal ou, pelo menos, controverso que no momento da morte, seja ela premeditada ou não, nós morramos derradeira e infinitamente sós??

    Repare…quando damos por nós, já cá estamos. Não somos senhores absolutos de nós próprios e morremos inevitavelmente. Como pessoas fazemos a experiência de algo que nos transcende e que transcende o mundo (seja lá o que for…acabou de referir essa questão da transcendência na sua mensagem)…nós somos temporais. A verdade é que independentemente da vida que vivemos, mesmo que ela tenha sido maioritariamente constituida por momentos de comunhão exaltante ela tem o seu cume na morte. E morremos sozinhos.Mesmo que alguém dê a vida por mim é esse alguém que morre e não eu. Na hora de morrer sou eu, e apenas eu que morro. Quem sou eu?

    Normalmente vivemos o nosso dia-a-dia e esse dia-a-dia possui um qualquer sentido , mas há situações que nos arrancam da passividade pela pergunta: Qual é o sentido da minha
    vida??

    E eis que depois de um sentido construido ou perdido na minha relação com os outros , perante a realidade da morte fico comigo mesma percebendo-me como uma totalidade irredutível tomando consciência de que tudo o que fazemos é sempre pela primeira e última vez…antecipação da morte na sua irreversibilidade…

    Morremos sozinhos..todavia encontrando (?) o sentido com os outros……

    abs.

    #75745

    Olá Márcio!!

    Se bem entendi e, pegando naquilo que já lá atrás discutimos, poderia colocar-se deste modo:

    Sentido=manter a Vida
    Ausência de Sentido= pôr termo à vida (suicídio)

    Ou seja, seria coerente põr termo à vida se não há sentido??

    abs.

    #75746

    Alex Haydin, Muito presunçoso me diz para estudar mais…que seja.. mas Isabel Maia, com toda sua inteligência, e de maneira sempre doce, é que coloca a questão, de forma mais plena, sábia, sensata. Claro que há elementos psicológicos, genéticos em alguns tipos de suicídio, mas isso não resolve o problema, pois há muitos outros tipos de suicídio. Por sinal, nossa civilização ocidental, acha terrível que pessoas possam suicidar-se jogando aviões, como o grandioso ato de 11 de setembro. Claro, pessoas como Haydin, irão logo atribuir esses atos ao fanatismo islâmico( sempre de maneira, simplória, reducionista. )Claro, eles jamais se identificarão, com pessoas que aceitam dar sua vida por um ideal, seja ele religioso, político-revolucionário…a vida para eles é só uma festa….que simploriedade, sequer parecem que vivem no Brasil, onde , como em outras partes do terceiro mundo, as chacinas e todo tipo de “alegrias” ocorrem a todo momento, mostrando que esta “festa da vida”, não é assim tão prazeirosa e que alguém pode resolver morrer, até por não, mais concordar com este “espetáculo”. Enfim…. existem desde os suicidas que se matam devido a problemas químicos em seu cérebro( os deprimidos clássicos), aqueles entediados em viver imersos nesta barbárie( e que são, sim, corajosos), aqueles que os fazem por motivos revolucionários. Quanto a estes últimos, confesso que adorei ver o Império Americano, ser afrontado em seus símbolos: financeiro-econômico( as torres gêmeas), militar( o pentágono),por corajosos jovens suicidas. Pena, que falharam ao não atingirem o símbolo político do Império( A White House), mas enfim….nem tudo é perfeito, mas ainda bem que existem estes charmosos suicidas, que vêm contrastar com muitos de nossos, medíocres, amantes desta “tediosa festa”, que é, algumas vezes, o viver. Longa e medíocre vida a todos aqueles descartam a hipótese do suicídio como ato , de coragem e/ou revolucionário.

    #75747

    “Uma boa razão para viver é também uma boa razão para morrer” disse Camus…eu acrescentaria que uma boa razão para viver pode ser uma boa razão para morrer…o que nos prende à vida é, justamente, aquilo que nos poderá fazer dela desistir…

    abs.

    Fernando, obrigada pela suas palavras simpáticas.

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