Início › Fóruns › Questões sobre Filosofia em geral › Qual é o sentido da vida? › A questão do suicidio
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04/08/2002 às 20:58 #75748Miguel (admin)Mestre
Cara Isabel Maia,
Ao citar Camus você proporcionou o argumento exato para defender meu ponto de vista.
Nossa lingua pátria, por rica e cheia de nuances, muitas vezes nos prega peças e acabamos tomando a causa pelo efeito.
Explico. Lançar-se em uma missão suicída, por patriotismo, idealismo, crença cega ou fé, absolutamente não é a mesma coisa que suicidar-se por não ver mais sentido nem motivo para viver. Assim sendo, se o motivo é forte o suficiente para dar sentido a uma vida, também o será, muito provavelmente, para perde-la, em nome deste mesmo motivo.
Dentro deste contexto devo concordar com você, entretanto, sem querer polemizar ainda mais, nos casos extremos, como foi citado pelo Fernando, referindo-se aos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 nos EUA, creio haver alterações psiquicas e/ou psicológicas para sustentar a decisão até o fim.
Outro ponto importante a ser considerado é que, mais uma vez tomando a causa pelo efeito, acreditamos ser donos da vida, como se fossemos a causa dela e não seu efeito, ledo engano. Somos sim produtos, efeitos da vida, ela não nos pertence, nem nós à ela, pois somos apenas vetores por onde ela flui para se perpetuar.Um abraço.
05/08/2002 às 1:26 #75749Miguel (admin)MestreCaro Fernando,
Meu primeiro pensamento ao ler sua mensagem foi o de não responder. O motivo? Desculpe, mas as regras deste forum me impedem de dizer. Pensando bem, não me impedem não! Depois refleti melhor e decidi responder.
Ordenarei minhas argumentações por tópicos, para que fique mais claro seu entendimento.1. Alex Haydin?
2. Não se trata de ser presunçoso, mas da constatação de um fato, qual seja a inconsistência de sua argumentação, fato esse que sua última mensagem só vem a confirmar, como demonstrarei mais adiante. Alias, você conhece o verdadeiro significado da palavra presunção? Me parece que não!
3. Creio que você concorda comigo quanto a estudar mais o assunto, na medida em que diz “…que seja…”.
4. Você esqueceu os fatores psíquicos ao citar as causas ligadas ao suicídio.
5. Quero aqui deixar registrado que concordo com você quanto aos argumentos da Isabel Maia, muito embora não concorde com todos.
6. Você fala em “…alguns tipos de suicídio…” e que “…há muitos outros tipos de suicídio…”. Gostaria de pedir a você que relacionasse os tipos que você conhece pois eu só conheço um!
7. Suicídio. Do latim sui, “de si” mais –cídio do latim caedere. Elemento de composição igual a “morte, assassínio”. Ato ou efeito de suicidar-se.
8. Suicidar-se. Dar a morte a si próprio.
9. Os significados acima foram tirados do “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”. 2ª edição revisada e aumentada. Nova Fronteira. 1986.
10. “…suicidar-se jogando avião…” Ninguém suicida-se jogando avião! Suicida-se tirando ou fazendo cessar a própria vida! A forma utilizada para atingir tal fim é que poderá ser a citada, como também poderá ser enforcar-se, ingerir veneno, dar um tiro no ouvido, atirar-se em um precipício, etc., etc., etc..
11. Como já citei em minha mensagem anterior, o que ocorreu nos atentados ao Word Trade Center não foi suicídio e sim a execução de uma missão suicida, o que é, em sua fundamentação teórica, diferente de suicidar-se, muito embora o resultado prático seja o mesmo. Como estamos discutindo questões de ordem filosófica é preciso levar em conta a fundamentação teórica!
12. “Claro, pessoas como Haydin, irão logo atribuir esses atos ao fanatismo islâmico…”. Suponho que você não dá ao fato essa atribuição, correto? Se for assim, você atribui à que? À nobre causa dos terroristas?!
13. “Sempre de maneira, simplória, reducionista”. Se você rotula como simplório aqueles que são contra a violência como forma de resolver as divergências e o terrorismo como estratégia de pressão você acertou, sou realmente um simplório!
14. Infelizmente tenho que concordar com você quanto ao “reducionista”, muito embora não conformado. Admito que é extremamente difícil não ser cartesiano, ao menos no dia a dia, com toda essa carga cultural sobre os ombros! Muito embora em termos teóricos e conceituais concorde com a teoria holistica. Gostaria que você complementasse sua avaliação quanto à minha visão de mundo dizendo se me enquadra no grupo dos objetivistas ou dos subjetivistas.
15. “Eles jamais se identificarão … concordar com este “espetáculo”.” E a presunção é minha?!
16. A expressão “Terceiro mundo” não faz mais sentido após o desaparecimento da União Soviética. A expressão da moda é “periféricos”.
17. “…entediados em viver imersos nesta barbárie…”. O que se espera de alguém que viva em meio à barbárie é indignação ou desespero. Se ele se sente entediado frente a ela, ou é doente mental ou se tornou insensível a ponto de se sentir entediado. A indignação pode, eventualmente, levar a uma tomada de posição e o engajamento na luta contra a situação, muito embora seja um sentimento que, via de regra, se esgota em si mesmo. O desespero pode, em certas situações, levar ao suicídio e, caso ocorra é compreensível, muito embora, não justificável. Quanto a suicidar-se por se sentir entediado frente a um quadro de barbárie, é de uma insensibilidade que chega a ser imoral, não fossem as causas geradoras de predisposição.
18. “…confesso que adorei ver…corajosos jovens suicidas. Pena, que falharam ao não atingirem o símbolo político do Império…nem tudo é perfeito…estes charmosos suicidas…contrastar com muitos de nossos, medíocres…“tediosa festa”, que é…o viver”. Chamar de corajosos, jovens e charmosos os terroristas responsáveis pelos atentados de 11 de Setembro, é de uma alienação que beira as raias do ridículo! É ato de coragem matar milhares de pessoas indefesas dentro de um edifício, sem dar-lhes a menor chance de escapar? E o que dizer dos passageiros dos aviões seqüestrados, reféns indefesos em um vôo para a morte? Isso é coragem? Eu chamo de insanidade, a mais absoluta insanidade. Da mesma, forma onde esta o charme num atentado terrorista, ou nas pessoas que perpetram tal crime? Além de tudo, os que amam a vida são medíocres? Desculpe, mas em minha ignorância não consigo entender esta lógica!
19. Quero deixar claro que também não concordo com as posições dos EUA no tocante às ações de intervenção militar em outros países.
20. Gostaria de, ao finalizar meus comentários agradecer os votos de vida longa.
Quero pedir desculpas aos participantes deste fórum pela extensão de meus comentários.
Quanto a você Fernando, recomendo estudar mais, não só sobre suicídio.Um abraço.
05/08/2002 às 4:19 #75750Miguel (admin)MestreEis que hoje, distante de casa, entro no site para dar uma “olhadelha” e que vejo:
Fernandinho
Já nos encontramos antes?
É comigo a treta???
Pq se for te vejo amanhã neste mesmo site… neste mesmo fórum… nesta mesma hora para um duelo de homens….
um abs.
(Mensagem editada por alex em Agosto 05, 2002)
05/08/2002 às 11:49 #75751Miguel (admin)MestreMorus Areis: Como estou trabalhando, não tenho tempo para responder de forma muito ordenada, todavia, tento responder aos principais tópicos:
1. Tu então só conheces um tipo de suicídio? Pobrezinho…então desconheces toda a abordagem sociológica, por exemplo, como a de Durkheim e outras. Desconhece as principais patologias , ligados aos chamados distúrbios de humor( as depressões, ciclotimias), assim como também a formas mais agudas de patologia mental como as esquizofrenias. Mais, embora sejas da área de filosofia(?), pareces não ter entendido a abordagem de Albert Camus e outros…mas enfim…eu tenho apenas um diploma em engenharia.
2. Terceiro Mundo ou Periferia , não importa a denominação, importa sim, na opinião de gente engajada( como certamente não é teu caso), entender, de maneira a atuar para vencer as terríveis diferenças existentes entre os “ povos “ da terra. De qualquer maneira, é bom saber que sou adepto do chamado marxismo, não colonizado, ou não euro-cêntrico, como os praticados pelo finado Rui M. Marini ou Hosea Jaffe. Jaffe, por exemplo ,reconhece , ainda um quarto mundo. Não vou me estender , em considerações político-econômicas, pois acho que não irias entender mesmo. Mas cito os exemplos da Somália e Abissínia/Eritréia, como imersas no desespero, do quarto mundo.
3. Claro que gente como vc, sempre achará os atos de 11 de setembro, como pura obra de insanidade, uma vez que não têm condições de analisar as raízes históricas/geo-políticas e outras, presente nesta questão. Vcs, alienados e incultos politicamente, esquecem que a cerca de 40 anos( menos, em alguns casos, como veremos adiante), o mundo islâmico passava por intenso processo de Secularização/ Laicização. Já ouviste falar de Gamal Abdel Nasser no Egito, em Ahmed Ben Bella na Argélia, em Mossadegh no Irã?. Claro que não…mas todos estes eram governos seculares, com políticas de afirmação soberana para inserção no mundo industrializado e laico. Todos boicotados pela política divisionista dos EUA. Há muito mais exemplos, mais recentes, como o Afeganistão que sob influência soviética, já tinha praticamente suprimido a ortodoxia islâmica. Mas enfim….quem criou: Bin Laden, Sadam Hussein, Reza Pahlevi, e outros, para sabotar os esforços nacionais e laicos destes países.??….os EUA.
4. Assim, neste quadro, surgem sim , revolucionários dispostos a Matar e Morrer. Dispostos sim , ao Suicídio, como meio de ação política, algo totalmente inadmissível para alguém sem ideais, ou com “ cabecinha feita” , pela sociedade de consumo hodierna, que elege como máxima expressão de liberdade, as eleições periódicas( que podem e muitas vezes são fraudadas) e a liberdade de comércio.
5. Em resumo, não acho insanos os que se imolam por uma causa e , isso sim, é Suicídio dos mais Nobres. Claro, que eu preferia que estes heróis não estivessem orientados pelos islâmicos e sim por forças laicas, mas isso é outra história.
06/08/2002 às 3:02 #75752márcioMembroOla Isabel. ( Muito legal. Voce reserva para o meu caso a abordagem matematica).
A principio o equacionamento deveria ser coerente, mas como voce afirmou, tudo é bem mais complicado.
Estou considerando aquele contexto onde em grande parte do tempo nosso cerebro atua na modalidade “piloto automatico” seguindo a diretriz basica da Vida: Manter. Nesse contexto nao deve existir muito espaço para o questionamento do sentido.
Ai entra a Mente, criando e mudando (via feedback) as referencias (ilusoes). Como vemos, ela é (e tomara que seja mesmo) um diferencial enorme no processo de manter a vida, mas parece que isoladamente, as vezes, tambem somos cruelmente iludidos por ela.
Um dos problemas do suicidio (e das discussoes) deve ser desalinhamento de referencias.
Abracos
06/08/2002 às 18:19 #75753Miguel (admin)MestreOlá de novo Isabel.
Primeiro, desculpe-me pela demora na resposta. Segundo, achei bastante interessante o que vc colocou e gostaria de continuar a escavar os ossos, se vc nao se importar… Entao vamos:
Bem, o ter-me referido ao suicídio como sendo um acto de coragem e não apenas algo que pode sê-lo tem apenas a ver com o facto de ter sempre em mente o suicídio enquanto resultado de uma deliberação, de algo pensado, reflectido e não no sentido de acto quase instantâneo e impulsivo para quem de, repente, deixa de ter saída…apenas nesse sentido.
Mas, mesmo nesse sentido, o argumento pode soar um tanto falacioso, nao? Por exemplo, uma pessoa que matasse uma criança por tortura, mas como resultado de uma deliberação, de algo pensado, reflectido e não no sentido de acto quase instantâneo e impulsivo, deveria ser considerada corajosa antes que covarde? O problema do suicídio coloca a questao do assassinato em termos parecidos, ou, em outras palavras, o valor e dignidade da vida. Será que nao aparece aqui a questao do sagrado? Colocado em outros termos: existe algo que, uma vez feito por alguem, consideramos “profanaçao”? Nesses parenteses busquei mostrar o que considero questionavel no seu argumento.
Referiu um aspecto que me remete para uma outra questão…referiu a intersubjectividade como um horizonte de busca para o sentido (…)
E isto conduziu-me a uma questão que é: o sentido pode/poderá/poderia ser encontrado/procurado nessa abertura ao outro, nessa dimensão intersubjectiva..isso traçaria a nossa humanidade até certo ponto, mas não é paradoxal ou, pelo menos, controverso que no momento da morte, seja ela premeditada ou não, nós morramos derradeira e infinitamente sós??Sem dúvida é um paradoxo, no homem há um paradoxo! Concordo que vc atendou para uma questao mesmo cruxial. Mas, antes de colocar tanta ênfase no problema do suicídio – em outro lugar, fora desse site, alguém me disse que o homem é o único animal que se suicida – eu gostaria também de perguntar, no contexto referido aqui, o que faziam aquelas baleias que nadavam e se atiravam nas praias, apesar dos esforços de muitos ecologistas para salvá-las.
Permita-me aproximar algumas passagens da sua msg anterior. Quero esclarecer minha colocaçao em resposta ao problema que vc trouxe. Vou tentar ser cuidadoso para nao induzir alguma coisa com suas palavras.
fazemos a experiência de algo que nos transcende e que transcende o mundo (…)independentemente da vida que vivemos, mesmo que ela tenha sido maioritariamente constituida por momentos de comunhão exaltante ela tem o seu cume na morte. E morremos sozinhos. (…)
Morremos sozinhos..todavia encontrando (?) o sentido com os outros……Uma forma de explorar a experiencia transcendental é através do aspecto da abertura ilimitada do espírito humano (irredutível ao biológico e ao psíquico, ainda que condicionada em parte por esses – Merleau Ponty chega a falar de “liberdade condicionada” num contexto parecido). Outra forma é sob o aspecto da sua finitude, que se manifesta radicalmente na experiencia da morte.
O espírito (como notado por Hegel) nao podendo identificar-se com nenhuma de suas determinaçoes efetivas, nega permanentemente as suas produçoes superando-as. Contudo, em última instância, uma determinaçao se impõe à consciencia a partir de fora dela como um limite insuperável: a morte, isto é, a possibilidade de anulaçao de todas as possibilidades humanas (Heidegger vai falar de “possibilidade da impossibilidade”). A consciencia nao pode superar senao as suas próprias produçoes, e a morte nao é produto da consciencia. Daí a radicalidade da pergunta sobre o sentido da vida.
Retornando aos nossos paradoxos, falemos de um significado último para espírito humano que, se nao foi de todo revelado na ilimitaçao, quem sabe o seja justamente por sua mortalidade. O espirito humano que em seu dinamismo ilimitado questiona tudo, desta vez é ele mesmo questionado (pela morte). A morte rouba qualquer significado que o espirito possa querer dar a suas realizaçoes.
Deste modo, no próprio coraçao da imanencia do espirito constatamos a presença de um absoluto que é a contestaçao radical do proprio ser humano na experiencia de um transcendente (a morte) imanente à consciencia. Mas será que depois de rodar voltamos à questao sobre qual transcendencia?Num primeiro momento, o espírito humano pode até dar sentido a sua existência, no plano da pura imanência. Contudo, diante da contestaçao radical colocada pela morte, com a aboliçao da auto-suficiencia do espírito humano, nao há como fugir da afirmaçao de Deus se se quiser falar da existencia de um sentido último para a existencia humana.
Entao ficamos com dois problemas:
- a suposiçao da existencia de um sentido global para a realidade é problemática – embora o espírito tenha tendencia a buscar sempre um sentido, nao se impõe com evidência incontestavel a existencia de um sentido último (embora sentidos parciais e regionais existam);
- a afirmaçao de Deus apareceu, seguindo esse percurso, como resposta à pergunta da razao humana pela exigencia de sentido, mas leva a uma contradiçao – embora seja afirmada a absoluta transcendencia de Deus, essa transcendencia nao foi respeitada quando Deus apareceu como soluçao de problemas humanos. Seria o “Deus tapa-buracos” moldado e reduzido aos limites da razao.
Para falar de sentido da vida ficamos entao com um “novo” problema: ou aceitamos Deus como o Absoluto que dá o sentido último, ou absolutizamos a razao que, ao nao encontrar uma prova da existencia dEle no plano estrito da razao humana, diviniza a realidade (panteismo) ou nega o divino (ateismo). Só que isso é outro paradoxo: recusa de Deus pela falta de provas, mas aceitaçao da razao como capaz de atingir a verdade ultima sem nenhuma prova melhor que as de antes.
Por outro lado, um Deus verdadeiramente transcendente nao pode fazer parte de um sistema de explicaçao da realidade porque todo sistema é necessariamente finito. Entao, nesse novo contexto, Deus apareceria mais como questionamento do fechamento do pensamento que tende sempre a se fechar que como conclusao. Deus nao explica, nao fecha sistemas, mas os explode.
Mesmo que alguém dê a vida por mim é esse alguém que morre e não eu. Na hora de morrer sou eu, e apenas eu que morro. Quem sou eu?
Estou me lembrando de “Temor e Tremor”… O homem se conhece diante do Absoluto, num encontro sempre pessoal, solitário. É fora da “multidao de macaquinhos” que se revela o homem. Kierkegaard tem textos interessantes sobre isso.
Normalmente vivemos o nosso dia-a-dia e esse dia-a-dia possui um qualquer sentido , mas há situações que nos arrancam da passividade pela pergunta: Qual é o sentido da minha
vida??Segundo uns, é justamente nesse momento que brilha a humanidade dele.
[]'s
06/08/2002 às 18:54 #75754Miguel (admin)MestreIsabel,
mais uma msg atrasada, mas antes tarde que nunca.
Não deixa de ser curiosa esta passagem do Ecclesiastes que em vez de transmitir a tal mensagem positiva, nos dá pelo contrário uma pessimista visão do mundo…é interessante pensar nessa “brecha” cristã…
Talvez nao seja propriamente cristã, mas no pensamento semítico antigo o problema do mal, ou , mais especificamente, o problema do sofrimento do justo, aparecia com muito maior agudeza. Aparece bem forte no capitulo 9 do Eclesiastes e no livro de Jó. É no eclesiastes que os saduceus se apoiavam para criticar a ressurreiçao pregada por Jesus.
Segundo esse modo de entender a realidade (única, natural e sobrenatural), o homem deve louvar a Deus aqui, por pura gratidao, e por uma questao de justiça; e deve louva-lo aqui porque nao há nada depois. Depois da morte nao há nada mais. Todos, sem exceçao, estariam destinados ao eterno silencio da mansao dos mortos.
A “imortalidade” acontece na descendencia. Daí o grande valor da progenitura, e por isso uma grande descendencia aparece como a maior bençao que um homem pode receber. O justo é recompensado na terra, com riqueza e descendencia. Mas o sucesso do ímpio e o sofrimento do justo colocaram essa visao em xeque… é o que aparece no livro de Jó.
Esse modo de entender a ideia de Revelaçao causa menos problemas para judeus e catolicos, mais acostumados com a noçao de mediaçao que os protestantes. As Escrituras relatariam o modo como Deus foi se revelando ao homem, e nao aquilo que Deus textualmente revelou. Mas, uma vez cristaos, a revelaçao está completa em Jesus; depois disso, no maximo, seria explicitar o já revelado.
[]'s
06/08/2002 às 20:49 #75755Miguel (admin)MestreOi Morus,
Recolhi duas citaçoes de msgs anteriores suas:
1- Quem não consegue encontrar um sentido para sua vida, chegando ao extremo de, por esse motivo, pensar em suicidar-se é uma pessoa doente, que precisa de ajuda e tratamento.
Esse tipo de posicionamento que vc colocou aparece de modo praticamente literal na logoteoria de Viktor Frankl. É uma corrente de psicologia existencialista de índole espiritualista, interessante. Ao lado das neuroses ligadas ao psiquico, Frankl descreve as neuroses do tipo noogênico, relacionadas justamente com a falta de sentido da vida. Mas, para Frankl, as neuroses noogênicas estariam ligadas mais a dimensao do espiritual que do psíquico ou biológico. (Nao esquecer, entretanto, a unidade do composto humano)
A desvantagem é que esse tipo de teoria parece resolver o problema pela negaçao do problema. A logoteoria é interessante e até vale a pena ser conhecida, mas, filosoficamente falando, parece que há um risco de petiçao de principio. Mas nao é tao simples, pois o autor foi um judeu prisioneiro de um campo de concentraçao, e tenta mostrar que sua abordagem partiu de consideraçoes do tipo fenomenológico – ele trabalhou com uma grande amostragem no campo de concentraçao, já que o problema do suicidio era colocado a todo tempo.
2- O suicídio está sim associado a desequilíbrios psicológicos e psíquicos, além de possuir um forte componente genético.
Aqui nao sei se se pode afirmar isso com tanta certeza.
– Qualquer pessoa que coloca a sua vida em risco está doente?
– Dê mais detalhes…
– Gandhi, colocando sua vida em risco com a greve de fome, estava psiquicamente ou geneticamente doente (ou mesmo espiritualmente)?
– Nao. Porque ele o fazia movido por um sentido, uma causa nobre, e nao pela falta de sentido da vida.
– E os pilotos dos avioes jogados sobre as torres gêmeas?
– Esses tinham uma causa, mas a estavam defendendo de um modo muito infeliz.
– Entao estavam errados, mas nao doentes?
– Estavam errados, estavam mais cheios de ódio pelos americanos do que de amor pela causa que diziam defender.
– Mas estavam doentes?
– Tinham ódio! Odio é doença?
– Genética nao.
– E psiquica?
– Talvez nao. É natural gostar ou nao gostar de alguma coisa, e talvez o amor e o ódio sejam os extremos desses sentimentos.
– Nao seriam amor e ódio algo mais?
– Isso realmente é importante?
– Deixemos isso entao de lado. E espiritualmente? Podemos falar de doença espiritual?
– Se odiar fizer mal.
– Fumar faz mal. É doença?
– É vicio.
– Entao é do campo moral que falamos?Contágio wittgensteiniano…
[]'s
06/08/2002 às 23:18 #75756carlosMembroDesculpe-me a intromissão, mas colocar a vida em risco é consequência do suicida e não intenção dele, sua intenção e se matar, não é? E ningém é fadado ao suicídio pela sua genética e sim predisposto a cometê-lo. Isso pode estar em mim ou vc, podemos então chamarmo-nos de doentes?
Ghandi colocou em risco sua vida, mas sua intenção não era se matar…07/08/2002 às 16:31 #75757Miguel (admin)MestreClaro!
– Gandhi, colocando sua vida em risco com a greve de fome, estava psiquicamente ou geneticamente doente (ou mesmo espiritualmente)?
– Nao. Porque ele o fazia movido por um sentido, uma causa nobre, e nao pela falta de sentido da vida.[]'s
08/08/2002 às 12:55 #75758Miguel (admin)MestreOla Walace e Marcio!
Estou fora de casa e não tenho oportnidade de estar ligada!Quando regressar “retomamos”…
abs09/08/2002 às 2:21 #75759Miguel (admin)MestreCaro Fernando
-Quem não tem tempo para fazer bem feito, não faça!
-As patologias psíquicas e os disturbios psicológicos são,ou podem ser, causas de suicídio e não tipos! Você está tomando a causa pela conseqüencia.
-Quanto à abordagem sociológica, busca explicar as causas (novamente elas), dentro da ótica social e dos relacionamentos humanos.
-Baseado em que você diz que eu sou da “área” de filosofia?
-O que te leva a supor que eu não entendi a abordagem de Cammus?
-Quem são os outros?
-E, se realmente não entendi, que diferença isso faz? Não estamos discutindo o pensamento de Cammus!
-Quanto ao fato de você possuir “apenas” um diploma de engenheiro, de-se por satisfeito, pois você pertence a uma camada muito restrita da população.
-Concordo com que a denominação não é o mais importante.
-Parece que você me conhece muito bem, a ponto de afirmar que, “certamente” eu não sou “engajado”.
-Eu te pergunto: O que é ser “engajado”?
-Ser engajado é propor movimentos antiglobalização?
-É levantar a bandeira da luta pelo não pagamento da dívida esterna?
-É deitar falação sobre a situação poítico-econômico-social da Africa e da Asia?
-E você que, suponho seja “engajado”esta fazendo o que para diminuir as diferenças sociais “terríveis” entre os povos da terra?
-Escrevendo para um forum de discussão na internet durante teu horário de trabalho?
-Saber que você é adeptodo do marxismo, não colonizado e outras bobagens mais é bom para quem?
-Novamente você dá a impressão de me conhecer muito bem, pois acredita que eu não seja capaz de entender suas considerações político-econômicas.
-Sei das misérias do continente africano, mas por que a preocupação com a Somália e a Abissínia? Por que não os nossos problemas?
-Será que é porque eles estão muito perto? Ou talvez discutir problemas sócio-econômicos internos não tenha nenhum charme, seja “brega”?
-Realmente você sabe tudo a meu respeito. Sabe que eu não tenho condições de analisar as raízes…., sou alienado, politicamente ignorante, nunca ouvi falar em Nasser, Ben Bella, Mossadegh, não entendo nada de governos seculares e laicos, etc., etc., etc..
-E para completar não possuo idéias próprias e tenho a cabeça feita pela sociedade de consumo!
-Ufa! Só falta você sugerir que eu me suicide, tamanha minha ignorância!
-E a presunção é minha?
-Meu caro, em toda a sua falação só vejo citações de nomes e cópias, isso mesmo, cópias de frases soltas tiradas de alguns livros!
-Em momento algum você coloca um pensamento original próprio, em momento algum emite uma opinião embasada, com fundamentação e sentido para sustentar seu pensamento.
Você fala de problemas da Africa, do Oriente Médio, da Asia, da política divisionista dos EUA, problemas nos quais você não tem a mínima possibilidade de interferir!
-E os problemas do nosso Brasil, da tua cidade,do teu bairro, da tua rua?
-Falar sobre a fome e a miséria dos próprios brasileiros não tem charme, não é? Além disso nos deixa no compromisso de fazer alguma coisa, não?
-Tudo Isso me Lembra um texto de Kalhil Gibran chamado “O Senhor Falador”.Um abraço.
09/08/2002 às 3:25 #75760Miguel (admin)MestreCaro Walace,
Vou responder seus questionamentos e contestações às minhas opiniões com um enorme prazer pois, além de serem colocações inteligentes e ponderadas, me permitem esclarecer um pouco mais minha visão da problematica do suicídio.
Com relação ao ítem 1, você coloca em seu comentário a visão de que as neuroses ditas noogênicas estariam mais ligadas à dimensâo do espírito do que do psicológico ou psíquico.
Nesse ponto, considerando a natureza dual do ser humano, muito embora nossa cultura ocidental, por cartesiana que é, não queira aceitar ou admitir tal fato, fica patente a influencia desses três componentes uns sobre os outros. Assim sendo o desequilibrio em um deles, forçosamente, por um efeito em cadeia, irá provocar, em maior ou menor grau e em maior ou menor espaço de tempo, o desequilibrio dos outros dois.
Quanto à suposta desvantagem da logoteoria por resolver o problema através da sua negação, não vejo desta forma.
Admitir que não ter motivos para viver à ponto de suicidar-se esta ligado a desequilibrios psíquicos, psicológicos e espirituais não é, de modo algum, negar-lhe a existência e sim atribuir-lhe uma causa que tanto a medicina quanto a psicologia já comprovaram.
Quanto ao segundo ponto por você levantado, nada mais é do que a afirmação do primeiro.
A não aceitação do fato esta ligada à questão conceitual do que seja suicídio.
Isso fica claro em sua primeira indagação:
– “Qualquer pessoa que ponha sua vida em risco está doente?”
Eu respondo com outra pergunta:
– Toda pessoa que coloca sua vida em risco esta tentando suicidar-se?
Me parece que a resposta a ambas as indagações é não!
O que leva uma pessoa a suicida-se não é a vontade de morrer, pois isso é totalmente contrário ao instinto natural do ser humano de preservar sua existência material. Na verdade o que o suicída quer não é morrer, mas livrar-se de uma dor que se tornou insuportável e a unica solução encontrada por ele é por fim à própria vida.
Todos os exemplos citados por você em seu comentário apontam justamente para o caminho oposto, i. é, o de levar uma causa na qual se acredita até as ultimas conseqüencias. Isso, para mim, não é suicídio e sim estar disposto à morrer por algo em que se acredita.
Veja que a visão do suicída é diametralmente oposta, na medida em que ele não acredita em mais nada, nem na possibilidade de superar sua dor, tanto é que a unica maneira que encontra para dela se livrar é tirando a própria vida, coisa que um ser humano em seu estado normal busca preservar a todo custo.
Quanto ao fato de estarmos, ou não, no campo da moral é uma questão a ser analisada e refletida.Um abraço.
09/08/2002 às 14:30 #75761Miguel (admin)MestreMorus: E se eu falar sobre a fome e a miséria brasileiras, vc terá condições de propor algumas soluções, que não sejam aquelas que o senso comum sempre propõe? Sinceramente , eu duvido…Nossa discussão virou tautologia, repetição de falácias, falsos argumentos. Com certeza estamos em posições diferentes, pois vc certamente, não é e nunca será um ativista. Sabe a teoria do espelho? Vc me chama de falador, o que é vc se não um falador/escrivinhador da internet. Como eu sei?..Ora pela tuas colocações tergiversativas…ha ..a miséria brasileira que vc não diz nada…diga vc…já sei até quais seriam teus argumentos(ha…este senso comum de gente despolitizada).Deixemos assim. Em tempo, acho Kalin Gilbran e seus O profeta, et alli, uma chatice, bom para gente piegas e superficial.
09/08/2002 às 17:30 #75762Miguel (admin)MestreMorus,
Sua msg me deu o que pensar, interessante…
Com relaçao ao primeiro ponto, vc colocou bem a relaçao entre as dimensoes biologico-psiquico-espiritual e nao há muito mais a dizer. Talvez só acrescentar que algumas correntes negam a dimensao espiritual, talvez por nao entenderem a inter-relaçao entre essas dimensoes, talvez por outros motivos, mas acho que nao é o caso agora de falar disso.
A visao logoterapeutica aparece com uma das muitas criticas àquelas visoes pan-deterministicas que negam a liberdade no homem, e que, se aceitas, acabariam por colocar tambem o suicidio apenas como mais um ato dentro de uma cadeia de relaçoes causais. Evidentemente que considero essas como visoes bastante estreitas do homem.
Quanto à suposta desvantagem da logoteoria por resolver o problema através da sua negação, não vejo desta forma. Admitir que não ter motivos para viver à ponto de suicidar-se esta ligado a desequilibrios psíquicos, psicológicos e espirituais não é, de modo algum, negar-lhe a existência e sim atribuir-lhe uma causa que tanto a medicina quanto a psicologia já comprovaram.
Pensando melhor, dou o braço a torcer porque olhando de novo me pareceu que nao comuniquei bem o que gostaria ou deveria ter passado. Vou fazer mais uma tentativa. Retifico: concordo que isso nao é negar o problema, na verdade é sim dar um diagnostico para o problema. Mas, note, vc agora acrescentou a dimensao espiritual (nao sei se por descuido ou depois de ter revisto a questao).
O problema é que, se examinarmos de novo, ainda nao o fiz, mas sou quase capaz de apostar, descobriremos que as fontes que defendem o suicidio como um ato originado de uma reflexao sadia com base na falta de sentido da vida, nao aceitam, muito provavelmente, a existencia da dimensao espiritual que elencamos aqui, ou, no minimo, a tem como bastante problematica.
Evidentemente, nao signica por isso que ela nao exista. Uma pessoa que nao lave as maos por nao acreditar na presença de bacilos tambem pode morrer de cólera. Mas esse é o tipo de leitura de alguem que trabalha com a consideraçao da existencia da dimensao espiritual.
O que estou tentando colocar aqui é que, talvez, mesmo que existam muitos indicios que apontem para a validacao da sua afirmaçao, talvez ainda nao existam provas conclusivas. Era nesse sentido que eu falava da negaçao do problema: aceitar rapido demais uma resposta.
Todavia, e acho que já deu para perceber, tendo a concordar com vc em achar que quem busca o suicidio precisa é de ajuda para viver e nao de aplausos.
PS: escrevendo agora, ao falar de “ajuda para viver”, lembrei do problema da eutanásia… bem, vc já disse antes da inter-relaçao entre biologico-psiquico-espiritual.
[]'s
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