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6.    O   NOVO   IMPERIALISMO

Não  muito   tempo   após   o   começo   do   século 
XIX,   o  tipo   de imperialismo alimentado pela Revolução Comercial entrou em
vias de extinção.   Poucos homens públicosvia ainda que se  propusessem 
defendê-lo;   alguns  até  o  condenavam categoricamente,  
sustentando   que   as   colônias não valiam o que custava adquiri-las e
mantê-las. As causas dessa mudança de atitude podem ser encontradas em fatores
tais como a decadência do mercantilismo e o interesse absorvente pelo
desenvolvimento interno que acompanhou as primeiras fases da Revolução
Industrial. À decadência desse primeiro imperialismo seguiu-se uma pronunciada
acalmia na luta pela conquista de possessões externas até por volta de 1870,
quando essa atividade se renovou com maior vigor e em escala mais ampla. Além
das diferenças quantitativas, o novo imperialismo apresentava outros notáveis
contrastes com o antigo. Enquanto a luta pelo império durante a Revolução
Comercial se limitava mormente ao Hemisfério Ocidental e às ilhas tropicais, os
teatros principais do imperialismo, a partir de 1870, foram a África e a Ásia.
O imperialismo da época mercantilista orientava-se principalmente no sentido 
de engrandecer o poder e a riqueza do estado — acumular ouro nos cofres
públicos, para que o governo pudesse manter exércitos e equipar armadas; o novo
imperialismo agia em benefício dos cidadãos ricos da metrópole, proporcionando
saída às suas mercadorias e oportunidades de emprego para o seu capital
excedente.    As matérias-primas mais ardentemente desejadas pelos  
imperialistas   dos   primeiros   tempos   eram   o   ouro, a prata, os
produtos tropicais e os abastecimentos navais; os novos imperialistas 
interessavam-se  pouco  por  tais   coisas,  mas  buscavam avidamente
territórios  ricos  em  ferro,  cobre,  petróleo, manganês e trigo.    Como 
última  diferença podemos  assinalar o  fato  de  que o antigo  imperialismo 
em  geral  desencorajava a emigração  em  larga escala para as colônias, ao
passo que um dos objetivos principais do novo é a aquisição colônias para abrigar o excesso de
população das metrópoles. Os maiores fatores do revivescimento do
imperialismo após 1870 podem,   indubitavelmente,   ser   encontrados   na  
Segunda  Revolução Industrial.    A   industrialização,   ao   alastrar-se  
por muitos outros países além da Inglaterra, determinou  extensa competição por
mercados e por novas fontes  de matérias-primas.  A despeito do problema de
encontrar saída para o excesso de produtos manufaturados, o governo da maioria
dos países acabou cedendo à pressão dos capitalistas que reclamavam tarifas
protetoras. Resultou daí uma produção ainda mais elevada e a consequente
procura de novas colônias como mercados de escoamento para os produtos que a
metrópole não podia consumir.    Em tais  condições  tornou-se  virtualmente  impossível 
a  prossecução  do   regime   de  livre-câmbio internacional, que parecia tão
promissor para a paz e a prosperidade do mundo.    Como já observamos, alguns
países do continente europeu haviam adotado tarifas protetoras durante a década
de 1880. Também os Estados Unidos  fechavam as suas portas cada vez mais
hermeticamente à entrada de produtos estrangeiros. Nada, talvez, contribuiu
tanto para estimular o imperialismo das potências européias do que o receio de
perderem em breve os seus mercados costumeiros dos países vizinhos e da
América.    Mas nem todos os motivos do  novo  imperialismo   foram 
econômicos.    Cerca  de 1870 ou logo depois, a população de algumas nações
industrializadas começou a crescer em  demasia;  daí  desejarem os  governos a 
posse de novos territórios em que pudesse ser instalado o  excesso  de
habitantes, não deixando todavia de ser cidadãos e possíveis soldados da
pátria.    Por   fim,   o   novo   imperialismo   foi   em   grande   parte  
um produto do nacionalismo e do desenvolvimento de um amplo programa de  
atividades   a

da América. Se alguém merece  o  título 
de  pai  do  novo  imperialismo, esse homem   é  provavelmente  Leopoldo  II,  
rei  da  Bélgica.  Em   1876 Leopoldo   tomou   posse   do   rico   território  
do   rio Congo,   na   África    (aproximadamente   dez   vezes maior do que a
Bélgica) e conservou-o praticamente sob o seu domínio pessoal até 1908, quando
o vendeu por gorda quantia ao governo belga. Pouco depois de Leopoldo II ter
dado o exemplo, a Inglaterra e a França começaram a mostrar um interesse mais
profundo que nunca pelo desmembramento da África. A primeira estabeleceu um
protetorado no Egito por volta de 1882 e subsequentemente apossou-se do Sudão
Egípcio, da Rodésia, de Uganda e da África Oriental Inglesa a título de
colônias. Em 1902, ao cabo de três anos de guerra, os ingleses lograram
conquistar as repúblicas dos boeres (Estado Livre de Orange e Transval), que em
1909 foram anexadas à Colónia do Cabo e a Xatal para formar o domínio da África
do Sul, com governo próprio. Os planos da França relativos ao território
africano já vinham  de 1830, quando esse país estabeleceu o controle sobre
alguns portos argelinos.    Em  1857 os  franceses tinham conseguido 
conquistar e anexar o resto da Argélia.    Mas os seus esforços para fundar um
império  no  Continente  Negro  não tomaram  realmente  vulto  senão em
1881.    Nesse ano ocuparam a Tunísia e a partir de então instalaram-se
progressivamente no Saara, no Congo Francês, na Guiné Francesa, no Senegal e no
Daomé.    Em 1905 quase todos os melhores territórios da Áfric

belgas, ingleses e franceses. A entrada da Alemanha e
da Itália na competição pelas colônias africanas foi retardada pela
complexidade dos seus problemas internos.     Ambas   essas   nações   tinham  
recentemente completado longas campanhas de unificação e ainda estavam
envolvidas em sérias disputas com o papado.    Além   disso,  os  governantes 
de  uma  e  de outra   não   se   interessavam   muito   por   possessões distantes.
Bismarck, por exemplo, ambicionava consolidar o seu império doméstico e manter
a posição de liderança que a Alemanha conquistara nos negócios da Europa
continental. Declarou, certa vez, que a amizade da Inglaterra valia mais para
ele do que ”vinte colônias pantanosas da África". No entanto, o próprio
Bismarck acabou sendo convencido pelos comerciantes, industriais e magnatas da
navegação a entrar na corrida pelo império africano. Em 1884 proclamou o
protetorado alemão sobre o Sudoeste Africano, feito o que apossou-se, em rápida
sucessão, da África Oriental Alemã, do Camerum e da Togolândia. Cerca de 1888
os italianos chegaram à conclusão de que eles também precisavam ter uma parte
do que ainda restava da África. Estabeleceram uma cabeça de ponte na Somália,
situada na costa oriental, e dali tentaram reduzir a um protetorado a
Abissínia, país limítrofe. O resultado foi uma das derrotas mais desastrosas já
sofridas por uma nação moderna. As forças italianas foram tão completamente
destroçadas pelos abissínios em Ádua, no ano de 1896, que até 1935 a Itália não
fêz novas tentativas para conquistar o Leão de Judá. Suas únicas aquisições
importantes em território africano, entre 1896 e 1914, foram Trípoli e a
Cirenaica, que conquistou aos turcos em 1921 e uniu sob a nova denominação de Líbia.

 

 

 

 

Entrementes, as potências européias começavam a
demarcar novas concessões para si mesmas no continente asiático. Muito antes de
1870 algumas nações européias se haviam empenhado em aventuras de conquista
territorial no Oriente. Já em 1582 os russos tinham atravessado os Urais e, em
menos de um século, alcançaram o Pacífico. Em 1763, após eliminar os seus
rivais franceses na posse da Índia, os ingleses começaram a subjugar e
desenvolver esse país, cuja maior parte foi convertida, em 1858, em possessão
da coroa britânica. Em consequência da chamada Guerra do Ópio (1842), a
Inglaterra forçou os chineses a ceder Hong Kong, e poucos anos depois os
franceses estabeleceram um protetorado na Indochina. Em 1858 a Rússia tomou
posse de todo o território ao norte do rio Amur e pouco depois fundou a cidade
de Vladivostok (Senhora do Oriente), também em território extorquido à China.
Mas foi só por volta de 1880 que as principais nações militares e
industrializadas começaram a sonhar com a divisão de toda a Ásia em colônias e
esferas de influência. A mais rica de todas as presas era certamente o Império
Chinês, com os seus quatrocentos milhões de habitantes e a sua área igual à da
Europa. Pode-se dizer que a Inglaterra iniciou as atividades com a anexação da
Birmânia, em 1885. Dez anos depois travou-se a primeira guerra sino-japonesa
(1894-95), em resultado da qual o Japão obteve a ilha de Formosa e a renúncia
da China a todas as suas pretensões sobre a Coréia, que o Império do Sol
Nascente por fim anexou e rebatizou com o nome de Chôsen. Nos últimos anos do
século XIX, diversas potências européias que recentemente haviam protestado
contra a agressão japonesa trataram de abocanhar novas fatias de território
chinês. Em 1897 a Alemanha convenceu-se de que só poderia vingar o assassínio
de dois missionários seus apossando-se da baía de Kiaochow e exigindo o
direito exclusivo de construir estradas de ferro e explorar as minas da
península de Xantum. Já no ano seguinte, a Rússia extorquiu o direito de
construir uma estrada de ferro entre a Manchúria Chinesa e Vladivostok,
enquantos os ingleses e franceses pleiteavam e obtinham o controle completo de
importantes portos da costa chinesa.   Por volta de 1898, parecia estar a independência
da China fadada a rápida extinção. A generalidade dos europeus, pelo menos,
presumia que a porção suleste do império cairia sob a esfera de influência da
França, que a Inglaterra e a Alemanha dividiriam entre si a porção central e
que a Rússia e o Japão competiriam para obter o que restasse no norte.

 

 

 

Entre
os dois séculos, o imperialismo na China foi detido por três acontecimentos
extraordinários. O primeiro e o menos importante foi a proclamação pelos
Estados Unidos, em 1898, da  política  de  "porta  aberta".   
Embora  essa  política fosse pouco mais que uma expressão vazia aos  olhos 
dos  outros  governos,  não  há  dúvida  que  ela  infundiu nos chineses a esperança
de que os Estados Unidos  se  ressentiriam  das   agressões  imperialistas das
outras potências, e talvez se opusessem a tais agressões. Teve repercussão
muito maior uma manifestação de violenta resistência por parte dos próprios
chineses. Em 1900, a Sociedade dos Punhos Unidos, comumente chamada os
"Boxers", organizou um movimento para expulsar do país os
"diabos estrangeiros". Houve extensas depredações, as legações de
Pequim foram sitiadas e mortos centenas de estrangeiros, inclusive o ministro alemão.
Embora o governo chinês lhe prestasse apoio, a revolta foi finalmente dominada
por uma força expedicionária composta de ingleses, russos, japoneses, alemães,
franceses e americanos. A terceira e mais importante causa do declínio
temporário do imperialismo na China foi a rivalidade entre os próprios
espoliadores. Algumas grandes potências começaram a desconfiar que os seus
competidores estivessem tentando abarcar uma parte maior do que a que lhes
competia no saque. Essa desconfiança tornou-se particularmente aguda entre a
Inglaterra, a Rússia, a Alemanha e o Japão. Em 1902 os ingleses e os japoneses
formaram uma aliança para proteger contra os abusos dos russos e dos alemães
certas áreas que esperavam desenvolver. Quando, em 1904, se tornou evidente que
a Rússia pretendia anexar a Manchúria, os japoneses declararam a guerra. O
conflito terminou no ano seguinte com uma vitória decisiva para o Japão. A
Rússia foi forçada a entregar Porto Artur ao seu rival e a reconhecer a
supremacia japonesa na Coréia. Esses acontecimentos, porém, não fizeram mais
que retardar a espoliação da China. Em 1912 recomeçaram as mesmas atividades
imperialistas quando a Inglaterra se arrogou, praticamente, direitos de
soberania no Tibete. No ano seguinte a Rússia estabeleceu um protetorado sobre
a enorme província da Mongólia Exterior, que o governo soviético teimosamente
insiste em conservar. Destarte, nas vésperas da Primeira Guerra Mundial a
independência da China estava ainda muito longe de achar-se a coberto da
cupidez de nações que pretendiam representar um nível superior de cultura.

 

7.   A    POLÍTICA   DE   PODER   E   A   PAZ   ARMADA

 

Os conflitos e lutas nacionais pelo império são
ingredientes comuns daquilo que se chama política de poder.    A expressão
designa a cata de poder por estados soberanos, como um fim em si mesmo ou como
meio para a consecução de outros fins. Os métodos empregados têm incluído
tradicionalmente quase todas as formas de burla e trapaça já inventadas pela
astúcia humana. Nações que mantêm oficialmente relações pacíficas espionam-se
umas às outras, emitem ameaças e contra-ameaças, formam alianças e
contra-alianças e tentam lograr-se mutuamente. Por fim, quando o medo e a
cobiça passam a prevalecer sobre tudo mais, recorrem à guerra. Embora se costume
encobrir a realidade crua com o verniz dos chás de embaixada e das formalidades
oficiais, a regra fundamental da política de poder é a lei das selvas.

A
política de poder não é nova.    Data ela das origens do moderno sistema de
estados, nos séculos XVI e XVII.    Seus métodos foram adotados por Richelieu e
por Frederico o Grande, para só citarmos dois estadistas.    O primeiro
pináculo de seu desenvolvimento não foi alcançado, todavia, senão depois de
1830. Por essas alturas havia-se esboroado o sistema internacional de
Metternich. Daí por diante, na maioria dos casos, cada nação teria de
arranjar-se por si e tanto pior para as que ficassem pra trás. As lutas
internacionais pelo poder, pelo prestígio, pela segurança e pelo império
constituíram uma porção cada vez maior da história política do mundo ocidental
até a primeira grande culminação dessas lutas na guerra de 1914.

Seria
erro, entretanto, supor que os habitantes do mundo ocidental não tivessem outra
preocupação além das rivalidades de poder e dos conflitos brutais pelo
engrandecimento nacional. O período que vai de 1830 a 1914 distinguiu-se por
um  progresso  considerável no  desenvolvimento do direito e da organização
internacionais. Várias conferências, sobretudo a Primeira e a Segunda Conferências
de Haia, respectivamente em 1899 e 1907, conseguiram formular alguns
significativos princípios novos de direito internacional. Entre eles
contavam-se a proibição do uso de balas explosivas e de gases venenosos, bem
como a disposição que proscrevia o emprego da força com o fim de cobrar dívidas
inteiramente. Em 1885, quatorze nações assinaram uma convenção comprometendo-se
a lutar pela extinção da escravatura e em 1909 foi adotado um conjunto de
regras, conhecidas como a Declaração de Londres, as quais definiam os direitos
e deveres dos neutros em caso de guerra naval.

O   desenvolvimento   da  organização  
internacional   entre   1830  e 1914  é exemplificado  por  diversas 
instituições  novas.    Em 1874 foi  criada  a  União  Postal  Internacional 
para  facilitar a transmissão de malas postais entre nações  e no ano seguinte 
fundou-se a União Telegráfica Internacional. Na  Primeira   Conferência  de  Haia
(1899), as nações ali representadas decidiram criar um tribunal internacional
de arbitragem.    Conhecido a partir de então como   a   Corte   Permanente  
de   Haia,   consistia   ele   num   corpo   de juízes entre os  quais cada
parte  de um litígio podia escolher dois árbitros   e   estes   quatro,   por  
sua  vez,   escolheriam  um   quinto.   A instituição funcionou com êxito, até
1914, na arbitragem de quinze litígios entre nações, inclusive uma séria
controvérsia entre a Alemanha e a França, a respeito da intervenção francesa em
Marrocos.

Mas
o progresso do direito e da organização internacionais, considerável como era,
não se mostrou à altura das necessidades da época. Cerca de 1914, quase haviam
cessado de existir as condições econômicas e políticas  favoráveis à manutenção
da paz.    O benéfico sistema de livre-câmbio, dentro do qual a Inglaterra
supria o capital e os produtos manufaturados, enquanto o resto do mundo
fornecia os alimentos e as matérias-primas, tornara-se virtualmente uma coisa
do passado. A Inglaterra continuava interessada em manter o status quo, de que
por tão longo tempo havia tirado proveito, mas certas nações do continente
europeu almejavam subvertê-lo. A Alemanha, em particular, possuía agora uma
florescente indústria própria e estava ansiosa por encontrar mercados em zonas
até então monopolizadas pelos ingleses. O desenvolvimento simultâneo do
nacionalismo e do militarismo corria parelhas com a expansão das ambições
econômicas. Em tais circunstâncias, somente a maquinaria internacional mais
poderosa e eficiente seria capaz de preservar a paz. Mas o tribunal de Haia era
fraco. Na realidade, não era um tribunal, mas uma simples lista de árbitros.
Como não tinha jurisdição compulsória, os governos podiam submeter-lhe as suas
disputas ou não, conforme lhes conviesse. Acresce que todas as tentativas das
potências para regular os armamentos por acordo internacional terminaram em
fracasso. A competição armamentista intensificou os receios e transformou o
sistema de estados independentes numa sementeira de guerras.

Durante os três últimos quartéis do século XIX a
civilização ocidental se construiu sobre uma multidão de estados. Variavam
grandemente em superfície e população, mas, com exceção de um só, nenhum deles
era bastante poderoso para impor a sua vontade aos demais. A exceção era
naturalmente a Grã-Bretanha, com um sistema industrial altamente desenvolvido 
e uma  armada igual  em força às armadas  conjuntas  de duas  quaisquer  das 
outras  potências  que  se tomassem.    Em razão do seu poderio industrial,
naval e também financeiro, a Inglaterra conseguia manter o resto das nações 
européias numa espécie  de equilíbrio.    Eis aí por que não ocorreram
conflitos de importância nesse continente entre o fim das campanhas
napoleônicas e o deflagrar da Primeira Guerra Mundial. Não será perfeitamente
correto atribuir esse fato à influência exclusiva da Inglaterra, visto que a
maioria das outras nações estavam demasiado absorvidas em problemas de
desenvolvimento interno para dar muita atenção aos negócios exteriores. Não
obstante, a chamada Paz dos Cem Anos foi em larga medida uma Pax Britannica.

Por volta de 1900 o equilíbrio europeu começou a
desajustar-se. Vários fatores se combinaram para produzir esse resultado. O
mais importante deles foi a unificação e a industrialização da Alemanha. Antes
de 1871 essa região se achava fragmentada em numerosos estados pequenos, sendo
o maior de todos a Prússia. A derrota da França na Guerra Franco-Prussiana
mudou esse estado de coisas. A Alemanha progrediu rapidamente, de tal modo que
em 1900 havia deixado a França muito para trás em poder industrial e não
tardaria a ultrapassar a Grã-Bretanha. Entrementes, a sua população crescera,
ao passo que o número dos franceses havia permanecido mais ou menos
estacionário. Em 1898 o kaiser convenceu-se de que a Alemanha devia possuir uma
armada, a fim de aumentar o seu prestígio como potência mundial e proteger o
seu comércio em expansão. Dentro em pouco os ingleses viram-se na incapacidade
de manter o padrão tradicional de lima armada igual em força às armadas
conjuntas de duas outras potências quaisquer. Com uma marinha poderosa, uma
indústria em pleno florescimento e uma posição geográfica de primeira ordem, a
Alemanha parecia destinada a tornar-se a nação dominante da Europa. O seu poder
e a sua prosperidade inspiravam temor e inveja aos países vizinhos. Mas a
Alemanha, a França e a Inglaterra não eram as únicas nações cuja situação como
grandes potências havia mudado. Após a sua unificação em 1870, a Itália
elevou-se a uma posição quase igual a da França. A Áustria, pelo contrário, ia
em declínio devido aos movimentos nacionalistas que começavam a tomar vulto
entre os numerosos eslavos abrangidos pelas suas fronteiras.

Cerca de 1900, seis grandes potências — Alemanha,
França, Rússia, Itália, Áustria-Hungria e Grã-Bretanha — competiam entre si pelo
poder, pela segurança e pelas vantagens econômicas. Cada uma delas tinha
objetivos especiais, cuja realização considerava essencial aos seus interesses
nacionais. A Alemanha concentrava as suas ambições   em  torno   da  
expansão   para  leste.    Depois   de   1890  os capitalistas e imperialistas
alemães começaram a sonhar com um Drang nach Osten (arremetida para leste) e
planejaram a construção de uma estrada de ferro de Berlim a Bagdá para
facilitar o controle econômico do Império Otomano. A Áustria também volvia os
olhos nessa direção, mas  visava os Balcãs ao invés da Ásia Ocidental.   O seu
domínio sobre Trieste e outras porções da costa do  Adriático era um tanto
precário, visto que boa parte desse território era habitada por italianos. Se
pudesse abrir uma estrada para o Egeu através dos Balcãs o seu acesso ao mar
estaria mais garantido. Com o passar dos anos, Áustria e Alemanha tornavam-se
cada vez mais dependentes uma da outra, a primeira por causa dos contratempos
com os eslavos tanto dentro como fora das suas fronteiras, a segunda pelo temor
crescente de se ver cercada. Em 1879 Bismarck firmou com a Áustria uma aliança
que se renovou e fortaleceu nos anos subsequentes. Era uma aliança com um
cadáver, mas os alemães apegaram-se a ela com desespero à medida que se
exacerbavam as tensões internacionais.

Os 
objetivos  da  França  eram  ditados,   em  grande  parte,   pelo desejo de
refrear ou contrabalançar o poderio crescente da Alemanha. A   França  
esperava   reaver   a   Alsácia-Lorena,   que assumira repentinamente grande
valor com o descobrimento, feito em 1878 por Sidney Thomas e P. C. Gilchrist,
de um método para converter em aço os minérios pobres de ferro. Havia mais,
porém: os franceses estavam decididos a acrescentar Marrocos ao seu império
africano, sem levar em conta os interesses de outras potências nesse país
lamentavelmente mal governado. Os motivos do governo de Paris eram ao mesmo
tempo econômicos e políticos. O Marrocos possuía ricas jazidas minerais, mas
também seria valioso do ponto de vista estratégico e como reserva de tropas
para compensar a escassez de potencial humano na metrópole.

A ambição suprema da Rússia era obter o controle do
Bósforo e dos Dardanelos. Desde o começo do século XIX considerava isso como a
sua "missão histórica". O cumprimento dessa missão impediria que a
sua frota ficasse engarrafada no Mar Negro em caso de guerra com uma potência
naval. Dar-lhe-ia, ademais, o acesso indisputado ao Mediterrâneo e
provavelmente a posse de Constantinopla. A Turquia seria eliminada da Europa e
a Rússia herdaria os Balcãs. Acresce que, se os agentes do czar alcançassem
Constantinopla antes dos alemães, poderiam converter num sonho vão a estrada de
ferro Berlim-Bagdá. Mas a Rússia imperial tinha ainda outras ambições. Cobiçava
o acesso ao Golfo Pérsico e ao Oceano Índico, e durante anos tentou converter a
Pérsia em protetorado russo. Esforçava-se também por obter melhores saídas para
o Pacífico e procurou, como já vimos, estender o seu controle à Manchúria.
Aspirava finalmente por desempenhar, através do pan-eslavismo, o papel de guia
e protetora de todos os povos eslavos da Europa Oriental, inclusive os que se
achavam sob o domínio da Áustria-Hungria. É desnecessário sublinhar que cada
uma dessas ambições constituía uma ameaça para o status quo.

As políticas de poder da Grã-Bretanha e da Itália não
dependiam tanto do que viesse a fazer tal ou tal outra nação.    Para dizer a
verdade, a política da Inglaterra era dirigida contra quase  todo  o  mundo.   
Não  suspeitava  menos  das ambições   russas   em   Constantinopla   do  
que   das alemãs. Ainda em pleno século XX, desconfiava da França. Seus grandes
objetivos eram: 1) manter as linhas vitais de comunicação do império; 2)
conservar desimpedidas as vias marítimas para as suas fontes de importação e os
seus mercados estrangeiros; e 3) manter o equilíbrio entre as nações do
continente europeu, a fim de que nenhuma delas jamais se tornasse bastante
forte para atacá-la. Qualquer ação de um outro país que ameaçasse criar um impedimento
a esses objetivos vitais (como, aliás, sucedeu muitas vezes) provocava ato
contínuo a hostilidade da Inglaterra, que procurava colocar a intrusa no seu
lugar por meio da pressão diplomática, formando uma aliança contra ela ou
lançando-se à guerra, como finalmente fêz contra a Alemanha, em 1914. As
ambições da Itália antes desta data eram quase exclusivamente territoriais. Não
tinha um grande império que defender nem era a sua segurança ameaçada por
qualquer fonte externa. No entanto, cobiçava Trípoli no norte da África, que
esperava tomar à Turquia, e a "Itália irredenta", isto é, sobretudo
Trieste e o Tirol Meridional, que ainda se achavam nas mãos da Áustria.

Pouco antes de 1900 o Império Japonês começou a tomar
parte ativa na política de poder. Durante a segunda metade do século XIX esse
reino do Extremo-Oriente saiu do seu isolamento oriental e passou por uma
transformação que assombrou o mundo. O feudalismo foi abolido e estabeleceu-se
um estado altamente centralizado, com uma constituição modelada pela do Império
Alemão. A ciência, o industrialismo, a educação universal e a conscrição foram
importadas do Ocidente. Cada cidade grande teve os seus bondes, os seus
arranha-céus e a sua iluminação elétrica, se bem que, na opinião da maioria dos
entendidos, isso tudo não passasse de um verniz ocidental na superfície de uma
cultura que continuava a ser fundamentalmente oriental. Em 1895, como já vimos,
o Japão inflingiu à China uma derrota decisiva, tomando-lhe Formosa e
conseguindo carta branca na Coréia. Em 1904-5, os generais e almirantes do
micado surpreenderam ainda mais o mundo com  a  vitória  sobre  a  Rússia.   
Esses  êxitos  militares  valeram  ao império extremo-oriental uma posição
virtualmente indisputada entre as grandes potências.

Um dos  fatos que mais claramente exprimiam as
realidades da política de poder era o crescimento do militarismo.    Uma vez
que as nações  do mundo viviam num  estado  de anarquia internacional,  era
quase inevitável que os seus temores e suspeitas conduzissem a corrida
armamentista. A Europa, especialmente, converteu-se num arraial em armas.
Depois de 1870 cada uma das principais potências desse continente, com exceção
da Grã-Bretanha, adotou a conscrição e o adestramento militar universal. Não só
isso, mas adotaram também a crença de que a segurança nacional dependia quase
inteiramente do grau de preparação militar e naval. Depois de cada pânico
aumentava o tamanho dos exércitos e das armadas, até que, pelas alturas de
1914, todos os países importantes, além de muitos países pequenos, estavam a
cambalear sob um fardo que num mundo mais sensato seria considerado
intolerável. Havia, é verdade, homens cheios de humanidade e sabedoria que
reconheciam o perigo e faziam tudo que deles dependia para afastá-lo. Eram,
porém, muito mais numerosos os que não só negavam a existência de qualquer
perigo mas ainda sustentavam intrepidamente que o militarismo representava um
benefício positivo. Theodore Roosevelt alegava que o treinamento para a guerra
era necessário para preservar as "qualidades varonis e aventurosas"
de um povo. O marechal von Moltke e Heinrich von Treitschke viam no conflito
militar um dos elementos divinos do universo e um "remédio terrível"
para a raça humana. O filósofo francês Ernest Renan justificava a guerra como
uma condição do progresso, "ferroada que não deixa um país
adormecer". Se bem que a disseminação de tais doutrinas não fosse a
principal causa do militarismo, não há dúvida que ela fortaleceu a posição
daqueles que acreditavam nos armamentos e na guerra como os melhores métodos de
resolver os problemas mundiais.

 

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