D. FRANCISCO MANUEL DE MELO

D. FRANCISCO MANUEL DE MELO (Lisboa, 1611-1666). Diz o Sr. Teófilo Braga que foi esse o homem com mais alta concepção da História em Portugal, no século XVII. Este elogio é com referência à História das Guerras da Catalunha, escrita em castelhano, e reproduz o juízo encomiástico de Philarête Chasles. Em língua portuguesa são suas melhores obras: Epanáforas de Vária História, Carta de Guia de Casados, Apólogos Dialogais, Cartas Familiares e Obras Métricas.

Foi homem de vida acidentada: militou em Flandres e na Catalunha, teve como rival em amores D. João IV, foi preso como réu de assassinato, permaneceu em prisão nove anos e ao cabo deles partiu desterrado para o Brasil. Alexandre Herculano tinha em grande conta este escritor, admirando o tacto com que censurava as ridicularias do seu tempo. Castelo-Branco aplaude-lhe a riqueza lingüística.

Revolução Pernambucana

Preparava-se, entretanto, em Portugal uma armada para ir em socorro dos briosos Pernambucanos, que tão denodadamente tinham levantado o grito de liberdade contra os Holandeses; saiu, com efeito, a armada da barra de Lisboa, e apareceu sobre Pernambuco no dia 20 de dezembro: no dia 25 ajuntaram-se todos os cabos de mar e guerra, tendo primeiro lugar João

Fernandes Vieira, principal instrumento de toda aquela empresa; e foi então que o acerto dos conselhos deu direção e ordem à ousadia de espritos inquietos e agitados. Propôs-se o ataque em toda a linha de fortificação, que era assaz longa, no dia 15 de janeiro, e, quando eram 26 do mesmo mês, (432) tremulavam triunfantes as quinas portuguesas nos baluartes, onde dantes se despregavam ufanas as cores holandesas.

Neste acometimento fêz-se mui notável o cabo Henrique Dias, governador das Minas, o qual, sendo encarregado de tomar de assalto o forte de Altané, chamou primeiramente seus soldados, e, com razões e exemplos do esforço dos brancos, lhes mostrou como o valor não consiste nas cores; e com tal energia e com tão boa fortuna, se abalançou à empresa, que em pouco tempo estava senhor daquele reduto.

Não menos se distinguiu um célebre Camarão, cabo dos Índios, homem astuto e valoroso; este, com trezentos de seus soldados, rodeou pela parte da Barreta, passando tanto avante que foi achar uma casa forte guarnecida de Holandeses armados, os quais acometeu e desalojou a um tempo; seguindo-os depois até ao forte de Barreta, onde, encerrados e de novo acometidos, assim de repetidas cargas como de temeroso alarido, conceberam não menos terror pelas armas que pelas vozes, a quem a escuridão da noite fazia mais horríveis; de sorte que, desesperando da defesa, salvando-se uns, perdendo-se outros, retirando-se muitos, desampararam todos o forte, que em breve caiu nas mãos de Camarão, sem golpe de espada nem tiro de mosquete: tal era o respeito que a este cabo tinham os inimigos.

A estas gentilezas de valor e muitas outras que a História refere, a estes refletidos conselhos, e mais que tudo à presteza

e diligência com que os cabos (433) souberam aproveitar o ardor daquele povo, que pugnava por expulsar um jugo estranho, se deve o glorioso acabamento daquela facção, que será sempre pela fama aplaudida e de grande glória para os habitantes de Pernambuco.

(Epanáforas), obra de D. FRANCISCO MANUEL DE MELO

A um parente moço que partia para a guerra

Ide com Nosso Senhor. Lembrai-vos sempre dele e de quem sois. Falai verdade. Não aporfieis. Perguntai pouco. Jogai menos. Segui os bons; obedecei aos maiores. Não vos esqueçais de mim. E sede embora Plínio Júnior, que, se tudo isto fizerdes, ainda sereis mais. Deus vos leve, defenda e traga. — Torre, sábado.

(Cartas familiares, Carta, 97.a)., obra de D. FRANCISCO MANUEL DE MELO

 

(432) mês, que se escrevia erradamente mez, vem do lat. mense, em cuja evolução fonética se desnasalou o primeiro — e — e pereceu desamparado o segundo; o circunflexo veio apenas tonificar o monossílabo. Vocábulos de formação semelhante, com desnasalação, deparam-se em mesa (de mensa), defesa (de defensa), peso (de pensu), teso (de tensu), aceso (de accensu), presa (de prehensa), esposo (de sponsu), mesura (de mensura), ofeso (de offensu), pesar (de pensare), pisar (de pinsare), siso (de sensu), tosar (de tonsare) e em todos permanece o — s — que se segue à sílaba nasal. Os que provêm do som — ce, — ci — latino, esses conservam o — ç — ou mudam-no mais normalmente em — x —, vez (vice), paz (pace), noz (nuce), pez (pice), dez (decem), sagaz (sagace), feliz (felice), atroz (atroce), fiz (feci), foz (fauce), luz (luce) etc.
(433) os cabos = os chefes: ambos esses vocábulos vêm do lat. caput, cabeça: o primeiro diretamente, o segundo através do francês chef.

 

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