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CokkMembro
Acho que não existe dificuldade no que eu, e de fato nós dois, estou significando com conscientemente responsável. Responsável é a pessoa que responde por seus atos. Consciência, tendo como base o que é comumente aceito sobre o termo, sem entrar em emaranhados muito profundos, significa saber que sabe. Por exemplo, se eu movo meu corpo para o lado direito, eu sei que o faço, e assim o ato não se mantém meramente instintivo. (Mesmo que o termo consciência possa significar outras coisas, essa definição rasa é suficiente para o tratamento do problema aqui).Segundo o que você disse, a vontade seria também casual em virtude do acaso geral em que agimos ou estamos inseridos. Interpretando a sua posição eu acharia melhor definir a vontade como subordinada ao acaso, pois o contrário seria dizer que um fato externo pode suscitar ou sugerir uma vontade sem relação com ele, o que poderia ter como consequência a quebra da sequência de eventos relacionados a que você se referiu; e em contrapartida haveria a possibilidade de indicar algo como a culpa de alguém, uma vez que a sequência de eventos fortuitos estaria interrompida e o início de um evento não teria relação com outro senão por meio de algo bastante definido e definitivo - algo a que poderíamos atribuir uma culpa. No entanto, eu concordo que não há organização intrínseca na realidade, e a física e tantas outras ciências tem como principal objetivo estabeler a organização dos eventos. Mas existe uma sutil diferença entre acaso e relação de particulares. Afirmar o acaso seria, em termos de prova e verificabilidade, proporcional a afirmar um sentido unversal da realidade. Há aspectos da realidade que ainda não conhecemos, mas muitos que não conhecíamos e agora conhecemos. A Gravidade não era sequer suspeita de existir antes de Newton descobri-la. Se vivêssemos num período anterior à descoberta da Gravidade não ficaríamos tentados a afirmar que não voamos por mero acaso, supondo que não acreditássemos em algum sentido universal da realidade? Talvez ficássemos tentados. - Veja que não defini a lei da gravitação como a causa do fato de ficarmos presos ao chão, mas que o acaso já perde espaço nessa disputa também; ou seja, fica difícil afirmar tanto o acaso quanto um sentido universal intrínseco nesse caso. Me parece que a relação entre particulares é justamente o que ocorre, e isso justifica a atuação bem sucedida de algumas ciências como a física. Não quero prognosticar com o que disse que conheceremos toda a realidade seja por meio das ciências ou da filosofia, mas que conhecemos ou julgamos às vezes bem sucedidamente alguns casos.Ainda vejo que se pode defender o acaso quanto à realidade externa, mas as razões abaixo me levam a crer que ele não se aplica a seres conscientes.Em se tratando de seres conscientes o acaso ainda se torna mais problemático. Eu concordo que, suposto o acaso como fio condutor da realidade, nossa vontade é igualmente mutável e portanto volúvel. Percebo que aqui precisaríamos de uma definição precisa de vontade; mas, como hipótese, partamos do que se entende usualmente por vontade: uma inclinação irracional a algo. Mas, se o acaso "rege" também os homens, devemos verificar divergências de vontade em períodos históricos intervalados por muito tempo. Vamos tomar a antiguidade e a contemporaneidade. Apesar da obviedade que me parece haver em que existem vontades comuns aos dois períodos, pensemos no seguinte: dificilmente poderíamos afirmar que o grego não tendia a fazer sexo, e o mesmo ocorre no presente. Daí eu vejo que, embora não há ligação concreta entre a vontade do grego e a do homem contemporâneo, elas tampouco são diferentes. Logo, porque deveríamos supor que elas estaríam subsumidas ao acaso? Se o acaso permeia, ou "rege", os homens em suas decisões ou vontades, o que explica a semelhança de vontades entre homens de épocas distintas?Quanto à relação entre vontade ou decisão humana e a realidade, quer permeada ou regida pelo acaso quer não, eu concordo, uma vez que me parece completamente obscuro acreditar que uma pessoa possa desejar ou decidir sem ter como referência a realidade. Isso, no entanto, não justifica a atribuição da casualidade como regente da realidade e do homem.
CokkMembroA relação entre meu exemplo e sua hipótese se baseia no que significo por culpa. Por culpa eu entendo um ato do qual alguém é conscientemente responsável. Partindo dessa definição, não existe culpa fora do âmbito humano, ao menos até que se prove a consciência nos animais, vegetais e assim por diante. Mas talvez por culpa você entenda causa, que, no caso da sua hipótese, não haveria uma específica, mas uma série contínua delas, de modo que é impossível atribuir uma única a uma parte ou ser nessa sequência.Eu vejo alguns problemas no conceito de causalidade. Eu evitaria recorrer a ele sempre que possível, e a sua hipótese me permite, passada a redefinição de culpa, dizer que o lenhador que cortou a árvore foi o culpado - no sentido em que culpa foi definida acima - pelo acidente. Se ele tivesse olhado ao seu redor e notado um homem próximo e consequentemente a possibilidade de este ser atingido pela árvore, poderia não haver tal acidente.Pássaros não me parecem ter a capacidade de lidar com situações complexas como essa, ou seja, eles não têm capacidade de problematizar as possíveis consequências de seus atos. Portanto, um pássado provavelmente não tenha consciência alguma do seu ato, que seria motivado por instinto.Acho que a distinção entre culpa e causa resolve o problema. Além disso, a teoria do caos aplicada a seres conscientes é como o darwinismo aplicado a relações sociais.Abraços.
CokkMembroÉ como eu disse antes de entrar com um pouco mais de profundidade no assunto específico. Eu não consigo formular nenhum exemplo agora porque passei por essa questão de sobrevôo. O que eu tentei nos posts foi discorrer sobre uma possível, porém insegura, interpretação alternativa do problema, pensando que possivelmente poderíamos colocar em panos mais claros a alnternativa à lógica aristotélica, que existe e não em pequeno grau.Encontrei uma página cujo conteúdo aborda esse assunto especificamente. Não li (hora de sair do trabalho, hehe), mas o título indica a pertinência dela: Lógica e linguagem — Problemas com a dupla negação. Duas negações nem sempre se cancelam!http://www.gregosetroianos.mat.br/logicdn/index.htmlSe o link falhar, ele tá relacionado na seguinte página: http://www.gregosetroianos.mat.br/logica.asp
CokkMembroDesculpa, eu postei antes de ver o seu último comentário.Em lógica, considerando sua corrente contemporânea, a dupla negação sempre, em todos os casos resulta em afirmação?
CokkMembroContinuando sobre um terreno em que não me sinto totalmente seguro ainda…Entendi a sua posição, mas ainda acho que frases com tal forma não são mal formuladas, seja logica ou sintaticamente, pela seguinte razão.Pode-se encarar a negação de nada não como oposição positiva dela, isto é, afirmando a existência do que com nada se pretendeu negar, mas como uma tautologia. Por exemplo:Não há nada que possamos fazer.se fôssemos quantificar o nada, diríamos: "Não existe o que possamos fazer". Mas o artigo "o" na frase envolve unicidade, e só possui unicidade o que existe. Me parece contraditório atribuir existência àquilo que não existe. Assim, o nada em enunciados de tal forma pareceria reforçar a negação, e não sugerir uma oposição positiva. De fato, eu posso dizer: "Ela não é nada bonita" sem me confundir logicamente com o valor de 'nada' no enunciado, de modo que o interpreto como reafirmação da impossibilidade de existência de qualquer traço bonito na moça a quem eu disse isso.Sei que a linguística não se opõe ao nada como função de ênfase, uma vez que a correção pra ela depende da consagração do uso.Como aviso, lembrando a primeira frase desse texto, digo que não tenho segurança completa no que acabo de defender, de maneira que qualquer crítica construtiva ou desconstrutivamente educada é bem-vinda.
CokkMembroNão vejo o menor sentido na palavra culpa senão quando aplicada a seres conscientemente responsáveis. Não há culpa envolvida, a não ser em sentido metafórico, quando um animal come o outro – pois, que razões nos permitiriam sustentar que a presa tenha capacidade de prever ou conjecturar a presença ou o ataque do seu predador? Se ela tivesse tal capacidade, a que comumente se chama racional ou especulativa, ela poderia ser tida como culpada ou responsável.Obviamente discordo da sua conclusão, uma vez que não aceito sua hipótese. Mas, além disso, mesmo se sua hipótese me fosse plausível, eu não conseguiria chegar à seguinte afirmação: "pois nós não existimos".Abraços.
CokkMembroUm outro problema consiste na quantificação que você, willgod, fez de nada. Você 'tranformou' nada em algo. Isso é problemático, e requer, para ser sustentado, alguma argumentação em âmbito estritamente lógico.Enfim, não me parece precipitado dizer, Russell e Quine aparentemente concordam, que apenas o que existe pode ser quantificado, de modo que nada, por definição aquilo que de forma alguma existe, seja exatamente inquantificável."Não há nada que possamos fazer" parece ser um contra-exemplo eficiente da frase usada por você como exemplo.Abraços.
CokkMembroEu não estou seguro, mas acho que a dupla negação só equivale a afirmação na lógica clássica, de Aristóteles. Se não me engano foi em Russell, ou em algum contemporâneo seu da Linguagem, que li sobre o assunto.Gramaticalmente não há dificuldades também. Alguns dicionários mais recentes possuem um apêndice explicativo em referência a casos de dupla negação. Segundo sua caracterização, o uso de não e nada, desde que nada seja posposto a não, significa tão-somente negação simples, e não algo como a negação da negação.Ou seja, não é mau costume linguístico de brasileiros e, se estou certo, tampouco erro lógico dizer "...não... nada..."
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