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27/08/2005 às 0:56 #70264Miguel (admin)Mestre
Todas as ações ditas racionais têm a sua cota de motivações irracionais. O irracionalismo na lógica humana é renegado pela consciência, mas ele co-existe paralelamente, tal como o universo negativo de Dirac.
Se nossa consciência repentinamente se confrontasse com nosso irracionalismo, certamente ficaríamos imóveis, em estado de choque, não conseguiríamos agir. Por isso, deve existir um inconsciente recalcado, funcionando, mais ou menos, como uma dimensão paralela de antimatéria, ou melhor, de “antipensamento”…
27/08/2005 às 13:07 #80178Miguel (admin)MestreDe várias maneiras e em muitas ocasiões os seres humanos agem “irracionalmente”: ato reflexo, ato falho, instinto, sentimentos (raiva, medo, alegria, tristeza), subconsciente, manifestação de desejos reprimidos, projeção de nossas insatisfações em objetos externos, fetichismo sexual, Complexo de Édipo, etc
Alguns desses, nós identificamos na esfera psicológica, outros na esfera física/biológica.
Sigmund Freud descobriu ou identificou muito desses aspectos psicológicos, tanto no indivíduo isolado quanto em grupos.
Ao analisar o indivíduo, Freud concluiu que nossa consciência é a menor parte de nossa mente, pois na verdade, a mente é muito mais preenchida pelo subconsciente.
Já em sua análise de grupos/psicologia social, Freud mostra como os seres humanos agem irracionalmente, motivados por impulso. Em grupo, cada indivíduo assume uma identidade grupal, e essa identidade grupal, que é maior que cada identidade individual, orienta as decisões do grupo.Karl Marx sabia que “o animal é imediatamente um com sua atividade vital. O homem torna sua própria atividade vital objeto de sua vontade e sua consciência (O Capital).
Marx também disse que o ser social dá origem ao pensamento, mas ele mesmo é envolvido no pensamento. Ao tentar compreender a mim e a minha condição, nunca posso permanecer perfeitamente idêntico a mim, pois o eu (self) que está tentando entender, bem como o eu que está sendo entendido, são agora diferentes do que eram antes. E se eu tentasse compreender tudo isso, exatamente o mesmo processo se estabeleceria.
E a máxima materialista “não é a consciência do homem que determina seu ser, porém, ao contrário, é seu ser social que determina sua consciência”.Na sabedoria oriental milenar, o homem pré-existe ao seu pensamento de modo que eles invertem a máxima de Descartes de “Penso, logo existo” para “Existo, logo penso”. E não é necessária essa afirmativa para saciar a dúvida racionalista: “eu existo?” A meditação já se encarrega de responder essa pergunta pelo simples ato de sentir a vida, focar sua atenção de forma unidirecional, perceber que os pensamentos são apenas ferramentas, mas nós não somos nossos pensamentos.
O homem possui pensamento, mas apesar disso, agimos pelo irracionalismo. O pensamento se encarrega de planejar, antes e durante a ação, ele diz “como vamos fazer”, mas o irracionalismo diz “quando, porquê e onde”. E somos capazes de dar explicações racionais ao “quando, porquê, onde” quando perguntados sobre, mas o que motiva o homem não é sua razão, mas sim sua vontade. É o sentimento que impulsiona para a ação material, e é a ação material (res extensa) que determina nosso modo de vida (e não produção mental, res cogitans).
Toda teoria de que o homem é “irracional”, pode abrir margem para questionarmos também: “somos seres determinados?”Mileto, convido-o a participar também do fórum “você abdica de sua privacidade em nome de algo?”
27/08/2005 às 22:49 #80179Miguel (admin)MestreÉ bem fácil sacar o irracionalismo. Basta você começa a se perguntar ad infinitum por que está fazendo o que faz…
Exemplo:
– Estou aqui para aprender. – Só para aprender? – Aprender para quê? E por que aprender justamente isso e não outra coisa? Mas é só por isso? Etc.
28/08/2005 às 3:27 #80180Miguel (admin)MestreE se você começa a se perguntar ad infinitum: de onde veio o mundo?
Onde iremos chegar com esse questionamento? Em Deus? No inexplicável? No Big Bang?
Esse é um ponto importante, e até pode, de certa forma, “provar” que o homem é um animal. irracional. Afinal, quanto tempo temos de existência como indivíduos? Muito pouco se comparado ao tempo de existência da raça humana. Tudo já estava pronto quando nascemos. Nós só absorvemos (mal) todo esse conhecimento (não criamos quase nada). E se compararmos o nosso tempo de existência ao tempo que a vida existe neste planeta? Se se comparamos ao tempo que existe o mundo? E o universo? Somos um grão de areia chamado raça humana nas areias de uma praia chamada tempo.
Conhecemos algo a respeito do mundo e do universo com segura certeza? Temos alguma certeza da existência ou inexistência de Deus?
Enquanto a ciência ou qualquer outro tipo de conhecimento não der uma resposta satisfatória e definitiva sobre tudo isso, o homem pode ser considerado um ser irracional, pois ele não tem autoridade se quer para afirmar que pensa.
O que é o pensamento? Quem pode afirmar que o homem pensa, se não outro homem dotado das mesmas virtudes e vícios28/08/2005 às 14:24 #80181Miguel (admin)MestreSomos um grão de areia chamado raça humana nas areias de uma praia chamada tempo…
…porém, há alguns de nós que se vêem como parte de um todo chamado deus de onipotência e vida eterna, o que renega toda nossa insignificância objetivamente observável frente ao universo…
28/08/2005 às 15:29 #80182Miguel (admin)MestreSim é outro possível ponto de vista, e eu concordo com os dois.
Podemos ver nós mesmos como grãos de areia ou também podemos nos ver como uma praia (pois fazemos parte de algo maior)
São duas visões antagônicas e eu acho que, pessoalmente, concordo com a primeira quando diz respeito ao nosso “conhecimento humano”, e concordo com a segunda quando diz respeito a “sabedoria” humana.Obs: caso eu não tenha explicado bem, usei a palavra “conhecimento” no sentido de algo relativo, valores relativos, não absolutos, não universais. E a palavra “sabedoria” expressa (nesse caso) algo perfeito, universal, que não pode ser relativisado, que é absoluto.
Então, do ponto de vista de conhecimento (relativo) não somos ninguém para afirmar o certo e o errado. Somos grãos de areia…
E do ponto de vista da sabedoria (universal) fazemos parte de algo maior que nós.O difícil é descobrir o que é conhecimento (relativo) e o que é sabedoria (universal), sem impor nenhum valor.
28/08/2005 às 15:35 #80183Miguel (admin)MestreCerto, mas não foi sobre isso que comentei…
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“Metaphysics means nothing but an unusually obstinate effort to think clearly.”
[William James]“Ein Mensch kann zwar alles tuen was er will, aber nicht wollen was er will!”
[Arthur Schopenhauer]31/08/2005 às 3:04 #80184Miguel (admin)MestreRenan,
Essa imagem te causa algum tipo de desconforto óptico?
31/08/2005 às 15:26 #80185Miguel (admin)MestreTenho até medo de responder (penso que pode ser uma pegadinha..rsss)
Mas tudo bem, vou responder:
Sim causa um desconforto.
E gostaria de elogiar a forma como você vem “falando” e abordando a filosofia nos ultimos dias (você está usando figuras, problemas matemáticos, ilusões de ótica, etc… o que torna o aprendizado mais dinâmico e empírico)- Parabéns!31/08/2005 às 15:59 #80186Miguel (admin)MestreEu empreguei essa mensagem no fórum Ateus.net para demonstrar que relutamos em aceitar a realidade da coisa-em-si tal como ela se apresenta. A consciência é falaciosa, pois é tão realista que não conseguimos perceber as distorções sutis que ela produz.
Daí, a imagem ser tão incômoda aos olhos. Queremos distorcê-la para que se pareça com o que já estamos acostumados a ver!
02/09/2005 às 19:39 #80187Miguel (admin)MestreCONTRA O PRINCÍPIO ANTRÓPICO FORTE
Há alguns anos atrás, formulei um princípio o qual denominei O Imperativo da Existência:
“A existência pretere as demais qualidades vitais.”
Como ninguém aqui está almejando o PHD ou tem intenção de hipnotizar, vou explicar no popular mesmo…
Imaginem um depósito cheio de vasos estocados, aguardando a passagem pelo processo de controle de qualidade na fábrica; se for verdade aquela máxima que diz “vaso ruim não quebra”, depois de uma série de terremotos imprevistos, os únicos vasos que irão sobrar serão os ruins…
…os vasos mais belos e úteis, todos espedaçados!
Somos os vasos “ruins”, até agora…
04/09/2005 às 23:06 #80188Miguel (admin)MestreLendo livros sobre Lacan, deparei-me diversas vezes com um estranho conceito: é possível existir “paixão pela ignorância”…
05/09/2005 às 16:15 #80189Miguel (admin)Mestre1)
O Imperativo da Existência que voce descreveu vai contra o darwinismo.
Eu só não concordo com o seu imperativo porque ele já parte de uma premissa não-verificável: “vaso ruim não quebra”- isso é apenas um dito popular, sem qualquer demonstração filosófica ou científica.
De qualquer modo, é uma forma inteligente e lógica de desconstruir um dito popular. Voce quer dizer então que toda pessoa que acredita que “vaso ruim não quebra” ela própria por afirmar isso, é tambem um “vaso ruim”.2)
é possível existir “paixão pela ignorância”…???
Não ficou muito claro para mim. Eu entendo essa pergunta de dois modos totalmente distintos:a) Um sujeito necessita de razão para amar? Se a pergunta foi essa, nesse caso eu concordo que embora nós buscamos racionalizar nossos desejos, na verdade não há necessidade de razão para senti-los, mas apenas para verbaliza-los.
b)É possível um sujeito amar a ignorância, como se a ignorância fosse um objeto?
Se a pergunta foi essa, eu entendo que o homem é curioso (talvez pot natureza?) e sendo assim, não é possível amar totalmente a ignorância.
Todavia é possível ao homem crer que a ignorância é sinonimo de felicidade, mas sendo assim, ele não estaria sendo amante da ignorãncia, pois mesmo cultuando a ignorância, ele ainda busca ou pratica um conhecimento que o leve a felicidade.05/09/2005 às 22:18 #80190Miguel (admin)MestreVocê está equivocado: repense o que escrevi observando os pontos centrais…
“A existência pretere as demais qualidades vitais.”
“Paixão pela ignorância = gozar e não querer saber de mais nada.”
06/09/2005 às 3:44 #80191Miguel (admin)MestreTa tudo muito bom, mas a afirmação:
“Como ninguém aqui está almejando o PHD… ”
(postada por você em sexta, 02 de setembro de 2005 4:39 pm) foi uma afirmação muito infeliz.
Como voce pode afirmar isso sem nos conhecer????
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