Racionalismo versus Empirismo

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  • #70637
    jota erre
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    Por definição, o Empirismo é uma doutrina filosófica que defende que o conhecimento só pode ser adquirido através dos sentidos.E o Racionalismo é a doutrina que defende, ao contrário, que é através da razão que conhecemos a realidade.Em muitos tópicos o sr Cientista e outros têm defendido que a luz da razão é demonstrada cabalmente pela Ciência.No entanto, defendem que somente através de elementos empíricos podemos conhecer a realidade, o que se contradiz, porque a ciência não se vale somente do conhecimento empírico, mas também hipotético e teórico.O pretenso positivismo que defendem, portanto, não se sustenta, porque não segue suas próprias definições.Gostaria de respostas.

    #84579

    Vou falar do único ramo da ciência que conheço um pouquinho – física. Quanto a origem do conhecimento, a física é empírica, claramente. E toma emprestado instrumentos do racionalismo (como a causalidade). Como se dá essa mistura de empirismo e racionalismo?Primeiro, há o trabalho de pesquisa. Agrupa-se fatos. Aqui, note que a repetição é fundamental e, até hoje, não houve da natureza um descaso quanto a isso: parece seguir uma ordem, leis fundamentais (o "reducionismo" físico - pesquise no google caso não saiba o significado do termo - é um exemplo interessante disso). Mas, o fato principal a anotar que esta parte é toda empírica, onde o físico coleta todos os fatos sobre seu estudo.Depois, há a teoria, o modelo, que não são fatos, e por isso não podem ser confirmados definitivamente. Uma teoria tem o intuito de mostrar "como as coisas são" e prever eventos futuros. E uma teoria é confirmada ou refutada conforme as previsões e os prognósticos se mostrem corretos ou incorretos. Aqui entra os instrumentos da razão, como a causalidade já referida.O problema de céticos empiristas como Hume, que mostraram a fragilidade da ciência, é ignorar o fato de que a ciência funciona. Não há razão alguma para esperarmos, de início, por pura especulação racional, ordem da natureza. O mundo empírico é o mundo das incertezas, como bem sabia Descartes. Mas aqui há o erro de Descartes - de não saber que fatos são inegáveis - e o de Hume, se considerado à luz do século XXI - que a ciência funciona bem pra caramba!Primeiro, o de Descartes. Aqui, basta uma citação do grande Bertrand Russell:"É óbvio que não existe um dualismo entre fatos verdadeiros e falsos; existem única e exclusivamente fatos. Seria um erro, obviamente, dizer que todos os fatos são verdadeiros. Seria um erro porque verdadeiro e falso são correlativos, e somente diríamos de uma coisa que ela era verdadeira se fosse a espécie de coisa que poderia ser falsa. Um fato não pode ser nem verdadeiro nem falso."Neste ponto, a ciência pode saber tudo o que já ocorreu - isto é, os fatos. Mas como ela prevê as coisas? Aqui entra o erro de Hume. Para dar um exemplo exagerado - dito por Richard Dawkins em seu livro "O Rio Que Saía do Éden":"A ciência ocidental, com base na evidência confiável de que a Lua orbita em torno da Terra a uma distância de 382 mil quilômetros, conseguiu colocar pessoas em sua superfície. A ciência tribal, acreditando que a Lua estava um pouco acima do topo das árvores, nunca chegará a tocá-la, exceto em sonhos."Ou seja, a natureza nos mostra uma ordem, uma causalidade, embora pudesse ser de outra forma (é uma particularidade do mundo empírico que não entendemos - não tem haver com o "racionalismo", com a razão como início do conhecimento). Seria tolo negar esta ordem, ainda mais quando esta ordem nos dá tantos resultados. "Funciona porque é verdadeiro, é verdadeiro porque funciona". Claro que muitos filósofos levantariam o dedo contra isto, e com razão. Mas estamos investigando a natureza e vêm funcionando muito bem. Pelo caráter inegável e por estar funcionando extremamente bem, nos mostra um conhecimento seguro. "Ciência é o que você sabe, filosofia é o que você não sabe", para citar uma piada de Bertrand Russell.A ciência é segura? É, por causa do racionalismo crítico de Karl Popper (a teoria epistemológica que adoto).Para Popper, é a possibilidade de falsificar uma hipótese científica que permite a correção e o desenvolvimento das teorias científicas, e em última análise o progresso da ciência, embora nenhuma teoria possa jamais ser fundamentada de forma conclusiva. O conhecimento é portanto essencialmente conjectural, sendo impossível a certeza definitiva.Em resumo, Popper afirma que é impossível que um modelo científico seja considerado verdadeiro. É uma forma de tentar sempre alcançar a verdade. Eu gosto dessa proposta de trabalho, estar sempre aberto ao erro. Ao mesmo tempo, acho bobo a teimosia relativista em afirmar que não estamos "nos aproximando" da verdade...Para o cientista, é básico separar fatos e teorias, conhecimento certo e conhecimento conjectural.Enfim, tudo isto aqui é fruto de leituras mal-feitas, então qualquer erro me avisem aí.  ;D(ah, eu vou fazer física. fiz a matrícula ontem. as aulas começam no próximo mês.  ;D )

    #84580
    jota erre
    Membro

    Sr. JuniorGostei muito da sua leitura sobre Popper.No entanto, gostaria de fazer, primeiramente, uma observação:Você diz "primeiro, há o trabalho de pesquisa. Agrupa-se fatos". Popper defende que a Ciência é hipotético-dedutiva (do geral para o particular), e não indutiva (dos particulares para o geral).Nesse sentido, o cientista deve primeiro criar uma hipótese, para depois buscar refutá-la através de experimentações e observações. Se ela resiste, então permanece válida e é aceita como teoria; se não, é descartada.O equívoco de sua leitura de Popper é que, para ele, diferentemente de para a ciência antiga, o conhecimento não provém dos fatos, mas estes somente comprovam ou refutam uma teoria; e esta sim, que é o início do conhecimento.Isto não problematiza alguma coisa?

    #84581

    Opa, agora que eu notei, você me perguntou uma coisa e eu acabei respondendo toda minha visão sobre a ciência. ;D Me desculpe, às vezes sou assim. Tava distraído…Agora, vamos continuar.A idéia era dividir fatos e teorias - ou modelos -, e na teoria entrar o racionalismo, e, através dos fatos - que são certos -, garantir a entrada da ciência na discussão de problemas filosóficos, legitimizando assim nosso uso dela como "razão" (ô palavra de sentido amplo! usavámos - ao menos eu - mais como sinônimo de "método correto de pensar", não a concepção racionalista de origem do conhecimento).Mas bem! O que você disse problematiza sim. Problematiza porque toda ciência fica incerta, e, assim, fica impossível levar qualquer coisa dela para o campo da filosofia, ou qualquer outro campo, como estávamos fazendo.Se expliquei mal qualquer ponto, me avise! Bem, estou confuso! Assim a ciência fica frágil. Mas ainda é um dos melhores conhecimentos que temos, não acha?

    #84582
    jota erre
    Membro

    Sr. JúniorGostaria de saber se o sr está identificando "teoria" com "modelo", que, pelo menos na visão contemporãnea de Ciência, são diferentes. Amanhã, postarei as definições com citações, cujas fontes não tenho aqui.Mas a questão é: estamos interessados em compreender o que? A verdade? Que verdade?Segundo muitos autores, a verdade é relativa, parcial, mesmo que não totalmente.Aristóteles, desde muito, explicou-nos no início do livro II de sua Metafísica que nenhum homem sozinho poderá encontrar a verdade, mas cada um dará a sua contribuição historicamente para o alcance da mesma. Kant, com seu criticismo,  vai nos explicar a subjetividade das representações que temos das coisas. E, enfim, muitos outros vão explicar o mesmo assunto.Mas quando falo em Racionalismo, Empirismo e Ciência, estou querendo lembrar que existem vários formas de conhecer o mundo. Mas a história nos mostra que não tácito elegermos um único para explicá-lo.Concordo que a Ciência seja muito abrangente, mas há questões que ela não responde, como as relativas à Lógica, à Ética e à própria teoria do conhecimento (porque ela já define o crivo de seu conhecimento como sendo os fatos), que são elementares para o ser humano.Para se ter uma idéia, a História da Ciência não é uma disciplina que compete à ela mesma estudar, mas à Filosofia, porque as bases da ciência remontam às definições contemporâneas dela mesma.A Ciência (Ciências Naturais), assim, mostra-nos apenas um aspecto do mundo, que é o material, mas o homem não é somente material. É social, moral e enfim, tem diversos aspectos existenciais.Muito embora se tenha discutido (principalmente no século XIX) sobre o status das Ciências Humanas como Ciência; ainda assim, abrangendo mais este campo de conhecimento, a Ciência não nos permite conhecer as bases do próprio conhecimento, porque dogmatiza já de início suas fontes.Claro que isto não é um defeito, porque pelo menos ela dá certeza daquilo que alcança.(ou não? Tomas Khun afirma que a Ciência apenas nos fala sobre o provável, mas o que é provável não é e nem deixa de ser...)Em todo caso, como a Ciência pode nos aproximar de uma "verdade" se ela não discute o próprio conhecimento?

    #84583
    Cokk
    Membro

    Com relação ao primério comentário do Junior Martuchelli:Ciência física não é a minha área, mas eu sei que o princípio de causalidade não se relaciona, em sentido algum, ao que Russell diz no que tange à física teórica. Este, inclusive, é crítico ferrenho das teorias que se assentam sobre o referido princípio (Cf. Análise da Matéria). E também tenho dúvidas quanto à causalidade enquanto princípio na teoria de Newton - embora eu saiba efetivamente que a física moderna não lida com o princípio de causalidade.Pelo o que lembro das minha leituras de Newton, um pouco desgastadas pelos cupins da memória, a causa seria Deus, do qual emanaria o espaço absoluto como sua manifestação interativa com a realidade. Portanto, não existiria uma causa na realidade. Por exemplo: a lei da gravitação não é a causa dos objetos não se desprenderem do solo da Terra, mas um fato percebido e ulteriormente teorizado e generalizado cuja causa é dispensada fisicamente e atribuida metafisicamente. Segundo o próprio Russell, a utilização do princípio de causalidade conduz a um circunlóquio de causas, o que, ao meu ver, não tem como fim último senão uma substância originária, por exemplo Deus; tal substância, contudo, não interessa em nenhum grau à física ou a ciência rigorosa alguma.Jacob Bronowski, filósofo e cientista - e não propriamente filósofo da ciência - escreveu, em Ciência e Valores Humanos, que a ciência não é uma apreensão da ordem dos eventos, os quais seriam de fato desorganizados, mas antes é sua criação. Ou seja, cientificamente, modelamos a realidade segundo propósitos determinados. Isso explica a diferença entre os diferentes modelos (não uso esse termo como sendo técnico, mas significando o mesmo que paradigma ou padrão) científicos e sua dinâmica teórica. A esse propósito, aliás, Quine, no final do artigo Sobre o que há, caracteriza muito bem as teorias, sejam filosóficas ou científicas, dizendo que cada uma é dotada de sua significação e referência adequadas ao seu desígnio, do que não resultaria necessariamente um erro de uma teoria se comparada a outras. A fenomenologia não contradiz a física nem vice-versa, pois são apenas dois modos distintos de (re)construção da realidade, cada qual com seu fito específico.Quanto à distinção entre racionalismo e empirismo, temos que ter cuidado, pois essas classificações não são precisamente delimitadas. O racionalismo cartesiano difere do racionalismo leibniziano; o empirismo de Locke não é o mesmo que o de Berkeley e assim por diante. Abraços.

    #84584
    Luka
    Membro

    Excelente, tópico, na minha opinião.Acrescentando, sobre a Filosofia de Popper:Popper cunhou o termo "Racionalismo Crítico" para descrever a sua filosofia. Esta designação é significante e é um indício da sua rejeição do empirismo clássico e do observacionalismo-inductivista da ciência, que disso resulta. Apesar disso, alguns académicos, incluindo Ernest Gellner, defendem que Popper, não obstante não se ter visto como um positivista, se encontra claramente mais próximo desta via do que da tradição metafísica ou dedutiva.Popper argumentou que a teoria científica será sempre conjectural e provisória. Não é possível confirmar a veracidade de uma teoria pela simples constatação de que os resultados de uma previsão efectuada com base naquela teoria se verificaram. Essa teoria deverá gozar apenas do estatuto de uma teoria não (ou ainda não) contrariada pelos factos.O que a experiência e as observações do mundo real podem e devem tentar fazer é encontrar provas da falsidade daquela teoria. Este processo de confronto da teoria com as observações poderá provar a falsidade (falsify) da teoria em análise. Nesse caso há que eliminar essa teoria que se provou falsa e procurar uma outra teoria para explicar o fenómeno em análise. (Ver Falseabilidade).Este aspecto é fulcral para a definição da ciência. Científico é apenas aquilo que se sujeita a este confronto com os factos. Ou seja: só é científica aquela teoria que possa ser falseável (refutável).Uma afirmação que não possa ser confrontada com a sua veracidade pelo confronto com a realidade não é científica. Será talvez uma especulação metafísica.Para Popper a verdade é inalcançável, todavia devemos nos aproximar dela por tentativas. O estado actual da ciência é sempre provisório. Ao encontrarmos uma teoria ainda não refutada pelos factos e pelas observações, devemos nos perguntar, será que é mesmo assim ? Ou será que posso demonstrar que ela é falsa ? Einstein é o melhor exemplo de um cientista que rompeu com as teorias da física estabelecidas.Popper debruçou-se intensamente com a teoria Marxista e com a filosofia que lhe é subjacente, de Hegel, retirando-lhes qualquer estatuto científico. O mesmo em relação à psicanálise, cujas teorias subjacentes não são falseáveis (refutáveis).O seu trabalho científico foi influenciado pelo seu estudo da teoria da relatividade de Albert Einstein.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_PopperAliás, uma idéia que quero propor, caso já não seja um hábito do fórum - sou nova por aqui - é a indicação das fontes de onde, eventualmente, extraímos os textos.

    #84585

    Sr. JúniorGostaria de saber se o sr está identificando "teoria" com "modelo", que, pelo menos na visão contemporãnea de Ciência, são diferentes. Amanhã, postarei as definições com citações, cujas fontes não tenho aqui.

    Em meu dicionário de filosofia que uso para referência são sinônimos. De qualquer forma, o meu raciocínio (e isto servirá para as outras respostas) são frutos de leituras combinadas e um tanto desorganizadas, de forma que cada uma talvez use com um sentido. Estou de intrometido aqui para aprender com vocês! ;D Tô curioso agora.

    Mas a questão é: estamos interessados em compreender o que? A verdade? Que verdade?Segundo muitos autores, a verdade é relativa, parcial, mesmo que não totalmente.

    Sim, a verdade. Acho que o sonho de todo filósofo é encontrar uma teoria que sirva de guarda-chuva teórico para fundamentar a ciência e garantir o conhecimento, não?Será que na ciência a certeza é impossível? (de repente me vem à cabeça o princípio da incerteza, claro!). De minha parte, tentei formular a certeza discernindo fatos e modelos, de forma que garantiria a verdade da ciência de hoje através dos fatos, mesmo que no futuro ela vá se tornar uma "verdade local", como o modelo newtoneano. Mesmo assim, nada garante que a natureza continuará se comportando da mesma forma.Então o mundo empírico é uma bagunça mesmo, mas ao menos nos traz algo novo; e o critério da falseabilidade é uma ótima forma de trabalhar. E quanto ao racionalismo na concepção de alcançar novos conhecimento? Como vai o racionalismo hoje em dia? Será que o que nos resta é algo próximo ao relativismo? Se for, apenas próximo, porque a falseabilidade garante a evolução do conhecimento.O caso é o seguinte: as ciências humanas, como você disse, tem o objeto diferente do estudo das ciências naturais. Por exemplo, tem de lidar com a liberdade humana; com a noção de ideologia, etc. Mas, o grande porém aqui é que nem todos os objetos do estudo das duas ciências são diferentes. Podemos pegar teorias científicas e tirar implicações filosóficas delas? Sei que a filosofia pretende fundamentar a ciência: mas até que ponto a ciência ajuda a filosofia?Se usamos teorias científicas para construir alguns aspectos da nossa filosofia, também deveríamos aplicar o critério da refutabilidade na própria filosofia? E algumas idéias científicas são filosoficamente pertinentes: como a nossa pequenez diante do tamanho do universo, o estudo dos químicos sobre as emoções, e, claro, a teoria da evolução... (que já foi utilizada por Habermas, por ex.)

    Em todo caso, como a Ciência pode nos aproximar de uma "verdade" se ela não discute o próprio conhecimento?

    Quer dizer, se os cientistas já não parecem dar bola para a filosofia? Se for, parece que ocorreu esse divórcio mesmo... :'(

    Ciência física não é a minha área, mas eu sei que o princípio de causalidade não se relaciona, em sentido algum, ao que Russell diz no que tange à física teórica.

    Neste ponto, a opinião é minha mesmo. Misturei minhas leituras de Russell e Popper, para refutar os céticos. Mas como vê, a refutação falhou! A mecânica quântica nos dá uma nova noção de causalidade, aliás. Mas não é algo que eu já tenha estudado.Continuando, a diferença está em dizer "y acontece depois de x" e "y isso acontece por causa de x"? Pois que há sucessão nos acontecimentos temos certeza, isto é, não pomos em cheque que o tempo exista. Mas não temos certeza que a sucessão continuará a mesma, e por isso é necessário dizer que não houve causalidade?Isto aplicado à vida pessoal é uma confusão das boas.Sobre o que você postou de Bronowski, achei intrigante! Quando puder, lerei mais sobre.

    #84586
    Cientista
    Membro

    Puxa, dei uma lida agora nestes posts e acheio-os excelentes, a despeito de qualquer falha que contenham. Um poço mesmo de bons conhecimentos teóricos.  :)Estou muito de acordo com a defesa da ciência postulada pelo Junior! Gostaria entretanto de fazer uma exposição, que não contraria a corrente dos pensamentos expostos mas talvez, em palavras simples, ponha alguma luz sobre o cerne destas questões. 1- Existe um mundo real, externo a nossos egos e que independe de observadores humanos para existir. 2- Este é um mundo incrivelmente complexo. Sobre um único átomo de Hidrogênio, saber-se todos os valores de energia, velocidade linear, momento, etc.; de todos suas partículas e subparticulas seria já um problema razoável; imaginemos agora saber tudo isto sobre uma gota d'água, com seus bilhões de bilhões de átomos H & O. Nem precisamos passar para as construções mais complexas para entender que a complexidade informativa do mundo real é exasperadamente grande.3- Qualquer observador funciona como um câmera fotográfica diante do mundo, captanto informações superficiais e parciais sobre estes "sistemas" que podemos chamar imagens (um atomo H já é um sistema).4- Estas imagens podem ser mais ou menos acuradas e completas e, naturalmente, são acumuláveis. Cada uma é um pixel de uma imagem absurdamente grande, que jamais se completa inteiramente, devido a seu tamanho, praticamente infinito.5- A verdade sobre os sistemas do mundo são os próprios sistemas eles mesmos, não há imagem ou coleção delas suficientemente verdadeira (completa) sobre eles.  Nenhum observador pode jamais apreender toda a realidade sobre qualquer sistema, tese também defendida por Heisemberg.6- Erros de interpretação, como o erro de paralaxe da ciência tribal, acreditando que "a Lua estava um pouco acima do topo das árvores", devem-se a insuficiência dos conhecimentos prévios e da distância do objeto "fotografado" até os sentidos do observador. Quanto mais um objeto esteja obscurecido (como pela distância ou pela falta de luz) menos volumosas serão as informações captadas pelo observador-fotógrafo, tornando uma imagem relativamente acurada mais dependente do "acúmulo de exposições" que amiúde são tomadas de "ângulos" diferentes.7- Quando foca o próprio subjetivo humano, o homem depara-se com uma imagem difusa e imprecisa, de contornos poucos nítidos, que muito mais se assemelha a eventos dinâmicos do que a seres estáticos. Vale-se de fragmentos de informação bastante escassos, que são a verbalização tanto sua (interna) quanto de relatos de sentimentos alheios, imprecisos que são por natureza. Nada mais normal do que serem estas focagens naturalmente dificeis de consenso.Saudações, Luiz

    #84587
    Brasil
    Membro

    Popper defende que a Ciência é hipotético-dedutiva (do geral para o particular), e não indutiva (dos particulares para o geral).Nesse sentido, o cientista deve primeiro criar uma hipótese, para depois buscar refutá-la através de experimentações e observações. Se ela resiste, então permanece válida e é aceita como teoria; se não, é descartada.O equívoco de sua leitura de Popper é que, para ele, diferentemente de para a ciência antiga, o conhecimento não provém dos fatos, mas estes somente comprovam ou refutam uma teoria; e esta sim, que é o início do conhecimento.

    Olá Ed Junior Achei muito interessante e didático. E, gostaria de fazer-te uma pergunata se vc me permitir abusar de teus conhecimentos.Na sua opinião ou na opinião de Popper (se é que vc vai sabre a opinião dele sobre isto), se ao criar uma hipótese e buscar refutá-la através de experimentações e observações, o cientista não conseguir validá-la mas também não conseguir invalidá-la, ele deve classificá-la como improvável, deve descartá-la ou deve continuar investigando?Pelo que eu entendi, se ela não for INvalidada, ela passa a ser uma teoria.Desde já agradeço a atenção.

    #84588
    Luka
    Membro

    Brasil,Popper propõe justamente a resolução desse impasse ao delimitar as questões que devem ser objeto da análise científica. Veja:O peru indutivista Antes de mais nada, para tentar compreender o jogo da natureza é preciso acreditar que há regras para serem compreendidas. Assim como nosso alienígena visitante não podia ter certeza de que os jogadores no Maracanã não estavam simplemente correndo ao acaso atrás da bola, ou que as regras não mudariam do primeiro para o segundo tempo, nós também não podemos ter certeza de que a natureza possua uma ordem e que esta ordem seja imutável. Temos apenas fortes evidências disto: por exemplo, toda vez que encostamos algo quente em algo frio, o frio esquenta e o quente esfria; tem sido assim desde que o homem é capaz de se lembrar e tem sido assim em todos os lugares do universo aonde o homem já foi capaz de estender sua visão. Mas nada garante à ciência que vá continuar sendo assim amanhã ou que seja assim em algum confim desconhecido do universo. Assim, para existir, o método científico parte do princípio da imutabilidade dos processos da natureza ou "o princípio da uniformidade da natureza", como denominava o filósofo Karl Popper. Ou nas palavras de Einstein (usadas num contexto ligeiramente diferente): "Deus é sutil mas não maldoso". Admitindo a existência de uma ordem universal e imutável torna-se possível prever o comportamento da natureza e este é o mais importante passo do método científico no que concerne à experiência física. Ao observar que todo homem e toda mulher cedo ou tarde morrem, pode-se estabelecer uma regra geral: "todo ser humano é mortal". Esta forma de raciocínio lógico que extrai uma verdade geral a partir da observação de um grupo particular é chamada de indução. A partir desta regra geral, ou desta lei natural, estabelecida pela observação do mesmo resultado repetidas vezes, pode-se então deduzir (dedução é a forma de raciocínio que extrai uma verdade particular de uma verdade geral) que se Fulano é um ser humano - e já que todos os seres humanos são mortais - então Fulano é mortal. Note entretanto que a indução é totalmente apoiada na repetição da experiência e na crença na imutabilidade dos processos naturais. Sobre isso Bertrand Russel nos traz o seguinte exemplo: imagine um peru que recebe sua ração todos os dias do ano, exatamente às 9:00h da manhã. No início o peru é cauteloso, mas depois de perceber que esta experiência se repete por um considerável período de tempo, todos os dias da semana inclusive sábados domingos e feriados, faça chuva ou faça sol, este peru finalmente conclui por indução a regra geral: "sou sempre alimentado às 9:00 da manhã!". Infelizmente, para o peru indutivista, no dia de Natal a regra não se revela verdadeira...O método indutivo apresenta, portanto, uma limitação. Se estabelecemos uma regra geral a partir de um determinado número de observações, surge a pergunta: quantas observações são suficientes para justificar a regra? Cem, mil, milhões? Como saberemos se temos um número suficiente de observações e - muito importante - em condições suficientemente variadas para alegar que aquela regra é realmente universal?Este problema foi contornado por Karl Popper, que apresentou o conceito de falsificabilidade, segundo o qual uma hipótese só é considerada científica se for falsicável ou seja, se por meio de algum experimento real ou imaginário for possível provar sua falsidade. A hipótese "Deus existe" não é uma hipótese que possa ser julgada pela ciência pois não existe nenhuma experiência imaginável que possa provar que "Deus NÃO existe". Por outro lado as hipóteses "O tempo passa mais rapidamente nos lugares altos" e "O futuro pode ser previsto pela posição dos astros nos céu" são falsicáveis e portanto estão dentro do escopo da ciência.Qual a vantagem disto? Isto leva uma mudança de atitude. Em vez da ciência se basear nas observações que reforçam uma teoria, ela passa a buscar observações que a falsifiquem. Quanto mais uma teoria sobrevive a esta busca, maior a nossa confiança em sua veracidade, mas não existem teorias comprovadas, apenas teorias que ainda não foram derrubadas. E quando é provado que uma determinada teoria está errada, isto é a melhor coisa que pode acontecer, porque é nessas situações que a ciência progride.Assim, ao contrário do que muitos pensam, o objetivo dos cientistas não é defender o status quo ou proteger as leis científicas contra contestações. Seu objetivo é justamente tentar contestar estas leis! Um cientista que tenha realizado cinqüenta milhões de experiências comprovando a teoria de Newton não foi muito útil. Mas alguém que prove que Newton estava errado.... você já ouviu falar de Einstein, não? http://www.projetoockham.org/ferramentas_metodo_3.html

    #84589
    Brasil
    Membro

    Olá LukaAcho que Einstein, além de usar o conceito de falsificabilidade, usou muito de sua imaginação para conseguir derrubar a teoria de Newton, não é mesmo?Alguem me disse que Einstein não era tão bom... Mas eu não acreditei... ;)Muito obrigado  :)

    #84590
    Luka
    Membro

    Olá LukaAcho que Einstein, além de usar o conceito de falsificabilidade, usou muito de sua imaginação para conseguir derrubar a teoria de Newton, não é mesmo?Alguem me disse que Einstein não era tão bom... Mas eu não acreditei... ;)Muito obrigado  :)

    Bem, o Conceito da Falsificabilidade, na verdade, foi proposto por Popper quinze anos após a conclusão da Relatividade Geral e acredita-se que baseado nos estudos que ele fez sobre essa Teoria - mas por isso mesmo, estou de pleno acordo - Einstein foi pioneiro.  ;)E sobre a imaginação, ninguém melhor que o próprio Eisntein, para falar a respeito.

    #84591
    Cientista
    Membro

    Adorei esta do peru indutivista! Dei boas gargalhadas!  ;DTambém encontro muito educativo o tópico em si e suas ricas citações. Ajudou-me a ver como posso classificar-me: um Racionalista Empírico.Sobre o tema: O Universo e tudo que contém é um fenômeno energético altamente dinâmico. Como já sabiam os chineses antigos, rigorosamente, nada é de uma maneira específica, mas está em determinada situação num determinado momento e, no momento seguinte, já não é o mesmo.Por exemplo, a longo prazo, o conteúdo de uma galáxia acaba todo metido em seu buraco negro central, onde toda a matéria se desagrega e onde certamente nenhuma das leis físicas que conhecemos vale coisa alguma .A gente fecha o olho um pouco para isto, a fim de fazer ciência e de pensar com o pé no chão, sobreviver, em fim!Fugindo do tema: Confesso que não sei como fazer multiplas citações em um post, a não ser de forma manual e trabalhosa. Tem algum jeito mais fácil?

    #84592
    Brasil
    Membro

    sobre a imaginação, ninguém melhor que o próprio Eisntein, para falar a respeito.

    Sim, Luka, aqui está: "Aos dezoito anos, eu já considerava as teorias sobre o evolucionismo mecanicista e casualista como irremediavelmente antiquadas. No interior do átomo não reinam a harmonia e a regularidade que estes cientistas costumam pressupor. Nele se depreendem apenas leis prováveis, formuladas na base de estatísticas reformáveis. Ora, essa indeterminação, no plano da matéria, abre lugar à intervenção de uma causa, que produza o equilíbrio e a harmonia dessas reações dessemelhantes e contraditórias da matéria."   “A mais bela e profunda emoção que se pode experimentar é a sensação do místico. Este é o semeador da verdadeira ciência. Aquele a quem seja estranha tal sensação, aquele que não mais possa devanear e ser empolgado pelo encantamento, não passa, em verdade, de um morto. "ALBERT  EINSTEIN (1879-1955) http://www.guia.heu.nom.br/fe_de_albert_einstein.htm

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