Eros e Logos: Marcuse crítico de Freud
Michel Aires de Souza
http://filosofonet.wordpress.com/
1.0. Introdução
O grande objetivo de Marcuse é unir no homem
razão e sensibilidade, sujeito e objeto, sonho e realização. Ele pretende
ativar necessidades orgânicas e biológicas que se encontram reprimidas e
suspensas no indivíduo. Quer assim que o corpo humano seja um instrumento de
prazer e não de trabalho árduo. Neste artigo, nos remetemos à
algumas das obras de Herbert Marcuse, em particular “Eros e Civilização”,
mostrando como ele, ao interpretar o pensamento de Freud, desenvolve uma teoria
sociológica da sociedade livre e busca fundamentar uma nova razão
naturalista. Portanto, construir um novo indivíduo para uma nova
realidade.
1.1. A crise da Razão e a dissolução do indivíduo
autônomo.
Os teóricos da “Escola de Frankfurt”
detectaram no século XX a crise da razão e a dissolução do indivíduo autônomo
que esteve ligado ao iluminismo e ao idealismo alemão. Os indivíduos se
adaptaram à sociedade e ao domínio social de forma espontânea. A produção,
distribuição de mercadorias, o trabalho e os entretenimentos da sociedade
repressiva invadiram a psique do indivíduo. A racionalidade técnica atingiu
todos os setores da vida social, tornando os controles tecnológicos a própria
personificação da razão. Eliminou, com isso, qualquer tentativa de ruptura. O
aparato produtivo e as mercadorias se impõem ao sistema social como um todo. Os
consumidores, prisioneiros do capital, prendem-se agradavelmente aos produtos e
às formas de bem estar social. Dessa forma, o indivíduo autônomo desaparece. A
subjetividade é destruída pelos controles
tecnológicos.
No livro
“Dialética do Esclarecimento”, o livro que popularizou os teóricos de
Frankfurt, Adorno e Horkheimer chegaram à conclusão que com o progresso da
razão, em vez da humanidade entrar em um estado verdadeiro humano de igualdade,
liberdade e felicidade para os indivíduos, a humanidade entrou em um estado de
barbárie e regressão social. Eles chegaram a está conclusão, pois tiveram a
experiência da primeira e segunda guerras mundiais, além de serem testemunhas
dos doze milhões de judeus que foram vítimas do totalitarismo que assolava a
Europa na primeira metade do século XX. Segundo a tese deste livro, o projeto
da razão iluminista foi o de livrar os homens do medo, da ignorância,
dissolvendo os mitos e, substituindo a imaginação pela razão e saber,
buscava-se a harmonia entre o entendimento humano e a natureza das coisas. A
razão significou os conceitos e princípios que designam normas e condições
universalmente válidas. O sujeito esclarecido deveria desvelar-se como sujeito
das transformações sociais. O mundo não deveria ser governado por qualquer lei
externa, mas sim pela ordem da razão. Contudo, o que aconteceu foi exatamente o
contrário, a razão se transformou em um simples instrumento, o que permitiu sua
utilização a serviço da barbárie e da regressão social. A razão desvelou-se
como um instrumento que deve obrar e trabalhar a serviço do domínio da natureza
e dos homens. Ela só reconhece as coisas na medida em que pode dominá-las. A
razão se tornou, portanto, totalitária.
Adorno e Horkheimer também diagnosticaram neste mesmo
livro através do ensaio a “Indústria Cultural”, que no século XX os meios
de comunicação de massa controlam as faculdades racionais e emocionais
voltando-as a seu mercado e sua política. Com isso, uma vez invadida a dimensão
interior do homem, o poder crítico da razão se submeteu às formas de domínio
social prevalecentes. A razão perdeu seu caráter de negação da realidade e tornou-se
submissa aos fatos. Pela própria constituição objetiva dos produtos e
entretenimentos há uma paralisação das faculdades e uma atrofia da imaginação.
As pessoas ouvem, lêem, sentem e até deixam se orientar por anúncios e
discursos dos meios de comunicação. ”A indústria cultural perfidamente
realizou o homem como ser genérico. Cada um é apenas aquilo que qualquer outro
pode substituir: coisa fungível, um exemplar. Ele mesmo como indivíduo é absolutamente
substituível, o puro nada (…)” (ADORNO & HORKHEIMER, 1986,
p.136)
Marcuse em seu livro “Eros e civilização” observou que no
desenvolvimento da filosofia houve também a oposição entre razão e
sensibilidade. A sensibilidade tornou-se uma faculdade vulgar e sem valor,
lugar de impulsos cegos e hostis. “A luta começa com a vitória interna das
faculdades ‘inferiores’ do indivíduo: as suas faculdades sensuais e apetitivas.
A sua subjugação é considerada, pelo menos desde Platão, um elemento
constitutivo da razão humana, a qual é assim, em sua própria função,
repressiva. A luta culmina na vitória sobre a natureza exterior, que deve ser
perpetuamente atacada, subjugada e explorada para satisfazer às necessidades
humanas”.(MARCUSE, 1955, p. 102). A razão surge, assim, como um princípio
de repressão e renúncia, cuja tarefa não é o de dirigir os sentidos e a
sensibilidade dos homens, mas de os
reprimir.
Para Marcuse, o órgão da felicidade não é a razão, mas
a sensibilidade. “A fruição é algo exterior ao indivíduo, é um encontro
despreocupado, inocente, harmonioso do indivíduo com algo no mundo. E, é
justamente nessa receptividade, de uma entrega declarada aos objetos (homens e
coisas), que a sensibilidade pode tornar-se fonte de felicidade”.
(MARCUSE,1997,p.171 ). Contudo, nesta forma de sociedade a fruição só pode ser
obtida pela aceitação do mundo tal como ele é. As relações humanas são relações
de classe, e se fundamentam no livre contrato de trabalho.
Este caráter contratual estendeu-se a toda vida social. Assim, a fruição deve
ser aceita somente em sua aparência, segundo os ditames dessas relações
contratuais. As relações no processo de trabalho não são reguladas conforme as
necessidades e capacidades dos indivíduos, mas em função da valorização do
capital e da produção de mercadorias. A fruição como satisfação das
possibilidades supremas do indivíduo não podem ser satisfeitas. Portanto, a
realização das necessidades e satisfações dos indivíduos não podem ser incluídas
no reino da razão. O desenvolvimento completo dos indivíduos, seus interesses e
felicidade permanecem uma quimera. “Não existe nenhuma harmonia entre o
interesse geral e o particular. O progresso da razão se afirma contra a
felicidade dos indivíduos”.(MARCUSE, 1997, p. 162 )
Se este diagnóstico for
correto, seria possível construir-se uma nova razão? Seria possível
construir-se uma nova ordem racional universal fundamentada na autonomia dos
indivíduos?
Segundo Leo Maar, “para os Frankfurtianos
estaria em pauta não só a revolução, mas uma concepção de razão num nexo
essencial com a liberdade, a emancipação. A revolução, por esta perspectiva,
nada seria além de uma realização efetiva da razão” (MAAR, 1997, p.12).
Partindo disso, Marcuse busca em uma interpretação crítica da psicanálise
freudiana os fundamentos que lhe permite pensar uma nova razão naturalista, que
se oponha a esta razão formal, instrumental e repressiva, que se personificou
nos controles tecnológicos. Busca, portanto, fomentar um novo indivíduo para
uma nova
realidade.
1.2. Marcuse crítico de Freud
Em sua crítica a obra de Freud, Marcuse busca desvelar o caráter repressivo
dos valores e das realizações da cultura. O conceito de homem que emerge da teoria
de Freud é uma acusação à nossa civilização, pois desmascara os sofrimentos e
as restrições ao prazer, ao nos revelar que nossa história é a história de
nossa repressão. Freud aceita a realidade dada, conformando-se com as
restrições que a civilização nos impõe. Levando em consideração esses dois
aspectos, Marcuse faz uma crítica à metapsicologia freudiana, mostrando que ela
não é tão cética como parece, na medida em que contêm nela a aceitação de uma
sociedade não repressiva.
A teoria freudiana é complacente com essa civilização, na
medida em que não admite a possibilidade de uma civilização não repressiva.
Para Freud, a sociedade não tem meios suficientes para sustentar a vida de seus
membros, assim, as energias da atividade sexual devem ser canalizadas para o
trabalho. A necessidade (Anankê) e a penúria ou escassez (Lebensnot) do homem
não podem ser satisfeitas, pois para se produzir os bens culturais não é
possível viver sob o domínio do princípio de prazer. Os bens culturais têm
origem nas pulsões sublimadas. Com isso, Freud pensa que é eterna a luta pela
existência, assim como é eterna a luta entre princípio de prazer e princípio de
realidade. Daí ser inevitável e irreversível o processo da
repressão.
Freud
apresenta dois motivos responsáveis pelo fato de os regulamentos da
civilização só poderem ser mantidos com um certo grau de coerção: os homens não
são espontaneamente amantes do trabalho e os argumentos não têm valia nenhuma
contra suas paixões. Assim, é somente através da coerção e da influência de
líderes, onde possam reconhecer-se, e em quem possam confiar, que as massas
podem ser induzidas a efetuar o trabalho e a suportar as renúncias que a
existência exige.
Segundo a
metapsicologia freudiana a repressão ocorre de duas formas: na espécie (filogênese)
e no indivíduo (ontogênese).
Filogeneticamente:
ela ocorre na horda primitiva, quando o pai, chefe da horda, monopoliza o
prazer e o poder e impõe a renúncia por parte dos filhos. Após a rebelião dos
filhos, que matam e devoram o pai, tomam o poder e impõem as mesmas ordens e
tabus aos membros da comunidade.
Ontogeneticamente: ocorre na infância, quando os pais impõem o princípio de realidade à criança,
ensinando o certo e o errado, o bom e o mau, o útil e o prejudicial. Logo após,
as instituições assumem esta tarefa, determinando o status quo a ser obedecido.
A repressão é continuamente reproduzida, tanto na
espécie quanto no indivíduo. Após o domínio do pai primordial, segue o
domínio dos filhos, que assumem seu lugar. É a partir deles que o princípio de
realidade materializa-se e torna-se um domínio social e político institucionalizado.
O indivíduo, ao evoluir dentro desse sistema, se acostuma e acha naturais suas
regras e normas, sua lei e sua ordem, aceita espontaneamente os requisitos
básicos do princípio de realidade. Dessa forma, ele os transmite às gerações
seguintes.
A teoria
metapsicológica de Freud mostra-nos que as repressões da civilização não
são devidas às influências externas, histórico-sociais, mas a determinações
internas, biológico-naturais. Há uma repressão orgânica que determina o caminho
para a civilização. Ela é determinada por uma herança arcaica. As experiências
infantis estão ligadas às experiências da espécie. A origem do indivíduo
reprimido está ligada à origem da civilização repressiva. Decorre disso que a
teoria freudiana dissolve a idéia de um indivíduo autônomo. O indivíduo
torna-se manifestação congelada da repressão geral da espécie.
A construção da personalidade torna-se imagem e semelhança da repressão na
espécie (filogênese) e no indivíduo (ontogênese). A crítica de Marcuse à
psicologia freudiana, é que ela não analisa a personalidade “concreta” e
“completa”. Para ele, a personalidade deveria ser analisada tal como existe no
seu meio privado e público, pois ela é o resultado final de prolongados
processos históricos que estão solidificados nas relações humanas e
institucionais que compõem a sociedade, são esses processos que definem a
personalidade. Para Marcuse, “a submissão efetiva das pulsões
através de regras repressivas não é imposta pela natureza, mas pelo homem. O
pai primitivo é o arquétipo da dominação, que começa a reação em cadeia da
escravidão, rebelião e da dominação reforçada que determina a história da
civilização” (MARCUSE, 1955, p.27). O princípio de realidade
que o indivíduo experimenta é um mundo histórico. “O princípio de realidade
protege o organismo do mundo exterior, no caso do organismo humano, trata-se de
um mundo histórico. Frente ao ego em desenvolvimento, o mundo exterior é em
todas as etapas uma organização sócio-histórica da realidade, que influi sobre
as estruturas mentais, por intermédio de agências ou agentes sociais
específicos”(MARCUSE, 1955,
p.40).
A
personalidade é, na opinião de Marcuse, um construto histórico-social e a
repressão filogenética é uma dominação organizada que é, em sua essência,
histórica. O conceito freudiano de princípio de realidade ignora este fato,
pois converteu as contingências históricas em necessidades biológicas. A tese
de Marcuse é que a “teoria freudiana é na sua substância mesma ’sociológica’ e
que não é necessário nenhuma orientação cultural ou sociológica para revelar
esta substância. O biologismo freudiano é em profundidade uma teoria social (…)
” (MARCUSE, 1955, p.17).
Em
outras palavras, para Freud, a repressão que perpetua a carência ou penúria,
que se origina com o pai primordial é biológica e deve se perpetuar
inexoravelmente na história. Já para Marcuse, a repressão pertence a um modo de
dominação social específico na história. É apenas um princípio de realidade
específico que pode mudar historicamente. A carência ou penúria foram
organizadas em nossa história de formas diferentes, elas não são em si o
princípio da civilização, como pensou Freud. Para Marcuse, elas foram impostas
ao indivíduo primeiro pela violência, depois pela racionalização do poder.
Portanto, para corrigir Freud, este pensador distingue na sua retomada desta
teoria entre o que é histórico-social e o que é biológico. Com isso, ele
constrói os conceitos para sua teoria sociológica: o conceito de mais-repressão
e princípio de rendimento.
1.4. Mais-repressão e Princípio de Rendimento
A teoria de
Freud é, em sua essência, uma teoria sociológica. Seu biologismo é teoria
social. O postulado não histórico dos conceitos freudianos contém o seu oposto,
possui uma substância histórica. Os próprios conteúdos da teoria são
histórico-sociais. A crítica de Marcuse, ao extrapolar os conceitos freudianos,
na busca de identificar o componente histórico-social daquilo que se apresenta
como processo natural, exige uma duplicação de conceitos. Dessa forma, ele
introduz dois conceitos novos. São eles:
a) Mais-repressão:
são as restrições requeridas pelo domínio social além da exigidas pelo
princípio de realidade. Distinguem-se, portanto, da repressão
básica, ou seja, das modificações das pulsões que são necessárias à existência
do homem na civilização.
b) Princípio de rendimento: é a forma específica do princípio de
realidade na sociedade moderna. É o princípio que exige o desempenho
econômico de seus membros.
Hoje o progresso
técnico atingiu uma tal amplitude, que já não é mais necessário que a vida seja
definida pela competição, trabalho árduo e exploração. Para Marcuse, as
capacidades técnicas devem ultrapassar os limites da luta pela existência. A
reprodução da carência e penúria já não são mais necessárias Hoje temos
todas as forças materiais, técnicas e intelectuais para criar uma sociedade não
repressiva.
O principal
argumento de Marcuse contra Freud é que os controles da sociedade
civilizada já não são mais necessários como no passado, quando se exigia uma
arregimentação repressiva das pulsões. Hoje esses controles adicionais geram
uma mais-repressão desnecessária – “(…) as instituições históricas específicas
do princípio de realidade e os interesses específicos da dominação introduzem
controles adicionais acima dos indispensáveis a toda associação humana
civilizada. Esses controles adicionais surgem de instituições específicas da
dominação, e nós o chamamos de mais-repressão” (MARCUSE, 1955, p.
44).
Ao introduzir o conceito de mais
repressão, Marcuse focalizou seu exame nas instituições e relações que
constituem o corpo social do princípio de realidade. Esse princípio de
realidade se fundamenta num mundo de escassez e repressão e tem sido o
princípio de realidade específico que governou as origens e a evolução dessa
civilização. Em sua opinião, esse princípio de realidade que foi diagnosticado
por Freud deveria se chamar princípio de rendimento. “Nós chamamos princípio de
rendimento, porque insiste no fato que, sob sua lei, a sociedade é
estratificada de acordo com o rendimento competitivo de seus membros” (MARCUSE,
1955, p.50).
Para
Marcuse, o princípio de rendimento é o de uma sociedade orientada para o ganho
e concorrência entre os indivíduos, num processo ininterrupto de expansão. As
aptidões intelectuais e materiais em nossa atualidade são muito maiores do que
antes, isso significa que o alcance da dominação é infinitamente
maior.
Em virtude de sua organização, o trabalho funciona como um poder independente
do indivíduo, ao qual ele deve se submeter, se quer viver. “Nesta sociedade o
trabalho se generalizou, assim como as restrições impostas à libido: o tempo de
trabalho, que ocupa a maior parte da vida do indivíduo, é um tempo penoso,
porque o trabalho alienado é abstinência da satisfação e negação do princípio
de prazer” (MARCUSE, 1955, p.50). Sob o domínio do princípio de rendimento o
corpo e a mente são instrumentos do trabalho árduo, dilação do prazer, coação e
constrangimento.
1.5. Eros e Logos: a proposta de um novo indivíduo
autônomo
Para
Marcuse, “a mudança radical que deve transformar a sociedade atual deve atingir
primeiramente a dimensão biológica”.(MARCUSE, 1969, p.29). A continuidade do
progresso deve romper-se, fazendo surgir novas necessidades nos homens. Uma vez
satisfeita as necessidades básicas, surgirão novas necessidades pulsionais,
reações do corpo e do espírito diferentes. Essas novas necessidades
precederão a revolução. Surgirá, então, a predisposição vital dos homens se
libertarem dos confortos narcotizantes e da produtividade destruidora. Com
isso, a revolução é antes de tudo um pressuposto histórico, que tem seu
fundamento na base biológica. Segundo o argumento de Marcuse, mesmo
que essa hipótese seja apenas uma especulação, ela deve ter uma base objetiva
no processo de produção, na medida em que temos hoje todo desenvolvimento
material e intelectual para uma sociedade livre. Com isso, a liberdade depende
necessariamente do progresso técnico e do avanço da ciência. Contudo, “terão
de mudar sua atual direção e objetivos para se tornarem veículos de libertação”.(MARCUSE,
1969, p.32.).
Marcuse
preludia o fim da sociedade do trabalho. Ele espera que quando o processo
histórico propender a tornar obsoletas as instituições do princípio de
rendimento, tenderá também a tornar obsoleta a organização repressiva das
pulsões no indivíduo. Essas poderiam ser libertas das repressões e desvios
requeridos pela realidade, ou seja, haveria a possibilidade real de uma
eliminação gradual da mais-repressão. Somente assim, “as forças de produção
permitem objetivamente uma organização não-repressiva da sociedade e do
trabalho, limitando a esfera da Anankê, abrindo espaço de uma calma erotização
da vida social” ( PRADO JR, 1990, p.271).
Hoje o progresso técnico atingiu uma tal amplitude, que já não é mais
necessário que a vida seja definida pela competição, trabalho árduo e
exploração. Para Marcuse, as capacidades técnicas devem ultrapassar os limites
da luta pela existência e conseqüentemente da servidão humana. Com
o fim da sociedade do trabalho e a automatização de todas as esferas da vida
social, os indivíduos devem ganhar consciência de suas repressões, dilações e
sofrimentos na sociedade repressiva. Com isso, Marcuse espera que haja uma
prática política que deve propiciar uma mudança na própria natureza humana. Os
indivíduos devem romper com suas maneiras habituais de ver, ouvir, sentir e
compreender as coisas. O protesto ativaria a base biológica do homem e surgiria
uma nova sensibilidade. Assim, se manifestaria o protesto de Eros contra a repressão.
Eros libertaria as exigências, aspirações e potencialidades humanas na
fundamentação de um novo indivíduo e de um novo princípio de realidade. Com
isso, o progresso deveria ter como direção e objetivos as exigências das
pulsões de
vida.
Para Marcuse
é na essência do homem que se encontra o potencial de libertação. Essa
essência tem sua base na natureza, pois é Eros, pulsão de vida. Com isso, se
contrapõe à antiga essência do homem, que é Logos. Partindo de Freud, Marcuse
proclama a necessidade um novo indivíduo, que tem como seu objetivo a fruição e
receptividade do prazer, sem culpa, sem constrangimento e sem trabalho
árduo.
A função de Eros é combinar as substâncias vivas em unidades cada vez maiores
de vida, é o impulso que preserva e enriquece a vida mediante o domínio da
natureza. Para Marcuse, portanto, a razão deve se transformar em Eros, o Logos
deve orientar o princípio de prazer. Já não deverá ser mais um Logos
imperativo, dominador, repressivo; mas um Logos que seja contemplação, fruição
e receptividade do prazer.
1.6. Bibliografia
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do
Esclarecimento. Rio de janeiro: Jorge Zarhar,1986.
FREUD, S. O mal estar na civilização, In: Edições Standart
Brasileira, XXI, Rio de Janeiro: Imago, 1980.
MAAR, Wolfgang Leo. Marcuse: em busca de uma ética
materialista. In:Cultura e Sociedade. Herbert Marcuse. São Paulo: Paz e Terra,
1997.
MARCUSE, H. Crítica ao hedonismo. In: Cultura e
Socidade.Trad. Maria Isabel Loureiro. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
MARCUSE, Herbert. Eros et civilisation. Paris: Les Editions
Minuit,1955.
MARCUSE, H. Vers la Liberation. Paris: Minuit, 1969.
PRADO Jr. Bento. Entre o alvo e o objeto do desejo: Marcuse,
crítico de Freud. In: O desejo ( Adauto Novais. Org) São Paulo: Comp.das
Letras, 1990.
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