ASCENSÃO E QUEDA EM TRÊS FILMES

maio 17th, 2010 | Por | Categoria: Cinema        

Nei Duclós

O tocador de violoncelo que virou morador de rua em Los Angeles depois de ter estudado em escola de música para milionários em Nova York; o estudante de Física que tentou ser criativo e independente no seu doutorado na América; a órfã do interior da França que forçou a presença no castelo do amante e acabou virando uma grande estilista: três personagens da loteria social estão nos filmes O Solista, A Matéria Escura (traduzido no Brasil para não-sei-o-quê da Honra) e Coco Antes de Chanel. São filmes amargos, um pouco diferentes do oba-oba costumeiro, talvez pela presença de criadores importantes envolvidos nos projetos.

O Solista, de Joe Wright, tem esse monstro que é Robert Downey Jr. no papel do jornalista do Los Angeles Times. Downey Jr. deslumbra seu colega de cena Jamie Foxx, intérprete do instrumentista caído em desgraça devido à esquizofrenia. “Aponto o que ele faz para depois imitar”, diz Foxx. Os dois personagens são baseados em pessoas reais e a história realmente aconteceu. O colunista famoso encontra o músico com um violino de duas cordas e começa a fazer uma série de reportagens sobre ele. De novo a invejável performance do jornalismo americano, em que o profissional do teclado tem liberdade para pautar e tempo para reportar.

A Matéria Escura
, de Shi-Zheng Chen, tem Merryl Strip no papel da bondosa senhora interessada na China que vê a derrocada do brilhante aluno que desafiou o mestre. Também baseado em fatos reais, o filme faz um recorte de uma situação recorrente nas universidades em todo o mundo. O orientador quer que o aluno siga seus passos, pois a carreira dele, orientador, é toda baseada na sua tese bem sucedida. O aluno apenas tem condições de imita-lo e fazer algum adendo, mas jamais partir para uma outra coisa. Se tentar, dança.

O assassinato dos talentos na academia acaba normalmente na frustração, mas no filme o desfecho é trágico, com tios para todo lado. O talentoso físico que descobre algo improtante sobre a estrutura do universo não se conforme em ver um colega medíocre e puxa-saco levar toda a fama enquanto ele amarga o exílio e a miséria, ale´m da vergonha de decepcionar o pais, quie esperam tudo dele. Essa relação respeitosa de jovem com veterano, que existe em tese na cultura chinesa, não d´pa certo nos Estados Unidos, onde há ruptura. O professor doutor não admite vôo solo do seu orientando, ainda mais sendo asiático!

No filme sobre os primeiros anos de Coco Chanel, de Anne Fontaine, há a brilhante interpetação de Audrey Tautou, que incorpora a artista pobre, andrógina e ousada, que liberou a roupa da mulher vitoriana eliminando o espartilho e inventando o pretinho básico, entre outras inovações. Fui ver a crítica e lá está a hsistoriadora brasileira dizendo que Coco colaborou com os nazistas na Segunda Guerra, pois morava no Ritz e tinha um amante capitão da SS. E que se aproveitou da invasão alemã para trair seus sócios judeus. É muita baixaria, que nem chega perto do filme, restrito à infância e juventude da grande artista. Gostaria de saber onde estava a historiadora nos anos de chumbo. Naturalmente numa montanha nevada carregando rifles e metralhadoras. E não sobrevivendo no meio da barbárie, como todo mundo, naturalmente.

Não se trata de justificar o colaboracionismo, mas enxergar melhor a personagem, que forçou sua adoção pela elite virando cortesã de um castelão. E que na época da ocupação convive com o invasor, como todos os franceses. Há histórias sinistras sobre ela, mas polêmicas. O fato é que no Brasil sempre tem uma voz levantando o dedinho para accusar alguém de traidor, reacionário e nazista, seja quem for. São todos vestais ideológicos. Vimos onde isso foi parar, com os ideólogos se atirando nos cargos e se locupletando nos dólares.

Três filmes que tratam da sobrevivência de pessoas talentosas, que experimentam a ascensão e a queda. Sem happy-end tradicional, mas com finais precários, ou seja, o esquizofrênico não se cura, o estudante atira para matar e a estilista faz sucesso, mas à custa de muito sofrimento. Filmes bons, não excepcionais. Interessantes na abordagem de um tema caro aos dias de hoje, quando tantos talentos submergem na obscuridade, devido à onipotência e à onipresença da mediocridade em armas.

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