Ortega y Gasset e o
raciovitalismo
A vida como realidade radical
José Ortega y Gasset (1883-1955), filósofo
espanhol, iniciou sua intelectualidade entre os idealistas neokantianos da
escola de Marburgo, na Alemanha. Foi então que ele se descontentou com a configuração
do idealismo que propunha uma consciência vazia, sem nenhuma vivência ou
experiência para almejar algo mais dinâmico com a história. Em seguida, se
indispôs com as teorias que validavam a universalidade da ciência, sobretudo
com os positivistas. Nesta fase, o filósofo se perguntou o que é que assegura a
objetividade do pensamento? A partir daí, ele chega à fenomenologia de Edmund
Husserl (1849-1938), que explicava que a ação da consciência consistia num
conhecimento direto ao objeto. Ainda assim, Ortega sentiu a ausência de
vivência, em seu sentido concreto e, finalmente, se descontenta com o método
fenomenológico. Mas, encontra em Wilhelm Dilthey (1833-1911) a possibilidade de
relacionar as estruturas históricas e as estruturas humanas sem elaborar
esquemas formais, mas era preciso descobrir qual categoria seria possível para
equalizar tais estruturas.
Assim, a distinção de Ortega surge como uma
reação ao idealismo, ao positivismo e à fenomenologia. Para ele, tais correntes
filosóficas construíram fórmulas sobre a verdade numa consciência vazia de
experiência; reduziram o conhecimento às perspectivas subjetivas relativizando
a verdade; e valorizaram o tecnicismo. Todas estas correntes filosóficas já não
sintonizavam com os fatos históricos do século XX vividos pelas guerras,
totalitarismos e a massificação da sociedade. Sob a influência do pragmatismo
anglo-americano, que incentivava a realização de um projeto, Ortega admite a
possibilidade de aliar concretamente a história e o homem. E esta interseção
seria possível se essa categoria fosse a vida.
Mas, o que o filósofo entende por vida?
Para ele, a vida é uma manifestação radical. Entretanto, é preciso compreender
o que se deve compreender por “radical”. O termo “radical” não quer dizer único
e nem algo extremo. O termo “radical” significa as instâncias que arraigam as
demais coisas da vida em suas variadas circunstâncias. Para ele, a vida é uma
categoria que funde a noção com a atividade na realidade. E realidade, para o
filósofo, é o hábito da mente em se sincronizar com os fatos históricos. Então,
a esta sincronia entre pensar em conjunto com os fatos históricos se chama
Raciovitalismo ou Razão Vital.
A originalidade do raciovitalismo
Ao denominar como raciovitalismo, Ortega explicou
que não desejava se deixar confundir com os racionalistas e nem com os vitalistas.
Para ele, o racionalismo é a busca de um método para postular a verdade, pela
consciência simples; o vitalismo é a submissão às leis orgânicas e instintivas
do corpo biológico. Então, o seu raciovitalismo não pode pretender copiar o
racionalismo e nem se reduzir ao vitalismo. Para se diferir, o filósofo explica
que o raciovitalismo é o uso da razão para investigar algum componente que seja
estranho a história e à vida, para compreendê-lo. E a vida é histórica. Ao
compreender a vida como histórica, ele nos dá a dimensão da cultura e da
civilização como meios que fornecem os problemas e os fundamentos filosóficos
que devem ser pensados. Na prática, o filósofo constrói uma moderação nos campos
teóricos e sente que este era o compromisso que a Filosofia tinha com a sociedade
e com a História.
O raciovitalismo não usa categorias como:
eu, homem e existência. Para Ortega, nenhuma destas categorias exprime o
indivíduo concreto. O sentido do raciovitalismo é compreender as circunstâncias
e permitir que haja escolhas do que se quer fazer de forma concreta e não se
lamentar. A originalidade de Ortega é que ele não caracteriza a vida pela
irracionalidade, nem pela racionalidade e também não encontra alternativas
subjetivas e nem simplesmente objetivas como era corrente por seus
contemporâneos. O sentido que ele postula sua filosofia é em buscar um
pensamento para viver, e não uma vida para pensar.
Sua fase política é vinculada ao
liberalismo. Para ele, o triunfo político ocorre pela liberdade. É necessário
explicar que o liberalismo, ao qual Ortega se identifica, não é um
conservadorismo, como erroneamente compreendemos no Brasil. Como prova disto,
ele entende que o liberalismo consiste no aprimoramento da cultura porque
incentiva o avanço, a livre escolha e a saída das circunstâncias. Assim,
filosofia e liberdade sugerem uma simetria que permite o pensar e o agir numa
nação, que é o projeto de uma sociedade. Para Ortega, a política não decorre da
família e nem do lar, mas da praça pública e do fórum. Para ele, a vitalidade
política ocorre onde há discussão e liberdade que defenda a nacionalidade. No
entanto, seu ingresso à política institucional foi desastroso.
Por causa da ditadura de Miguel Primo de Rivera
(1923), Ortega, em protesto, renunciou à sua cátedra na Universidade de Madri e
se exilou. Neste período, ele se sentiu convencido de que a Espanha estava
dominada por conservadores, que não desejavam o aprimoramento da cultura da
sociedade espanhola, transformando-a em massa social. Ele entende que “massa
social” é uma enfermidade que causa a acomodação e a falta de compromisso
social com as decisões políticas. Assim, o conservadorismo, segundo Ortega, era
um obstáculo para vencer as circunstâncias e a vida. Após a queda de Rivera, ele
retornou à Espanha e entrou para a política partidária defendendo a liberdade e
a educação como instrumentos que colocam em atividade a vida dos espanhóis. Então,
ele se elegeu deputado federal pela Província de Leon e participou da
Assembléia Constituinte (1932) com objetivo de impedir os regimes totalitários
que se espalhavam pela Europa. Devido a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) ele
finalmente se descontentou com a política institucional, renunciou e se exilou,
novamente, para os países como a Argentina, Portugal e os Estados Unidos.
Entretanto, em vida, nunca deixou de
escrever artigos e ensaios para jornais. E também, proferiu conferências que
muitas vezes eram pagas com os próprios recursos financeiros. Os temas escolhidos,
em geral, eram para alertar a sociedade em não perder de vista a dimensão da
razão da realidade vital e da história, conforme ensina o seu raciovitalismo.
Tais eram as deficiências filosóficas e históricas do século XX. O essencial de
Ortega é nos auxiliar na compreensão do que se passa na vida e na história. Ele
observa que o mundo em que vivemos é uma herança, pois há influências do meio
social, das circunstâncias culturais e do espaço humanizado por outros. Então,
o mundo não é autêntico. Se o mundo não é autêntico, nos cabe sempre investigar
e examinar até que ele se revele como real ou irreal. Contudo, a filosofia
ajuda nesta importante tarefa, pois depura o recebido e faria da educação uma
importante missão para pensar a vida e suas circunstâncias.
Livros indicados: Que é Filosofia? de José Ortega y Gasset (Ibero-Americano, 1971). Origem e epílogo da Filosofia, de José Ortega y Gasset (Ibero-Americano, 1963). Meditações do Quixote, de José Ortega y Gasset (Ibero-Americano, 1967). Rebelião das Massas, de José Ortega y Gasset (Martins Fontes, 1969). O homem e a gente, de José Ortega y Gasset (Ibero-Americano, 1973). O que é o conhecimento?, de José Ortega y Gasset (Fim de século, 2002). Introdução à Filosofia da Razão Vital, de José Mauricio de Carvalho
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Danilo
Santos Dornas.
Licenciado
e Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ.
Professor
de Filosofia do Centro Educacional Frei Seráfico – CEFS
Membro
do Centro de Estudos em Filosofia Americana – CEFA
e-mail:
[email protected]
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