DÉCIMA PRIMEIRA CARTA
Blaise Pascal
…
Dir-vos-ei, pois, a que sinais, segundo os Santos Padres, podemos julgar se as
repreensões partem de um espírito de piedade e caridade ou de um espírito de
impiedade e ódio.
A
primeira dessas regras é que o espírito de piedade induz sempre a falar com verdade
e sinceridade; ao passo que a inveja e o ódio empregam a mentira e a calúnia: splendentia
et vehementia, sed rebus veris, diz Santo Agostinho. Quem quer se serve da
mentira obra pelo espírito do diabo. Não há direção de intenções capaz de
rectificar a calúnia; e ainda que se tratasse de converter a terra toda não
seria permitido manchar a inocência de ninguém; porque não se deve praticar o
menor mal para alcançar o maior bem, e a verdade de Deus não necessita de
nossas mentiras, dizem as Escrituras.
É dever dos
defensores da verdade, afirma Santo Hilário, dizer somente coisas verdadeiras.
Por isso posso dizer perante Deus que nada detesto mais do que ferir mesmo de
longe a verdade; e sempre cuidei muito particularmente, não apenas de não
falsificar, — o que seria horrível, — mas de não alterar nem deturpar de modo
algum o sentido de um trecho. De modo que se ousasse valer-me, a esse respeito,
das palavras do próprio Santo Hilário, eu vos poderia dizer com ele: se
dissermos coisas falsas sejam as nossas palavras consideradas infames. Porém,
se mostrarmos que são públicas e manifestas, não será sair da modéstia e da
liberdade apostólicas censurá-las.
Mas não
basta dizer coisas verdadeiras, é preciso ainda não dizer todas as coisas
verdadeiras, pois não se deve transmitir
senão aquilo que ê útil revelar e não o que poderia ferir sem frutificar. E
assim como a primeira regra é falar com verdade, a segunda é falar com discrição.
Os maus, diz Santo Agostinho, perseguem os bons em obediência à cegueira da
paixão que os anima; ao passo que os bons perseguem os maus com sábia e prudente
discrição, assim como os cirurgiões consideram o que cortam enquanto os
assassinos não olham onde asses-tam seus golpes. Bem sabeis, meus pais, que não
reproduzi as máximas de vossos autores que mais podiam sensibilizar-vos,
embora o pudesse ter feito sem pecar contra a discrição, como não pecaram
homens sábios e mui católicos, que assim agiram outrora. E todos os que leram
vossos autores sabem tanto quanto vós mesmos a que ponto vos poupei; e ainda
por cima, nada disse que se relacionasse com o que vos diz respeito
pessoalmente, pois muito me magoaria qualquer referência a erros secretos e
particulares ainda que deles tivesse provas. Pois sei que isso é peculiar ao ódio e à animosidade e que disso não
se deve lançar mão a menos de necessidade imperiosa para o bem da Igreja. É,
pois, evidente que não me faltou discrição no que fui obrigado a dizer com
referência às máximas de vossa moral. Tendes assim maiores razões para
louvardes a minha moderação do que para vos queixardes de minha
indiscrição.
A
terceira regra diz que, ao valer-se da ironia, manda o espírito de piedade que
só se a empregue contra os erros e não contra as coisas santas; ao passo que o
espírito de chalaça, de impiedade e heresia escarnece do que há de mais
sagrado. Já me justifiquei, a este respeito; e longe estamos de nos expor a tal
vício quando só falamos das opiniões colhidas em vossos autores.
Finalmente,
meus pais, para abreviar estas regras, vou dizer-vos apenas mais esta, que é o
princípio e o fim das demais: o espírito de caridade leva a ter-se no coração o
desejo de salvar aqueles contra quem se fala, e de rogar a Deus ao mesmo tempo que se censuram, os homens.
Devemos sempre, como
diz Santo Agostinho, conservar a caridade no coração, ainda que pareçam rudes
aos homens, e fustigá-los com aspereza dura mas benfazeja; porquanto a
utilidade deve ser preferida à satisfação. Creio, meus pais, que não há nada em
minhas cartas que não testemunhe ter eu tido esse desejo para convosco. E a caridade vos obriga, a crer que o tive efetivamente,
pois que nelas nada vereis em contrário. Donde concluo que não podeis mostrar ter eu pecado contra esta regra nem contra
nenhuma daquelas a que a caridade obriga. E, portanto, não tendes o direito de
afirmar que a ofendi no que fiz.
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