Vida e escritos de Aristóteles – História da Filosofia na Antiguidade – Hirschberger

História da Filosofia na Antiguidade – Hirschberger

3 — ARISTÓTELES:
A    IDÉIA  NO    MUNDO                                 

Vida

Aristóteles
não é ateniense de nascimento, mas é originário de Estagira, na Trácia,
onde nasceu em 384. O pai era médico particular do rei macedônio Amintas, e o
próprio Aristóteles vinculou o destino externo da sua vida aos desígnios
macedônicos, com os quais também cairá. Aos 18 anos vem à Academia, onde permanece durante vinte anos, até
a morte de Platão. No decurso da
vida do mestre, altamente o honrou. Na Eegia que lhe dedicou, refere-se á
amizade que os ligou a ambos, dizendo ser Platão
um homem tão excelso que digno de o louvar não será qualquer um, mas
somente quem se digno de tal. O fato de Aristóteles
ter, pelo seu modo próprio de pensar, se afastado dele mais tarde,
nenhum detrimento trouxe a essa veneração e amizade. "Se ambos são meus
amigos” (Platão e a verdade),
diz êle na Ética; a Nicômaco (1096a l6), "pio dever é estimar ainda
mais altamente s verdade". Tem-se, contudo, a impressão de nem sempre ser sina
ira et studio
a crítica contra Platão.
De propósito, freqüentemente a suscita, nem sempre com necessidade, e, às
vezes, sendo até mesquinho. Depois da morte
de Platão, Aristóteles retira-se para. Assos no país da
Tróade, junto do príncipe. Hermias
de Arames, fundando aí, junto com outros membros   da  Academia,   uma   espécie   de  sucursal   da  escola platônica. Apenas por três
anos permaneceu Aristóteles em Assos. Passando por Mitilene, onde se encontra com o seu futuro sucessor Teofrasto, vai, em 342, para a corte de
Filipe da Macedônia, onde assume a educação de Alexandre, então com 18 anos de idade. Quando este toma as
rédeas do governo, volta para Atenas, onde funda, em 335, no local consagrado
a Apoio Lício, a sua escola chamada, por isso, Liceu. É, à semelhança da
Academia, um thiasos, uma comunidade para prestar culto em honra das
Musas. Os membros desta escola foram chamados, mais tarde, peripatéticos,
quando também se disse que esta denominação procedeu de um pretenso costume de
Aristóteles dar as suas lições
andando de um lado para outro. Mais verossímil é que, como as antigas
denominações de escolas — Academia, Liceu, Estoa, Quepos — também o apelido
(peripatético) provém de um local, i. é, da galeria de passeio (Peripatos), existente
ao lado do Liceu. Aristóteles publicou
muito na sua mocidade; mas, durante a sua atividade no Liceu, já não é tanto
escritor, mas sobre tudo professor e organizador científico. Aí organiza unia
comunidade para indagações científicas, em grande estilo. Os seus membros, sol)
a sua direção, colecionaram e trabalharam materiais filosóficos,
histórico-filosóficos, de ciências naturais, médicos, históricos,
arquivísticos, políticos e filológicos. Só assim se explicam os imensos
conhecimentos particularizados, que Aristóteles,
nos seus escritos, pressupõe e utiliza. Apenas doze anos durou essa
frutuosa atividade. Depois da morte de Alexandre
(323) veio a dominar, em Atenas, o partido antimacedônico, e Aristóteles preferiu fugir, antes ‘de’
lhe ser intentado o processo de asebia, "não fossem os atenienses
pecar, uma segunda vez, contra a Filosofia", como disse, aludindo a Sócrates. Já um ano depois, em 322,
morria êle em Calcis, na Eubéia.     

Ainda possuímos o seu testamento.
É um símbolo do homem e da sua Filosofia. Lançado na vida concreta e tomando
conhecimento -das suas particularidades, contudo, longe de se perder, assim, a
si mesmo, vive uma. vida inspirada numa nobre formação do espírito e do
coração. De maneira comovedora dispõe o filósofo, isolado e no exílio, da sua
casa; cuida de seus dois filhos, Pítias e Nicômaco, como também da mãe deste
último; lembra-se, amigavelmente, dos seus escravos, alforriando a maior parte
deles; os que lhe serviram pessoalmente poderiam continuar na casa, até
chegarem à idade conveniente, devendo então ser libertados.   Desfilam no documento
as recordações da casa paterna, lembranças da mãe e do irmão, cedo desaparecidos,
e da esposa morta, Pítias. Onde fôr êle sepultado, para aí deverão também ser
levados os ossos dela, "conforme o desejo por ela própria
manifestado". A última disposição prevê que Nicanor, seu irmão adotivo,
que serviu como oficial no quartel general de Alexandre,
cumpra o voto que Alexandre fêz
por êle: depois do seu regresso feliz à pátria, deveria êle consagrar, em
Estagira, estátuas de pedra, de quatro côvados de altura, a Zeus, o Salvador, e
a Atena, a Salvadora.

Escritos

Dos escritas de Aristóteles muitos se perderam, e o que possuímos não se acha
em boa ordem. Do ponto de vista da sua publicação, distinguimos escritos que Aristóteles formalmente publicou, chamados exotéricos (
εξωτερικοι λογοι
ενδεδομενοι λογοι
); e outros que êle, formalmente, não publicou, Chamados
acroamáticos, ou também esotéricos ou didáticos (pragmáticos). Os
primeiros eram destinados a um largo público, obras literárias artísticas, na
maior parte meros diálogos da sua juventude. Ainda, possuímos fragmentos
deles. Os últimos oram, somente, uns esboços delineados, às pressas, para o
fim do ensino em Assos ou particularmente no Liceu. Foram publicados, pela
primeira vez, por Andrônico de Rodes, cerca de 60-50 a. C., depois de terem
jazido enterrados durante muito tempo. Desde que Coram descobertos, a
antigüidade se serviu deles e deixou de lado as obras da juventude. Donde
resultou o perder-se de vista a evolução do pensamento de Aristóteles, pondo-se os escritos
indiscriminadamente, como se tivessem todos seus escritos sob o mesmo ponto de
vista. Só depois .do aparecimento do livro de Jaeger — "Aristotele Grundenung einer Geschichte
seiner Entwicklung",
e que veio, de novo, valorizar os fragmentos  das
primeiras obras, podemos apreciar a evolução do pensamento de Aristóteles e lhe compreender os
escritos, inclusivamente as πραγματεια,
em correlação com a sua seqüência
cronológica. Assim considerando, distinguimos três períodos: a época da
Academia; a época de transição e  a da sua atividade do Liceu.

a) Academia. — No seu primeiro
período, o pensamento de Aristóteles é
inteiramente platônico.   No diálogo Eudemo, p.ex.,
ensina a pré-existência e a imortalidade da alma, com argumentos semelhantes
aos do Fédon de Platão; ensina
a contemplação das Idéias e a anamnesis e considera próprio õ essencial ao
homem somente a existência incorpórea da alma. Corpo e alma são tidos, ainda,
numa concepção totalmente dualista, como .substancias separadas. O Protreptikos
é,
a seguir, uma exortação a uma conduta de vida puramente filosófica,
com o fito nas Idéias eternas, conforme ao lema da República platônica:
"No céu há existente um modelo, que todos os de boa vontade devem
contemplar e, por ele, dirigir o seu próprio ser". O Protreplico
foi muito lido na antigüidade. Jâmblico
dele se serviu, para compor o .seu próprio Protréptica Cícero, para o seu Hortensius, e,
através deste, chegou a influenciar Sto.
Agostinho. Outros escritos deste tempo são os diálogos: Sobre a
Justiça, o Político, o Sofista, o Symposion, Sobre o Bem, Sobre as Idéias,
Sobre a Oração.

β) Época de transição — A
época de transição espelha-se nos escritos de Assos, Lesbos e da corte
macedônica. Importante é, então, o diálogo "Sobre a Filosofia"’. No
segundo livro desta obra critica a doutrina das Idéias. No 8." livro, já Aristóteles expõe os princípios
fundamentais da sua. concepção do mundo, e já deixa transparecer o conceito
central da sua metafísica própria, o do motor imóvel (segundo W. Jaeger, contestado por H. v. Arnim). Mas ainda se move dentro das
concepções da Filosofia platônica posterior, como se expressa no Epinomis. A
este tempo pertencem as primeiras partes das obras didáticas, que W. Jaeger considera como constituindo a
primeira metafísica, a ética primitiva, a política primitiva e a física
primitiva.

 γ) O Liceu. — Ao período do
Liceu pertencem os escritos didáticos, com exceção das partes do primeiro
período criador de Aristóteles, conforme
constam da sua atual versão. Como devemos classificá-las, é matéria muito
controvertida. Aqui distinguimos: 1- Escritos lógicos: Κατηγοριαι
(Catego riae, Praedicamenta); Περι ερμηνειαζ
(De interpretatione); ‘Αναλυτιχα
προτερα’
e ‘Αναλυτιχα
υστερα’ (Analytica priora
e posteriora); Τοπιχα
(Tópica);
Περι
Σοφιστικον ελεγχωον (De sophisticis cienchis). Mais
tarde, todas estas obras foram incluídas na denominação geral de
"Organon"’, porque se considerava a   lógica como o instrumento para
.se proceder, retamente,   na   indagação   científica.: 2  —  Escritos  
metafísicos:  (Physica- ausutatio), obra de Filosofia naral  do ponto de
vista metafísico, em 8 livros;  (Metaphysica),   ou   a  doutrina  
geral   de Aristóteles sobre o 
ser  como   tal,   suas   propriedades   e   causas,   em  14 livros,
cujo título é puramente casual, e apenas significa que estes  livros,   na  
edição   das   obras  didáticas   de  Andrônico,
vinham  depois dos livros  da Física, mas,  ao mesmo  tempo, de a
indicação metódico-real de que, na ordem do conhecimento,   devem   ler-se 
depois   (uercí)   das   obras   de  física;   e o seu objeto é o que, por
natureza  (πον φγσει) vem em 1º
lugar, chama-se, por isso, "Filosofia primeira"’.   3 —
Escritos sobre ciências naturais:  (De Coelo);Escritos sobre as ciências
naturais: Generatione et corruptione);    (Metereologica),  espécie
de geografia física;   (Historia 
animalium), 
zoologia sistemática, em dez, livros;  (De partibus
animatium); 
sobre as partes dos  animais;    De
incessu animalium), 
sobre o andar dos animais;     (Do motu animalimn),
sobre o movimento dos animais;   (De
generatione animalium),
sobre a geração dos animais;    (De anima), sobre
a alma, em 3 livros;  além disso, uma série de escritos de pequenos tratados de ciências naturais (Parva
naturatia
), cujos títulos
são: De sensu et sensbilibus;  De memória et reminiscentia; De  Somno  et   Vigília;  De Insomniis; 
De Divinatione per Somnum; De Longitude et Brcevitate Vitae; De vita et Morte; 
De Respirarione.  
4 – Escritos éticos e políticos:           (Ethica Nicomachea), uma ética sistemática
em 10 livros, publicada pelo filho de Aristóteles,
Nicômaco,  que lhe deu o nome;    (Politheia), 8 livros sobre
sociologia,  Filosofia  do  Estado  e Filosofia  do  direito, como as concebia Aristóteles;   (Atheniesium res publica), a
única constituição que chegou até nós, das 158 que  Aristóteles colecionou.   Foi  descoberta em 1891.

Fazem  parte   do   Corpus  
Aristotelicum-  
a  (Ethica Eudemia)   (Magna Moralia),  sendo
a primeira,  provavelmente, a
primitiva Ethica aristotélica e, a segunda, a post-aristotélica. 5 –
Escritos filológicos:      (Ars   rhetorica),   sobre   a   arte   de  
falar;     Περι Ροηετικηζ 
(Ars poetica), sobre a arte poética.

Escritos espúrios: Catefforias 10-15
(Postpracdicamenta), são, de ordinário, consideradas como espúrias,
poderiam, contudo, ser autênticas; o livro IV dos
Meteorológicos, De mundo (influenciado pelo estoicismo, aparecido entre
50 e 100 P.O.)} o livro X e talvez também os livros VII, o VIII, cap. 21-30 Q o livro IX da História dos Animais; Sobre algumas notáveis
percepções auditivas; Sobre as plantas; Sabre m Si-tuação e o Nome dos Ventos;
Sobre os Som; Sobre a Respiração; Sobre a Moeidade e a Velhice; Sobre as
cores; Sobre as linhas insecáveis; Mecânica; Economia; Fisiognômica; Rethorica
ad Alexandrum; Sobre Xenófanes, Zenão e Górgias.
O livro A da Metaphysica
e o H da Physica são escritos de alunos seus. Os Problemata são
pós-aristotélicos, mas se inspiram em notas aristotélicas.

Bibliografia.

Edições
gerais: Aristotelis Opera. Edidit Academia Regia Borus-sica. 5 Bde. Mit
lateinisehen Überscteung, Scholien und des Grossen Index vom Bonitz (1831-1870)
: O Index de Bonita apareceu cm 1955, em reprodução (Wissenschaftl. Buchges.
Darmstad). Aristotle, Works with English Translation. De diversos editores em Loeb Classical Líbrary (London 1947 ss.). As mais importantes das obras de Aristóteles,
publicadas em separado, existem agora na Bibliotheca Oxoniensiis, já que
as antigas edições teubnerianas não são mais acessíveis. Os Fragmentos,
segundo V. Rose und R. Walzer, e agora em W. D. Rosa, Fragmenta Seleota   (Oxoni,   1955).

Traduções: alemãs, a de Rolfes, em Meiners Phillos. Bibliothek; de Gohlke, em Scliüningli-, Paderhorn, (1948 ss.) ; a de O. Gigon, em Arthcmi$-Verlar/-Zürich (1950 ss.) a de E. Grumach e outros (Berlin und Darmstad
1950 ss.). Inglesas: Smith-Ross, 12
vol. (Oxford 1908-1952). — Comentários: os antigos Commentaria in
Arirtotelicum Graeca,
23 Bde. (1882-1903). E mais o Supplementum
Aristotelicum,
8 bde. (1882-1903). Dos modernos, são particularmente
valiosos Kommentare sur metaphysik, de SCHWEGLER (Tübingen 1847-48) e Bonitz
(Bonn 1848-49), e os grandes comentários, em inglês, de Grant, Ste-ward, Burnet, Joachim, à Ética;
os de W. L. Newman, à Política;
os de W. D. Ross, à Metafísica, Physica, à Analítica e Parva
Natu ralia;
os de Joachim, ao De penerationc et corruptione. Os dois primeiros volumes da tradução
feita por Grumach (Ética a Nicômaco
e Parva Naturalia) contêm, igualmente, um valioso e extenso comentário (Fr.   Dielmeikr).

Teorias
concernentes à cronologia

Desde o livro de Jaeger sobre a evolução de Aristóteles, acham-se  as  indagações 
num  movimento  violento   e,   muitas vezes, cheio de
contradições. O pensamento fundamental de W. Jaeger
é o seguinte: Aristóteles, na
sua mocidade ainda platônico, evolui afastando-se cada vez mais do seu mestre,
embora conserve certas idéias essenciais à Filosofia platônica. Filosòficamente
falnndo, o supra-sensível do mundo das idéias, na concepção platônica, perde
cada vez mais a importância no decurso do tempo, ao passo que sobe o interesse
pelo nosso inundo, e sua indagação empírica. Neste mundo espácio-temporal é que
Aristóteles acabou, finalmente,
por se fixar. Em conseqüência, dentre as suas obras, são tidas como as
primeiras aquelas onde predomina o pensamento de Platão. E são posteriores aquelas onde essa influência
desaparece, a) Daí, são inteiramente platônicos os dialogas da mocidade, quando
Aristóteles ainda pertencia, ã
Academia, b) Mas, também na época de transição, embora já se manifestem novas
idéias, Aristóteles ainda é tido
como platônico. A este período pertence a chamada Física primitiva (Phys.
A, B; De caelo; De generatione et corruptione); a Metafísica
primitiva (Met.
A, B, K 1-8, A, com exceção do cap, 8, M 9-10, N); a Ética
primitiva (Et. Eud. A, B, T, H e a Política primitiva (Polit. B, Γ,
Η, Θ). c) Todas as outras obras pertencem ao tempo do Liceu: Agora, a
metafísica), já não é a teoria do mundo supra–sensível, luas a da substância
singular, sensivelmente perceptível, como se vê na Metaf. Ζ Η,Θ
. E a psicologia, a ética . e a política ocupam-se também com a realidade
concreta e os seus dados positivos. — H. v. Arnim
interpreta a evolução aristotélica de maneira totalmente diferente. Os
livros Iv, A, N da Met. são os primitivos; os outros pertencem ao tempo do
Liceu, mesmo os livros A e B, que atualmente estão ao lado dos livros Ζ Η,
Θ ; enquanto para Jaeger, estes
são obras posteriores. Em lugar da Ética Eudêmica, são as Magna Moralia
a Ética primitiva, ao passo que aquela pertence à segunda estada era
Atenas. — "W. D. Ross interpreta na mesma linha de Jaeger: a) Tempo da Academia: Diálogos de inspiração platônica; b) Tempo de Assos, Lesbos,
Messênia aquelas obras que chegaram até nós, e que ainda são platonizantes,
e são, para Ross: A. Física, o De coele, De generatione et
corruptione, De anima,
livro III, Ética
Eudêmica,
as partes mais antigas da Metafísica e a Política, talvez
ainda as partes mais antigas da História- dos Animais. As partes mais
antigas da Metafísica seriam, então M A, K 1-8, A, N; As da Política
os livros: Η e Θ. c) O tempo do Liceu leva, finalmente, à
conclusão das obras começadas no período intermediário, e, antes de tudo, da
Metafísica; em seguida, a Ética a Nicômaco, a Política e a Retórica,
a coleção das Constituições Políticas, os Meteorológicos, assim
como as obras psicológicas e biológicas.

Ross descobre a linha geral,
também, num movimento que, partindo de "um outro e além-mundo, acentua um
interesse crescente pelos fatos concretos da natureza e da história; e na
convicção de que a forma e o sentido do mundo não se separam da matéria, mas
devem achar-se incorporados nela". Tinia evolução semelhante também a
descobre Ross no próprio Platão, mas
ao inverso: quanto mais êle se afasta de Sócrates,
tanto mais se acentua a transcendência das idéias, i.é, a total
separação do supra-sensível. Donde a volta, agora, em Aristóteles, do supra-sensível para o sensível. Exagera-se,
então, a idéia do supra-sensível, isto é, a Metafísica não significa já uma
"separação" total, mas uma separação completamente específica,
realizada de determinado modo. Esta falsa idéia de metafísica encontra-se,
porém, muito disseminada. E por aqui se vê como ela também ainda influencia,
a formação histórico-literária do pensamento.

A teoria de Gohlke se manifesta diversamente: a) O
período platônico domina o pensamento de Aristóteles,
desde o começo até aos quarenta anos. A partir de então, toma Aristóteles, rapidamente, um rumo que
o leva a trilhar caminho inteiramente próprio, contudo, já previamente
preparado, b) Na partida de Atenas paia Assos, Aristóteles se volta para a constituição das suas idéias
ético-políticas; é de então o primeiro plano das Magna-Moralia; a
seguir vêm os livros mais antigos da lógica e da metafísica, entre os quais as
Categorias e os Tópicos 3-0. Mas, filosòficamente, encontra-se ainda no
terreno da teoria, das idéias, c) Depois da volta para Atenas, manifesta-se,
logo, na sua própria escola, a tendência para a substância das coisas
concretas e singulares. Com o surgir da doutrina do ato e da potência,
que se nota com a introdução de uma idéia nova, a δυναμιζ,
fêz com que Aristóteles, partindo
da idéia de potência, pudesse aceitar, de novo, a idéia do eidos. Mas a
mudança mais radical está em que a ciência da substância como ser
concreto veio a transformar-se numa teologia. Ao contrário do que afirma Jaeger, este Aristóteles empírico interessa-se agora, e de novo, pelo
princípio do ser, tornando-se então um teólogo, e mesmo um teólogo monoteísta.
(Met. À, e De Mundo, que Gohlke, apesar
de toda a crítica filológica, tem como autêntico). Na cronologia da Metafísica,
Gohlke distingue 4 fases: l) a
primitiva Metafísica (A 1-9, B, V, A, Z,
na concepção antiga, e I). 2) a média Metafísica (A
1-7 e 10, B-E, Z, na antiga concepção, e I, M ab, 10S6
a 21, N). 3) o chamado "esboço" (K, A). 4) A forma de uma incipiente
e nova elaboração, reconhecível pelos acréscimos à média Metafísica, particularmente
em Z, e assim como em trechos inteiramente novos (α, H, M até 1086 a 21).
Para a Física, sua cronologia é: A, E, Z-©, na antiga concepção, sem o
"motor imóvel", B-A e, finalmente, a nova concepção de © e a
composição do todo.

M. Wündt,
em grande parte de acordo com Gohlke,
Coloca igualmente no começo dos anos de magistério, no Liceu, a
convicção de Aristóteles de que
as coisas singulares concretas e sensíveis significam o ser, no sentido
primitivo; | o que vemos no livro das Categorias, todo êle dos primeiros
tempos. Nisso permanece, mas, de outro lado, nasce, em Aristóteles, a preocupação de saber se não deve admitir,
também, uma forma de essência, a supra-sensível. Por isso, podemos
circunscrever a Filosofia de Aristóteles
entre dois pólos — o singular concreto e o universal; o que bem
claramente se vê na questão do conceito de metafísica e da concepção da ουσια.
A primeira questão corresponde o problema, da matéria, das αρχαι
e do movimento, problema esse já posto pelos jônios.; à segunda, o problema
do ser como tal, da forma e do ειδοζ
universal, problemas estes que já foram formulados pela Filosofia
itálica e platônica. A influência platônica, perceptível, talvez, na Física B e
Met. F, E e À é muito mais recente, pois
aí emerge, pela primeira vez, o duplo conceito de δυναμιζ
ενεργεια que Aristóteles,, só mais tarde, descobriu,
como o demonstra Gohlke. A
influência jônica, perceptível talvez em Fís. A e Met. A1-2 ou A é mais recuada no tempo. Do contato dessas duas esferas de pensamento teriam nascido as
aporias da Metafísica. Aristóteles procura
resolvê-las pela dupla de conceitos δυναμιζ ενεργεια.
Essa dualidade de conceitos é a sua primeira e mais própria realização, e é a
esta luz   que   devemos   interpretar   a   sua  discussão  com   Platão.

Livros que não contêm essa dualidade de conceitos são sempre lidos como
os mais antigos. Que Met. E e A. sejam mais recentes, deduz-se do fato de que,
aí, recorre-se à idéia do motor imóvel, o que levou Hans v. Arnim a afirmar que Aristóteles
só posteriormente o descobriu. Êle poderia tê-lo entendido, de acordo
com os jônios, como a causa primeira, e, de acordo com Platão, como o ser que só existe
por si mesmo. Bem no começo se deve colocar Met. Z, que pressupõe a
idéia, fundamental de que a substância é, propriamente, a substância primeira
e, com ela é, ao mesmo tempo, encontrado o tão desejado objeto da metafísica.
Uma substância singular, a saber, a divina, constitui a pedra de fecho da
Metafísica. Ela se distingue das substâncias singulares comuns, como o incondicionado,
do condicionado. O sentido de toda a Metafísica está nessa elevação da
substância individual, sensível e condicionada, para a substância
incondicionada do primeiro motor. Segundo J. Zuercher,
tudo quanto de autêntico ainda se encontra, no Corpus Aristotelicum reproduz
a Filosofia platônica. E isso constituiria, certamente, apenas cerca de 25% de
todo o Corpus. Tudo o mais é acréscimo posterior de Teofrasto, que, durante trinta, anos,
trabalhou com o inventário da obra do seu mestre, e a teria alterado
fundamentalmente.

Bibliografia

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Aristóteles
(1923) : W. Jaeger, Studien
mir Entstehungsgeschichte der Metaphysik
(1912) ; do mesmo, Aristóteles:.
Grundlegung einer Geschichte sciner Enhcichliing
(1923. -1955) ; W. D.
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Cosmovisão (1911) : O. Hamelix. Le
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(1931) ; H. v. Arnisc. Eudemische Ethik vnd Metaphysík — Ética Eudómieu e Metafísica —
Wieu (1928) ; do mesmo. Die Entstehttng der Gotteslchre des Aristóteles
O Surgimento da Teologia em Aristóteles. Wien (1931) ; Q. R. G. MT7RE. Aristotle (London. 1922) ; W. Broecicur, Aristóteles (1935) ; F. Nctens, Ontwikkelingsmomenten in de Ziellatnde van Aristóteles- (Nijm-megren
1939) ; J. Schaecher. Studien
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(1940) ; A E. Tateou, Aristotle, London
(1913,1951) ; L. ROBIN, Aristote, Paris, (394-1) ; H. F. Cherness, Aristotle’s Criticism of Plato and the Academy, Baltirnore
(1944) ; P. WXLPBRT, Ztoei arisfotelisr.he Eruehschriftcn ucber die
Jdeciilehre
— Dois Escritos Primitivos de Aristóteles sobre a Doutrina das
Idéias (1949) ; ,T. VAN der Mettle.v, Aristóteles
(1951) ; P. MORAUX, Les listes anciennes des ouvrages d,’Aristote, Louvain
(1951) ; .7. Zeercheií, Aristóteles,
Werke und Geist
— Aristóteles, Obra e Espírito (1952) ; D. J. Ar.LAX, The
Philosophy of Aristotle, Oxford
(1952) ; 31. Wündt, Untersuohungen nur Metaphysík — Investigações à
Metafísica de Aristóteles (1953) ; P. Qholkk, Die Entsiekung der aristotclischen Prin-zipienlelire
Aparecimento da Doutrina Aristotélica sobre os Princípios (1954) ; A. Mansioií, Autotir dAristote, Louvain
(1955) ; Rivista di Filosofia neoscolatica, Aristotele nella critica, e
negli studi contem poranei,
Milano, (1949) ; W. Theiier, Die Entstehung der Metaphysik des Aristóteles.
Mit ei nem Anhang uber Theophrasts Metaphysík
— Aparecimento   da  
Metafísica   de   Aristóteles.     Com   um   apêndice   sobre   a metafísica   Teofrasto,   Museum   Helveticuni   15   (1958).    
[Nota   do tradutor   brasileiro:    Há   uma    boa   tradução   francesa  
das   obras   de Aristóteles   por   J.   Tricot,  
em   15   vol.s.   publicada   por   Vrin,   Paris. Na coleção "Belles
Lettres", 
Paris,   há. uns 9 vols. já   publicados,   com o texto
grego no lado.    Em inglês, a excelente Oxford Translation. Sobre direção  
de  W.   D.   Ross,   11   vols.     Em   português,   está   traduzida   a Poética,  
por Eudoro de Souza, Lisboa  
(1951),   e a Metafísica, vol.  I [Livros   I   e   II),   em.   trndução   direta   do grego   por  
Vinvenzo  Cocco, introdução  e Notas  de Joaquim  de  Carvalho,   Coimbra, 
MCMLI.]

 

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