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13/06/2005 às 3:10 #70239Miguel (admin)Mestre
Sartre, preocupado com as teses deterministas, as quais poderiam excluir os homens da sua responsabilidade moral, propôs uma filosofia na qual cada homem e cada mulher seria responsável por si e por seus próprios atos.
Porém, as religiões, as leis (do direito), a moral (que prescreve as práticas aceitas e as práticas proibidas na sociedade), os dogmas (do senso-comum), a ideologia (da superestrutura) e nosso próprio subconsciente condicionam nosso comportamento e revelam que nossa capacidade de agir é influenciada por esses vários fatores. Logo, ninguém poderia ser considerado responsável isolado, ou único responsável, pelos próprios atos (visto que somos guiados a fazer escolhas boas ou más, visando a autopreservação, instinto de sobrevivência e vontade de ser aceito na sociedade).
Afinal, podemos ser julgados e condenados ou absolvidos pelos nossos atos. Temos o arbítrio para fazer o bem ou o mal. Temos a capacidade de julgar os atos alheios e os nossos próprios. O que é a culpa, o remorso, a hipocrisia, etc?13/06/2005 às 13:39 #79762Miguel (admin)MestreSartre, preocupado com as teses deterministas, as quais poderiam excluir os homens da sua responsabilidade moral…
Não vejo por quê: o indivíduo é responsabilizado pelo que ele É e, provavelmente, sempre vai ser, não pelos motivos de força maior que o influenciaram.
Sartre não salvou a civilização do determinismo. Pelo contrário, ele deu mais consistência à ilusão da metafísica da presença.
13/06/2005 às 14:51 #79763Miguel (admin)MestreO homem é produto do meio. O meio hostil pode (não quer dizer que seja uma regra) produzir indivíduos hostis.
Indivíduos hostis, por sua vez, podem (ação contingente) agir de má fé, roubar, matar etc. Visto que o meio produz a hostilidade nas pessoas,
até onde esses indivíduos podem ser considerados responsáveis pelos seus atos? Onde começa a responsabilidade do individuo e a responsabilidade da sociedade que produz esses indivíduos hostis?
“O homem não é mau, a sociedade é que o corrompe”
RosseauPor favor, me explique o que é metafísica da presença. Grato!
13/06/2005 às 16:21 #79764Miguel (admin)MestreAcho que eu já respondi essas questões: o indivíduo é responsável por aquilo que ele É, no sentido do Ser de Parmênides.
Quanto à crítica à metafísica da presença, não me considero inteligente o bastante para explicá-lo. O meu entendimento é mais intuitivo do que um conhecimento de saber.
Eu acho que o Brasil está bem atrasado em termos de conhecimento filosófico. Derrida ainda é novidade no Brasil, mas já era bem conhecido na década de 1970, na França.
Contudo, posso indicar alguns trechos de textos que explicam muito melhor do que eu poderia. Depois de acessá-los, procure no localizador do texto pelas palavras “metafísica” e “presença”:
http://www.puc-rio.br/sobrepuc/depto/psicologia/LuisClaudioTempo.html
13/06/2005 às 20:49 #79765Miguel (admin)MestreObrigado, Mileto, pela ajuda.
Para mim, a filosofia de Sartre, a qual nos faz responsáveis por nossas próprias ações, entra em conflito com a constatação de que somos produto do meio,logo não deveríamos ser responsabilizados pelos erros que cometemos, pelos mau-julgamentos, etc
Voce diz que o homem é responsável pelo que ele É. Eu digo que o homem é produto do meio (Sartre e Simone Beauvoir já diziam que não há essência humana), logo o homem é produto de uma cultura. Quando o homem comete um erro, foi a educação, ou seja, toda a sociedade quem errou.Por isso, dois pensamentos podem incorporar esse fórum:
Nietzsche= estar acima do bem e do mal, fazer da vida uma arte, ser autêntico
Aleiter Crowley= hedonismo e liberdade. A Lei de Thelema: faz o que tu queres
A sociedade cria limites (leis, moral etc) para nossa ação. Sartre diz que já somos livres (o que NÃO concordo incondicionalmente), Nietzsche diz para sermos autênticos (logo, nós não o somos), Crowley diz para fazermos o que quisermos.
Será que seria o caos se fossemos seguir os dois ultimos pensamentos. A humanidade saberia ser livre, sem leis, por exemplo?
Eu acho que com as leis já existe corrupção, morte, roubo etc. E se não houvesse leis:
Seria pior? como? o que pioraria e o que melhoraria?
O que vocês acham….?13/06/2005 às 22:13 #79766Miguel (admin)MestreE. MILETO e NAHUINA,
estou sentindo falta de vocês no fórum “Marx/ por que Marx errou?”
Cadê essa galera???
Aparece lá depois, compadre
VALEU!14/06/2005 às 0:35 #79767Miguel (admin)MestrePara mim, a filosofia de Sartre, a qual nos faz responsáveis por nossas próprias ações, entra em conflito com a constatação de que somos produto do meio, logo não deveríamos ser responsabilizados pelos erros que cometemos, pelos mau-julgamentos, etc.
– Espera aí, vamos com calma! Conhecimento demais sem sabedoria é catástrofe. Sartre faz um apelo humanístico aos seus leitores do tipo “Acordem que chegou o momento!”. É muito mais um convite ideológico do que uma constatação metafísica.
No real mesmo, eu não escolhi estar aqui. As desgraças do mundo não sucederam por minha causa. Toda a miséria humana, bem como as regras do jogo, já existiam antes de eu nascer.
Mas você fala do dever. O que deveria ou não remete à questão da justiça. E, como Nahuina brilhantemente acrescentou, “justiça é utopia”. Contudo, resta essa necessidade de articular as idéias, confrontar a tese sartriana com a respectiva antítese determinista, para extrairmos daí alguma síntese satisfatória.
O sociopata pode ser um fruto da própria sociedade. Ele pode ser recuperável ou não. Se ele for recuperável, a sociedade deve prover os meios de recuperação. Mas, e se ele não for? Deixamo-lo livre, por ele não ser responsável por ter sido condicionado àquela condição sem escolha???
Voce diz que o homem é responsável pelo que ele É. Eu digo que o homem é produto do meio (Sartre e Simone Beauvoir já diziam que não há essência humana), logo o homem é produto de uma cultura. Quando o homem comete um erro, foi a educação, ou seja, toda a sociedade quem errou.
O homem deveria, na minha opinião, ser responsabilizado pelo que É no sentido de Ser de Parmênides. Ou seja, por aquilo que se constituiu e se cristalizou nele como uma essência. Por exemplo:
Se eu fosse um assassino e gostasse de sê-lo, devería ser retirado da sociedade o mais breve possível. Mas, se eu tivesse sido induzido a matar alguém e o fizesse, até mesmo por ignorância, eu deveria ter uma segunda chance. Aquele que tem potencial para mudar, mereceria uma segunda chance.
Agora, que não exista essência humana, acho isso polemicamente discutível…
14/06/2005 às 2:41 #79768nahuinaMembroVoce diz que o homem é responsável pelo que ele É. Eu digo que o homem é produto do meio logo o homem é produto de uma cultura.
Renan!não!
Esse é um equivoco freqüente(comum), porem, ñ deixa de sê-lo…
Poderia ser definido como “alienação antropológica do homem por ele mesmo* “….O homem é influenciado (até mesmo “criado”) pela cultura ou
A cultura é influenciada (e foi criada) pelos homens ????
Qual está certa? Qual está errada?Se vc conseguir responder escolhendo uma td bem, mas eu não consigo!
Você diz “o homem é produto do meio”. Concordo! Mas e o meio… É produto de que?
Ou melhor: O que é o “Meio”?O homem é livre pq ele se faz, ele se cria, vc nasce e vc ñ é nada além de matéria orgânica, viva…vc é mais uma vida, e vc faz dessa vida o q vc faz….mesmo que o “meio” te influencie em determinadas coisas; a forma como vc interage com o meio é uma escolha que VOCÊ faz. O que você faz para mudá-lo ou para deixá-lo assim é responsabilidade sua…
Se você ñ faz nada, o nada É uma coisa, e vc faz nada, então vc fez alguma coisa ñ fazendo nada e deixando o meio te influenciar….
O homem NÃO SERIA livre se o meio o condicionasse de uma maneira na qual ele ñ tivesse como fugir, só assim ele ñ seria livre….
A partir do momento que existem eu, vc, Mileto, a/s pessoa/s responsável/eis pelo fórum, todas as pessoas que fazem arte (que vai contra a cultura muitas vezes), os que pensam (esses são os mais importantes), e até os que sofrem (por causa do meio) sem entenderem o pq.São provas da liberdade do homem; ele É e ele escolhe (influenciado ou ñ) ele SEMPRE escolhe e isso o faz livre…..(Estou cansado, ñ consigo explicar melhor… *ah a frase é de um amigo meu, eu gostei.E vc/s ?)
14/06/2005 às 14:58 #79769Miguel (admin)MestreOi, Nahuina.
Concordo INTEIRAMENTE! Você explicou muito bem, parabéns (FINALMENTE eu entendi)
Valeu!!Só tenho mais uma dúvida: essa visão que você descreveu acima é de Sartre? Se não for me passe.
aguardo resposta.Olá, Mileto, tudo bem?
Achei interessante o que você disse (bem lá em cima, no início do fórum): Sartre não nos salvou do determinismo. Por que? Não entendi.
aguardo resposta.Falou, galera, até mais…!
14/06/2005 às 15:26 #79770nahuinaMembroRenan: Se foi isso o que Sartre estava tentando explicar, eu ñ sei; mas foi isso que eu consegui entender, ñ do “Ser e o Nada” que é essencialmente Metafisico, mesmo tratando sobre esses assuntos…
As ideias de “O Existencialismo é um Humanismo” são mais “simples” e concretas vc poderia começar por ele…vale a pena!14/06/2005 às 15:51 #79771Miguel (admin)MestreSartre não nos salvou do determinismo. Por que? Não entendi.
Existe essa confusão: “entra em conflito com a constatação de que somos produto do meio, logo não deveríamos ser responsabilizados pelos erros que cometemos”.
O determinismo é só uma constatação de relação causal. Essa conclusão de que o homem não deveria ser responsabilizado pelos erros não decorre do determinismo. “Causa e responsabilidade são coisas distintas.”
Sendo assim, o homem não se torna mais ou menos responsável, depois de Sartre…
14/06/2005 às 16:20 #79772nahuinaMembroSomos produto do meio e livres ao mesmo tempo?Ou somos livres?Ou somos produtos do meio?
Se o meio tivesse uma interferência na nossa vida tão grande a ponto de nos tirar a liberdade então nunca iríamos fazer nada alem do que o meio nos impõe….Não podemos esquecer que nós produzimos o meio….14/06/2005 às 16:43 #79773Miguel (admin)MestreSe o meio tivesse uma interferência na nossa vida tão grande a ponto de nos tirar a liberdade então nunca iríamos fazer nada alem do que o meio nos impõe….Não podemos esquecer que nós produzimos o meio….
Foi por isso que eu disse lá atrás:
“Contudo, resta essa necessidade de articular as idéias, confrontar a tese sartriana com a respectiva antítese determinista, para extrairmos daí alguma síntese satisfatória.”
A liberdade de escolha é do indivíduo, mas a liberdade de opções de escolha, não…
Diz Sartre que é o homem que escolhe quem ele é, mas será que bastaria que eu escolhesse ser um jogador de futebol tão bom quanto Maradona ou ser um grande filósofo que eu conseguiria sê-lo???
Posso mesmo chegar a ser tudo que gostaria de ser ou minhas capacidades físicas e mentais me limitam?
14/06/2005 às 17:37 #79774nahuinaMembroAs capacidades ou a falta delas limitam o tempo todo,mas vc continua sendo livre…
14/06/2005 às 19:32 #79775Miguel (admin)MestreA meu ver, o objetivo do existencialismo era romper com o determinismo.
deteminismo= tudo está determinado, o destino está escrito.
existencialismo= não somos joguetes de Deus nem do destino. temos liberdade total de agir.É uma simplificação, mesmo assim, se estiver errado me avisem.
ValeuVou procurar “O Existencialismo é um Humanismo”
valeu, Nahuina! -
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