A Metafísica e suas fases históricas
Ricardo Ernesto Rose,
Jornalista, Graduado em
filosofia e pós-graduando em
sociologia
A questão do ente,
“o que é?”, foi uma das principais idéias que deram origem à metafísica. Historicamente, a metafísica remonta a Aristóteles, que a chamava de
“filosofia primeira”, pois a partir dela é que construiu todo
o seu sistema filosófico. No livro IV da Metafísica, Aristóteles escreve: “Há uma ciência que investiga o ser como ser e as
propriedades que lhe são inerentes devido a sua própria natureza” (Aristóteles, 2006). Na própria obra Metafísica,
Aristóteles faz um relato histórico, mostrando como a partir dos pré-socráticos a filosofia sempre procurou uma base imutável para seus raciocínios, ou
seja, um princípio único material (água, ar) ou imaterial (o número, As Formas)
a partir do
qual toda a physis fosse constituída.
Um grande passo dado na filosofia foi quando o enfoque passou da cosmologia (que estudava o mundo em sua diversidade, mudança
e multiplicidade)
para a ontologia (que pensa a unidade, a identidade e a imutabilidade). Esta mudança foi introduzida no pensamento ocidental através da filosofia de Parmênides. Com este filósofo, pela primeira vez se empregou na filosofia o termo
“ser” na acepção que depois foi usada na metafísica aristoteliana.
A história da questão sobre o ser (“por que os entes existem se simplesmente nada poderia existir?”) é, de certo modo, a história da própria metafísica. O termo “metafísica”
queria dizer originalmente “além dos livros de física”, no sentido de “depois de passarem os livros de física” (aqueles que
em uma determinada ordem de arrumação se encontravam depois dos livros tratando da física, segundo o exegeta Andrônico de Rodes, séc. I a.C.). Apesar da interpretação diferente, a disciplina passou a ser chamada por esse nome, já que se propunha a estudar a essência das coisas, daquilo que elas são além das aparências, “além da física”
(o que é o sentido original da disciplina). No século XVII o filósofo alemão Thomasius criou a palavra “ontologia” (no sentido de “estudo do
ser”) para substituir a expressão “metafísica”, mas não teve grande sucesso. A expressão ficou restrita principalmente aos países que foram influenciados pela filosofia alemã.
A metafísica divide-se historicamente em três períodos principais (conforme Chauí e
outros autores):
a) O período que vai de Platão e Aristóteles (séc. IV e III a.C.) até o pensador inglês David Hume (séc. XVIII). Este primeiro período caracteriza-se pela investigação do que é, da realidade em si. Todavia, seus raciocínios
baseiam-se mais em conceitos do que na realidade; o conhecimento é sistemático, interligado, enfatizando a distinção entre a
aparência e a realidade. Este período termina quando Hume esclarece que os conceitos metafísicos não correspondem a uma realidade existente em si mesma, sendo apenas idéias e conceitos.
b) O período que vai de Kant (séc. XVIII) até Husserl (séc. XX). Este segundo período inicia-se com Kant, que demonstra ser impossível manter uma metafísica tradicional. A
partir desse período a metafísica, mesmo usando os mesmos termos, não se referirá mais
a algo que
exista em si, mas a algo que existe apenas no
nosso conhecimento.
c) A metafísica contemporânea, a partir dos anos 20 do século XX. A metafísica contemporânea investiga aspectos como os modos de existência do ente, a
significação/sentido destes entes, as maneiras diversas como estes entes se apresentam
a nossa consciência. A metafísica atual é descritiva porque não apresenta mais uma explicação causal da realidade. A disciplina se ocupa atualmente do estudo de temas como a liberdade e o livre-arbítrio, o tempo, Deus, a questão da individualidade, e ética, entre outros.
Sob o aspecto ontológico (investigação filosófica dos entes) a pergunta pelo ser das
coisas ainda é válida. A ontologia estuda
“os entes ou seres antes que sejam investigados
pelas ciências e depois que se tornaram enigmáticos para nossa vida cotidiana” (Chauí, 2006). A ontologia, portanto, ainda continua estudando o ser, a essência ou o sentido das coisas; o sentido do ente físico ou natural, do ente psíquico, do lógico, matemático,
estético, moral, etc. Neste sentido os entes podem ser reais (“as coisas”); ideais (as idéias, as instituições, tudo que é produto do raciocínio humano); valorizados (os valores,
a axiologia); e podem mudar de acordo com as alterações
na cultura das sociedades, não sendo mais eternos e imutáveis, como no passado.
Quanto à questão “por que há simplesmente o ente e não antes o Nada?”, colocada primeiramente
por Leibniz e depois ampliada em importância por Heidegger, continua sendo uma das mais importantes
questões da filosofia (dependendo, evidentemente, da escola filosófica). Alguns pensadores respondem que a única resposta para esta questão
é Deus, fato que não poderá nunca ser provado. Outros
afirmam que a resposta não tem sentido.
Já outros argumentam que a questão se baseia em uma hipótese falsa – “a
hipótese segundo a qual poderia não existir literalmente nada, um mundo absolutamente
vazio” (Garrett, 2008).
Bibliografia:
ARISTÓTELES. Metafísica. Edipro. São Paulo: 2006, 363 p.
– CHAUÍ, MARILENA. Convite à filosofia. Editora Ática. São Paulo: 2006, 424 p.
– CRESPO, LUIS F.; COLOMBINI, ELAINE, A.M. Filosofia Geral – Problemas metafísicos
I. CEUCLAR. Batatais: 2008, 68
p.
– GARRET, BRIAN. Metafísica. Artmed. Porto Alegre: 2008, 190 p.
– TAYLOR, RICHARD. Metafísica. Zahar Editores. Rio
de Janeiro: 1969, 141 p.
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