ANTONIO CARLOS RIBEIRO DE ANDRADA MACHADO E SILVA

Biblioteca Academia Paulista de Letras – volume 7.

História da Literatura Brasileira TOMO I. vol 3.

 LIVRO PRIMEIRO Época de Transformação (século XIX) 2º período (Fase Patriótica)

Artur Mota ( Arthur Motta) (1879 – 1936)

CAPÍTULO IV (Continuação)

OUTROS FAUTORES DA INDEPENDÊNCIA

ANTONIO CARLOS RIBEIRO DE ANDRADA MACHADO E SILVA

Nasceu em Santos (S. Paulo) a 1 de novembro de 1773 e faleceu no Rio de Janeiro a 5 de dezembro. de 1845. Era filho do Coronel Bonifácio José de Andrada e D. Maria Bárbara da Silva; irmão de José Bonifácio e Martim Francisco.

BIBLIOGRAFIA

1) Proposta para formar, por subscrição na metrópole do império britânico, uma instituição pública para derramar e facilitar a geral instrução das úteis invenções mecânicas e melhoramentos — tradução de obra inglesa — Lisboa, na oficina de Antônio Rodrigues Galhardo, 1799, in 8.° de 46 págs. — Raríssimo.

2) Cultura americana que contém uma relação do terreno, clima, produção e agricultura das colônias britânicas no Norte da América, e nas índias Ocidentais, com observações sobre as vantagens e desvantagens de se estabelecer nelas, em comparação com a Grã-Bretanha e Irlanda. Por um americano. Traduzida da língua inglesa, debaixo dos auspícios, e de ordem de sua alteza real o príncipe regente, em dois volumes, sendo o 1.° pelo bacharel José Feliciano Fernandes Pinheiro, e o 2.° pelo bacharel Antonio Carlos Ribeiro d’Andrada; publicados ambos por Fr. José Mariano da Conceição Velloso — Lisboa. Na Of. de Antonio Rodrigues Galhardo — ano de 1799, de 419 a 179 páginas. — Raríssima.

3) Tratado do melhoramento da Navegação por Canais, onde se mostram as numerosas vantagens, que se podem tirar dos pequenos canais, e barcos de dois até cinco pés de largo, que contenham duas até cinco toneladas de carga; com uma descrição das máquinas precisas para facilitar a condução por água por entre os mais montanhosos países, sem dependência de comportas e aquedutos; incluindo observações sobre a grande importância das comunicações por água, com reflexões e desenhos para aquedutos, e pontes de ferro e de madeira, ilustrado com XVIII estampas. Escrito na língua inglesa por Roberto Fulton, engenheiro civil, e traduzido para a portuguesa por Antonio Carlos Ribeiro de Andrade Machado da Silva, bacharel formado na Faculdade de Leis, e bacharel de filosofia pela Universidade de Coimbra, publicado por Fr. José Mariano da Conceição Velloso — Lisboa, na Of. da Casa Literária do Arco do Cego — 1800 — Muito rara.

4) Considerações cândidas e imparciais sobre a natureza do Comércio do Açúcar; e importância comparativa das ilhas britânicas e francesas das índias Ocidentais, nas quais se estabelece o valor e conseqüências das ilhas de Santa Luzia e Granada, trasladadas do inglês por Antonio Carlos Ribeiro de Andrade, formado em leis e bacharel em filosofia. Publicadas por Fr. José Mariano da Conceição Vellòso — Lisboa, Of. da Casa Literária do Arco do Cego, ano de 1800. — Muito rara e estimada.

5) Reflexões sobre o decreto de 18 de fevereiro deste ano, oferecidas ao povo da Bahia por Philagio Sotero — Bahia, Tip. da viúva Serva e Carvalho, 1821, 11 págs. in 4.° — n.° 6.821 do Cat. da Exp.«)

6) Projeto de Constituição para o Império do Brasil — Rio de Janeiro, 1823. Encontra-se na Biblioteca Nacional o original, escrito do próprio punho de Antonio Carlos, com anotações a lápis feitas por José Bonifácio e assinaturas autografas de ambos e de outros signatários, membros da comissão. Assinaram-no as seguintes pessoas: José Bonifácio e Antonio Carlos de Andrade e Silva, Antônio Luís Pereira da Cunha (depois Marquês de Inhambupe), Manoel Ferreira da Câmara Bittencourt e Sá, Pedro de Araujo Lima (depois Marquês de Olinda), com restrições, José Ricardo da Costa Aguiar de Andrade e Francisco Munis Tavares. 30 fls. in foi. Foi, no mesmo ano, impresso no Maranhão, com o título: "Projeto de Constituição para o Império do Brasil", impresso no Rio de Janeiro e reimpresso no Maranhão. Tip. Nacional — ano 1823. Esse projeto foi apresentado à Câmara no dia 1 de setembro e discutido até o momento da dissolução da Assembléia, em 12 de novembro de 1823. Foi posto de lado, e aceito outro projeto de autoria de José Joaquim Carneiro de Campos, Clemente Ferreira França e outros. É o número 9.914 do Cat. da Exposição.

7) Ao ilustre público, ou resposta dada ao redator da "Aurora" — Rio de Janeiro, Tip. d’E. Seignot-Plancher — 1832, in 4.° peq., n.° 19.677 do Cat. da Exp.

8) Esboço biográfico e necrológico do Conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva, por seu irmão, etc. Rio de Janeiro, Tip. Imparcial de F. de Paula Brito 1838, in 4.° de 16 págs. É publicação póstuma, feita no "Guanabara", tomo 3.°, 1855, págs. 299 a 307, n.° 15.374 do Cat. da Exp.

9) Defesa do Conselheiro Antonio Carlos Ribeiro de Andrada e Silva, por motivo dos acontecimentos de 1817 em Pernambuco, sendo desembargador da Relação da Bahia e ouvidor de Olinda. Trata-se, também, de publicação póstuma, impressa na "Revista Literária e Recreativa" do Rio de Janeiro, vol. I de 8-3-1858. É o n.° 6.783 do Cat. da Exp.

10) Preciso dos sucessos que tiveram lugar em Pernambuco desde a faustíssima e gloriosíssima Revolução operada felizmente na praça do Recife aos 6 do corrente mês de março, em que o generoso esforço dos nossos bravos patriotas exterminou daquela parte do Brasil o monstro infernal da tirania real (10-3-1817) — inédito. O original, com assinaturas autografas do autor e de vários outros políticos, todas reconhecidas a 10-4-1818, em Pernambuco, foi apresentado na Exposição de História do Brasil, n.° 6.779 do Cat. da Exp.

11) Parecer da comissão encarregada dos artigos adicionais da Constituição para o Brasil, lido pelo deputado de S. Paulo, o senhor A. C. R. de A. na sessão de 17-6-1822 — Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1822, in fol. 1 fl., n.° 7.051 do Cat. da Exp.

12) Discurso que não chegou a ser pronunciado, por causa do primeiro encerramento da discussão, na Câmara dos Deputados — Em "O Maiorista" — 1841.

13) Réfutation des calomnies relatives aux afaires du Brésil insérées par un sieur De Loy dans l’Indépendant de Lyon; par Messieurs José Bonifácio d’Andrada e…, Antonio Carlos Ribeiro d’Andrada…, Martim Francisco Ribeiro d’Andrada. .. — Paris, Imp. A. Béraud, 1826 — É o n." 173 da Biblioteca Brasiliense.

14) Cartas Andradinas — 88 págs. Rio, Tip. G. Leusinger, 1890 — Extraídas dos "Anais da Bib. Nacional", ü)

___________

(6) Tancredo de Barros Paiva — Achegos a um Dicionário de pseudônimos — 1929, pág. 121.

(7) Remigio de Bellido refere-se, também, a uma "Carta ao Conde de Subserra", em " História Financeira do Brasil" (1889) e ao "Auto de perguntas", relativo à Revolução de 1817 (Rev. do Inst. Hist., vol. 30, pág. 113.

Antonio Carlos, como os irmãos, também escreveu versos. Dele são conhecidos o "Soneto à liberdade", transcrito por S. Blake, no "Dic. bibliog. brasileiro", vol. I, pág. 130, e outro dedicado a Santos. Laudelino Freire, em "Sonetos Brasileiros", também transcreve esse soneto. O primeiro foi escrito quando o autor se achava preso na cadeia da Bahia, por haver tomado parte na conspiração de 1817, em Pernambuco. À pág. 509 do 4.° vol. da l.a fase da "Revista Brasileira", encontra-se o "Soneto" a Camões, e na "Lírica Nacional", de Quintino Bocaiúva, o "Canto de amor". Alberto Sousa repro-duz-lhe 2 sonetos. Os seus discursos parlamentares se encontram nos anais da Constituinte de Lisboa e do Brasil: "Diário das Cortes de Portugal" — 1822-23. "Diário do Parlamento Brasileiro" — 1823, 1838-42; e nos "Anais do Senado", 1845. Encontram-se trabalhos na "Rev. do Inst. Hist.".

FONTES PARA O ESTUDO CRÍTICO

 Affonso Taunay — Grandes vultos da Independência e A Independência e os Andradas.

 Alberto Sousa — Os Andradas — 3 volumes.

 Américo Brasilino — Esboço biográfico, na "Rev. Polar", 1859.

 Azevedo Marques — Apontamentos históricos.

 Dias Martins — (Pe. Joaquim) — Os mártires pernambucanos.

 Dicionário biográfico de brasileiros célebres, pág. 6.

 Dr. Sigaud — Anuário do Brasil — 1846 — pág. 469.

 Eugênio Werneck — Antologia Brasileira, pág. 417.

 Galanti (Rafael Maria) — Biografia de brasileiros célebres, pág. 86.

 Gomes de Carvalho (M. E.) — Os deputados brasileiros nas cortes gerais de 1821.

 Homem de Mello — Esboços biográficos — 1.’ parte, pág. 83.

 Inocêncio Silva — Dicionário bibliográfico, vol, I, pág. 104.

 Jacinto Ribeiro (J.) — Cronologia Paulista — 2.° vol., págs. 295, 392 e 591.

 – João Pessanha — Notícia biográfica dos ministros havidos no Brasil.

 Joaquim Manoel de Macedo — Ano biográfico brasileiro, vol. 3.°, pág. 381.

 José Bonifácio A. e Silva — Apontamentos genealógicos da família Andrada.

 Levy Santos — Panteão Fluminense.

 Martim Francisco — Contribuindo.

 Muniz Tavares — História da Revolução Pernambucana.

 Nunes Pires (Evaristo) — Esboços históricos e biográficos.

 Pereira Pinto (Antonio) — Elogio biográfico (Rev. Inst. Hist., vol. 4 — 1848).

 Pereira da Silva — Os varões ilustres do Brasil, 2.° vol., pág. 363 e Revista do Inst. Hist. e Geog. Brasileiro — História da fundação do império do Brasil.

 Pinheiro Chagas — Brasileiros ilustres.

 Porto Alegre — Elogio, na Rev. do Inst. Hist., XI, pág. 150.

 Remigio de Bellido — Biografia andradina. Rev. do Inst. Hist.

 Rio Branco (Barão do) — Efemérides Brasileiras.

 Rocha Pombo — História do Brasil, vol. 5.°.

 Rocha Ferreira Lapa (Ludgero da) — Discurso (Rev. do Inst. Hist., tomo 7, pág. 577.

 Sacramento Blake — Dic. bibliogr. brasileiro, vol. I, pág. 128.

 Souto Oliveira (Saturnino) — Defesa de S. Carlos e Martim Francisco —1828.

 Sílvio Romero — Hist. da Lit. Brasileira — 1.° vol., pág. 475.

 " e João Ribeiro — Compêndio de Hist. da Lit. Bras., pág. 172.

 Tancredo Lucas — Santistas ilustres — pág. 45.

 Teixeira de Melo — Efemérides Nacionais.

 Varnhagen — História da Independência e História do Brasil.

 Vasconcelos de Drummond — Cartas Andradinas, pág. 73.

 Veiga (Bernardo Saturnino da) — Notas biográficas.

Devem ser consultadas as obras sobre História do Brasil, da Independência e de S. Paulo, bem como a "História das Constituições", de Mello Morais.

NOTÍCIA BIOGRÁFICA E SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO CRÍTICO

A data de nascimento, que lhe atribuem os biógrafos, é exatamente a que consta do livro paroquial destinado ao registro dos batismos.

Em Santos, na mesma cidade em que nasceu, recebeu a instrução primária, ministrada pelo progenitor. O ensino secundário esteve a cargo de frei Manoel da Ressurreição, bispo de S. Paulo, que mantinha um curso gratuito destinado aos meninos aproveitáveis na carreira eclesiástica. Concluídos os estudos preparatórios, seguiu para Coimbra, em cuja universidade se bacharelou em Direito e Filosofia.

Enquanto esteve em Portugal, traduziu obras inglesas indicadas na bibliografia, das quais possuo três raríssimas, sendo que uma procedente da biblioteca de Eduardo Prado, com o ex-libris do escritor paulista.

Raros são os atestados da sua produção poética, nem como poeta é considerado pelos que lhe estudaram a obra. Distinguia-se, porém, como orador parlamentar, segundo provam as qualidades reveladas por seus discursos proferidos nas Cortes Gerais de Lisboa e nas Assembléias Gerais do Brasil.

Dos três irmãos era o mais espontâneo e vibrante como orador. Falava sempre de improviso, com eloqüência e boa dicção. Sua capacidade oratória constituía o traço característico de seu valor intelectual. Além dos predicados de elocução fluente e de viva inspiração, era dotado de erudição, impetuosidade nas réplicas e de gesticulação adequada às ênfases e aos arroubos revelados na tribuna.

Permaneceu na metrópole até meados do ano de 1800. Por decreto de 30-9-1800 foi nomeado escrivão da Ouvidoria de S. Paulo e auditor geral das tropas da capitania, com o posto e soldo de sar-gento-mor.

A magistratura não lhe foi propícia, por incompatibilidade de temperamento, como demonstrou no exercício da auditoria militar, como juiz de fora de Santos e, principalmente, na ouvidoria civil e criminal de Olinda. Manifestava-se exaltado em externar opiniões, de gênio impulsivo, de espírito combativo e de caráter violento.

Desempenhou o lugar de juiz de fora em Santos, durante um triénio (1806-1809), acumulando o exercício das funções com as dos cargos ocupados em S. Paulo, em luta acesa com o governador Franca e Horta, que o perseguiu tenaz e porfiadamente, estendendo o ódio aos dois irmãos, com especialidade a Martim Francisco, como ele considerado pernicioso à ordem pública.

O conflito intensificou-se, a partir de 1806, até que, em 1811, Antonio Carlos alcançou significativa vitória moral sobre o seu adversário, sendo nomeado pela corte ouvidor da comarca de S. Paulo.

Imputaram-lhe, porém, a responsabilidade principal, como mandante, na prática de um crime de homicídio, perpetrado a desoras e nas trevas. Essa perseguição levou-o a refugiar-se em S. Gonçalo, na Praia Grande de Niterói, onde fundou uma loja maçónica, denominada "Distintiva", com o fim de exercer a propaganda revolucionária de idéias republicanas, com a companhia de José Mariano Cavalcanti de Albuquerque. Aí foi preso, para ser processado.

Após longas penas na prisão, reconheceram a sua inocência e deram-lhe as compensações do hábito da Ordem de Cristo e da nomeação como primeiro ouvidor da comarca de Olinda, em Pernambuco.

Um ano depois do exercício do cargo, em 1816, incompatibili-zou-se com o juiz de fora de Recife; no ano seguinte, aceitou, como fato consumado, a nova situação política de Pernambuco, entenden-do-se com o governo revolucionário e permitindo a inclusão do seu nome no Conselho de Notáveis, em companhia de Antonio de Morais e Silva, que não chegou a fazer parte do Conselho; (8> de Bernardo

Luís Ferreira Portugal, deão da Sé, de José Pereira Caldas e do negociante Gervásio Pires Ferreira.

Assim não pensam Dias Martins e Mario Melo, que lhe atribuem comparticipação direta no movimento revolucionário, na qualidade de membro da maçonaria, a cuja influência emprestam a tentativa de independência.

(8) Segundo Maximiliano Lopes Machado {"Introdução à História da Revolução de Pernambuco, em 1817") e segundo as próprias declarações, Morais não chegou a assumir as funções de conselheiro. Mas Alipio Bandeira ("O Brasil heróico em 1817"), Muniz Tavares ("História da revolução") e os depoimentos de Antonio Carlos, Gervasio Pires e Suassuna afirmam que ele assistiu às sessões do Conselho e respondeu às consultas em matéria de justiça e legislação.

Da mesma opinião é Tonellarc, nas "Notas dominicais" que sobre ele externa com os seguintes conceitos:

"Todos ali (refere-se ao governo revolucionário) cedem perante o antigo ouvidor de Olinda, o Sn. Antonio Carlos, hoje conselheiro de Estado. Eis um personagem que alia a um espírito vasto, uma concepção viva, uma dialética sutil e persuasiva, um caráter firme e uma vontade determinada. Se o Sr. Antonio Carlos fosse militar, seria homem a assenhorear-se de todos os poderes da República. Tal qual é, a sua habilidade é ainda assaz grande para fazer sombra aos seus colegas; mas estes o respeitam, apreciando a sua utilidade. Ninguém justifica melhor do que ele uma providência ou uma opinião."

Assim se manifesta quem presenciou o movimento revolucionário de Pernambuco e conheceu de perto o tribuno brasileiro.

Antonio Carlos foi punido severamente pelo seu crime político. Preso, embarcou no brigue Mercúrio, com destino à Bahia, escoltado por numerosa força militar, com pesada corrente atada ao pescoço. A bordo, meteram-no em gargalheiras e grilhões, preso no porão com sentinela à vista, tendo alimentos salgados e uma medida de água por dia, sem poder dormir. Na Bahia sofreu outros vexames, juntamente com o companheiro de infortúnio, encarcerados nas enxovias infectas da cadeia pública, durante quase dois anos de martírios e suplícios.

Do ergástulo passou Antonio Carlos à tribuna parlamentar, como representante de S. Paulo perante as cortes portuguesas, confirmando mais uma vez as peripécias da carreira política, cheia de altos e baixos, de máximos e mínimos, na curva representativa de sua evolução. Lá se apresentou ardente e orgulhoso, impávido perante o julgamento dos seus contemporâneos e dos seus pares.

Alcançara o indulto por intervenção do irmão José Bonifácio, cuja influência perante o monarca e o seu poderoso ministro Tomás Antonio era comprovada por várias honras a ele tributadas. Mas recusara impetrar a graça real.

Verificou-se a sua estréia discutindo o projeto de lei que concedia às juntas governativas o direito de suspender os magistrados, a propósito da organização do poder judiciário. Assomou :i tribuna, sucedendo a Villela Barbosa, para medir forças com Borges Carneiro, o mais morigerado dos regeneradores lusitanos, que menos agressivo se revelava em relação aos deputados da colônia.

A intervenção de Antonio Carlos no debate ateou fogo à fogueira, excitando o ânimo da representação brasileira. Basta ler-se o trecho com que terminou o seu primeiro discurso:

"A respeito de se dizer que os povos, apesar de gozarem os mesmos direitos, não hão de ter todos as mesmas comodidades, digo que se isto fosse, a nossa união não duraria um mês. Os povos do Brasil são tão portugueses como os povos de Portugal e por isso hão de ter iguais direitos. Enquanto a força dura, dura a obrigação de obedecer.

A força de Portugal há de durar muito pouco, c cada dia há de ser menor, uma vez que se não adotem medidas profícuas e os brasileiros não tenham iguais comodidades."

Logo após, nas seções subseqüentes, entrechocavam-se as atitudes da maioria e dos mandatários de S. Paulo. Os portugueses pretendiam confundir o Brasil com outras colônias asiáticas e africanas, ao passo que os paulistas pautavam os seus atos segundo as instruções recebidas de José Bonifácio, isto é, do governo da província de S. Paulo.

Daí por diante, com curtos interregnos, durante os quais se harmonizavam os deputados dalém e daquém-mar, agitaram-se aa idéias opostas e fomentaram-se os dissídios, entretidos pela impetuosidade da eloqüência de Antonio Carlos.

Surgiu em seguida o plano de reconduzir o Brasil ao regime colonial, cassando-se-lhe as prerrogativas de reino e pretendendo-se o regresso do príncipe D. Pedro a Portugal. O ofício do governo paulista, em termos enérgicos e desabridos agitou ânimos e modificou a tensão da atmosfera no ambiente. As sessões tornaram-se tumultuarias e o público das galerias invectivava e vaiava a representação brasileira, a ponto de predispor Antonio Carlos a abandonar o mandato, ofendido pela insolência e injúrias dos espectadores.

E como se houvesse o intuito recôndito de ainda mais acentuar as divergências, deliberou a maioria que se apresentasse um projeto de adições e alterações à Constituição portuguesa, para que a lei básica pudesse fazer a felicidade dos povos de ambos os hemisférios.

Da comissão especial, constituída somente de deputados brasileiros, faziam parte Antonio Carlos, Lino Coutinho, Fernandes Pinheiro, Villela Barbosa e Araujo Lima.

O projeto por ela apresentado obedecia às instruções fornecidas aos deputados paulistas, aceitas pelo vice-presidente de Minas e pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Irritaram-se em extremo as opiniões, até que alguns deputados resolveram abandonar o recinto e, em seguida, retirar-se de Lisboa, seguindo para Falmouth, para não assinar nem jurar o novo pacto fundamental.

Antonio Carlos representou o papel de legítimo líder da representação brasileira.

Na Inglaterra foram redigidos um protesto e uma declaração, ambos publicados no "Correio Brasiliense", de Hippolyto da Costa.

A 17 de abril de 1823 instalou-se a Assembléia Geral Constituinte e Legislativa, de que fazia parte Antonio Carlos, o autor do primeiro voto de graças em resposta à fala imperial. Foi eleito para a comissão de constituição, da qual foi presidente.

Verificou-se o incidente David Pamplona, um farmacêutico ou boticário, como se dizia na época, a quem atribuíram a autoria de um artigo em "A Sentinela da Liberdade", sob o pseudônimo de "Brasileiro resoluto". Pamplona foi agredido covardemente por um grupo de oficiais portugueses armados. 0 incidente foi levado à Assembléia, onde Antonio Carlos verberou a atitude governamental, em termos ásperos e veementes. A peroração do seu discurso deu ensejo ao delírio da multidão e a uma crise ministerial. Houve concentração de tropas e a Assembléia declarou-se em sessão permanente, até que fossem punidos os ofensores do brio nacional, repa-rando-se o ultraje e lavando-se a afronta que tisnara o pudor de um povo livre. Estabeleceu-se o conflito e, após a noite das agonias, o ministro Villela Barbosa compareceu perante a Assembléia, para lhe comunicar a exigência da oficialidade da guarnição militar: a expulsão dos Andradas da Assembléia e a suspensão da liberdade da imprensa. Como respeito à Constituição, resolveu dissolver a Constituinte, para prender os três Andradas e ocupar militarmente a redação e a tipografia de "0 Tamoio".

Dias depois embarcaram na charrua "Lucônia" os três Andradas, em companhia de Montezuma, José Joaquim da Rocha e padre Belchior Pinheiro, com destino à França.

De volta do exílio, foram Antonio Carlos e Martim Francisco submetidos a processo por crime de sedição, sendo recolhidos a uma prisão da Ilha das Cobras, onde permaneceram dois meses, até a absolvição pelo tribunal competente.

Após o ato de abdicação, volveu Antonio Carlos ao parlamento, tomando parte saliente em vários debates, inclusive na campanha da maioridade.

Foi o ministro do Império do primeiro ministério de D. Pedro II. Deixou a pasta e, sendo dissolvida a Câmara dos Deputados, foi eleito para a Assembléia Provincial de São Paulo, na legislatura de 1842-43, mais tarde para a Câmara dos Deputados Gerais (legislatura 1845-47), sendo eleito senador por Pernambuco e deputado provincial de S. Paulo (7.a legislatura: 1846-47). Faleceu,

porém, a 5 de dezembro de 1845, pouco depois de haver sido escolhido na lista tríplice para o Senado, e não chegou a tomar posse na Assembléia Paulista.

Vitimou-o uma congestão cerebral, na cidade do Rio de Janeiro, sendo sepultado no Mosteiro de S. Bento. Mas, segundo afirma Alberto Souza, não surtiram efeito as diligências da Prefeitura Municipal de Santos, para encontrar o local onde jazem os seus restos mortais. Pretendia-se remover-lhe os ossos para o Panteão dos Andradas.

SUMÁRIO PARA UM ESTUDO COMPLETO

O início da vida intelectual no Brasil — Seus estudos em Coimbra — Enquanto esteve em Portugal — Na magistratura em S. Paulo, Santos e Olinda — Envolvido na revolução de 1817 — O martírio que sofreu — Representante de S. Paulo nas Cortes Portuguesas — Na Assembléia Constituinte do Brasil — Durante o exílio — Novamente no parlamento — Tributo pago ao Parnaso — 0 orador parlamentar — Dotes de eloqüência — As traduções que empreendeu — Sua eficaz colaboração no primeiro fato político — Temperamento e caráter varonis — Os últimos anos de uma existência agitada e profícua.

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