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O Mundo das Idéias de Platão

O mundo das Idéias de Platão é um mundo transcendente, de existência autônoma,
acima do mundo sensível. As Idéias são formas puras, modelos
perfeitos eternos e imutáveis, paradigmas. O que pertence ao mundo dos sentidos muda o tempo todo,
se corrói e se desintegra com a ação do tempo. Mas tudo o que percebemos, todos
os itens são formados a partir das Idéias, constituindo cópias imperfeitas
desses modelos espirituais. Só podemos atingir a realidade das Idéias, na
medida em que pelo processo dialético, nossa mente se afasta do mundo concreto,
atravessando com a alma sucessivos graus de abstração, usando sistematicamente
o discurso para se chegar à essência do mundo. A dialética em Platão é o principal instrumento de
busca da verdade. Platão tirou da filosofia de Parmênides a noção da imutabilidade do Ser e de Heráclito a certeza de que o mundo sensível está em perpétuo estado de fluxo, sendo impossível conhecê-lo, e chegou a uma síntese desenvolida na teoria das Formas.

Uma analogia pode ser feita para compreendermos a teoria do Mundo das Formas (eidos) ou Idéias de Platão -o mundo inteligível que existe a parte da realidade sensível e é imutável. Imagine que o universo é o monitor do seu computador. As sucessivas imagens que passam pela tela são as múltiplas realidades cotidinas dos sentidos: explosões que vêm e vão, dando lugar logo a outras. Mas o monitor em si não muda: a realidade dele é constituída solidamente. Antes, ele engloba todas as realidade possíveis do mundo dos sentidos. Os fótons se acendem e apagam dentro dessa totalidade, como as imagens que os sentidos nos mostram. Mas, só com a inteligência podemos abordar essa realidade e chegar ao conhecimento, já que, para a metafísica clássica através do pensamento podemos chegar a realidade auto-consistentes. É por isso que uma frase de Platão acerca do tempo pode ser citada para ilustrar este argumento: “O tempo é a imagem móvel da eternidade”. Assim, em Platão temos um Realismo das Idéias, pois estas existem de forma perene independente do sujeito que conhece, e este só conhece na medida em que consegue contemplá-las com a luz interior da razão.

A IDÉIA de Platão é, portanto, a unidade dentro da multiplicidade. Para conhecer esta unidade é preciso que a inteligência confronte as opiniões contrárias e aparentemente contraditórias, até chegar a uma essência que supere o mero grau de opinião (doxa) e possibilite a ciência (episteme). O método dialético é este confronto e a essência é a Idéia, ou forma. A palavra “dialética” é da mesma família de “diálogo” e o formato escrito da obra de Platão mostra a sua importância dentro da doutrina. Através dos diálogos, exercia-se a dialética. Esta era um “jogo” presente em toda a sociedade ateniense, mas Sócrates quem a elevou a um grau único como o melhor método para conhecer a verdade, ou a Idéia.

O pensamento de Platão dialogava com antigas tradições já existentes, como algumas orientais e egípcias, coadunante com sua teoria de metempsicose, por exemplo. Ele acreditava numa alma imortal, que já existia no mundo das
Idéias antes de habitar nosso corpo. O diálogo que melhor demonstra isso é o Fédon. Assim que passa a habitá-lo, a alma se esquece das
Idéias perfeitas. Então o mundo se apresenta a partir de uma vaga lembrança. A
alma quer voltar para o mundo das Idéias e por isso o conhecimento está ligado à lembrança. No diálogo Mênon, Sócrates mostra que um escravo (considerado inferior naquela época) podia ter um intrincado conhecimento abstrato de matemática, pois sua alma já possuía o conhecimento que Sócrates, porta-voz da Academia de Platão, ia trazer à luz através do seu jogo de perguntas e respostas. Conhecer, em Platão, é portanto, lembrar. Um dos primeiros críticos de toda
essa teoria de Platão foi um de seus alunos da Academia, Aristóteles, que desenvolve uma metafísica opositora à metafísica de Platão.

 

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