Os colonos e aventureiros que vieram ao Brasil e nele se esta
beleceram, ficaram por muito tempo no litoral, sem ânimo de penetrar a dentro no sertão. Além do natural receio da floresta imensa que os índios tresmalhados habitavam, afastavam-se das comunicações com os civilizados que passavam pelas costas ora para molhar os navios na longa travessia com as Índias, ( ora para o tráfioo do pau brasil e providências da metrópole. Pcjrisso, durante longos anos viveram os nossos, diz um historiador [1]), como caranguejos, arranhando as praias do mar.
A ganância iria, servida pela natureza, empurrá-los7 para o interior. Transposta a Serra do Mar, basta com efeito surgir pelo vale dos rios que dela procedem, para penetrar no âmago do continente: o Uruguai, o Iguassu, o Paranapanema, o Rio Gra’nde nascem próximo da costa e correm .para dentro, a se lançar no Paraná, tributário do rio da Prata. De São Paulo, onde os jesuítas fundaram um colégio e depois se agrupou uma vila, basta seguir o curso do Tieté, para dar no sertão.
Foi êste de fato o primeiro caminho seguido pelos aventureiros que “entravam” em “bandeiras”[2]), a princípio para caçar índios e trazê-los como escravos para serem vendidos no litoral, e depois caçar ouro, prata, pedras preciosas, que deviam existir no Brasil, como os espanhóis já haviam encontrado em outros pontos da América.
Êstes “bandeirantes” que assim ousavam, destemidos, aventurar-se no deserto das matas virgens e nos perigos dos índios bravos, das doenças pestilentas, do desamparo previsto no sertão, sem onde se proverem de munições de bôea ou de caça, chegaram entretanto ao interior de São Paulo, a tôda Minas, pelo vale d® rir São Francisco ao recesso da Bahia e daí a Goiaz e ao Piauí e Pernambuco, -finalmente até o Pará e o Amazonas. . . num esforço de tenacidade e de dureza que constitue talvez a página mais forte da história da nossa terra, pois é a conquista do centro imenso do país, completando-a com o litoral, fácil e acessível à civilização. Êste nos poderia ser roubado, como o cubiçaram os estrangeiros invasores; é duvidoso que outros não afeitos a provocações, nem tão ambiciosos de lucro, como os portuguêses, fôssem capazes de conquistar o sertão.
No comêço não foram êsses esforços coroados de bom êxito, porque as riquezas sonhadas se encobriam às vistas dos bandeirantes; não se perdiam, porém, essas arrojadas emprêsas, porque estradas ficavam abertas, trechos de mata devastados, roças de mantimentos plantadas de provisão pelos caminhos, e, por fim, o gado conduzido do litoral, iria. criar-se, abundante, nos campos sertanejos, especialmente no vale do rio São Francisco, constituindo tudo focos de prosperidade e de civilização, embora não procurados.
O povoamento foi se fazendo aqui e ali, e de espaço em espaço, no imenso território do Brasil central, dispersaram-se fazendas, povoados, vilas, que cresceram, e cidades, que subsistem.
Nem ouro nem diamantes, atrás dos quais bandeiras sôbre bandeiras se internavam de São Paulo, do Rio, da Bahia, mas conquistava-se o sertão. Repetia-se aquêle conto de um pai, que, ao morrer, prometera aos filhos um tesouro, escondido nas suas terras. Escavaram por todos os lados e nada encontraram, mas o terreno revolvido deu esplêndidas plantações, que compensaram as fadigas sofridas, e fizeram aos filhos compreender a sabedoria paterna. A cubiça das minas descobriu e se apossou do sertão do Brasil, que ela não desejava talvez, mas nos aproveita, pois que a penetração lenta, passo a passo, seria obra de séculos, e, dada a dificuldade7 das entradas e nenhum incentivo mais para as fazer, com gente tão escassa, certamente que estaria ainda por ser tentada.
Por fim, aproveitou também a êles, bandeirantes e a nós igualmente, porque as minas tão ambicionadas foram sendo descobertas, desde o fim do século XVII, e a ambição, aumentando, trouxe de Portugal e conduziu do litoral para dentro do continente as levas humanas que foram povoar o deserto. ‘
Surgiram, como por encanto, em tôrno das jazidas e dos veios de minério, povoados e vilas; a riqueza fácil desmandava nos excessos da intemperança, maus costumes, luxo’ e crime, que deram às vêzes uma fama sinistra a essas regiões.
Mas, com o tempo, os excessos passaram, decantaram-se as fezes dessa sociedade adventícia, e o trabalho regular, a ordem, a abastança continuaram completando êste Centro “do Brasil, as Minas Gerais, com o litoral dos grandes níicleos >de povoamento, Pernambuco, Bahia, Rio e São Paulo, o território nacional.
A história colonial do Brasil está dentro dêsses dois atos, que englobam as cenas menores; a posse da terra descoberta contra a cubiça estrangeira e o aproveitamento das riquezas extrativas procuradas em todos os recantos do país. Dêles viriam a criação de um espírito nacional para a defesa da Pátria, que começava, e a consciência de um patrimônio comum, mal conhecido embora, que o mútuo interêsse incorporava num todo indivisível.
Afrânio Peixoto.
Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.
[1] Frei Vicente do Salvador, da Bahia, autor da primeira História do Brasil, no século XVII.
[2] Bandeiras eram expedições ou entradas no interior, à caça d.e es
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