ELEVAÇÃO DO BRASIL A REINO – Dom João VI no Brasil – Oliveira Lima

D. João VI no Brasil – Oliveira Lima
CAPÍTULO XIII

ELEVAÇÃO DO BRASIL A REINO

Refere Mello Moraes, sem documentos aliás que comprovem
sua asserção, que a idéia de elevação do Brasil a reino foi sugerida pelo
príncipe de
Talleyrand ao conde de Palmela, o qual transmitindo-a sem demora para o Rio de
Janeiro, determinou a sua adoção pelo governo de Dom João VI. O fato encontra-se realmente
assim na correspondência reserva­da dos
plenipotenciários portugueses ao Congresso de Viena.

Segundo esta correspondência,343 Talleyrand
conversando com um deles e
após o interrogar longamente sobre os recursos, governo e condi­ções do Brasil, teria instigado o
príncipe regente a não deixar então a América,
por algum tempo mais pelo menos, ainda que mandando o filho primogênito para a Europa, a fim de satisfazer Portugal.
"Convém a Portugal e convém
mesmo à Europa toda — comentaria o sagacíssimo diplomata na aludida
palestra — que se mantenha por um prazo tão longo
quanto possível for, o enlace entre as nossas possessões européias e
americanas. O transtorno que causou no edifício europeu a revolução da América inglesa, que nós tão imprudentemente
auxiliamos, vai-se já experimentando agora, e experimentar-se-á cada dia mais.
As colônias espanholas, pelo mau governo atualmente daquela monarquia, podem-se
contar quase como perdidas para a
Europa, e em tais circunstâncias eu consideraria como uma fortuna, que se
estreitasse por todos os meios possíveis
o nexo entre Portugal e o Brasil; devendo este país para lisonjear os seus povos, para destruir a idéia de colônia,
que tanto lhes desagrada, receber o título de reino, e o vosso soberano ser rei
do Reino Unido de Portugal e do Brasil."

"Podeis, — rematou Talleyrand no dizer dos
plenipotenciários — se julgardes conveniente, manifestar que eu vos sugeri estas idéias e que
tal é o meu voto
bem decidido." Não se me afigura contudo a idéia tão espontânea dele quanto o quiseram
fazer acreditar os diplomatas portugue­ses, os quais nesta ocasião até esqueceram a sua praxe
invariável de referir individualmente
aquele com quem ocorrera tal ou qual conversação política.

A
harmonia que entre os três plenipotenciários habitualmente reina­va; a dissimulação que no aludido
caso fazem do nome de Palmela; aque­le súbito e deslocado interesse de
Talleyrand, que nas suas memórias das questões portuguesas apenas faz passageiras referências
ao tráfico de es­cravos,
pelas questões coloniais e pelo estado de alma das populações ul­tramarinas; o seu ardor no
conselho encaminhado, quando de ordinário os dava num tom de indiferença, posto que as mais das
vezes postiça; a sofreguidão
com que os seus colegas portugueses do Congresso, de costu­me mais timoratos ou
reservados, acolheram a lembrança: tudo leva a crer que a sugestão atribuída a
Talleyrand pode ter emanado dele, mas previa­mente acordada com o primeiro plenipotenciário
português, que de fato seria o seu inspirador local. Ao receber as felicitações do encarregado
de negócios de França pela deliberação tomada, Barca disse-lhe, o que redo­brou o calor das congratulações
de Maler, que a medida da elevação do Brasil a reino tivera o vivo apoio da opinião do príncipe
de Talleyrand,344 não que
partira dele.

A autoria de Palmela explica que se aproveitassem os três plenipo­tenciários,
sem esperarem a resposta do Rio de Janeiro sobre assunto por vários motivos melindroso, da
primeira ocasião que se lhes deparou — que foi a acessão de Portugal ao tratado de aliança
ofensiva e defensiva provocado
pelo desembarque de Napoleão no golfo Juan — para mencio­narem oficialmente a designação
e fazerem reconhecer indiretamente, desta forma, pelas quatro grandes potências contratantes o
título de Reino do Brasil.

Palmela assumia desembaraçadamente a responsabilidade
porque ti­nha
consciência de bem agir e também, sem que o dissesse, consciência de enxergar
mais longe e melhor do que o comum dos homens de estado da sua terra. Ali em
Viena, acabava ele justamente de ter um excelente ensejo de verificar quanto
diminuíam a importância de Portugal, sua exigüidade territorial e sua escassez de população,
pelas quais quase se vira excluído da comissão preparatória e diretiva do
Congresso. As vas­tíssimas dimensões e os apregoados recursos do Brasil eram
que forne­ciam ao velho reino o maior da sua consideração exterior, e como aque­las
condições davam tom à sede da monarquia portuguesa, que a colônia passara a ser por tempo
indefinido, convinha quanto antes, fácil é compreendê-lo, realçar-lhe a
categoria, salientando assim aquela circunstân­cia auspiciosa.

Palmela opinaria poucos anos depois, em vista das
conseqüências que poderia
trazer a revolução portuguesa e mais ainda talvez por um senti­mento egoísta de comodidade
pessoal, faltando-lhe além-mar todos os en­cantos e requintes da civilização européia de que libara
todas as sensa­ções,
pelo regresso da corte para Lisboa. O seu colega Saldanha da Ga­ma, porém desde
1815 desaconselhava tal medida por se achar de fato a Europa submetida a um
diretório, cujas imposições facilmente se fariam sentir em qualquer ponto do próprio continente,
mas dificilmente se lo­grariam exercer na América, onde outros eram os meios de ação — nesse caso antes de isenção — “e muito
mais se para esse fim V. A. R. se ligar com o governo dos
Estados Unidos".345

Convinha notar, e sobre isto se fundava Saldanha da Gama com dis­cernimento para entender que
devia permanecer a corte no Brasil, que o Congresso de Viena nada resolvera, nem lhe era dado
resolver, de forma definitiva e imutável sobre questões que cedo dariam lugar a
contestações e
guerras, e sobretudo nada podia haver tentado com êxito para a extin­ção do
espírito revolucionário que minara a antiga existência política e religiosa da Europa.

Na Rússia, país de servos ainda por longos anos, já
rosnavam contu­do
ameaças de reformas e a Polônia ali estava como um grande foco de per­turbação, tendendo sempre a
reconstituir-se e tendendo a Rússia com não menos constância a absorvê-la integralmente como o
melhor meio de serená-lo.
Prússia e Áustria continuariam a disputar a hegemonia germânica, só resolvida em 1866. Suécia e
Dinamarca tinham a dividi-las a Noruega, for­çada a uma união de que acabou por
se emancipar. Bélgica e Holanda tam­pouco lograriam permanecer unidas, durando muito menos a
ligação. A Ale­manha
parecia um tabuleiro de xadrez jogado por loucos: era um arsenal de ciúmes e intrigas, que
reclamava a dureza e a perspicácia de um Bismarck para se converter num perfeito
aparelho de força e de cultura. A Inglater­ra, ainda não completamente
transformada em potência industrial e colo­nial, conservava seus sonhos tradicionais de potência
continental, imagi­nando
reunir, por meio do casamento da princesa herdeira Carlota com o Príncipe de Orange, os
Países-Baixos ao Hannover, que exigia sucessão mas­culina. A Áustria excluíra a
França da Itália, mas nesta fora buscar sua co­roa de martírio, adquirindo uma fonte caudal e
perene de dissabores e de complicações. Nápoles ficava sendo um terreiro para pugnas liberais, co­mo a Espanha um campo para reações absolutistas. 

A tutela tirânica da Santa Aliança, que substituíra a de Napoleão;
a energia com que
continuava a lavrar nos ânimos a conflagração revolucionária, e o desassossego
latente que depressa se converteria em discórdia sangren­ta, eram ou deviam ser motivos de
sobejo para dissuadirem Dom João de sair da América do Sul, onde o Brasil exercia por assim
dizer a hegemonia, sendo
o único país relativamente compacto, organizado e tranqüilo até en­tão,
parecendo aí bastante fora de questão as idéias de liberdade política e não se supondo quase possíveis as
lutas civis no seu ameno ambiente.

Quando o príncipe regente se trasladou em 1807 para a América, a impressão geral, a que ele dera
aliás corpo no seu primeiro manifesto, fo­ra de que tinha ido criar um novo império. Rei do Brasil
denominava-o numa
das suas primeiras cartas para o Rio D. Domingos de Souza Coutinho, o qual em 1813 figurava no Annual
Directory
como representante di­plomático do Brasil, não mais de Portugal.346
E o príncipe regente parti­ra decidido não somente a se transformar em monarca transatlântico, co­mo a dilatar as fronteiras da sua monarquia.

A
conquista de Caiena, para trunfo diplomático muito embora, e a ocupação da margem setentrional do rio da Prata não
foram absoluta­mente filhas das
circunstâncias do momento, idéias que acudiram a Dom João ou planos que formou o seu governo depois de
tomarem pé, medi­rem a situação e ajuizarem do esforço necessário para aquelas
empresas. Tais intenções constam de
instruções verbais dadas no momento do em­barque pelo próprio regente a lord Strangford, a fim de serem transmiti­das para Londres a D. Domingos de Souza Coutinho.
Os papéis confiden­ciais deixados
pelo embaixador não permitem dúvidas sobre isso.347

Assim,
numa carta ao príncipe regente de 15 de janeiro de 1808, dizia D. Domingos depois de se referir
ao empréstimo de 600.000 libras que Por­tugal desejava que a Inglaterra lhe fizesse, e também à
restituição da pro­priedade
portuguesa confiscada ou apresada quando por um momento estiveram rotas as relações entre
os dois países, e que logo foi devolvida aos interessados que estavam fora do reino, ou no caso
contrário deposi­tado o seu valor no Banco da Inglaterra, à espera da repulsa
dos invaso­res, a
fim de escapar à cobiça francesa, pejada de imposições: …"parece-me pelo que me disse lord
Strangford que V. A. R. não
pode deixar de desejar
que a cidade e fortificações de Caiena sejam destruídas, de modo tal que ainda no caso da
restituição da Guiana pelo tratado de paz, tenha a França que principiar tudo de novo o estabelecimento
de uma colônia que
por felicidade para V. A. Real
nunca pôde prosperar, e que só uma vez custou a França o sacrifício de 30 milhões de libras
e de 13 mil pessoas que para lá mandou no
ano de 1763".

A conquista de Caiena estava, pelo que se vê, projetada
desde a mu­dança da
corte e na forma por que logo depois se realizou, pelas armas combinadas de Portugal e da
Inglaterra: pouco importa para o caso de quem partiu a iniciativa do projeto. Da mesma carta
resulta que espanhóis de Buenos Aires, onde a fermentação já começava, tinham
pedido ao em­baixador
português em Londres para rogar ao governo britânico que não mandasse mais navios, nem de guerra nem mercantes, ao
rio do Prata, a fim de não acirrar a
animosidade suscitada contra os ingleses pelos acon­tecimentos de 1806 e
1807.

A Espanha estava ainda oficialmente de mãos dadas com a França, portanto
no campo oposto à Portugal e à Inglaterra. Podia porém o blo­queio, originado nessa situação,
ser feito por ordem do governo portu­guês e com navios portugueses: "na inteligência e
esperança bem fundada que
sendo este bloqueio nominal, V. A. Real permitirá aos espanhóis do rio da Prata de vir com bandeira portuguesa traficar no
porto ou portos que
for servido determinar no Brasil, e por este modo as fazendas ingle­sas teriam venda, e V. A. Real acostumaria aqueles
vizinhos a reconhecer a
sua proteção, e talvez a vassalagem porque suspiram".348

Ao governo inglês agradava muito esse plano que redundava
em alargar-se a
expansão mercantil britânica, favorecendo por conseguinte os interesses dos seus súditos. É
claro que a aplicação da idéia pressupunha a franquia dos portos brasileiros às exportações da
Inglaterra: nem seria possível
conservar o Brasil trancado aos ingleses. Os contrabandistas não esperariam que ele se abrisse
oficialmente para o invadirem aos bandos, e desta forma melhor era abri-lo espontaneamente,
apurando o fisco os direitos
bem vindos para um erário depauperado. "Ser-me-á impossível, Senhor, e até mesmo ao governo
inglês coibir os especuladores ingleses dentro dos limites que devem a
autoridade real, e a conservação da Mari­nha Mercante dos Súditos do Brasil se V. A. Real não facilitar a admissão
de alguns dos
gêneros que antes eram de contrabando — principalmente os algodões."349

O bloqueio que se sugeria para o rio da Prata, dado
mesmo que não fosse
nominal, não equivalia forçosamente à guerra declarada à Espanha. Ignorante por certo da mísera
situação militar da colônia, entendia D. Do­mingos que as tropas portuguesas do Brasil podiam até
"da parte do Rio Grande
e de Mato Grosso entrar, e estender-se como se achar conveniente até o rio da Prata, e até as
minas do Potosi, publicando as mesmas proclamações de não cometer hostilidades que o general Junot,
e o marquês del Socorro publicaram entrando em Portugal na frente de franceses
e de espanhóis, e este equivalente sem declaração de
guerra será o penhor mais seguro do respeito que se terá ao seu reino, e aos seus vassalos da
Euro­pa".350

Porque pelo fato de ser transferida a sede do trono para
o Brasil, não se
seguia que devesse correr à revelia a sorte do velho reino. D. Domingos andava encarregado de atender
com o maior cuidado a que, na paz sem­pre iminente, se não deixasse de incluir a restituição de
Portugal à sua di­nastia,
e até de pedir que, mesmo durante a ocupação francesa, Lisboa não sofresse bloqueio inglês,
evitando-se aos habitantes da capital, muito embora a primeira junta de regência obedecesse servilmente
a Junot, os tormentos da fome.

Portugal andava naquele tempo feito roupa de
franceses,
mas era pre­ciso tomar as cautelas devidas para que não virasse também roupa de in­gleses, cuja política nunca
passou pela sensaboria de ser tachada de al­truísta. Nem podia Portugal descansar cegamente na
lealdade do país seu aliado.
Por ocasião da convenção de Cintra, que, como é sabido, excitou pelos seus termos vergonhosos
para os vencedores a maior celeuma na Inglaterra, tendo Junot, apesar de sem
recursos para resistir, capitulado com todas as honras de guerra e vantagens possíveis numa
rendição, rumorejou-se
que aos ingleses cabia a culpa da sua posição não ser indiscutivelmente superior, como alegavam os que
tinham concedido aquela convenção. Disse-se que os ingleses estavam na sua marcha para o
sul, deixando propositalmente
atrás os portugueses e retardando a entrega das armas que lhes deviam ser fornecidas, no
intuito de apressarem a tomada de Lisboa, efetuarem-na sós e venderem caro a sua conquista ao
príncipe regente, escambando-a
por favores comerciais no Brasil, cessão de algumas ilhas como a Madeira, da qual se
tinham chegado a apossar no curto tempo das
hostilidades, e Santa Catarina etc.351

Não seria contudo lógico que, pretendendo iniciar justamente
na Amé­rica do Sul
uma política imperialista, fosse o governo de Dom João con­cordar em ceder
terras brasileiras à Grã-Bretanha. O embaixador Souza Coutinho que, segundo o prova a
sua correspondência secreta, tratou o mais que pode de obter melhores termos para o tratado de
1810, cujos de­feitos
bem reconhecia, achando porém impraticável alcançar outros ter­mos, dadas a
situação muito crítica então de Portugal, onde continuavam a dar-se invasões francesas, e a
notória debilidade militar do Brasil, inca­paz de sérios esforços mesmo defensivos enquanto se não
verificasse me­lhoria,352 logrou ainda assim preservar para o seu
soberano o domínio da ilha
de Santa Catarina, que a Inglaterra cobiçava.353

Os desígnios da Inglaterra sobre o sul do continente
meridional mantiveram-se
aliás mais ou menos claramente, pode dizer-se que até a in­dependência política
dessas regiões. Santa Catarina no Brasil parece ter si­do um ponto preferido de mira, e
tanto se estava no Rio de Janeiro geral­mente convencido disso que alguns pensavam a princípio
ser a organização da
expedição de 1816 não contra Montevidéu, mas destinada a defender ali a integridade do Reino. Marrocos
escrevia a propósito ao pai:354 "Agora es­tá entrando o comboio, que traz a
última tropa de Lisboa, que me dizem ser de dez embarcações; e todos esperam que eles se
portem tão bem, como os outros. Foi admirável o pretexto, com que se mandou vir
este socorro do nosso
exército de Portugal, que todos julgavam ser o destino da guerra do sul; mas tudo foi urdido em
segredo por causa dos ingleses. O destino ver­dadeiro (segundo me tem chegado a idéia) de toda
esta tropa é guarnecer e fortificar magistralmente a nossa ilha de Santa Catarina, que por sua
si­tuação vantajosa, grandeza e mais circunstâncias há muito que tem sido o
ponto fixo das pretensões da Inglaterra, em questão da sua posse; para te­rem
neste lugar do mundo também seu palmo de terra para estenderem e conservarem perpetuamente o seu
comércio, e talvez para outros fins, que eu ignoro. A política do nosso
ministério neste ponto tem sido assaz subli­me, assim como o foi o casamento das Sras.
infantas."

A elevação do Brasil a reino, além de ser uma afirmação solene da sua
integridade territorial, foi a derivação lógica e a conseqüência neces­sária de
um estado de coisas criado por circunstâncias fortuitas, mas não menos imperiosas. Em primeiro
lugar era impossível esquecer mais que um momento houvera, já passado
felizmente porém bem assinalado, em que o
Brasil fora a tábua de salvação da dinastia portuguesa, a âncora da monarquia batida pelas tempestades, que
permitiu ao baixei desman­telado dar fundo e ver raiar no horizonte uma
luz tão esperançosa que até lhe descobria uma perspectiva gloriosa.355

A mesma consideração que presentemente se impõe ao historiador ou ao simples observador do
período histórico a que Dom João VI presi­diu,
com muito mais intervenção pessoal do que se poderia à primeira vista esperar
do seu temperamento apático, plena responsabilidade das decisões tornadas e perfeita consciência da
trajetória percorrida, deviam tê-la feito os homens de estado de então: se Portugal, como tudo
fazia crer em 1807, ficasse
absorvido no sistema napoleônico, a Casa de Bragança não desa­pareceria como
contingente dinástico, nem desapareceria a coroa portu­guesa, continuando a vicejar,
além-mar, a velha monarquia européia; e com ela se perpetuava a vida
independente da nacionalidade avassalada.

Num período de um dos ofícios de Rodrigo Navarro de
Andrade, en­carregado
de negócios de Portugal em São Petersburgo, quando se deu a trasladação da corte de Lisboa
para o Rio de Janeiro, encontra-se , em incolor linguagem oficial, a viva fórmula diplomática da
operação. "Apro­veito esta ocasião de portador seguro, para pedir a V. Ex? instruções even­tuais sobre o que deverei
praticar, quando aconteça que a França, seguin­do o sistema que tem manifestado, disponha
provisionalmente, ou de qual­quer outro
modo, de Portugal, antes da paz geral; e que participando à Rússia uma tal disposição, esta corte, em razão
das suas íntimas relações com a
França, tenha alguma dificuldade em reconhecer-me como encar­regado de negócios do príncipe regente de Portugal
N. S. posto que ne­nhuma terá em reconhecer-me e considerar-me como e. de
negócios de
S. A. R. o p. regente do Brasil."356

É preciso notar que este ofício era escrito depois de
Tilsitt, quando a
Rússia estava em guerra com a Inglaterra, sendo defesa a entrada nos portos russos de navios, mesmo
de nações amigas e sem mercadorias., vindos
de portos ingleses, e proibida toda exportação para Inglaterra. O czar enfeudara-se à França, sendo o embaixador
de Napoleão tratado em São Petersburgo com deferências quase tão especiais como as que o rei de Túnis pode hoje
reservar para o residente francês. Com Portu­gal, apesar da guerra do
Reino com a França, não havia rompimento por parte da Rússia e, se bem que não
pudessem ser cordiais as rela­ções,
mantinham-se num pé de correção, igualmente persistindo em tese as
relações mercantis.

O representante português possuía entretanto direito de
queixar-se: como repetidamente o fez ao conde de Romanzoff, ministro dos negócios estrangeiros do czar, de não
haver a Rússia obstado, como lhe teria sido possível, à invasão de Portugal, e de não querer naquele
momento mesmo tomar
o compromisso de assumir na paz geral a garantia dos estados da coroa de
Portugal, segundo os termos do tratado vigente de aliança de 1799; nem sequer
anuir a abrir os portos russos ao comércio português — somente ao comércio
brasileiro
— enquanto fosse o reino teatro de guer­ra entre a França e a
Grã-Bretanha. Navarro de Andrade mais insistia nas suas reclamações por ver que a
harmonia com a França era antipática ac sentimento geral da nação russa, bem entendido da parte
mínima dela que contava
em matéria de opinião. Essa harmonia aliás determinou a guerra russa contra a Suécia e
sustentou-se durante a campanha francesa contra a Áustria, que culminou em Wagram, mas fizeram-na
logo estremecer a fidelidade
jurada pela Galícia a Napoleão e os intentos emprestados ao Imperador dos franceses de restaurar o reino da Polônia, surgindo por
fim, como é sabido, das desconfianças a
discórdia.

Não foi portanto a elevação do Brasil a Reino mais do
que a consa­gração
de um fato consumado, a legitimação de uma situação a que não havia fugir. Quando mesmo
Palmela não tivesse astuciosamente posto es­ta sugestão na boca de Talleyrand, fatalmente acudiria
ela a um homem como Barca, com quem o instinto público associou desde logo a
resolu­ção real,
indicando-o como seu inspirador e assim firmando uma tradi­ção que nada mais
abalaria porque corresponde plenamente à intenção, que em caso tal é quase lícito que prime a realidade.

Barca não podia deixar de ser o primeiro partidário da elevação de categoria da colônia que a corte
escolhera para sua residência temporária — quiçá definitiva — e de onde estava derivando a
monarquia lusitana segurança
e grandeza. Tanto assim sucedia com Barca que, quando ele fa­leceu, Rocha
Loureiro, o redator do atrevido Português de Londres, compendiou o modo de pensar do
político sob o título de "sistema pródigo de destruir Portugal para aumentar o Brasil".

Não valeria a pena ser um homem de valor excepcional no meio cor-tesão do Rio para não enxergar
distintamente a situação nacional. E tal confiança inspirava a Dom João o talento diplomático de
Barca que lhe entregou, apesar de estar Aguiar encarregado da pasta de
estrangeiros, o preparo
das importantes instruções para os plenipotenciários ao Congres­so de Viena.

Da sua larga e variada cultura dão testemunho simultâneo
e inequí­voco os
seus contemporâneos, a sua nomeada e as suas predileções quan­do não as suas produções, porque
além da prodigalidade mental de fidalgo artista, Barca teve sempre a saúde franzina e depressa
ficou valetudinário: chegou
aos 63 anos graças às cautelas com que vivia, sendo de resto freqüente o regime prolongar
inesperadamente a existência de doentes. Por­ventura um diletante, diletante em todo
caso de gênio, ninguém contudo

foi mais verdadeiramente estudioso, mais profissionalmente amigo da leitura
do que ele: igualmente dado às letras, às artes, à história e às ciências naturais, cujo curso começara em
Coimbra e concluiu, mais prática e proveitosamente do que na universidade, no seu laboratório de
químico, onde
procedeu a numerosas experiências de alcance utilitário, e no seu viveiro de  horticultor, onde reuniu 1.200
a 1.400 pés de plantas indígenas e exóticas, das quais organizou um catálogo tão meticuloso
quanto o das suas magníficas
coleções bibliográfica e iconográfica, reunidas em demoradas viagens.357

Barca passou fora de Portugal
muitos anos da sua vida européia. Em Lisboa pode dizer:se que foi onde menos viveu,
porque a sua primeira mocidade correspondeu a uma residência provinciana, sã e, o que mais
difícil é,
inteligente, no lugar de que era natural. Aí, em Ponte de Lima, preten­deu,
muito novo ainda, desenvolver a cultura do bicho para fabrico dos tecidos de seda, dividindo o
tempo entre assuntos econômicos e os bons autores
que foram o seu constante enlevo.

Em 1789 foi
como ministro para a Haia, onde continuou a estudar e aprender e, o que era lógico na terra de Rembrandt e de Hobbema, adi­cionou aos seus gostos o das artes, do qual se
aproveitaria o Brasil, com a
fundação da Academia e Belas-Artes e importação da colônia de artis­tas
franceses.

Em
seguida à sua conhecida e acidentada missão diplomática em Pa­ris junto ao Diretório, e à
anexação à República Francesa das Províncias Batavas, andou Antônio de Araújo dois anos a
viajar pela Alemanha na companhia do seu amigo e secretário de legação Silvestre Pinheiro
Ferrei­ra,
aumentando os seus conhecimentos literários e científicos, especial­mente químicos e botânicos, e
alargando o seu círculo de relações de cortes e academias. Ainda foi ministro na Rússia (1802),
percorrendo a Dina-marca
e a Suécia, até o chamar o príncipe regente em 1804 para ministro dos negócios
estrangeiros e da guerra, e depois cumulativamente, do reino, cargos que exerceu por três
anos, perdendo-os com a invasão francesa, da qual quiseram os inimigos, D. Rodrigo de Souza Coutinho
à frente, torná-lo responsável, denunciando-o como nimiamente afeiçoado às
idéias liberais, que o império
simbolizava.

Dom João VI teve
sempre o excelente e raro costume entre soberanos, expressão de sua natureza generosa, de não
repudiar os servidores leais e de merecimento pelo fato de serem acusados pela opinião ou perseguidos por adversários. O
ostracismo a que a ascensão do partida inglês condenou Araújo, não o fez
exilar do Conselho d’Estado, a cujas sessões continuou a assistir, nem o privou de receber
grã-cruzes e outras demonstrações honoríficas da estima regia, culminadas pela
mercê do título. De
1808 a 1814 o afastamento do poder deu-lhe porém seis anos de lazer político, que outros não tiveram a dita de
possuir e que ele empregou no aprofundar
seu vasto, quase enciclopédico saber, interessar se pela indústria da serraria, fabrico da louça e outras muitas
manufaturas, fundar sociedades, mandar fabricar modelos industriais,
propagar o ensino e disseminar o amor das coisas úteis ao progresso nacional.358

Como nunca cessou de ter veleidades de praticar as
letras, ao mesmo tempo
que fazia diplomacia ou indústria, traduzia odes de Dryden, hinos, odes e elegias de Gray, e até
odes de Horácio numa versão que Filinto Elisio, seu pensionista, comensal e amigo, a quem albergou
carinhosamente na Ho­landa,
achava culposa dê’ ‘versos engoiados e língua d’etiqueta”, o que abona a independência de estômago do
crítico; defendia Camões contra La Har-pe, e editava opúsculos políticos. Tudo
isto fazia sem ruído e sem ostenta­ção. Homem de sociedade, português algum do seu tempo o
foi de mais fi­no
quilate, com seu perfume afrancesado; nem mesmo Palmela, cujos hábi­tos e gostos eram mais ingleses.

Falava fluentemente as línguas francesa, inglesa e
italiana; tinha rela­ções
nas melhores rodas dos centros cultos, rodas aristocráticas e rodas intelectuais; usava amplamente
dos dons de trato ameno e engraçado, me­recendo que a duquesa d’Abrantes fixasse nas recordações
que escreveu a
impressão do seu olhar esperto e espirituoso e da sua inteligência encan­tadora (sonpetit o eilgris
noir, malin et spirituel, et son charmant esprit).
Indolente no agitar-se pelas
coisas públicas, o inverso de D. Rodrigo, essa espécie de indiferença cética
mais do que sobranceira realçava a sua natu­ral distinção, que tudo nele contribuía para modelar,
porque era instruído sem
ser pedante, sagaz sem ser velhaco, mecenas sem se dar ares de prote­tor, antes aspirando a pertencer à grei profissional.

Luxemburgo, que não votava simpatia a Barca porque o
culpava de ter que
regressar com a pasta de embaixador vazia, quando de tão longe viera, não podendo negar-lhe o
bem conhecido merecimento, vingava-se em escrever que achara bastante mudadas "as idéias
que na Europa lhe valeram
uma reputação de homem de espírito e de luzes". Descrevia o en­viado de Luiz XVIII o ministro de estrangeiros de
Dom João VI
como rodeado de intrigantes e
subalternos de que fosse o joguete. "A doença que acaba de padecer, enfraquecendo
suas faculdades, apenas lhe deixou a paixão de intrometer-se em todas as
questões, e como nem mais pode assinar papéis, parece somente empenhado em impedir seu colega de con­cluir
negócios que com pesar vê colocados fora de suas atribuições."359 Quando mesmo fosse verdade, e o
quadro é traiçoeiro porque Debret e outros descrevem diversamente a agonia
plácida do esmerado diletante, o triste declínio não excluiria o meio-dia brilhante que teve o
colaborador de Dom João VI na
emancipação escrita do Brasil.

A elevação da colônia a reino obedeceu também, entre seus motivos complexos, de sugestão e de
aceitação, à idéia de pôr obstáculo ao des­contentamento que mesmo no Brasil já se estava formando.
As capitanias do
norte queixavam-se por exemplo, ou melhor, nelas se queixaram alguns dos espíritos que entravam a nutrir aspirações e
manifestar opiniões, de
que a residência brasileira da corte podia ser uma honra, mas trazia àquelas terras encargos
adicionais (additional burdens, escreve Armitage), sem que colhessem
comparativamente as vantagens conferidas à metró­pole brasileira pela permanência da família real.

A tal estado de espírito não seria dentro em pouco alheio
o movi­mento
pernambucano de 1817, gerado nas sociedades secretas que passa­ram a funcionar no Brasil, e do
qual foi outro elemento importante o im­pulso português no intuito de determinar pelo
ressentimento o regresso de Dom João. Em Portugal o azedume acelerara o seu curso com a equi­paração política, tão a propósito
aplicada para estimular o orgulho dos brasileiros e distrair sua atenção de algumas vexações
existentes, e que con­tribuíam
conjuntamente para o descontentamento nacional que Mrs. Gra­nam faz remontar tão longe como
1813. A viajante inglesa recorda que, apesar das exações e mercê justamente das irregularidades
em cada depar­tamento,
estavam por pagar muitos dos salários dos funcionários civis e militares e
tinham sido mandados regressar para suas províncias vários empregados que, pelo tempo da
revolução pernambucana, tinham ido ao Rio de Janeiro representar sobre as injustiças públicas {to
remonstrate on
public wrongs).

As festas que a elevação da colônia determinou no Rio
foram motivo de
vaidosa exaltação para os brasileiros e de rancoroso despeito para os portugueses. Marrocos, português
dos quatro costados, buscava achinca­lhá-las num parágrafo típico de uma de suas cartas:360
"Pelas Gazetas que ultimamente remeti a V. Mcê, lhe será constante o brado, que aqui se ou­viu, pela elevação
destes estados a reino, incorporando-se paralelamente aos de Portugal e Algarves; e as
funções que houveram por este motivo. O
Senado, que em tudo se quer distinguir, em tudo dá a conhecer que é o Senado do Brasil; e por isso fez a função
mais porca, que eu não espe­rava ver. Em despique a mesquinhez do Senado, o
corpo do comércio, to­do basofia,
reserva para depois da Páscoa a sua função, alusiva ao mes­mo objeto, e em que prometem o maior aparato e grandeza,
a imitação das Festas Reais de
Lisboa, para o que já se acha atualmente em cofre de depósito mais de 100 contos de réis, finta que
se vai recebendo de to­dos os
Negociantes para aquele fim. Quanto a mim, o extremo também é
vício."

A elevação do Brasil a reino foi ainda uma hábil e eloqüente resposta de Dom João VI às instâncias feitas pelas
potências coligadas para que. cimentada a paz geral, regressasse a corte para Portugal — uma resolução que ao príncipe regente repugnava tomar e provocara
cisão no seu gabine­te, onde Barca opinava pelo Brasil e por Portugal o velho
Aguiar, advoga­do tão convencido de tudo quanto prolongasse o sistema antigo do
gover­no que merecia
ser retratado para Londres sob os seguintes traços: "Ele considera o povo em geral
formado para uso da família real, e da nobre­za; e, ainda que lhe custasse a
vida, ele não faria uma cortesia, para res­ponder ao homem não nobre, que o tivesse saudado."361

Segundo se depreende da correspondência pública por ordem da Ca­sa dos
Comuns a 12 de março de 1817, teria Dom João em 1814 pensado um instante em voltar para
Portugal, chegando a falar na conveniência de ser outra vez escoltada a esquadra portuguesa pela
britânica ao minis­tro
Strangford, que imediatamente o comunicou para Londres, pelo que pediu lord Bathurst os
necessários navios de guerra aos lords do Almiran-tado. Haveria, porém, mudado logo
de resolução ou melhor de projeto, decerto apoiando sua preferência na opinião de Barca,
indo muito embo­ra contra o pensar da
quase totalidade da corte.

Em maio de 1815 já lord Castlereagh deixava perceber suspeita dessa mudança em despacho a Mr.
Canning, o qual aceitara o cargo de ministro e futuro embaixador em Lisboa na persuasão de que
o príncipe regente aban­donava o Brasil. Em junho era a deliberação de ficar conhecida como defi­nitiva, e pouco depois voltava
só a esquadra de três embarcações comanda­da por sir John Beresford e que obedecera ao chamado de
lord Strangford. O
chamado fora sem dúvida precipitado, tendo Strangford convertido nu­ma intenção
assente do príncipe regente o que não passava do seu próprio desejo e alvitre, pois que a
informação do Foreign Office para a Casa dos Comuns rezava que o embaixador português em
Londres, partidário como era do regresso, não fizera comunicação alguma por escrito sobre tal
objeto.

Pela troca de notas entre lord Strangford e o marquês de
Aguiar, mais tarde
publicadas, se vê que o representante britânico procedeu efetivamente com leviandade no negócio.
Mandou dizer para Londres que o príncipe regente ambicionava muito voltar, quando Dom João apenas
lhe havia vaga e
matreiramente dito que o levaria a cabo, sempre que as circunstâncias lhe permitissem.

A ida da esquadra britânica ao Rio, a qual escrevera
Strangford ao seu
chefe ser do agrado do príncipe regente, não passou de outra impru­dência ditada pelo singular
empenho do diplomata estrangeiro "em re­compensar os valorosos vassalos portugueses do
príncipe, por tudo quan­to tinham sofrido na sua ausência, com o maior
benefício, que lhes podia S. A. R. fazer,
isto é, com a presença do seu adorado soberano".362

Na nota de 2 de janeiro de 1815
teve Strangford que se explicar com o governo português a respeito da falada e,
segundo suas palavras, solici­tada proteção dos navios ingleses: "O
objetivo da expedição do cavalhei­ro Beresford não tem outro fim, senão o de facilitar a S.
A. R. os meios de
acelerar a sua partida deste país, no caso que julgue conveniente servir-se dela. Nem em caso algum ela se
deve considerar como uma escolta para proteger a Pessoa sagrada de S. A. R.; porque seus
próprios navios pode­riam amplamente exercer este honroso emprego.”
Respondendo anterior­mente
a uma pergunta de elucidação da parte do gabinete português, já Strangford se vira forçado a
declarar "que não tinha avisado coisa algu­ma positiva a respeito do regresso do príncipe,
mas unicamente participa­ra por várias
vezes os desejos, que S. A. R. manifestara de voltar a Portugal"363

Não querendo insistir muito no assunto para não parecer que procu­rava torna intolerável a incômoda
posição do diplomata britânico, o mar­quês de Aguiar inseria todavia os seguintes maliciosos
dizeres na sua nota de 15 de janeiro:
"E ainda que, em data de 3 de novembro, comunicou a esta Corte o conde de Funchal, que em conversação com Mr. Canning este lhe dissera, que tinha lido o despacho formal
em que S. Exª lord Strangford pedia
a imediata partida da esquadra inglesa, S. A. R. apesar desta contradição, e de haver grande diferença
entre a expressão de seus desejos, e a declaração da época, em que lhe convém
cumpri-los, se per­suade que houvera algum mal entendido, de onde resultou esta
acelerada determinação."

O ministro de estrangeiros de Dom João aproveitava a
ocasião para oficialmente
justificar a atitude do seu príncipe, com as seguintes vagas explicações e asserções: "A
medida que as forças combinadas das outras potências da Europa contribuíam com as de S. A. R., para
debelar as do inimigo,
se lisonjeava o mesmo senhor progressivamente de se aproximar daquela feliz época, em que
satisfizesse os seus verdadeiros desejos, de patentear com a sua real presença
o seu afeto paternal e a justa gratidão, de que o seu ânimo está ocupado, para com tão
beneméritos vassalos. Ape­sar destes constantes sentimentos, tão naturais ao coração de S. A. R.
ten­de resolvido
deferir por algum tempo a sua retirada para Portugal, per­suadido de que esta determinação
é não somente útil e indispensável para o bem geral da monarquia, de que a Providência lhe
confiou a direção, mas
muito particularmente o é para os interesses dos seus vassalos em Por­tugal, o que certamente eles hão
de reconhecer, em conseqüência das pro­vidências,
que S. A. R. houver de dar, seja para a segurança, seja para a ligação de
interesses entre os estados, que constituem a mesma monar­quia. Entretanto espera o mesmo senhor a
tranqüilidade do mundo, extingüindo-se
o resto das dissenções produzidas por uma revolução, cu­jos horrorosos
efeitos não têm paralelo na história humana."

Estas afirmações pronunciadas a contra-gosto pelo ancião a quem sorria a idéia de ir morrer em Portugal, nada
importavam afinal a não ser delas se poder
com bastante segurança concluir que era intenção de Dom João não voltar para a Europa. As cartas de
Marrocos representam um documento precioso na sua sinceridade e confiança para
ajuizarmos do estado da alma da roda portuguesa do príncipe regente, no tocante
ao anunciado regresso da corte, dos
diferentes estádios do projeto, e da dissi­mulação com que, conhecendo aquelas disposições, procedeu Dom João em
todo o negócio.

Já em 1812, liberto o velho reino da última invasão francesa e empalidecida a estrela napoleônica na
Península, se falava no regresso como iminente e ao mesmo tempo problemático. A carta de
Marrocos de 17 de novembro assim se exprime a respeito: "Tem-se espalhado
aqui a notícia de
que cedo vamos para Lisboa; mas este cedo não pode ser menos que daqui a
dois anos: algumas embarcações estão se atamancando, para po­derem navegar para
a Bahia, a fim de se aprontarem; entre elas a fragata Carlota. Estas vozes vulgares tem seus
fundamentos, mas quem sabe a cer­teza deste destino cala-se; S. A. R. mesmo ouve que se quebram
as cabe­ças com os
cálculos, que se formam, e deixa-os nos seus desatinos: entre­tanto posso assegurar a V. Mcê. que o barão do Rio Seco está
edificando um soberbo Palácio no Largo dos Ciganos, onde é o Pelourinho; e
outras pessoas mais vão criando raízes
muito fortes neste país."

Em 1814 as esperanças pareciam ter diminuído muito. "Sobre o pon­to essencial, em que aí tanto se
ventila, da ida da família real para esse reino, devo dizer a V. Mcê. para fazer calar os que falam; que aqui nunca
se pensou menos
nessa matéria do que agora. Deixe gritar quem quiser ao contrário, e deixe vir
propostas dos governadores do reino; porque aí aão hão de sabê-lo mais depressa, do que eu aqui:
e enquanto V.Mcê. não tiver participação minha clara e desenganada, não acredite ninguém que afirme o contrário."364

Tal desânimo coincidia porém com os esforços de Strangford junto ao regente, pois que muito
poucos dias depois,365 deles tratava desenvolvidamente Marrocos: "A
respeito da súplica dos governadores do reino para que S. A. R. se recolha ao reino, é tudo aqui notório e
patente, e por isso não há nisso
segredo; e eu acrescento que Strangford teve há tempos uma audiência pública de S.
A. R. perante toda a corte, por ordem do governo britânico, a fim de ler uma
carta do príncipe regente de Inglaterra a S. A. R., em que lhe manifestava que, havendo sido o gover­no inglês censurado de algumas
cortes, por haver sido a causa do incô­modo geral da família real portuguesa, e de toda a nação,
pela separação repentina
e tão amarga do seu soberano para os estados do Brasil, era isto ao contrário de muita
satisfação ao governo inglês, por salvar seu primeiro aliado e amigo das garras francesas. E
para complemento desta obra desejava concorrer também para a sua restituição ao reino, visto que as coisas da Península
estavam seguras e permanentes para o future por
conseqüência convidava a S. A. R. e a sua corte para quando e como intentasse recolher-se ao reino; e para esse
fim mandaria aprontar a esquadra competente que S. A. R. pretendesse, com os
transportei necessários para de uma vez conduzir-se tudo o que fosse
relativo a Casa R. e que ficava ao arbítrio de S. A. R. escolher dos almirante;
Ingleses aquele que mais lhe agradasse, a
não querer o mesmo Sidney Smith que a conduziu aqui.

Além desta carta, depois dos agradecimentos e parabéns recíprocos advertiu Strangford que seria
bom aprontarem-se as embarcações de guerra portuguesas, para nelas se transportarem as pessoas
reais e a sua corte porque a esquadra
inglesa se destinava ao estado e acompanhamento

Ignora-se qual foi a
resposta de S. A. R. a isto tudo: mas há todo o
fundamento para se julgar, que menos que as coisas da França não estejam em estado de pacificação, Luiz XVIII e Fernando VII nos seus tro­nos, e o Santo Padre na sua
cadeira, não se resolva S. A. R. a recolher-se ao reino, mesmo até por obséquio político. De nada disto há certeza, e|
só há de não se mexer ainda em coisa alguma
e estar tudo em um letargo e silêncio
profundo: pelo que ainda se afirma persistirmos aqui estes 3 em 4 anos próximos: Deixo de referir fatos
particulares, que confirmam esta opinião,
por serem de mais segredo, e só digo que este descanso combina com a obra do Palácio da Ajuda: e quem afirmar
agora o contrário, anathema sit."

No
Rio de Janeiro, pelo contrário, a progressão de muitas obrai zia supor desígnios de demora.
"Antônio de Araújo está com grandes o<: nas suas casas, que lhe levarão uns poucos meses.366
O conde de Cav~ ros
há poucos dias comprou umas boas casas com sua chacra. Tudo o está em sossego ou antes
mortuório, que denota muito longa perma cia
neste país, e quase que há proibição política de falar-se na ida Lisboa: Deus
sabe quando será."367

Outros muitos indícios levavam a
crer na permanência da corte. ‘ ‘Es­tá para sair a curveta Voador, com.Antônio de
Saldanha, veador de S. A. R. a senhora princesa Dona Carlota, e que foi governador no Maranhão e em Angola; afirma-se que vai a
Inglaterra com comissão particular, que até hoje se ignora368 e de lá passa a França e
a Itália e dali retornará para aqui… O secretário do Núncio vai neste Navio Vitória para
Lisboa; e daí vai
pelo Mediterrâneo a Nápoles para passar-se a Roma a cumprimentar o Santo Padre, e receber as suas
ordens, e dali retornará para aqui."369

Para
fins de 1814 cresciam as esperanças dos que almejavam pela vol­ta para Portugal. A carta de
Marrocos, de 1? de novembro, assim se ex­pande em considerações que seriam de todo jubilosas, se
a continuada re­serva
do príncipe regente e algumas outras circunstâncias não fossem de natureza a esfriar-lhes o
entusiasmo. "Quanto a novidades, a que eu, co­mo povo, possa chegar, devo
dizer a V.
Mcê. que vai a
nascer uma fermen­tação
oculta, que solapadamente vai minando em preparativos da nossa ida para Lisboa:
no Arsenal da Marinha trabalha-se em aprestos para as embarcações de guerra; estas
estão se concertando e aparelhando; dos di­ferentes portos deste Estado têm chegado aqui várias
embarcações com 40
oficiais de machado para ajudarem os poucos que aqui há; tem-se com­prado bom número de pipas para a
Ribeira, e há um edital para se com­prarem quantas aparecerem; ouvi dizer que manda prender
gente para marinhagem
aqui, e por todos estes portos, Lisboa, e ilhas, de onde também virão todas as embarcações, que
não tiverem já carga e destino; que de Inglaterra vem todos os marinheiros portugueses que ali
serviam, e a quem ali
agora se lhes dá baixa. Entretanto no Público não há nada de novo: S. A. R. não
fala, nem consente que se fale nisso; e é essa a razão por que ninguém se prepara nem cuida
em tal. Uns dizem que a 17 de dezem­bro é que vem a publicar-se nossa retirada, e que esta se
verifica para mar­ço; outros que para
todo o ano futuro; outros finalmente afirmam que esta se não efetua, enquanto for viva S. Majestade, ou enquanto se não preencher o tempo deste último tratado com a
Inglaterra. Daqui pode V. Mcê. concluir o quanto ainda estamos às cegas neste ponto; pois vemos
continuar grandes obras e grandes despesas; no sítio de Andrahy (21/2
léguas distante
desta cidade) se está preparado um bom palácio, com 50 oficiais, para a senhora
princesa D. Carlota ir ali residir, e deixar o sítio de Botafogo. Na Livraria continuam as obras com o mesmo
vigor…"

Não é de estranhar que em 1815 houvesse reaparecido o desânimo. "A
respeito da nossa
ida para Lisboa, vem a ser uma questão como a Seita dos Sebastianistas: Dizes que aí
se está preparando o Palácio da Ajuda, para a família real, quando para aí for. Também te digo que aqui se está
preparando o Palácio
de S. Cristóvão, e aumentando-se com mais da me­tade, para nele vir a assistir para o futuro, em
tempo de verão, toda a fa­mília real; e acabado ele, vai a fazer-se o mesmo trabalho de aumento no
Palácio de Santa
Cruz, distante daqui 14 léguas, para toda a família real vir a acomodar-se ali
nas suas jornadas anuais de fevereiro, julho e no­vembro. Além disso, já se
mandaram examinar os caminhos daqui para a cidade de S. Paulo; pois tem havido lembranças de se
ir estabelecer a corte
para ali, em razão dos bons ares serem semelhantes aos de Portugal. O concerto atual das nossas embarcações de guerra tem
dado que falar a muita gente, tirando disso
argumento para a breve saída da família real destas terras: prouvera a Deus que isso assim fosse! mas infelizmente
não são ainda para esse destino:
basta só que conheças que as coisas vão se pondo outra vez feias. Dá-me riso ou
raiva, quando vejo dizer a algum tolo
que quem fala deste modo é aquele que não tem vontade de ir a Lis­boa: ora quem
sabe as coisas e não as pode dizer, por serem de segredo, ouvindo isto,
ou se ri, ou lhe chama tolo; porque é a desforra que tem. À vista disto o melhor é ouvir e calar, porque
este sistema não pode cau­sar dano a quem o usa."370

Justamente pelos dias em que Marrocos assim exprimia seu descon­solo, deixava o porto do Rio a esquadra britânica cuja gorada missão mo­tivou
a retirada de Strangford simultaneamente: "Ontem é que saíram da­qui Strangford e o
vice-almirante Beresford na nau destinada para S. A. R. ir daqui a Lisboa. S. A. R.
ficou deles tão zangado e aborrecido, que, quando eles arribaram a primeira vez
por falta de vento, foi logo para a Ilha do Governador, de onde não intentava vir, enquanto
eles aqui se de­morassem, para os não ver
mais."371

Não se pode descrever mais concisa e cabalmente o mau humor que em Dom João havia provocado a insistência inglesa, sem
consideração pela sua
repugnância ao projeto de abandonar a nova sede da monarquia. Strangford tinha-se aliás
tornado mal-visto do príncipe regente, muito cioso de fato das suas
prerrogativas, pela constante ingerência que pretendia exer­cer em assuntos de pura
administração e até na escolha do alto pessoal governativo. Diz-se por exemplo que ele fez
decidida oposição à última entrada de Barca no ministério, ainda que esta increpação ao diplomata esteja de algum modo em
desacordo com um episódio narrado pelo pró­prio Barca em carta ao Dr. Abrantes e Castro, quando
retirado em Lisboa e desavindo com Vicente Nolasco o antigo redator do Investigador
Por­
tuguês.

A
propósito da sua conhecida rixa com os Souzas, refere Barca com sua habitual tolerância que "pouco tempo antes da
morte do conde de Linhares, tinha lord Strangford
disposto uma entrevista em sua casa entre mim e ele para nos explicarmos, e
nela fazia eu tenção de lhe mostrar por cartas que conservo do duque de Serra
Capriola, ministro de Nápoles em Petersburgo,
quanto era falso, que eu movesse aquela corte para não rece­ber D. José Maria;372 a causa não foi
outra senão sua mulher,373 como era fácil de ver; tentei eu mesmo particularmente saber se o receberiam em Viena,
e a resposta foi a mesma".374

Seja como for com relação ao episódio da chamada de Barca aos con­selhos da coroa, é corrente que
Dom João fez queixa ao príncipe regente da Grã-Bretanha do seu representante no Rio de Janeiro,
parecendo toda­via
apócrifo o documento publicado por Mello Moraes375 como o dirigi­do pelo príncipe regente de
Portugal: a linguagem mesma está longe de ser a de cartas dessa natureza. Tão cônscio estava
contudo Strangford do desagrado
em que incorrera e das circunstâncias todas da sua retirada, que recusou numa carta muito digna376
o mimo de doze barras de ouro que lhe foi
mandado, como presente de estilo.

Strangford voltou para Inglaterra numa má situação diplomática: caíra em desfavor cá e lá, o que já
era infortúnio completo, e para o cúmulo também dele se queixava ao mesmo tempo, e oficialmente o
governo es­panhol.
Um tanto extemporaneamente, mas decerto pela força do rifão de que atrás dos apedrejados
correm as pedras, acusava-o uma nota de Fernan Nunez a lord Castlereagh, de 17 de julho de 1815,
de haver feito retroceder
três anos antes o socorro militar português desejado e solicita­do pela Espanha
para sufocar a revolução platina, e que constituiria pon­to de origem e serviria de base
para a nova intervenção, menos apetecida e
menos reclamada.

Segundo a nota do embaixador da Espanha ao governo britânico, a retirada das tropas portuguesas
a cuja marcha Strangford levantara obs­táculo, dera naquele tempo em resultado o cair
Montevidéu nas mãos dos insurgentes, não podendo então a metrópole, no mais aceso da luta con­tra
a dominação estrangeira, acudir à praça fiel, e também o estender-se daí o movimento separatista na
direção do vice-reinado do Peru. Fernan Nunez chegava a classificar Strangford de "author
of de numberless evils which the spanish government has suffered and is still suffering in
that part of the world".377

O positivo é que a posição de Strangford se tornara pouco invejável.
"Tenho razões suficientes para supor — escrevia Cipriano Ribeiro Freire ao marquês de Aguiar — que lord Strangford não esteja bem visto nesta corte e governo. Sei que
faz" as maiores diligências para ser nomeado su­cessor de Mr. Liston, embaixador
britânico em Constantinopla, no caso deste se retirar com licença como tem pedido, a fim de
representar ou fa­zer ver em público, como declara, com esta sua nomeação
imediata, nãc estar
no desagrado do seu governo." E para não faltar à intriga pessoal tão freqüente na diplomacia,
ajuntava o ministro português em Londres, que não esquecia as desfeitas do seu predecessor:
"Entretanto, porém, des­de que chegou, com breve intervalo partiu para Cheltenham, aonde tem estado até a semana última na mais íntima amizade e
confidência com o conde de Funchal."378

Strangford retomou serviço ativo um ano e meio depois,
sendo no­meado para
Estocolmo em março de 1817, quando foi nomeado ministre junto a Dom João VI o representante inglês na Suécia,
Thornton, o qual veio
mais tarde para Lisboa e recebeu o título de conde de Cacilhas por seus serviços na ocasião da
Villafrancada e da fuga do monarca portu­guês para bordo da nau Windsor Castle. Até a chegada de
Thornton exer­ceria
uma longa interinidade de encarregado de negócios o cônsul-geral Chamberlain.379

Não era razoável que se prolongasse sobremaneira o ostracismo de um
diplomata cujo valor era incontestável e cujos defeitos eram contras­tados por qualidades sólidas:
aliás esses defeitos ou eram da natureza dos que na Inglaterra passam por pecados veniais, ou
eqüivaliam a predica­dos
positivos em certos postos e quando se representa uma nação que as circunstâncias tornaram
protetora. A duquesa d’Abrantes, ao mencionar lord Strangford como primeiro secretário em
Lisboa em 1805, ao tempe da embaixada de Junot, relembra os seus talentos literários, a sua tradu­ção de Camões, a sua miopia, a
sua distração e especialmente a sua corte­sia e amabilidade, "sobretudo quando acontecia ser
encontrado antes de jantar".
Nada dizem as Memórias da sua impertinência e autoritarismo que mais
tarde, em cargo superior e de própria responsabilidade, se te­riam desenvolvido.

No Rio de Janeiro Strangford viveu fidalgamente e ao mesmo tempe corretamente, como é comum entre
os diplomatas ingleses. Não imitava, nem o seu colega americano, que comparecia a enterros e
não a festas (Ma-ler
só faz quase menção dele no funeral de Barca), nem o embaixador da Áustria por
ocasião do casamento de Dom Pedro, Eltz, que pedia dinhei­ro emprestado a Dom João VI e o que é pior, ao partir e
apesar de haver recebido do seu governo um milhão para pagar as contas da
embaixada só restituiu 45 contos dos 60 tomados ao monarca: "de cette manière
S. E. a conserve en partant Phonneur
d’être debiteur du roy, de 15 contos de réis."380

Marrocos
faz menção de uma das festas da legação inglesa:381 "No dia dos anos do príncipe regente
da Inglaterra fez aqui o ministro da­quela corte, Mr. Strangford, uma função esplendíssima,
consistindo esta em
baile e ceia, a que foi toda a corte: para se prepararem salas competentes
lançaram-se abaixo paredes divisórias interiores e além de ser espantoso e
admirável o aparato, até desembarcou tropa da Marinha Inglesa para guarnecer por
dentro e fora as suas casas, além da nossa infantaria e cavalaria. Não posso
descrever a Função, que V. Mcê. pode­rá conjeturar em todas
suas circunstâncias: a marquesa de Bellas foi a mestre sala das senhoras,
Strangford o dos homens; e S. A. R., que então se achava em Santa Cruz, mandou dali o seu camarista, D. Mi­guel de Valadares, a cumprimentar Strangford
por um tão plausível dia."

Se Strangford recobrou as boas graças do seu governo, não tardou por seu lado Dom João em
felicitar-se da resolução tomada de mostrar sua preferência pela permanência no reino por ele, para esse
fim entre outros, criado. A breve trecho
chegavam com efeito ao Rio notícias do
regresso da ilha d’Elba, que deviam ter robustecido no ânimo do príncipe
regente o sentimento da própria segurança. "Ontem de noite entrou
neste porto o paquete Inglês, que trouxe a infaustíssima notícia da entrada de
Bonaparte em França, onde se diz que já fora segunda vez aclamado; e que Luiz XVIII apenas tivera tempo de
escapar-se. Eu não sei se aqui há algum engano ou aumento da notícia; pois que
ainda hoje ninguém podia contar o caso
com individuação. O certo é que a nímia
humanidade dos soberanos aliados, que destronizaram este mons­tro, foi a principal causa da presente
catástrofe. Que se perdia na vida deste
diabo? Ganhava-se o sossego geral da Europa. Por ora nada posso dizer; mas
parece-me que o projeto de virem para aqui os 5.000 homens do nosso Exército
transportados em embarcações de guerra, que estando aparelhando aqui, e
nas que existem no Tejo, se suspenderá até ver o rumo, que vai tomando este novo acontecimento; o mesmo creio que
sucederá na resolução da nossa volta para Lisboa, que cada vez se ia
verificando com bastante regozijo nosso; ainda que neste ponto sempre houveram disputas pró e contra: e a
retirada de Strangford para respon­der ao Parlamento de Inglaterra, e
com ele o almirante Beresford com a grande nau e esquadra adjunta fazem
confirmar a opinião dos janeiristas. Agora é que se sabe com fundamento a história de
toda esta desordem
dos ingleses, que até fez ir lord. Canning para Lisboa, o que se prova da carta que ele escreveu aos
governadores do Reino."382

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