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munarettiMembro
Os testes de Q.I são uma tentativa de mensurar algo que por nós é desconhecido em sua integridade: a inteligência humana. Trata-se de uma concepção positivista, e elevada ao extremo, crer que possamos, através de um teste, dizer se alguém é mais inteligente que outro alguém. Basicamente falando, poderíamos questionar quantas “espécies” de inteligência o ser humano possui, como elas se desenvolvem e quais são suas influências históricas, genéticas, psicológicas e fisiológicas, o que escapa à nossa compreensão em um simples teste. Problemático é também falarmos em “aptidão”, que seria uma espécie de a priori concernente às tendências para o desenvolvimento de determinada área do conhecimento humano. Este a priori é herdado biologicamente? De que forma ele nos foi imputado? Esta aptidão não poderia também ser algo adquirido?(Tenho de dar uma saída mas depois volto a escrever sobre isso)
munarettiMembroQuando analisamos o surgimento das ciências, o que evidenciamos? Evidenciamos que elas surgiram em forma de interpretação da natureza, e esta interpretação é a tentativa de responder à uma determinada pergunta. E quem fez esta pergunta? O filósofo.Enquanto a ciência tenta colocar pontos finais após suas proposições, e isso quer dizer que ela procura desde sempre uma resposta objetiva, necessária e universalmente válida, a filosofia coloca pontos de interrogação após suas proposições. A filosofia pergunta, a ciência TENTA responder. A origem de toda ciência está nas perguntas filosóficas, e a filosofia questiona incessantemente a ciência. Não teríamos todo o suposto progresso científico, se por exemplo filósofos como Kant e Hume não tivessem levantado as questões sobre a causalidade, sobre a veracidade dos fenômenos, sobre o espaço e o tempo. Em muitos casos a ciência dá muita matéria para os filósofos abordarem, pois nem a ciência tem sempre uma resposta última, ela sempre é refutada, ou por si mesma, ou pela filosofia.A filosofia não é uma ciência, absolutamente, embora muitos tenham tentado atribuir à ela a objetividade de uma ciência da natureza, isso não foi possível, pois nenhum cálculo responde o que é liberdade, nenhuma experimentação resolve o problema da ética, nenhuma máquina comprova a existência do mundo exterior, nenhuma inferência lógica evidencia o grau de conhecimento do ser humano. Mas ambos, o cientista e o filósofo procuram por respostas, só que as respostas para as perguntas filosóficas são mais difíceis de encontrar, por que elas são céticas, elas não supõem uma realidade indubitável, elas questionam a própria realidade. O filósofo não vai para o laboratório (ou até pode ir por curiosidade) fazer experimentos genéticos, ou causar choque entre partículas, mas toma estes elementos e faz questionamentos que procuram um alcance maior do que a mera experimentação.Abraços
munarettiMembroPois é, o EU. É que desde que nascemos percebemos o mundo através de nós mesmos, de forma que nunca conseguimos “sair” de nossa consciência, de nossa percepção. O único mundo que conhecemos é o nosso, e não podemos saber se o outro percebe e conhece (supostamente) o mundo como nós. E se a autoconsciência for uma falácia? E se tudo for irreal? E se tu fores um enganado que não consegue evidenciar nenhuma realidade absoluta?Quando dizemos que temos certeza ao menos de que nós existimos, estamos em uma afirmação feita de nós para nós mesmos. Por que eu não posso saber se você é real, assim como tu não tens como saber que eu sou real. Como que você construi sua autoconsciência? Como você chegou a evidenciar que estava vivo? Ora, parece que isso aconteceu a partir do momento em que notaste que outras pessoas lhe percebiam como existente, de forma que as tuas características foram construídas verbalmente com a ajuda destas pessoas. Você não atribuiria a si mesmo as características que tu te atribui se não tivesse a companhia do seu meio, das pessoas com as quais supostamente tiveste uma vivência. E no entanto, como você se caracteriza? Através da linguagem não é mesmo? Essa linguagem que lhe foi dada, que você recebeu pronta e só restou aprendê-la. É através dela que você diz que "está vivo", que tem certeza do "EU" e do "cogito". O problema é que esta linguagem com a qual você pensa, esta linguagem que é condição de possibilidade para você afirmar qualquer coisa que seja, foi inventada, e talvez ela não seja fiel à realidade.Assim, não podemos nem afirmar nem negar nossa existência, trata-se de um ponto de interrogação, um entre muitos outros...Grande abraço
munarettiMembroEu lhe respondo que quem duvida de nossa existência somos nós mesmos. E você pode vir a querer argumentar com a prova ontológica de Descartes: “Se duvido, penso, se penso, logo existo”. Mas esta certeza de nossa própria existência está presa justamente ao ato de duvidarmos e pensarmos, e quem nos pode garantir que estes atos são verdadeiros ou reais? Nós mesmos? Mas não somos testemunhos duvidosos de nossos atos, principalmente os atos internos?Nós podemos duvidar, nós podemos pensar e podemos acreditar que realmente existimos, mas isso não constitui verdade alguma, se for tomada como verdade objetiva ou universal. Tratam-se de crenças e evidências propriamente humanas, dadas através de uma linguagem que em algum período foi inventada.Nossas proposições não são exposições nem afirmações assertivas frente aos fatos, sejam eles empíricos ou psíquicos, elas são interpretações, por que não sabemos se vemos a realidade como ela é, não sabemos nem sequer se existe realidade em nossa existência. Descartes inicia sua filosofia como um cético, duvidando de tudo, mas depois aceita a existência humana como evidente, galgada naquilo que hoje sabemos ser um grande mito: a razão. Não é surpreendente que, depois de Descartes "descobrir" aquilo que é evidente e indubitável por si mesmo, passe a aceitar várias coisas como evidentes e indubitáveis?E mesmo não estando na crítica à Descartes, não sabemos se estamos vivos, se estamos na realidade, pois não saímos do universo humano, um universo de interpretações dadas por uma linguagem criada, uma representação perene de algo que é primeiramente intuído, depois pensado, e ainda depois exteriorizado. Não existe algum outro ser que expresse a realidade como nós o tentamos fazer, em suma, não "saímos de nós mesmos", só percebemos as coisas e à nós mesmos a partir de nossa suposta consciência.Abraços
munarettiMembroOlá pessoal! Andei um tempo fora pq estava escrevendo um livro sobre o Ceticismo antigo, aliás se alguém o quizer, digam-me.Bem, quanto à questão do conhecimento da verdade, nós já temos uma velha discussão acerca disso na filosofia clássica: a opinião e a verdade em Platão e os sofistas.Platão diz que as opiniões não nos colocam em posse da verdade, justamente por estarem sempre mudando de uma pessoa para outra, de um local para outro de uma época para outra. E daí ele lança a idéia de que a verdade tenha de ser universal e objetiva. Bem, hoje sabemos que esta busca por um saber necessário e universalmente válido tornou-se um dos grandes dogmas da ciência, que refuta a si mesma de acordo com o nosso desenvolvimento histórico. Mas mesmo os sofistas, aqueles que são chamados de charlatões e coisas do gênero, reconheciam ainda mais do que Sócrates a ignorância do ser humano e a sua incapacidade de obter uma verdade universal.Quando diz Protágoras que tudo é opinião, que a linguagem é usada por mera convenção e que o homem é a medida de todas as coisas, ele está fundando nada mais do que o relativismo, contrário ao objetivismo, o qual é desenvolvido de Platão às ciências modernas e contemporâneas. Este ponto de visto do relativismo sofístico desacredita numa verdade, pois quando postula que só existem opiniões, não refere-se somente à opinião deste ou daquele homem, mas do homem em geral. Nós humanos temos uma opinião, o homem tem uma opinião, e quando ela é aceita quase por todos, denominamos esta opinião de "verdade" ou "conhecimento".O ceticismo começa com os sofistas, e desacredita de qualquer certeza absoluta, é a dúvida filosófica no seu sentido mais puro. Hoje existem concepções, principalmente na filosofia analítica, que dizem que, para haver uma suposta verdade, precisamos inicialmente saber se a linguagem que utilizamos para fundamentá-la, está de acordo com o nosso pensamento, o que é difícil, e além disso, precisamos saber se o nosso pensamento está de acordo com "a realidade".E assim, não podemos ter certeza de nosso conhecimento, ele parece ser relativo, e parece não existir "a" verdade, mas sim verdades.Espero discussões, trago algo polêmico que duvida inclusive de nossa existência...
munarettiMembroOlá pessoal! Andei um tempo por fora das discussões do Consciencia por que estava escrevendo uma obra chamada “O Ceticismo como Filosofia Primeira”, se alguém quizer, avise-me.E esta questão de um propósito para a vida, que a meu ver é uma questão distinta da questão do sentido da vida, é uma questão interessante. Vejamos. Quando falamos em propósito, ficamos remetidos à uma idéia de vontade. Algo feito com propósito é algo que tem como causa uma determinada volição, um móvel para a criação ou transformação deste algo. Quando perguntamos por um possível propósito da existência, estamos pressupondo uma vontade anterior à ela própria, ou seja, algo que teria antecedência em relação ao nosso curto período de vida, sendo que assim torna-se complicado definir qual o propósito da vida, pois não sabemos se existe um ente anterior à nós que o defina. E o problema maior é que percebemos um prpósito somente no ser humano, ele que para para refletir e mede como chega ao seu suposto objetivo. Já a volição e a vontade é possível encontrá-las em outros seres que não somente o ser humano. De qualquer forma, só temos a experiência do propósito a partir de nosso próprio mundo, de nossa própria percepção, sendo que quando colocamos propósito em algo anterior à nós, que é desconhecido até então, o humanizamos.Quando encontramos alguém que nos defina qual é o propósito da vida, geralmente este alguém responde nossa interminável dúvida etilizando milhares de pré-conceitos, juízos prévios, não passíveis de referência. Percebendo a multiplicidade de respostas que ouviríamos destas pessoas, visto terem elas diferentes pré-conceitos ou crenças, podemos chegar à conclusão de que estes "propósitos" forma criados em determinado momento, sendo aceito em seguida por determinada etnia, cultura, religião, etc. Resta saber se, o fato de estes "propósitos" serem criados, pode ser um critério para a definição da falsidade ou veracidade das proposições utilizadas por estas pessoas.Esta é uma interpretação de um ponto de vista da "psiché" humana, o que é um resposta desoladora para aqueles que procuram transcender o universo humano e encontrar um argumento ontológico para um proposito existencial. O fato é que a única coisa que podemos perceber é justamente uma construção de propósito, o que pode levar-nos ao ato de criarmos nosso próprio propósito, o qual no entanto poderia fazer-nos sentirmo-nos inautênticos ou até mesmo falaciosos.Por que eu disse que a questão do propósito é distinta da questão do sentido da vida? Enquanto o primeiro envolve justamente uma volição, que trata-se de um aspecto natural do ser humano, o segundo remete à uma causa, um desenvolvimento e um objetivo. Justamente por ser um sentido, este conceito refere-se ao caminho pré-determinado para uma coisa qualquer, e este caminho exige um início (que pode mesmo ser a criação), um desenrolar de todas as potencialidades daquilo que teve um início, e um fim, um "télos", em que este algo faz-se bem-sucedido ao alcançar aquilo que era seu objetivo. Não estou com muito tempo agora, mas provavelmente à tarde estou de volta, grande abraço.
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