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23/05/2005 às 2:11 #73169Miguel (admin)Mestre
“…por isso não concordo com muitas das criticas aos amntes da filosofia porem não filósofos.”
– Hã? Traduza isso.
Eu também gostaria de saber como ser filósofo e me manter só disso. Filosofando, achei a resposta: ou ser um gênio aclamado ou um bom sofista ou um “enche lingüiça” que vende livros…
23/05/2005 às 13:55 #73170Miguel (admin)MestreEu gostei da participação do Silvio Romero: ” A filosofia serve para a vida”. Se vc que ter uma condição econômica que a atividade profissional com a filosofia não lhe proporcionaria, então escolha outra profissão! Seja um engenheiro, advogado, médico ou seja lá o que for, mas não deixe a filosofia, independente da Academia ou não. Evidente que as dificuldades seriam maiores para um médico que trabalhasse em sua profissão e apreciasse a filosofia, muito maior que um apreciador da filosofia, e também professor.
Façamos da filosofia não uma profissão, mas um Hobby, mesmo que a utilizemos como profissão.
24/05/2005 às 17:39 #73171Miguel (admin)MestreEsse assunto é interessante mas, segundo creio, envolve uma certa dose de dialética que, imagino, possa ter escapado para alguns.
Sobre a não “profissionalização” da filosofia, difícil não recordar da posição dos sofistas: É certo que os filósofos da natureza buscavam a verdade por si mesma, e o fato de terem ou não alunos era puramente acidental; crítica comum então é que, ao contrário, os sofistas fizeram do saber uma profissão, já não buscavam mais a verdade por si mesma mas, antes, a consideravam mercadoria de troca que vendiam aos seus discípulos, e que tê-los era, para os sofistas, essencial. Nesse sentido, podemos dizer que foram os primeiros “filósofos profissionais”. Costumavam dar conferências públicas como meio e fazer sua própria publicidade, provando seu saber e sua habilidade, e ensinavam, através de pequenos cursos, àqueles que pudessem pagar.
Uma tal posição diante da filosofia era totalmente estranha à cultura grega e ao ideal do filósofo enquanto filo=amigo da sophia=sabedoria. Já recordando Aristóteles: filosofar requer ócio. Nas primeiras linhas da sua “Metafísica”, encontramos: “Todos os homens tendem por natureza ao saber. Sinal disto é seu gosto pelas sensações, pois estas, além do proveito que possam ter, agradam por si mesmas, e as da visão mais que as outras. Pois, não só em nossos afazeres, mas também quando não fazemos nada, preferimos o ver, por assim dizer, a todos os demais sentidos. E isso porque pela visão as coisas nos são mais notórias e manifestam-se muitas diferenças”.
Chamo a atenção para o fato de que Aristóteles insiste em que todos os homens tendem por natureza ao saber, que há uma disposição natural, fundamental, uma vocação natural e profunda do homem ao saber. Imediatamente a seguir, entretanto, acrescenta que se trata das sensações (ele usa a palavra aísthesis), e preferencialmente as da vista. Mas o mais interessante: que não somente por sua utilidade, por seu proveito, mas também quando não vamos fazer nada! Nesse ponto ele faz uso da palavra skholé, que para nós pode ser traduzida por ócio. Assim, seguindo essa linha de pensamento, o homem tem ócio e negócio; negotium é a palavra latina contraposta ao ócio. Aliás, a palavra “escola” é derivada de skholé, ou seja, a escola é lugar do ócio, etimologicamente falando.
Das sensações, Aristóteles privilegia a visão, poderíamos, forçando um pouco, falar de um tipo de “pensamento visual”. Aristóteles é um grande observador, sendo a vista a mais importante das vias perceptivas, porque revela, desvela, manifesta muitas coisas, diríamos que nos põe em aletheia, na verdade, permite conhecer a realidade com detalhe. O amor ao saber procura revelar o que está oculto. Esse é o outro significado de aletheia, comum para os gregos e hoje muitas vezes esquecido, a verdade é o que está desvelado, buscar a verdade é procurar revelar o que está oculto.
Dessa concepção de escola resta pouca coisa, hoje, infelizmente, o que encontramos é o puro comércio. Comércio do saber? Da arte de falar? Seria ainda esperar demais! Não restou muita coisa também dos sofistas. O que acontece muitas vezes é o simples comércio de um documento chamado diploma
Mas, deixando as queixas de lado, retornando ao nosso “filósofo” atual, tentava falar antes de uma dialética. Sim, porque, se por um lado existe esse lugar ideal, essa utopia do saber pelo saber, no tópico alguém já lembrava das coisas mais mundanas, o leitinho das crianças… Como fazer filosofia se somos pressionados pelos problemas corriqueiros (mas não menos urgentes) da vida? Não há como! Pelo menos não há modo se pensamos no que Aristóteles dizia sobre o ócio.
Mas esse lugar grego não existe mais, não existe, pelo menos para a maioria, uma massa de escravos que a sustente, ou há???
Temos então que aprender a “filosofar” “diferente”. Marx, por exemplo, era miserável e filosofou, bem ou mal. (Tudo bem, não esqueci que ele encontrou um que o sustentasse.) Mas o que pode fazer um miserável de hoje que não encontrou seu mecena? Não pode muito. Ou, aliás, pode muito! Pode fazer da sua vida uma filosofia.
“Ó filosofia, guia da vida!”, dizia Cícero.
Ou, lembrando Sêneca: “A filosofia ensina a agir, não a falar.”
Ou, lembrando Timmermans: “Ser filósofo não significa escrever, significa viver.”
Não é atoa que praticamente os grandes filósofos todos construiram sistemas de pensamento que desembocaram em uma ética. E mesmo aqueles que criticaram a moral, não o fizeram absolutamente, mas como caminho para a proposição de uma outra que acreditavam melhor.
Não estou a propor que todo homem honesto seja por isso um filósofo, embora até pudesse fazê-lo sem dizer com isso um tão grande absurdo. [ Engraçado, recordei-me agora daquela passagem em que Hegel dizia para um aluno seu alguma coisa assim: “Não creia você que irá para o céu apenas porque não esfaqueou sua avó ou estrangulou seu pai”, hehehe ], mas, novamente recordando o berço da filosofia como conhecemos, os gregos diferenciavam a porção do lógos contida nos mitos do lógos demostrativo e argumentativo que deu origem a outro tipo de saber.
De qualquer forma, em suma, como antes, ainda hoje, é um contrasenso alguém que levando uma vida leviana quer ser considerado filósofo, contrasenso ainda maior que alguém que julga sê-lo por portar um pedaço de papel sem o substrato correspondente. Como dizia o adágio: “o hábito não faz o monge”.
Como fica o professor de filosofia depois de tudo? Fica muito bem, se faz o que faz com paixão, com amor pelo saber, e se age de acordo, e se ainda, apesar de tudo, resiste heroicamente ao caos do nosso sistema de ensino e consegue chegar em casa sem a sensação de ter vendido a alma um pouco em troca de alguns trocados ou da “afeição” suspeita de alguns pobres diabos. Afeição ele terá daqueles outros heróis interessados de verdade que esperam participar de uma boa aula nessas instituições esquisitas que as vezes encontramos pelos caminhos da vida (ou da morte?). Se não afeição, pelo menos reconhecimento de um bom trabalho. Mas essas coisas costumam andar juntas.
[]'s
24/05/2005 às 17:50 #73172Miguel (admin)MestreAh! Detalhe, não queria esquecer, sobre o tópico dessa lista:
Querer ser filósofo somente pelo prazer é outro engano, do mesmo modo como querer sê-lo pelo dinheiro! Soou muito hedonista buscar o saber somente pelo prazer, dá a impressão que a busca será abandonada tão logo surja a primeira exigência que a filosofia fará, e ela costuma fazer.
O autor do tópico teria sido mais feliz se tivesse escrito “ser filósofo somente pelo saber”, ou, quanto muito, “pelo amor ao saber”.
Muitas vezes são feitos atos de sacrifícios pelo que amamos. Talvez isso seja prazeiroso para masoquistas, mas nem todos
Motivação mais propriamente filosófica seria a busca do saber pelo saber.
E outra posição que creio ser importante nessa reflexão, um outro exemplo da dialética de que falava antes: “Só é possível tornar-se filósofo, não sê-lo. Assim que se acredita sê-lo, cessa-se de se tornar filósofo” (F. Von Schlegel, Fragmentos)
[]'s
24/05/2005 às 23:53 #73173Miguel (admin)MestreEu também acho que a pergunta principal em si não tem sentido ou foi mal formulada.
O que motiva o filósofo a ser filósofo é a busca de respostas, de sentido – somente assim, pode propiciar algum prazer. Contudo, filosofar é mais uma tentativa de dissipar angústias ou de resolver uma problemática desprazerosa do que uma reles busca de entretenimento ou prazer. Não poderia ser enquadrado como um hobby.
E dizer “busca do saber pelo saber” é uma expressão vaga: o saber em si não é uma necessidade, mas pode se tornar necessário.
25/05/2005 às 14:38 #73174Miguel (admin)MestreTalvez o que eu tenha afirmado em:
” Façamos da filosofia não uma profissão, mas um Hobby, mesmo que a utilizemos como profissão” TN*
possa ter despertado alguma insatisfação, quem sabe imaginaram um possível menosprezo pela Filosofia, nao a teria tratado com a devida seriedade, sei lá. De forma alguma quis fazer entender isto. Por acaso, não encontraria problema algum caso alguém afirmasse que seu Hobby era lecionar História.
Utilizando a Filosofia como profissão ou não, o individuo deveria encara-la com prazer. Que maravilha não é descobrirmos algo que estava tão claro, ou ás vezes encoberto, atrás das nuvens. Este “trabalho” pode e deve ser encarado com seriedade/responsabilidade e TAMBÉM pode ser encarado como um Hobby. Vejamos que não disse “reles busca de entretenimento ou prazer”, mesmo sabendo que é direito de qualquer indivíduo considerar a filosofia TAMBÉM desta forma.
27/05/2005 às 19:36 #73175Miguel (admin)MestreÉ que de fato nos preocupamos com a nossa situação econômica independentemente de nosso status filosófico… Se alguém quer ser filósofo, vai querer que comprem seus livros para que sua fundamentação seja criticada, para fazer diálofo com a comunidade filosófica, mas vai também querer receber o dinheiro das vendas, a ênfase em qualquer um dos dois objetivos depende de cada um… Nada impede que sejamos professores e também filósofos, Kant o fez assim como Heidegger e Hegel. Infelizmente alguns buscam o “canudo” simplesmente, infelizmente a disciplina de filosofia não é valorizada como deveria ser em nosso país. Como viventes em um sistema não podemos pensar em sobreviver sem aderir às regras do mesmo. Uma boa é arranjar uma coroa rica para nos bancar, e assim nos tornamos exímios pensadores de barriga cheia, hehehehe
Você é muito coerente Pilgrim, concordo com suas objeções.29/05/2005 às 13:39 #73176Miguel (admin)Mestre“Nada impede que sejamos professores e também filósofos” – não entendi, você está sugerindo que filósofo é um graduado na disciplina de Filosofia?
(Mensagem editada por mike em Maio 29, 2005)
29/05/2005 às 18:06 #73177Miguel (admin)MestreDe forma alguma Mileto, só quis mostrar como é possível ser as duas coisas ao mesmo tempo…depende da demanda profissional, um filósofo não é simplesmente “um graduado na disciplina d filosofia” é algo muito acima, é alguém que lançou-se à uma tarefa que exige mais enpenho, pois apresenta novas idéias, novas teorias e não apenas pesquisa e ensina filosofia ou disciplina ligada à ela.
30/05/2005 às 1:52 #73178adam´sMembroOlá Pilgrim
Concordo em muito com o que vc colocou em 24/05/2005, mas aqui ou ali sobrou um espacinho para alguns comentários.
Nesse sentido, podemos dizer que foram os primeiros “filósofos profissionais”.Pilgrim em 24/05/2005
Será?
E sabe pq “Será”?
Pq vc antes disse que…
“…já não buscavam mais a verdade por si mesma mas, antes, a consideravam mercadoria de troca que vendiam aos seus discípulos…”
Penso que um indivíduo assim não pode e nem deve ser considerado um filósofo, e me parece é este o cerne da questão… faltaria honestidade ou uma consciencia ética coerente com a conduta ou coisas do tipo.
Um filósofo busca a verdade, pode ser que nunca a encontre, como de fato é o que acontece com os grandes filósofos da história, descobrem algumas coisas, mas não tudo, e deixam mais perguntas do que respostas.
Além disto não vejo muita diferença dos dias atuais, para os da grecia de Sócrates-Platão-Aristóteles, tem gente boa e bem intenciona e tem gentinha meia pataca fingindo ser o que não é, de modo que os primeiros filósofos, acho, foram de fato filósofos. Veja, dos discipulos de sócrates alguns devem ter virado sofistas outros ficaram entregues a própria sorte com a matriz de intelecções deixadas pelo mestre, outros como platão se empenharam num esforço honesto em busca da verdade, e assim foi até os dias de hoje.
Agora quanto ao Tópico em sí…
Sei lá o indivíduo fica diante de uma contradição na aurora de sua vida e da lá para cá vai estudando e começa a escrever e lecionar, convence outras pessoas não pela autoridade do seu diploma, mas pela sabedoria de suas palavras, os alunos preferem tal escola por causa daquele professor, certamente se estão estudando filosofia e buscando a verdade saberão que pagar pelo seus estudos é correto e assim vai…Carro novo, plano de saúde, conforto e uma grana no bolso e no banco não faz mal a ninguém, ou faz?
Agora como já dizia a minha mamãe “alguns gostam dos olhos, outros das ´ramelas´”, cada um busca o seu professor, o seu mestre, e a sua escola.
abs.
(Mensagem editada por adam´s em Maio 29, 2005)
30/05/2005 às 14:56 #73179Miguel (admin)MestreUm filósofo busca a verdade, pode ser que nunca a encontre, como de fato é o que acontece com os grandes filósofos da história, descobrem algumas coisas, mas não tudo, e deixam mais perguntas do que respostas.
Não é a verdade que os filósofos buscam, é o sentido. Por isso podem acabar deixando mais perguntas do que respostas. De certa forma, entenderam que “a verdade é mais a busca do que os encontros”!
A verdade já havia deixado de ser objeto quando os filósofos modernos passaram a questionar a existência da razão humana. O Deus racionalista de Aristóteles é uma mera hipótese, e ela não é provável…
30/05/2005 às 18:09 #73180Miguel (admin)MestreOlá Adam,
Muito a propósito a sua observação, e também por essa razão eu acabei colocando entre aspas os “filósofos profissionais”. Pelos motivos que vc apontou, os sofistas foram duramente criticados, e o adjetivo “sofista” passou até a ter um tom pejorativo , sendo aplicado àqueles que falam muito sem dizer nada, mais voltados ao jogo da enganação do que para a busca da verdade.
Entretanto, se formos simplistas demais, vamos incorrer no erro muito comum de preconceito. Antes de mais nada, queria alertar para o fato de que não existe um sistema sofístico ou uma doutrina sofística, já que é impossível reduzir o pensamento dos vários sofistas a uma ou algumas proposições comuns.
Contudo, por outro lado, não é verdade que as doutrinas dos sofistas individuais sejam unidades sem nenhuma relação entre si. Os temas e os problemas que eles enfrentaram eram idênticos: dizem respeito ao homem, aos seus valores e ao seu modo de agir.
Então, para avaliar corretamente os sofistas é necessário fazermos distinção entre eles e não os agruparmos num único bloco. Existe uma diferença notável entre os mestres da primeira geração e os discípulos da segunda. Podemos distinguir pelo menos três grupos de sofistas:
- 1) os grandes e famosos mestres da primeira geração, sem dúvida dignos de respeito e certamente não privados de discrição moral;
- 2) os “eristas”, que, explorando o método sofístico sem a discrição dos mestres, transformaram a dialética sofística numa estéril arte de contendas através de discursos;
- 3) os “políticos sofistas”, homens que, desprovidos de qualquer discrição moral, usaram e abusaram dos princípios sofísticos para teorizar um imoralismo que desembocava no desprezo pela “assim chamada justiça”, pela lei e pela moral.
Seja como for, agradeço por sua atenção e pela observação oportuna; mas, ao mesmo tempo, não posso deixar de lembrar meu acordo com a posição do Lizard, quanto ao fato de ser muito possível, e mesmo provável (pelo menos é o que espero, isso seria o mínimo que eu poderia esperar), que um professor de filosofia tenha paixão pela mesma. Com isso, buscando ser (sendo), um filósofo. (Sobre o jogo ser/buscar-ser ver msg anterior.)
E como não poderia deixar de ser – não era eu que falava de dialética? – quero jogar mais lenha no fogo. Vou trazer abaixo uma passagem do Fedro de Platão, a descrição do mito de Thoth, que tem tudo a ver com nossa discussão, e, seguindo uma outra prescrição socrático-platônica, não vou fazer um resumo ou apanhado de nada, deixando para cada um a reflexão sobre o seu significado. Conforme a leitura do texto, perceberão (espero) o risco. Se for o caso, retornaremos ao assunto depois
[274e]
SÓCRATES – Pois bem: ouvi uma vez contar que, na região de Náucratis, no Egipto, houve um velho deus deste país,deus a quem é consagrada a ave que chamam Ibis, e a quem chamavam Thoth. Dizem que foi ele quem inventou os números e o cálculo, a geometria e a astronomia, bem como o jogo das damas e dos dados, e, finalmente, fica sabendo, os caracteres gráficos (escrita). Nesse tempo, todo o Egipto era governado por Tamuz, que vivia no sul do país, numa grande cidade que os gregos chamam de Tebas do Egipto, onde aquele deus era conhecido pelo nome de Ámon.Pois bem, Thoth veio ao monarca, a quem mostrou as suas artes, dizendo que era necessário dá-las a conhecer a todos os egípcios. Mas o monarca quis saber a utilidade de cada uma das artes e, enquanto o inventor as explicava, o monarca elogiava ou censurava, consoante as artes lhe pareciam boas ou más. Foram muitas, diz a lenda, as observações que, a favor ou contra cada arte, fez Tamuz a Thoth, e teríamos que dispor de muitas palavras para tratá-las todas.
Mas, quando chegou a vez da invenção da escrita, exclamou Thoth: «Este conhecimento, oh Rei, fará mais sábios aos egipcios e os ajudará a fortalecer a memória, pois com a escrita inventei um remédio (phármaco) para a memória e para a sabedoría.»
Ao que respondeu o Rei: «Oh, Thoth, mestre incomparável, uma coisa é inventar uma arte, outra julgar os benefícios ou prejuízos que dela advirão para os outros! Tu, nesse momento, como pai das letras, por seu apego a elas, lhes atribui poderes contrários aos que elas têm. Porque é o esquecimento o que elas vão produzir nas almas daqueles que as aprenderem, pois, que sabendo escrever, os homens deixarão de exercitar a memória, confiando apenas no que está escrito, e só se lembrarão de um assunto por força de motivos exteriores, através de caracteres distantes, e não desde dentro, desde si mesmos e pelos assuntos mesmos. Por isso, não inventastes um remédio (phármaco) para a memória, mas para a simples rememoração. Quanto à transmissão da sabedoria, é a aparência de sabedoria o que elas proporcionam, não a a verdade, porque passarão a receber uma grande soma de informações sem a respectiva educação. Hão de parecer homens de muitos conhecimentos, embora sendo, na maioria dos casos, totalmente ignorantes, e difíceis, além disso, de tratar, porque acabarão por se converter em sábios imaginários, em vez de sábios de verdade.»
O restante do texto é igualmente interessante, e talvez eu o traga depois. Por hora, basta este. Agora, em tom de provocação: não é totalmente sem razão que alguém escreveu que, depois de Platão e Aristóteles, todo o mais é comentário.
[]'s
30/05/2005 às 18:26 #73181Miguel (admin)MestreAchei medíocre sua definição de sofista.
Primeiro porque se conhece muito pouco sobre suas obras.
Segundo porque os sofistas criticavam o racionalismo e, de certa forma, estavam certos mesmo.
Terceiro porque a história diz que os platônicos venceram os sofistas, porém ninguém ouviu o outro lado…31/05/2005 às 4:06 #73182Miguel (admin)MestreNão entendi.
Eu apresentei uma definição de sofista?
31/05/2005 às 11:36 #73183Miguel (admin)MestreUma não, três:
1) os grandes e famosos mestres da primeira geração, sem dúvida dignos de respeito e certamente não privados de discrição moral;
2) os “eristas”, que, explorando o método sofístico sem a discrição dos mestres, transformaram a dialética sofística numa estéril arte de contendas através de discursos;
3) os “políticos sofistas”, homens que, desprovidos de qualquer discrição moral, usaram e abusaram dos princípios sofísticos para teorizar um imoralismo que desembocava no desprezo pela “assim chamada justiça”, pela lei e pela moral. -
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