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31/05/2005 às 13:52 #73184Miguel (admin)Mestre
Mas isso não são propriamente “definições”.
Pela sua intervenção entendi que julgou ter eu cometido algum erro grave: “Achei medíocre sua definição de sofista…”. Gostaria de saber onde está o erro.
O que fiz, ou tentei fazer, foi justamente alertar para o fato de que não se deve fazer um julgamento apressado dos sofistas, sob o risco de ceder ao preconceito: “…se formos simplistas demais, vamos incorrer no erro muito comum de preconceito.” Razão pela qual quis deixar clara a dificuldade de agruparmos os sofistas em um único bloco homogêneo, sem atentarmos para as diferenças entre cada um deles: …para avaliar corretamente os sofistas é necessário fazermos distinção entre eles e não os agruparmos num único bloco.
Com esse intuito, destaquei uma divisão comum já conhecida entre eles e adotada por muitos filósofos e comentadores. Por exemplo, na “Historia da Filosofia Antiga” do G.Reale é possível perceber claramente os 3 grupos enumerados. Mas também encontrará essa diferenciação no Abbagnano, no Ferrater Mora e em outros.
Aceito de bom grado que essa divisão em 3 grupos é puramente didática, não sendo, portanto, a única possível. De fato, outros comentadores preferem destacar uma divisão cronológica entre os sofistas, tendo como ponto de referência a guerra do Peloponeso. Segundo esses outros, poderíamos dividir os sofistas entre: A) os grandes sofistas do período anterior à guerra, em que se destacam: Protágoras, Gorgias, Pródico, Hipias; e B) os sofistas do período posterior à guerra, sendo os mais conhecidos: Trasímaco, Calicles, Antifonte e Critias.
Seja como for, é amplamente aceito que os primeiros sofistas foram os mais inovadores e importantes: dirigiam sua investigación até as bases da legitimidade das leis, e buscavam os fundamentos racionais da sociedade e dos valores sociais e morais. Assim, criticaram o que era aceito por todos e abriram novos caminhos de investigação.
Já os sofistas posteriores, por outro lado, abusavam dos sofismas, e, ao que tudo indica, seus interesses estavam mais voltados para uma busca de uma vitória meramente retórica sobre os seus adversários, o interesse pela busca da verdade foi esquecido. Deve-se, principalmente, a essa segunda leva de sofistas o tom pejorativo que recebeu o termo “sofista”.
Assim sendo, eu não disse nada de novo. Pelo contrário, sugeri atenção para não fazer julgamentos apressados que não atentem para as diferenças entre cada sofista. Praticamente recordei os comentadores da filosofia.
31/05/2005 às 17:20 #73185Miguel (admin)MestreO que me irrita, e irrita muito, é que você está ACADEMICAMENTE correto!
31/05/2005 às 23:55 #73186adam´sMembro“…é o sentido…”
E.Mileto de Souza Enviado em Segunda, 30 de Maio de 2005 – 11:56 amSim.
O que vc diz está de acordo, e vai de encontro com o texto que Pilgrim nos oferece para reflexão. Penso que toda unidade compreendida deve ser explicitada num discurso coerente.Este dircurso não corresponde com a compreensão em sí, mas com a estrutura daquela compreensão.
A partir daí podemos ou não desenvolver o problema colocado por quem compreendeu.
Se a linguagem é uma via para o desenvolvimeto cultural, por outro lado ela pode tb significar o túmulo dos nossos pensamentos, pois ao coisificarmos demais nossos pensamentos achamos tb ser possível coisificar a verdade, ou a verdade materialista de que EMS nos falou, o que de fato não é provável.
Todavia falamos sobre a busca na verdade seguindo a linha daquilo que vinha sendo dito nas mensagens anteriores, mais especificamente a de Pilgrim do dia 24/05/2005. O sentido empregado à palavra verdade, evidentemente, não está para algo coisificado ou materializado, até pq como já disse o descobridor de algo não consegue explicar o sentido completo daquilo que descobriu, mas apenas uma estrutura de compreensão que não corresponde com a compreensão em si.
abs
01/06/2005 às 0:24 #73187adam´sMembroOlá Pilgrim
“…se formos simplistas demais…”
Sim. Ser simplista por vezes é um grande pesadelo, mas evidente que não sempre.
O fórum, me parece, caminha no sentido de dizer que ganhar dinheiro é feio ou coisa do tipo. E ser filósofo é quase uma condição sacra.
O que, no meu modo de ver, é um absurdo.
O filósofo agora é um extraterrestre, como se o conhecer não fosse a finalidade de todo ser humano.
E aí, penso, a simplicidade tem lá o seu mérito. Ganhar dinheiro fazendo algo que se faz bem é algo bom. Evidente que todos reclamamos do funileiro pé-de-chinelo-meia-boca, ou do pintor fubréga, ninguém gosta de ver um canastrão tirando vantagem ou pondo algum no bolso sem mérito.
Já quanto ao sofistas, se não me engano, vez ou outra sócrates faz menção a eles de forma pouco respeitosa ou em tom jocoso. Pra mim isto já basta, pode ser que a coisa seja mais complexa, pode ser que não, sei lá. Mas tenho que me valer de alguma fonte e Sócrates me parece alguém confiável, na mesma linha Platão.
Assim apenas defendo a idéia que:
a. Ganhar dinheiro não é feio para ninguém, se produto de um esforço honesto do indivíduo, onde os seus talentos são bem direcionados.
b. Filósofo não é ET ou um semi Deus que está acima do Bem e do Mal.
c. cada profissão ou talendo tb abriga a sua carga de responsabilidade, e a desgraça recai sobre aqueles que se dizem ser o que não são. Se provado que um indivíduo que tem título de filósofo( alguém que honestamente busca a sabedoria), diploma de filósofo, fica por aí fazendo sua filosofadas no estilo pintor fubréga, o azar é só dele, e quem vai aguentar o tranco é só ele.
abs.
01/06/2005 às 0:52 #73188adam´sMembro“Terceiro porque a história diz que os platônicos venceram os sofistas, porém ninguém ouviu o outro lado…” E. Mileto de Souza Enviado em Terca, 31 de Maio de 2005 – 8:36 am
E quem vai ouvir agora o outro lado? Ninguém né!
Então não tem esta de ouvir o outro lado, de fantasiar em cima com conjucturas mil, pode ser isto, aquilo, aquilooutro….
Quantos livros não serão escritos pq o outro lado não foi ouvido. Escrever sobre um lado que não foi ouvido é fazer o que o lado não ouvido fazia, ou seja, contar história para boi dormir.
Poder é continuidade.
Ora pq Platão é grande, pq dizem que ele foi/é grande?Não.
Pq há autoridade(sabedoria-verdade) no platonismo, autoridade que rompe séculos e mais séculos. Tantos e tantos tentaram deter as idéias platonicas e ficaram tal e qual o sofistas, não foram ouvidos.
abs.
01/06/2005 às 1:40 #73189Miguel (admin)MestreSó recentemente temos esses pensadores, Kurt Gödel, Karl Popper, Sigmund Freud, Jacques Lacan, fazendo críticas fulminantes ao racionalismo, sobre fenômenos e paradoxos que os sofistas já conheciam muito antes de Sócrates.
O racionalismo e o positivismo são correntes de pensamento muito pobres, pois desconsideram as inadequações da linguagem humana em apreender o real. Os positivistas acham que tudo tem que ser “preto no branco”, mas quem conhece a matemática profundamente sabe que a lógica humana não é lá assim tão positiva quanto possam acreditar…
Pilgrim e Adams, discordâncias a parte, vocês estão de parabéns pelo esforço de manter o debate vivo!
01/06/2005 às 2:38 #73190nahuinaMembroPrimeiro gostaria de salientar que concordo em parte, ou não necessariamente discordo com TODOS VOCÊS, e creio (posso estar enganado) que todos vocês pensam refletem sobre o que escrevem no fórum, sendo assim, sinto vergonha e/ou decepção por ver que ao invés de usarem as suas idéias para chegar a algum ponto em comum ou a alguma nova descoberta ficam disputando quem esta certo e quem esta errado travando uma fútil luta de egos que não acrescenta em nada (ou em muito pouco) a nenhuma das partes nem às pessoas que lêem o fórum .Por favor, eu confio na capacidade de vocês! Vamos tentar “unir forças” lutar por alguma coisa em comum, sei que “lutar” pode parecer uma palavra um tanto pesada, mas é isso que vocês estão fazendo, ou ao menos o que isso aparenta ser: uma disputa!e eu me pergunto o que vocês estão disputando?Vocês não representam partidos políticos opostos, representam?Eu quero chegar no seguinte ponto: qual é a necessidade de contradizer a opinião do outro?Se afinal, É SÓ UMA OPINIÃO!Com certeza vocês já ouviram, ou leram a frese: “Posso não concordar com nenhuma das vossas palavras, mas defenderei até a morte o vosso direito de enunciá-las”. Parece que vocês lutam pelo oposto. E reiterando, posso estar enganado, mas esta é a MINHA OPINIÃO.
01/06/2005 às 2:56 #73191Miguel (admin)MestreAdams,
Concordo com seus argumentos quando afirma que:
a) ganhar dinheiro não é feio, se produto de um esforço honesto do indivíduo, onde os seus talentos são bem direcionados;
b) filósofo não é ET nem semi-deus (!!!);
c) charlatões existem em todas as áreas, conseqüentemente, tb são encontrados na filosofia.
Desculpe-me se fiz meus seus argumentos em outras palavras.Concordo também qd diz que o lado não ouvido, a versão não conhecida, não foi ouvida nem conhecida; portanto, é pasto para mera conjectura, hipótese, especulação. Mas não vejo problema em especular, se se mantém a cabeça no lugar e se não se esquece que se trata disso: especulação.
É inegável o valor da filosofia de um Sócrates e de um Platão, não vou defender que a água é molhada, nem que são importantes.
Já deve ter percebido que mantenho certa desconfiança de interpretações simples
Contudo, ao mesmo tempo acho que existe sabedoria nelas (e nem tudo que é complicado presta, sendo muitas vezes apenas complicado). Recorro a elas com freqüência por serem didáticas, deixando isso claro. Acho apressado passar à negação qd nem se entendeu ainda o que se afirma, pq se afirma, e pq a afirmação teve longa vida – supondo-se que esteja “ameaçada de morte”. Nada está mais vivo do que o que está vivo, e se o que estava morto teve forças para se levantar e ameaçar o que vivo dominava, o que não poderá fazer depois o moribundo? ou, mesmo se vir a falecer, o que já um dia andou de pé?
01/06/2005 às 3:15 #73192Miguel (admin)MestreNahuina,
Lamento mas estou escrevendo essa para agora discordar de vc também. Será que com isso inicio mais uma frente de batalha?
Onde vc se decepcionou receando uma “fútil luta de egos”, eu esperançosamente “lutei” por um aperfeiçoamento das idéias no confronto com opiniões diferentes. Não vi no emoticon zangado ainda nenhum problema. Relaxe, cruze os dedos, e torça para não vir a ter que dizer depois “eu avisei”, pq se acontecer eu talvez dissesse “nós sabíamos que era possível, mas se procurássemos 100% de segurança escreveríamos muito pouco”
Enfim, prefiro confiar na nobreza e paciência dos antagonistas, assim aprendo mais. Ah, tentarei ser cuidadoso (mas nem tanto).
01/06/2005 às 3:40 #73193Miguel (admin)Mestre“Posso não concordar com nenhuma das vossas palavras, mas defenderei até a morte o vosso direito de enunciá-las”. (Voltaire)
Freud suspeitaria da hipérbole nessa frase (até a morte)…
…não tenho tanta gana de defender esse direito de meus adversários retóricos, mas também não é minha intenção convertê-los à razão miletiana.
Como diria Popper, só o que tenho agora é uma certeza sobre um fundo de dúvidas…
01/06/2005 às 4:31 #73194Miguel (admin)MestreE. Mileto,
Se não entendi errado, vc parece ter visto no socratismo-platonismo um tipo de racionalismo questionável, e talvez por isso o desejo de dar mais valor a linha abordada pelos sofistas. Essa percepção, se não for um engano, veio nas passagens:
(a) temos esses pensadores <...> fazendo críticas fulminantes ao racionalismo, sobre fenômenos e paradoxos que os sofistas já conheciam muito antes de Sócrates; ou,
(b) o racionalismo e o positivismo são correntes de pensamento muito pobres…
Entendo seu receio, isso é bastante compreensível, mas se examinar outras antigas postagens minhas verá que não costumo ser defensor dessas correntes, racionalismo ou positivismo, nem pretendo assumir esse papel por agora.
Na verdade, entendo que essa rotulação de racionalista para Sócrates ou Platao considera apenas um viés da posição dos dois, sendo um tanto tendenciosa. Esse tipo de acusação não é muito raro, e discutir isso daria outro longo debate, que demandaria mais tempo – quem sabe para as férias? Seria um bom tema para as lista sobre Platão. Já o positivismo, imagino, entrou de carona, pq não vi muita ligação aqui.
O fato de defender a posição “tradicional” no embate entre Sócrates-Platão-Aristóteles e sofistas não me impede de reconhecer a posição contrária tipificada, mais recentemente, na defesa de Nietzsche dos sofistas. Sobre isso tb haveria muito mais para falar, e, novamente, sugeriria para outra lista. Somente adianto que nesse ponto suspeito que Nietzsche tenha tido menos sucesso do que imaginava ao criticar Platão. Curioso observar nos diálogos platonicos como os argumentos e as ironias contra os sofistas podem ser os mesmos contra Nietzsche. De fato, a retórica nietzscheana lembra muito a sinonimia de Pródico qd tenta o uso da filologia para os jogos com o significados das palavras, ou a posição de Cálicles e Trasímaco qd fala de moral como contra-natureza. De fato, esses últimos sofistas defendiam que o justo era o segundo a natureza, e na natureza o forte devora o fraco. Isso não lembra o bigodudo furioso?
Resumidamente (de novo) temos: Sócrates-Platão defendendo uma diferenciação entre physis (mundo da natureza) e nomos (mundo dos homens, cultura: leis, costumes e normas); os sofistas em questão criticando o nomos como artificial, criado pelos homens, concluindo que somente a physis tinha portanto valor… posição fácil qd se fala do berço da nobreza, com uma massa de escravos para sustentá-lo.
Derrubar é mais fácil do que construir e quem anda para trás é caranguejo
01/06/2005 às 13:01 #73195Miguel (admin)MestreTalvez o que falte não seja a aceitação das idéias dos sofistas. Mas entendê-los como uma antítese temporariamente válida às idéias dos platônicos.
A moral é um senso-comum alienante e a lei da sobrevivência do mais forte nem sequer é uma verdade evolutiva, já que a adaptação não implica necessariamente a sobrevivência do mais forte.
Mas por quê prefiro os sofistas aos platônicos, se estes são meras antíteses?
Porque é mais fácil, a partir de uma antítese, chegar a uma síntese do que elaborá-la através da continuidade de uma tese.
Foi assim que surgiu o positivismo, uma herança do pensamento racionalista que remonta até o tempo dos platônicos, quando fez-se calar a voz dos sofistas ao compará-los ao bando de ardilosos embusteiros.
Não conheço o trabalho de Nietzsche profundamente, mas a impressão que me passa não é a de que ele defenderia a máxima “o forte devora o fraco”. Acho que ele preferiria expressá-la nos seguintes termos: “o dialético devora o moralista”!
01/06/2005 às 14:43 #73196nahuinaMembroPilgrim:Lamento mas estou escrevendo essa para agora discordar de vc também. Será que com isso inicio mais uma frente de batalha? :-) (que meigo!)
“eu esperançosamente “lutei” por um aperfeiçoamento das idéias no confronto com opiniões diferentes… prefiro confiar na nobreza e paciência dos antagonistas”O que eu vejo é uma antítese da antítese, e a síntese?Quando haverá um consenso?
01/06/2005 às 16:14 #73197Miguel (admin)MestreParem o mundo! Nahuina precisa descer…
01/06/2005 às 18:08 #73198Miguel (admin)MestreSempre pensei que para ser filósofo, não há que se frequentar nenhuma faculdade. Não me lembro de nenhum filósofo que tenha aprendido a filosofar em faculdades…
Penso também que não devemos apreciar um filósofo através da filosofia de outro filósofo. Se assim procedermos, acabamos não compreendendo a filosofia do primeiro, além de confundirmos a filosofia do segundo.
Para mim, todo ser pensante é filósofo, independente de formação. Acho a filosofia acadêmica pobre. As questões filosóficas mais decisivas são discutidas pelas pessoas pelas ruas…
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