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24/11/2002 às 19:34 #77440Miguel (admin)Mestre
Olá peregrino
Concordo em muito com as opiniões que vc manifesta no fórum, contudo, gostaria de debater um ponto específico desta sua última mensagem. É uma espécie da calcanhar de Aquiles do Ensino Público Superior nestes últimos 15 anos.
Eis o trecho:
A Universidade Pública não deveria se prestar a sustentar interesses pessoais de classes privilegiadas.
Isto é certo. Mas qual a soluçao? De novo as mais fáceis? Esses argumentos já foram utilizados para justificar propostas do tipo:
1- fim da universidade pública: proposta infeliz de quem desconhece por completo o problema da pesquisa científica.
2- facilitar o ingresso nas universidades: ora, a verdade é que universidade deveria ser mesmo para poucos! Mas infelizmente se tornou meta de decorador, a maioria faz só para se tornar “universitário”, querem só o diploma. O primeiro critério para se ingressar nela deveria ainda ser o mérito, pela esperança de retorno do investimento pelo estudo subsidiado (retorno que pode ser social ou para a propria área).
Uma coisa todos sabemos, as vagas nas Universidades Públicas Estaduais aqui de São Paulo crescem em progressão aritmética, enquanto a demanda por estas vagas em progressão geométrica. Nesse passo algumas escolas, as mais cobiçadas, tendem a ter em seus quadros de alunos pessoas proveniente das classes alta e média alta e alguns poucos da classe média que poderiam ser considerados os pobres do curso.
O Onofre lembrou bem, temos as Universidades-Empresa-Particulares. Aqui em sampa são conhecidas como as “UNI”, é UNI-isto, UNI-aquilo, UNI-10, UNI-11,UNI-12 e assim vai.
Mas sabe o que me intriga(?): são os DOUTORES(sombrólogos sem ética, lembra?) que compõe as bancas destas Universidades-Empresa.
Bom… vou ser direto, os Testas de Ferro são todos da USP, UNICAMP,etc. Estes não dão aulas, os seus nomes aparecem para dar respaldo. O curioso é que são sempre os mesmos nomes. Vc vai na UNG ou na UNIABC, UNIBAN, etc e encontra sempre a mesma “pá”. É claro que eles tem que dividir o bolo com outros colegas(nem sempre é a mesma pá, as vezes mistura um pouco os nomes, outros entram no grupo e assim vai).
O que quero dizer é que existe uma máfia, oriunda das Universidades Publicas que sustenta a palhaçada das Universidades Particulares, afinal quem vive de salário de professor da USP, UNICAMP, etc? Tem gente que vive, mas não é uma vida fácil.
Quando a coisa fica preta e o curso fecha a tchurma cai fora e migra como um vírus hospedeiro para uma outra Universidade-Empresa-Particular. Estes caras possuem contato direto no MEC, tomam Whiskies com o pessoal do MEC e fazem os “trouxas”, das classes pobres ou média baixa, que a duras penas alcaçaram a condição de poder pagar uma Universidade(exigência do chefe, ou faz ou rua), pagarem um tremendo pato público e social.
Como são empresas estão preocupas com dados quantitativos – Temos que ter alunos nas salas de aula, quem é este cara que deixou todo mundo em dependência? Manda ele embora – Fulano, vamos mandar uma renca de professores embora no próximo semestre, senão vamos nos endividar com os custos trabalhistas. – Ciclano, contrate qualquer um! se não tem gente com mestrado das estaduais dispostos a ganhar a mereca que a gente paga e seguir a nossa linha de produção, contrate qualquer! basta ter uma “pós” qualquer, o MEC deixa comigo, hoje tem um jantar.
Desculpe-me, acho que dramatizei demais, mas isto acontece aqui em sampa, pelo menos nos cursos de Direito. Isto sei, pq parentes e amigos lecionam ou já lecionaram em Universidades Particulares e Universidades-Empresa.
É verdade que temos boas Universidades Particulares, estas são as tradicionais (não surgiram do dia para noite, possuem uma tradição) que os sombrólogos do MEC tentam fechar pq não possuem um número X de computadores por alunos. Como estas Universidades são sérias, os seus administradores não foram tão astutos quanto os mafiosos que deram o “pulo do gato” e alugaram os computadores apenas para as visitas do MEC.
Bom estou dizendo isto tudo pq outro dia (já faz um bom tempo, alguns anos) li na revista Isto é uma entrevista com um ex-presidente do Banco Central Americano. Este Senhor ficou na direção do Banco durante algumas décadas, da entrevista que li, nada lembro, a não ser uma frase:
“O Brasil tem que para de ajudar e prestigiar a incompetência.”
Ele comentava a ajuda financeira dada aos bancos naquele projeto Proer ou Proar alguns anos atrás(a matéria é daquela época).
bom mas vamos as perguntas.
1- fim da universidade pública: proposta infeliz de quem desconhece por completo o problema da pesquisa científica.
1a)A pesquisa científica poderia ser feita em Universidades Particulares?
1b)Nas Escolas comprovadamente elitizadas, se privatizadas, o fato de pagaram a escola influenciaria (positiva ou negativa) a qualidade ou a produção da pesquisa científica?
2- facilitar o ingresso nas universidades: ora, a verdade é que universidade deveria ser mesmo para poucos! Mas infelizmente se tornou meta de decorador, a maioria faz só para se tornar “universitário”, querem só o diploma. O primeiro critério para se ingressar nela deveria ainda ser o mérito, pela esperança de retorno do investimento pelo estudo subsidiado (retorno que pode ser social ou para a propria área).
Gostaria de ouvir os seus comentários sobre…
Pq será que as Universidades-Empresa-Particular, cresceram como capim aqui na Cidade de são Paulo?
Acredito que ninguém gosta de pagar uma faculdade, as mensalidades não são baratas e poucos possuem capacidade para pagar em dia as suas mensalidades, muitos trancam a faculdade diversas vezes, pois não podem pagar o curso.
A cidade de são paulo, e grande são paulo, apesar do êxodo de algumas industrias continua sendo o carro chefe do PIB brasileiro.
Sobram vagas para pessoas especialiadas em são Paulo. É altamante difícil e concorrida uma vaga de porteiro ou frentista em São Paulo, já as vagas de especialistas na área de administração, economia, direito e outros carecem de pessoas qualificadas(sobram vagas), uma vez que a máfia das Universidades Particulares não formam pessoal qualificado.
O destino de São Paulo é se tornar um grande centro de prestação de serviços, o êxodo das industrias é neste sentido, daqui a alguns anos, e isto já está acontecendo hoje, o que se ganha na industria não é suficiente para custear as despesas do trabalhador em São Paulo, que é uma cidade cara e se tornará mais cara ainda.
As principais empresas já exigem de seus funcionários curso superior ou curso em andamento. Está é uma exigência do mercado e daqui para frente a coisa vai ficar ainda mais acirrada e seletiva. Nesta linha a Universidade cada vez mais está se tornado uma necessidade para todos.No início do século passado quantos tinham Faculdade? Tenho em mãos um discurso do Mestre Olavo Bilac onde este fala aos MOÇOS(formandos homens, turma 1915) da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Naquela época a faculdade era para pouquíssimos, não havia mulheres naquela turma.
Na época de cristo quantos sabiam ler e escrever?
Quantos tiveram acesso à ACADEMIA?
Tem um ensaio interessante, vc deve conhecer, do italiano Domenico De Masi chamado “Ócio Criativo” e um outro que ele organiza ensaios de Bertrand Russell e Paul Lafargue chamado de “Economia do Ócio” que fala sobre a necessidade de agregarmos conhecimentos e desenvolvermos a criatividade com informações diversas. Nesse sentido caberia a democratização da Universidade.
Todos sabemos que os brasilerios, latinos e estrangeiros que vão para o exterior(estados unidos por exemplo), são aceitos para preencher as vagas de lavadores de pratos, empregados domésticos, etc. O acesso à Universidade é amplo naquele e em outros países, faltam lavadores e empregados domésticos.
O decorador seria o resultado das Universidades Particulares que pintam e bordam.
Gostaria, caso vc tenha um tempo, de ouvir a sua opinião.
abs.
(Mensagem editada por alex em Novembro 24, 2002)
24/11/2002 às 23:07 #77441Miguel (admin)MestreUma lástima! Após toda esta prolixidade, ninguém, aqui, se identificou como negro, seja para defender ou não as cotas( na minha opinião importante instrumento para atenuar a monstruosa injustiça cometida com aqueles que foram submetidos a escravidão). Ou seja, parece que também os negros não devem ter muito acesso á internet.De qualquer forma, deixo uma mensagem aos irmãos negros conscientes: Há que se mobilizar porque se depender desta turma aqui…
25/11/2002 às 0:28 #77442Miguel (admin)MestreOi Alex,
Imaginei que talvez ainda se lembrasse de mim. Andei super ocupado e tive que sumir um pouco. Claro que havia outras formas de faze-lo, mas contou também uma antiga profecia sua…
Uma coisa todos sabemos, as vagas nas Universidades Públicas Estaduais aqui de São Paulo crescem em progressão aritmética, enquanto a demanda por estas vagas em progressão geométrica. Nesse passo algumas escolas, as mais cobiçadas, tendem a ter em seus quadros de alunos pessoas proveniente das classes alta e média alta e alguns poucos da classe média que poderiam ser considerados os pobres do curso.
De fato. Quando escrevi que universidade é para poucos, nao quis afirmar isso de modo absoluto, mas em relaçao com o total das pessoas que deveriam receber formçao escolar. Proporcionalmente, é claro que o numero de engenheiros (por exemplo) é pequeno em relaçao com o total da mao de obra da construçao civil. E analogamente se dá o mesmo com relaçao a médicos, advogados, pesquisadores etc: o numero desses é sempre pequeno em relaçao com o numero da mao de obra ativa no mercado. Em termo de comparaçao, pensar o contrario nao seria querer fazer de todo indio um cacique?
Um pensamento assim envolve outra questao: por que se pensa hj que a formaçao escolar de uma pessoa nao está completa sem o curso superior?
Confesso que nao sei a resposta ao certo, pode até ser que eu esteja sendo um tanto saudosista, mas, para reflexao, vou tentar imaginar algumas possiveis:
1- o ensino médio nao atende mais as necessidades das pessoas e nao as prepara para a vida, o ensino é de muito pior qualidade que antes.
2- como o aumento da mao de obra cresce muito mais que a oferta de empregos entao aumentam as exigencias nos exames de admissao para praticamente todo tipo de cargo, e há sempre a “ameaça” de que o diploma seja (no minimo) critério de desempate.
3- o valor simbolico do diploma: ter um curso superior se tornou até criterio de avaliaçao de caráter, e isso se percebe tanto na lei (quem tem diploma tem direito a cela especial) quanto nos casos que aparecem na midia, nos quais notamos que ainda choca as pessoas o fato de crimes barbaros terem sido cometidos por universitarios ou pessoas formadas, como se esses crimes devessem ser esperados somente de pessoas sem formaçao superior.
4- a necessidade real, quando o objetivo almejado exige, de fato, o curso superior. Penso aqui nos casos em que a formaçao é mesmo necessária, muito mais que o diplima, ou seja, a minoria de quem eu falava. Imagino se os 3 casos anteriores revelam um problema ou se isso deveria ser uma coisa “natural”.o que me intriga(?): são os DOUTORES(sombrólogos sem ética, lembra?) que compõe as bancas destas Universidades-Empresa.
Bom… vou ser direto, os Testas de Ferro são todos da USP, UNICAMP,etc.Infelizmente se tornou palavrao citar o nome de Olavo de Carvalho. É uma pena, mas acontece de se formarem “blocos de filosofia”, como torcidas de time de futebol… fulano é aristotélico, sicrano é nietzschiano, beltrano é marxista… já criaram até o bloco dos olavistas. Passando por cimas dessas incongruencias, penso que alguem que quer filosofar deveria estar aberto a conhecer o ponto de vista de todos, mesmo se for para discordar depois, mas, antes de enfiar no saco e jogar de cima da ponte, deveria ao menos procurar conhecer o pensamento da pessoa. Isso é sempre dificil, manter o horizonte aberto é algo bastante exigente, mas ninguem disse que filosofar é facil.
Bem, terminada essa introduçao, para que nao me etiquetem como “olavista” depois, gostaria de lembrar que ele escreveu muito sobre essas questoes que vc apontou. Ler os textos do Olavo por ser uma coisa divertida para uns, ou um soco no estomago para outros. Ele é ácido demais, parece que escreve com as visceras, mas, arrancada a casca, percebe-se que é um sujeito que tem argumentos. Nao gosto muito do jeito que ele escreve, dá a impressao que quer “ganhar no grito” as discussoes, mas com algum esforço dá para tirar coisa de proveito dos textos dele. Nao sei se já vc já leu…
O curioso é que são sempre os mesmos nomes. Vc vai na UNG ou na UNIABC, UNIBAN, etc e encontra sempre a mesma “pá”. É claro que eles tem que dividir o bolo com outros colegas(nem sempre é a mesma pá, as vezes mistura um pouco os nomes, outros entram no grupo e assim vai).
Como eu dizia, parece time de futebol. Se vc quiser ingressar numa universidade, ou fazer algum mestrado ou doutorado, vai ter que “vender a alma” e trabalhar na área que eles querem. Seu projeto nunca será aprovado se vc nao tiver um otimo QI (quem indica).
Todavia, para nao cair na tentaçao maniqueista de dividir tudo em blocos estanques, imaginando o lado dos professores: eles ralaram demais para chegar aonde estao, entao seria muita inocencia imaginar que largariam o osso fácil depois do que passaram. Claro que isso nao justifica usarem os alunos como mao de obra barata (acontece com fequencia que as teses orientadas sao mais do interesse pessoal do orientador que propriamente uma contribuiçao para a área), contudo, eles poderiam argumentar que estao mais preparados para orientar uma pessoa no campo em que se aprofundaram mais. Só que entao eu coloco em questao a capacidade de alguem que diz algo assim, tirando, claro, os exageros, um sujeito que se diz filósofo pode se dar ao luxo de manter “zonas de exclusao” do pensamento? Que esse professor assuma entao que nao orienta certas teses porque elas vao lhe dar mais trabalho, ou porque ele nao faz isso se nao recebe alguma compensaçao adicional.
O que quero dizer é que existe uma máfia, oriunda das Universidades Publicas que sustenta a palhaçada das Universidades Particulares, afinal quem vive de salário de professor da USP, UNICAMP, etc? Tem gente que vive, mas não é uma vida fácil.
É obvio que tem.
Desculpe-me, acho que dramatizei demais, mas isto acontece aqui em sampa, pelo menos nos cursos de Direito. Isto sei, pq parentes e amigos lecionam ou já lecionaram em Universidades Particulares e Universidades-Empresa.
Isso nao acontece só em SP.
“O Brasil tem que parar de ajudar e prestigiar a incompetência.”
É meio chato isso… toda vez que a gente começa a abordar um problema, a coisa acaba indo parar nas mazelas da sociedade brasileira corrompida. Mas é isso mesmo! Infelizmente, os outros problemas locais sao consequencia de um problema maior.Imaginar que podemos consertar o sistema de ensino, o sistema de saúde, etc, sem abordar a questao politica-economico-social da cidade->estado->país, é ter uma visao setorizada da sociedade que nao condiz mais com a complexidade da situaçao atual.
É interessante observar isso para perceber como a mentalidade cartesiana conquistou a mente das pessoas. O lema “dividir para conquistar”, usado por Descartes, foi canonizado de tal forma que parece que nao segui-lo é quase irracional, ou, ao menos, é ultrapassado, saudosista, etc (é facil imaginar outros adjetivos). Dando sequencia, Comte aplicou-o depois ao social. Parece algo distante, mas essa “matematizaçao do mundo” é que justifica essa ilusao de que podemos isolar o mundo academico e “consertá-lo”. Como se fosse possivel criar uma ilha de organizaçao dentro de um caos social.
1a)A pesquisa científica poderia ser feita em Universidades Particulares?
Poder até que pode, mas pessoalmente eu nao acho que isso funcione tao bem. Universidades particulares nao podem se dar ao luxo de ter muitos ideais (isso já é dificil nas universidade publicas mesmo) e a pesquisa nao pode ser atrelada tao fortemente aos interesses economicos. Claro que essa regra nao deve ser levada ao caso extremo. Basta recordar os avanços tecnológicos ocorridos em casos de guerra, qd muito das pesquisas era voltado para a obtençao rápida de resultados. Cabe, entretanto, lembrar que os pesquisadores envolvidos nessas descobertas eram todos recrutados de fora e nao criados dentro desse mesmo sistema de investimento->retorno (pelo menos nao tao explicitamente).
1b)Nas Escolas comprovadamente elitizadas, se privatizadas, o fato de pagaram a escola influenciaria (positiva ou negativa) a qualidade ou a produção da pesquisa científica?
Consequencias é claro que teria, mas nao acho que isso seja algo tao simples de avaliar. Mesmo nos casos da pesquisa “livre”, é evidente que há um tipo de cobrança que espera algum tipo de retorno. A questao é até onde esses limites podem ser extendidos sem que o objeto seja danificado.
Pq será que as Universidades-Empresa-Particular, cresceram como capim aqui na Cidade de são Paulo?
Acredito que ninguém gosta de pagar uma faculdade, as mensalidades não são baratas e poucos possuem capacidade para pagar em dia as suas mensalidades, muitos trancam a faculdade diversas vezes, pois não podem pagar o curso.Acho que, de certa forma, isso está ligado com os 4 casos que enumerei lá em cima. Mas, se entendi bem o ponto, vc colocou em questao o criterio da distribuiçao do subsidio. Posso estar enganano, ao contrario do Onofre e de vc, faz muito tempo que nao vejo essas estatisticas, entao, posso falar somente daquilo que vejo ao meu redor: pelo que vejo nas universidades particulares, grande parte dos alunos é formada de “filhinhos de papai” que nao conseguiram ingressar nas públicas, mas querem o diploma. Tenho alguns amigos pobres que estudam nessas universidades privadas também, e eles tem que dar um duro danado (alguns conseguiram algum tipo de bolsa, mas nao creio que isso seja o comum). Qd fiz meu bacharelado, a maioria dos meus colegas era de classe media, media-alta. Poucos eram pobres (eu diria uns 10%). É claro que tem alguma coisa errada, mas eu acho que mudar o modo de admissao nas universidades sem mudar o sistema que gerou essa situaçao só vai acarretar uma distorçao maior. A titulo de analogia, seria como imaginar uma reforma agraria em que as pessoas seriam deixadas no meio do mato, sem nenhum apoio. Eu já vi muita gente dentro das universidades que nao sabiam o suficiente para concluir um segundo grau decente.
Sobram vagas para pessoas especialiadas em são Paulo. É altamante difícil e concorrida uma vaga de porteiro ou frentista em São Paulo, já as vagas de especialistas na área de administração, economia, direito e outros carecem de pessoas qualificadas(sobram vagas), uma vez que a máfia das Universidades Particulares não formam pessoal qualificado.
Entao entendo que vc está me mostrando o outro lado da moeda.
Nesta linha a Universidade cada vez mais está se tornado uma necessidade para todos.
Diante disso, só posso colocar mais uma vez o que disse antes: “Quando escrevi que universidade é para poucos, nao quis afirmar isso de modo absoluto, mas em relaçao com o total das pessoas que deveriam receber formaçao escolar.”
Tem um ensaio interessante, vc deve conhecer, do italiano Domenico De Masi chamado “Ócio Criativo” e um outro que ele organiza ensaios de Bertrand Russell e Paul Lafargue chamado de “Economia do Ócio” que fala sobre a necessidade de agregarmos conhecimentos e desenvolvermos a criatividade com informações diversas. Nesse sentido caberia a democratização da Universidade.
Claro que isso teria um preço. Parece que a regra é: quantidade é inversamente proporcional a qualidade. Seria ótimo que todos pudessem fazer universidade, mas nem o Estado tem como subsidiar isso, nem todos tem condiçoes (economicas ou mesmo intelectuais).
Todos sabemos que os brasilerios, latinos e estrangeiros que vão para o exterior(estados unidos por exemplo), são aceitos para preencher as vagas de lavadores de pratos, empregados domésticos, etc. O acesso à Universidade é amplo naquele e em outros países, faltam lavadores e empregados domésticos.
Bem, tenho alguns amigos na Alemanha, Portugal e Estados Unidos, pelo que ouvi dizer, o problema é que as algumas pessoas preferem receber o auxilio desemprego que fazer trabalhos braçais. Mas, nao sao muitos que fazem universidade lá nao, mesmo porque a universidade lá é cara, e muito cara. Se nao me engano, o acesso é amplo, desde que vc tenha dinheiro.
Gostaria, caso vc tenha um tempo, de ouvir a sua opinião.
Idem, ler as suas msgs me ajudou a abrir a visao para outras questoes.
[]'s
25/11/2002 às 20:37 #77443Miguel (admin)MestreTem gente que nao cai mesmo na real…
Será que vou ter a chance de encontrar uma lista algum dia em que o Fernando nao fará o papel do chorao incompreendido?
Já que estao pensando em vagas reservadas para os negros, deve ser porque eles sao incapazes de conquistá-las por si proprios, caso contrario nao vejo razao para se ferir um principio tao básico quanto a isonomia. Mas, se for essa a soluçao, é bom já irem pensando em vagas reservadas para os amarelos, os indios, os mulatos, os brancos (eles também sao gente), e, por que nao, para os deficientes fisicos, os idosos, os homossexuais (eles também sao muito perseguidos Fernando) etc.
Diante desse quadro, resta saber que negro concordaria em ter um diploma de segunda categoria só para atender à consciencia pesada do Fernando. Talvez devessem reservar uma vaga também para o Fernando, ele pode nao ser negro mas nao conheço ninguem mais incapaz
26/11/2002 às 0:42 #77444Miguel (admin)MestreSenhor Pacifista
Mensagens desse teor não são bem vindas. Futuras mensagens do senhor terão especial atenção por parte dos moderadores, e mantendo-se o teor, ações restritivas serão tomadas. Esteje avisado.
26/11/2002 às 2:53 #77445Miguel (admin)MestreOnofre,
Ok. Aviso recebido e entendido.
Tem minha palavra que nao sairá de mim nenhuma mensagem mais “desse teor”.Obrigado.
27/11/2002 às 18:44 #77446Miguel (admin)Mestre“O fanatismo é a única forma de força de vontade acessível aos fracos.” Nietzsche
04/12/2002 às 14:57 #77447Miguel (admin)MestreOlá peregrino
A grande virtude do consciência.org é ser um site democrático, onde há espaço para todos. Participam dos fóruns de debates adolescentes, com 12 ou 13 anos, filósofos, estudantes de filosofia, curiosos, engenheiros, sociólogos, etc, todos com as mesmas oportunidades de participar nos debates. É sem dúvida um ambiente onde se aprende e se ensina.
Lembra muito os escritos de Platão, principalmente quando somos abençoados com a participação daqueles que podem contribuir mais.
Neste ambiente encontramos professores declarados, outros não tão declarados assim, e estudantes de filosofia sem os quais o site não se tornaria o que é, ou seja, um ambiente onde se desenvolve cultura e muito se aprende.
Para os chineses, neste Universo tudo caminha em círculos, o segredo da vida consiste em encontrar o centro. Neste ambiente de cultura virtual cada um busca encontrar o seu centro… o seu papel… e quem sabe… a melhor forma de desempenhá-lo…
Pensei em escrever após o solilóquio, mas ai… sei lá… percebi que tinha que ler mil vezes mais e, após a leitura, aguardar o devido tempo para a digestão. Como arrotar é feio, peguei o meu banquinho e sai de mansinho.
Desculpe pela demora, a semana passada viajei e voltei só agora neste final de semana onde estive ocupado trabalhando.
Outro dia colhendo ervas daninhas percebi que, por vezes, utilizamos inadequadamente as palavras incorreto ou errado.
Tais palavras estariam para interpretações diferentes de um mesmo problema baseadas na experiência pessoais de cada um. E já que política não deixa de ser uma conduta onde optamos por certos caminhos em prejuízo de outros, numa investigação, após uma peneira inicial, diria que: certos dilemas talvez não apresentem uma solução única. Contudo ainda estou disposto a mudar de opinião.Temos necessidades imediatas, e entre estas, diria que as principais são:
1- Escola Básica e Secundária.
2- Segurança.
3- Emprego.Os políticos vão até a televisão e nos prometem mais emprego, mais educação e mais segurança, contudo a pergunta essencial é:
Que tipo de educação? Que tipo de Segurança? E que tipo de emprego precisamos?
Afinal não dá para primeiro resolvermos os problemas imediatos e depois passarmos para os problemas futuros. A coisa tem que ser simultânea, pois como ensina o famoso consultor Peter Drucker “É possível nos prepararmos para um futuro que já chegou…”, ou seja, devemos estar atentos para as consequências inevitáveis que já aconteceram. São as nossas ações ou omissões que vão determinar o nosso futuro.
“Um pensamento assim envolve outra questão: por que se pensa hj que a formação escolar de uma pessoas não está completa sem o curso superior?”
Por tudo que vc disse, contudo além disto acrescentaria algo mais. Numa linha seria possível responder, mas como não sei ser breve.
O conhecimento hoje está desempenhando o papel de capital no mundo econômico, neste passo, a própria globalização seria resultado da característica portátil, transferível e sem fronteiras geográficas do conhecimento, onde pessoas representariam capital e não mais trabalho. Assim, acaba sendo de absoluta relevância aceitarmos que o aprendizado contínuo dos adultos é uma realidade. Mas o aprendizado contínuo não implicaria necessariamente em cursar uma Universidade, haveria alternativas.
Um exemplo é o meu irmão mais novo que é web designer, ele trabalha numa área onde cursar uma Universidade não é tão importante quanto especializar-se com cursos amplamente disponíveis para pessoas sem graduação.
Aliás os hackers são o maior exemplo de como “ousar ser livre”, não possuem curso superior mas sabem muito. Desenvolvem criativamente a imaginação para aplicar o seu conhecimento de maneira original. Os hackers sempre existiram na história do homem. Está enganado quem diz o contrário. Hoje eles apenas se apropriaram de uma tecnologia nova, e para o bem, apesar de alguns acreditarem o contrário, trabalham no desenvolvimento da tecnologia e da imaginação humana.
Mas este sistema educacional é um tanto que contraditório e confuso, isto talvez pq depositamos todas as nossas esperanças nos sistemas ao invés de acreditarmos nas pessoas.
Sem o canudo não posso prestar concurso que exige nível superior apesar de ser capaz de passar no concurso. Por exemplo, não é possível optar por não fazer uma faculdade de Direito, mas o que eu sempre me pergunto é: Para que fazer uma faculdade de Direito?
O que a faculdade ensina de tão misterioso no curso?
Ainda estou em busca desta resposta.
Bom, se eu trabalho em um responsivo escritório de advocacia, atuando diretamente como advogado aprendiz ou Junior, gasto o valor da mensalidade de uma Univerisdade em livros e cursos ao invés de disperdiçá-lo com um sombrólogo, sou dedicado e organizado de modo a separar algumas horas diárias para leituras organizadas, e após 2 anos presto o exame da ordem dos advogados(que é teórico e prático, e que tenha este exame um grau de dificuldade 03 vezes maior que o atual) e tiro nota final 90, pq eu não posso tirar a minha OAB?
– PQ VC NÃO TEM O CANUDO OH MANÉ ?
É sempre possível ouvir alguém dizer:
– O que importa é o canudo meu jovem, sem o canudo sem chance.
Mas e se fosse diferente?Bom, seria melhor para todo mundo, pq com um exame mais rigoroso o mercado formaria, naturalmente, lucrativos escritórios de advogados que constituiriam firmas de associados. Os profissionais seriam mais bem qualificados e enobreceriam a profissão. As Universidade apresentariam conseqüentemente um padrão de qualidade melhor, pois elas simplesmente seriam dispensáveis, deste que o candidato trabalhasse como funcionário público da justiça ou polícia, ou como advogado júnior em um escritório notoriamente responsivo, ou seja, quase todos, pq não haveria a figura do advogado porta de cadeia, desta forma as faculdades buscariam inovar e criar atrativos que pudessem fazer a diferença. Hoje em dia qualquer desavisado está fazendo direito, teríamos um número menor de faculdades que só seriam rentáveis se trabalhassem com um padrão de excelência em qualidade de ensino, pq não tem louco que vai fazer uma faculdade que não precisa fazer para não aprender.
O ingresso na carreira seria bastante restrito, pois os exames seriam dificílimos e altamente rigorosos e se daria por fases onde preliminarmente o candidato obteria uma autorização provisória para que sua prática(já testada em exame) fosse comprovada na prática, e somente após esta fase poderia obter o registro efetivo. Como é bom sonhar, quase que posso ouvir lennon.
Estou colocando esta questão pq até hoje ninguém me respondeu com coerência esta minha pergunta.
Voltando aos sistemas, estes tendem a criar pessoas medíocres, pois as pessoas são colocadas em segundo plano. Um funcionário da linha de produção não pode ser melhor que a média, pois atrapalha a produção se não se conforma ao padrão.
Acontece que para acabarmos com a incompetência que impera em nosso país, é preciso sabermos e encararmos que as pessoas devem ser valorizadas pelo seu conhecimento e pela forma como tornam este conhecimento produtivo de maneira original.
O que quero dizer é que o sistema não é importante, importante são as pessoas.
Mas o que observamos hoje é a valorização do conhecimento do sistema e não o conhecimento da pessoa.
O conhecimento do sistema explicaria a explosão de Universidades, não importando a qualidade, pois o que importa é cursar uma Universidade, pois o conhecimento que obtemos nela e honroso e determinante.
O que observamos são cursos sem qualidade alguma e não reconhecidos, com uma produção de teses engarrafadas. Importante seria o produto do sistema, ainda que seja um produto medíocre.
Mas mesmo dentro das Universidades Públicas observamos a tendência da política dos sistemas.
Professores que utilizam seus alunos para o interesse pessoal e que criam zonas de exclusão no pensar, que não desejam ter trabalho para avaliar teses ou projetos, aleijando a imaginação e o desenvolvimento científico, obrigando aquele que não se conforma a “vender a alma”, vestir uma saia curta ou procurar um outro orientador de preferência em um outro Estado e numa outra Universidade. O problema envolveria conceitos e valores tais como integridade, caráter, responsabilidades, deveres e significado.
Outros participam de Universidades-Empresa e contribuem para a produção de uma massa de despreparados que se formam todos os anos com apoio do MEC, que aliás é um órgão especializado em sistemas.
Ingressar nestas Universidades é mais fácil que virar sócio de Vídeo locadora, e sair delas mais simples que completar uma palavra cruzada. Hoje só não tem curso superior que não quer.
Aqui caberia uma questão filosófica.
Como acabar com os vampiros?
Estou brincando.
Falo sobre a questão do fraco, aquele que é fraco pq não lhe ensinaram a ser forte.
Buscam de todas as formas conserva-lo nesta condição de fraqueza e de medo da liberdade, ou diria medo da responsabilidade, tornando-o um escravo, pois fraco é aquele que teme a autenticidade.
Mas é justamente os que representam a inteligência humana os responsáveis. Traidores da própria inteligência, optaram por postar-se do lado negro e vampirístico da opressão, tornando-se inimigos da cultura.
Estes agem consciente ou inconscientemente, ajudando a destruir o que resta da personalidade do homem, pois alienado, deve o homem confiar em seus líderes, pois só eles o levarão a conquista do tão esperado mestrado ou doutorado, digo, a conquista da tão esperada felicidade aspirada no rebanho.
Pensam eles – Um dia me tornarei o líder do rebanho – e suspiram com um ar auspicioso nos seus semblantes.
Superado o devaneio.
Olavo de Carvalho?
Nunca ouvi ablar, contudo vou pesquisar…deve ser um cara gente boa…rs… desde já me declaro como sendo N. A. D. A., ou seja, nadinha de nada, portanto, não sou olavista, conservador ou progressista, de esquerda ou de direita.
Estamos de acordo com a melhoria do ensino básico e médio, pois si assim poderemos distribuir, efetivamente, rende no Brasil. Sem isto a lacuna e a desigualdade real será cada vez maior, perpetuando e aumentando a exclusão no Brasil.
Mas como faze-lo?
Se alguém souber me conta.
Sei apenas que temos que investir muito e trabalhar com conceitos de produtividade enquanto efetiva qualificação, e não como mero valor numérico. Temos tb que trabalhar idéias como ensino à distância, cursos curtos de fim de semana e de dois anos ou menos, modelos mistos presencial e virtual, Tv escola, Canal futura, internet etc, até mesmo o consciência,org poderia ser considerado um meio de educação continuada propondo desafios filosóficos. É preciso tb permitir acesso à tecnologia de modo a permitir e desenvolver a criatividade e a imaginação.
A sua última mensagem me fez pensar sobre a questão do ensino superior de modo menos acelerado. Estou tentando digerir a idéia alternativa do subsídio não estatizado, que se daria na forma de verbas que investiriam em pesquisas do interesse do Estado. Certamente sou, desde já, contra a criação de mais Universidade Públicas, as que temos já dão um trabalhão. Vou pensar um pouco mais. Como disse estou disposto a mudar de opinião.
“Quando fiz meu bacharelado, a maioria dos meus colegas era de classe média, média alta.”
Aqui em São Paulo temos mais de 60 universidade que fornecem o curso de direito, a concorrência é tão grande entre as “Unis” que periga vc passar na porta e cair em uma armadilha de aluno, onde a aprovação no vestibular é automática, é claro que eles não admitem isto na televisão pq senão pega mal, eles dizem venha fazer o vestibular da Uniblablabla, inscrições até tal data, mas pode vir depois que eles dão um jeito.
Geralmente o vestibular deles é bem depois de todas as chamadas das principais Universidades Públicas e Particulares, pois assim eles podem se saciar com as sobras desesperadas.
Desta forma diria que depende da faculdade particular, depende do curso e da oferta do curso, e tb da idade do candidato.
De um modo geral candidatos com mais de 23 anos tendem a custear o curso sozinhos. Nos cursos noturnos uma parte significativa banca a faculdade, muitos(curso de direito) são mais velhos e já sem gás de disputar vaga com o DECORADOR, que mesmo nas particulares tradicionais é concorrida.
Os cursos começam com salas cheias e terminam com menos da metade da sala. Estas observações são práticas e tb refletem a experiência de alguns colegas professores com quem sempre discuto tais questões.
Pode ser tudo isto mesmo, mas quando falo em acesso amplo me refiro a abordagem de cursos à distância que já acontece desde o século passado nos Estados Unidos. William Rainer Harper, educador da Universidade de Cambrige, tendo seu projeto de ensino a distância vetado em 1880, migrou para Chicago e com outros colegas, na Univerisdade de Chicago, deu início em 1882 ao primeiro curso de graduação a distância nos Estados Unidos.
Nesta mesma linha o modelo mais bem sucedido do mundo é a Open University que nasceu em 1967 na Inglaterra e que tem parceria com a BBC de Londres e que possui as seguintes características que vale resaltar:
1. Qualquer pessoa pode se matricular, independente da educação anterior;
2. Os alunos podem começar o curso em qualquer época;
3. O estudo é feito em casa ou em qualquer lugar de escolha do aluno;
4. Curso desenvolvido por especialistas
5. Empreendimento em nível nacional.
6. Matricula muitos alunos e assim se beneficia da economia de escala.
7. SÃO CURSOS DE ALTA QUALIDADE E BAIXO CUSTO.Deste modelo nasceram outros na Inglaterra. Além de ser respeitado por instituições como Oxford e Cambrige, como ensino de qualidade.
É isto ai… vou pensar um pouco mais sobre as públicas.
Para terminar… Fernando… eu até teria um certo interesse epidérmico nas cotas…mas com uma teoria tão vulnerável fica difícil defendê-la, tenho certeza que existem argumentos mais substancias na net, mas de qualquer modo abriria mão.
abs.
08/12/2002 às 5:43 #77448Miguel (admin)MestreOi Walace…
faltou algo…
Olavo de Carvalho
Eu nunca tinha ouvido falar de Olavo de Carvalho, é incrivel(apenas para mim), mas a minha alienação é realmente deste tamanho. Busquei fazer algumas pesquisas sobre este senhor que respeitosamente chamarei de DAYWALKER. Ele realmente é bastante ácido, mas quem sou eu para falar sobre acidez(?).
Aqui no consciência.org alguma coisa foi dita no fórum o maior filósofo do século…, como tb sobre a educação superior pública no brasil.
achei certo…o cara parece ser gente boa, pode estar errado, mas como saber o que é bom sem a existência do mal… até pq só há necessidade de um heroi quando temos um vilão.
e hoje carecemos de herois, os inimigos estão no poder, como já dizia cazuza.
abs.
19/12/2002 às 18:36 #77449Miguel (admin)MestreAchei interessante e relevante ao q foi discutido.
Ana Lucia Azevedo escreve para 'O Globo':
Filho de uma terra de encontros e membro de um povo que, ao que tudo indica, é o mais diversificado do mundo. Esse é o brasileiro descrito no primeiro livro dedicado exclusivamente à formação genética, lingüística, histórica e socioantropológica do país.
“Homo brasilis” (Ed. Funpec), que será lançado nesta segunda-feira, surgiu do desejo do geneticista Sergio Danilo Pena, o organizador da obra, de contar para os não especialistas o que o DNA revelou sobre a formação do brasileiro atual.
Porém, mais do que revelações, o livro relata uma história iniciada há cerca de 15 mil anos, quando os primeiros homens chegaram às terras hoje chamadas Brasil.
A idéia do livro surgiu em 2000, num simpósio sobre a formação do brasileiro organizado pelo próprio Pena num congresso da Sociedade Brasileira de Genética. Tempos antes, Pena e seu grupo haviam publicado seu primeiro trabalho sobre o retrato molecular (genético) do brasileiro.
O projeto foi adiante e o pesquisador, que é professor titular do Depto. de Bioquímica e Imunologia da UFMG e diretor do laboratório Gene, em Belo Horizonte, chamou outros 11 cientistas – geneticistas, além de lingüistas, historiadores, antropólogos, sociólogos – para escrever artigos. A seguir, Pena fala dos principais pontos do trabalho:
Família e raça – “Basicamente, o povo brasileiro tem uma herança de pai branco e mãe indígena ou negra. Nossa população é tão misturada que a cor da pele não é um indicador confiável dos ancestrais. Nossos estudos mostraram que é quase impossível encontra
r uma pessoa de pele branca que não tenha herança genética africana ou indígena. O mesmo vale para os negros. A pessoa pode ter a pele escura, mas em seu DNA há quase sempre herança européia. Para a genética não há raças, e num país como o Brasil isso é m
ais verdade do que em qualquer outro lugar. Podemos falar de cor da pele, mas ela conta pouco sobre a constituição genômica de uma pessoa.”DNA e História – “Os genes confirmam os dados históricos. Ficou impressa no DNA do brasileiro a mistura do europeu branco com índias e, depois, com escravas africanas. Mas a genética vai além, pode olhar mais longe. Através do estudo de mutações acumulada
s ao longo de muitas gerações, podemos reconstituir a história acontecida há milhares de anos.”Terra de encontro – “O homem moderno surgiu na África há cerca de cem mil anos. De lá se espalhou para Ásia, Europa, Oceania e Américas. Para o Brasil, vieram primeiro os ameríndios, originários da Sibéria. Depois chegaram os europeus que, por sua vez, tr
ouxeram como escravos os negros da África, o lugar onde a Humanidade começou. Esses povos se encontraram no Brasil e se misturaram. Países como os EUA também receberam gente de toda parte, mas lá não há a mistura que houve aqui. Por isso, vejo o Brasil co
mo um lugar de encontro.”Homo Brasilis – “O Brasil teve um processo de mistura genética inusitado na História, gerando o brasileiro atual, que decidimos chamar, irreverentemente, de Homo brasilis.”
Povos extintos – “Uma de nossas linhas de pesquisa hoje é buscar no DNA de populações atuais marcas genéticas de povos extintos. Minha aluna de doutorado Flávia Parra está procurando em populações brancas do Vale do Jequitinhonha, em MG, por exemplo, traç
os de herança dos botocudos, índios extintos pelo branco e que habitaram aquela região. Não é fácil. Primeiro, é preciso identificar marcadores genéticos que não se encaixem em nenhum dos milhares já conhecidos. Fazemos isso com a comparação em banco de dados com mais de 16 mil amostras de todo o mundo. Se conseguirmos achar esses marcadores, precisaremos ainda estudá-los minuciosamente. É um trabalho longo e difícil.”Genes e palavras – “Vocábulos são como genes: sofrem mutações com o tempo. Através das homologias entre vocábulos de dois dialetos podemos calcular distâncias lingüísticas e fazer inferências filogenéticas. A genética e a lingüística se complementam quando tentamos compor um retrato mais detalhado de uma povo. A lingüística dá pistas de como a diversidade era imensa entre os povos ameríndios. A diversidade lingüística da América do Sul é impressionante. Estima-se que na época da chegada dos europeus havia mais diversidade lingüística na América do Sul do que no restante do mundo conhecido.”
Medicina – “Essa linha de estudo não tem aplicações médicas propriamente ditas mas certamente tem implicações para a medicina. Sabemos que kits genéticos desenvolvidos em outros países para estudo de doenças associadas a grupos populacionais, como fibrose cística (ligada à herança européia), não são apropriados para o Brasil. Precisamos de tecnologia adequada às nossas próprias características genéticas, que reflitam nossa diversidade.”
(O Globo, 11/8)20/12/2002 às 0:19 #77450Miguel (admin)MestreA questão não é a pesquisa racial! Sabemos que boa parte dos brasileiros é mestiça, embora haja bolsões de descendentes de europeus, brancos, no sul. A questão, não é entrar na biologia, até porque em um sentido estritamente biológico não existem raças. A questão é que o fenótipo pele negra é discriminado no Brasil,não tem ” visibilidade”, ou seja não aparece entre os mais ricos, mais educados, etc. Tudo pela pesada herança da escravidão! A questão não é jurídica. Não é o caso da Isonomia prevista pela constituição como querem alguns. Há um princípio que não se pode tratar igualmente os desiguais. A questão é sim, medo à mudança, ao diferente,medo de ousar uma política de cotas( que ademais seria provisória)! A questão, portanto é de conservadorismo! Que os negros conscientes tenham a palavra( ou a escrita)!
20/12/2002 às 4:51 #77451Miguel (admin)MestreMas fernando não estariamos a importar um programa norte americano que fora elaborado apenas pq havia (e ainda há) efetiva apartação racial nos Estados Unidos?
Terímos então:
1. No Brasil não há tantos negros assim, contudo todos somos em maior ou menor grau negros. Eu por exemplo sou um von Haydin, deveria ter olhos azuis e ser loiro como o meu avó(?), mas meu avó ao se mudar para o Brasil no final da década de 20 se encantou pela beleza negra de minha avó Brasileira.
2. Os negros (puros) são minoria e realmente sofreram com a escravatura, mas seria coerente resolvermos o problema com uma política do cotas? Isto é, não criariamos outro problema, como uma efetiva e nítida apartação racial como há nos Estados Unidos, pois os negros sempre serão lembrados nas Universidades Públicas como aleijados ou subraça incapaz de méritos sozinha?
Os cegos ou os aleijados detestam que as pessoas tenham pena deles.
3. Não estariamos apenas reforçando uma supremacia racial do branco sobre o negro, certo que haveria, em verdade, apenas a supremcia econômica do Branco sobre o negro?
Vc já repetiu estes argumentos antes, houve um certo consenso sobre a fragilidade deles. Acredito que corremos o risco de meter os pés pelas mãos….
Não haveria alternativas originais?
um abs.
20/12/2002 às 12:27 #77452Miguel (admin)MestreDesculpe Alex, mas a fragilidade dos argumentos seria minha? Isto, sim é controverso!!.O que vcs dizem sim, não é nada original! Ou seja têm medo dos problemas que possam ser criados se tomadas uma medida nova.Medo a mudança! Então ficamos parados e nada fazemos! Sem ofensas , isto é conservadorismo( não disse que seria reacionarismo, que aí sim seria ofensa).Quase nada se propôs até aqui para um efetiva integração do negro. Talvez uma lei Afonso Arinos, esta questão da criminalização, que nunca será aplicada, de fato.Enfim..quando os norte-americanos, ousam propor algo novo, interessante, aparece nesta hora uma estranheza. Já disse que poderá , de fato, haver conflitos se adotada a poltíca de cotas. Eu acho ótimo, pois asssim ficaria explicitado nosso ódio racial. Não pretendo mais, argumentar nesta questão, com vcs, conservadores, até a medula. Deixo para os negros que tenham acesso a internet, que por sinal, ainda não foram ” visíveis” por aqui.
20/12/2002 às 16:14 #77453Miguel (admin)MestreMinha opinião é q cotas são máscaras que escondem o cerne do problema, coloquei o texto para justamente demonstrar a dificuldade de chamar alguém de branco ou negro. O preconceito se faz de muitas formas, não só pela cor! Se faz pelas vestimentas, peso, tamanho, etc. Muitas são as faces do preconceito. Ora, dar a alguém uma cota pela cor, somente pela cor!? Indo a uma favela verá q de negros (aí pensando na origem africana etc, os antigos escravos) não existem muitos! Muitos são os mestiços!! E ests são tão discriminalizados quanto os negros! Bom, sem mais delongas, minha singela e talvez conservadora, nos moldes do entendimento do Fernando, é sim estabelecer cotas! Mas através da renda familiar. Isso seria mais abrangente e englobaria tanto os negros, como mestiços, brancos etc.
Digo isso pelo q já disse, faculdade estadual ou federal, não possui negros porque simplesmente eles são pobres, miseráveis em sua grande porcentagem, e pobre recebe instrução “pobre” pois não pode frequentar colegiais e cursinhos q podem prepará-lo para o famoso vestibular, ora, para quem interessa tantos exclusos em oportunidades? Veja q não é só negros e sim pobres. Ora, o sangue azul da nossa elite precisa continuar lá, no poder. Mas essa última eleição mudou aparentemente esse paradigma. Bem, convido aos senhores, Alex e Fernando a lerem o livro Fenomenologia existencial do direito, da professora Jeannette Antonios Maman, é baratinho…. Vale a pena.
Abs20/12/2002 às 16:51 #77454Miguel (admin)MestreRaça é só conceito social, diz DNA brasileiro
MARCELO LEITE
EDITOR DE CIÊNCIANem todo negro no Brasil é geneticamente um afrodescendente, e nem todo
afro-brasileiro é necessariamente um negro. Assim se pode resumir a
pesquisa do grupo de Flavia Parra e Sérgio Danilo Pena, da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgada hoje na internet pela revista
da Academia de Ciências -a dos EUA, onde o estudo dos pesquisadores
brasileiros poderá ter grande impacto.De quebra, o trabalho deita por terra a possibilidade de encontrar um
“critério científico” de grupos raciais, como defendeu o presidente
eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, em debate na TV. Pena, 55, um
especialista na origem genética da população brasileira, diz que a
complexidade envolvida é “brutal” e que não existe base objetiva para a
introdução de cotas raciais nas universidades públicas, por exemplo.“A única coisa que se pode usar, sujeita a muitos abusos, é a
autoclassificação” (ou seja, o próprio interessado declarar se é negro),
diz o geneticista, que já havia estudado as linhagens genéticas da
população brasileira com base nos cromossomos Y (herdados apenas do pai)
e no DNA das organelas celulares chamadas mitocôndrias (herdadas somente
da mãe). “Não temos nenhuma intenção de que esse índice seja usado para
avaliação individual. Seria um novo racismo.”Se a expectativa de direito a uma compensação pelas injustiças sofridas
por negros no Brasil tiver por fundamento a ancestralidade, porém, a
pesquisa da UFMG -que teve a colaboração de cientistas da Universidade
do Porto, em Portugal- embaralha tudo. Isso porque ela demonstra que ter
a pele escura não indica com segurança que a pessoa teve a maioria de
seus genes herdada de ascendentes africanos.“Nossos dados sugerem que no Brasil, no plano individual, a cor
determinada por avaliação física é um fraco fator de predição de
ancestralidade genômica africana estimada por marcadores moleculares”,
dizem os autores no artigo, em linguagem cautelosa.Os marcadores genéticos usados no estudo foram propostos por Esteban
Parra na revista especializada “American Journal of Human Genetics” em
1998. Eles foram escolhidos porque têm alta correlação com a origem
africana ou européia da população (pelo menos 48% mais comuns numa das
populações) e reunidos estatisticamente num “Índice de Ancestralidade
Africana” (AAI).Seleção natural
Supõe-se que essas sequências de DNA tenham sido selecionadas ao longo
da evolução de populações para aumentar as chances de sobrevivência num
determinado ambiente. Faz mais sentido, por exemplo, um africano ter
genes associados com alguma resistência a malária, porque é em seu
continente que a doença se mostra devastadora. O mesmo valeria para
características físicas mais relacionadas com noções sociais de raça,
como a pele negra.Ocorre que essas dez sequências de DNA não são necessariamente herdadas
em bloco, pois estão espalhadas pelo genoma (todo o DNA contido nos 46
cromossomos da espécie humana). Se uma mulher branca tem um filho com um
homem negro, por exemplo, a criança pode herdar do pai os genes
associados com resistência a malária e da mãe os genes que contribuem
para a conformação do nariz. Seria “africano” do ponto de vista da
doença e “europeu” do ponto de vista nasal.De certo modo, foi o que se encontrou numa amostra da população rural de
Minas Gerais que participa de um estudo de saúde da UFMG, o Projeto
Queixadinha. Tanto os 30 indivíduos classificados fisicamente como
“negros” quanto os 114 “intermediários” receberam escores genéticos de
“africanidade” distribuídos numa faixa de AAI entre -10 (menos
“africanos”) e +10.Além disso, os de aparência física categorizada como “branca” também
apresentaram valores intermediários entre -10 e +5. Algo muito diferente
da amostra de 20 portugueses empregada para validar os marcadores
genéticos, com valores negativos consistentes, na faixa de -15 a -5.Uma verificação adicional foi feita com homens autoclassificados como
“brancos”, pois o grupo da UFMG temia que a mistura genética verificada
em Queixadinha fosse uma peculiaridade da população local. De novo, o
que se encontrou foram valores bem menos “europeus” do que os observados
em portugueses.“O que nosso estudo mostra é que o branco de Queixadinha é muito
parecido com o do Sudeste. Nem o branco do Sul bate com os portugueses”,
afirma Pena. “E olhe que na [distribuição genética da] Europa os
portugueses já mostram certa mistura.”Apesar de toda a miscigenação no Brasil, Pena diz que certos blocos de
características físicas ainda tendem a se manter associados na
população, como a tríade pele negra/cabelo encarapinhado/nariz chato. A
razão, contudo, não é genômica (proximidade no cromossomo ou regulação
compartilhada), e sim social: as pessoas tendem a escolher parceiros
sexuais segundo parâmetros raciais, perpetuando a correlação de traços
que, de outro modo, tenderiam a dissociar-se.Epidemiologia e genética
O problema é que nesse pacote herdado em bloco não se encontram
necessariamente aqueles genes associados com características metabólicas
importantes para a saúde e para a doença. Uma pessoa pode ser
classificada socialmente como negra e não ser geneticamente “africana”,
do ponto de vista desta ou daquela especialidade médica.Nos EUA, a pátria do politicamente correto e da ação afirmativa, “negro”
é sinônimo de “afro-americano”, e não se discute. Milhões de dólares são
despendidos com pesquisas sobre doenças mais comuns em afro-americanos,
mas uma parcela que seja da miscigenação ocorrida no Brasil já serviria
para invalidar muitas conclusões, pois uma das variáveis empregadas -se
a pessoa é negra ou “caucasiana”- pode estar mal definida. “Estou
ansioso para ver a reação da imprensa americana”, diz Pena. -
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