Início › Fóruns › Questões sobre Filosofia em geral › A verdade › é a verdade objeto da ciência?
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23/05/2001 às 0:13 #73860mceusMembro
Vejamos a lei da gravidade, todos nós a conhecemos, ela existe, é uma verdade, seu objeto é claro e a ciência, a física, mas as verdades são relativas, seria quase como ter várias ciências estudando vários objetos, mas seria apenas uma ciência pessoal, individual…
A ciência tenta esclarecer fatos e considerá-los verdades, mas a verdade é relativa ao ser…bom, deixo vcs com este magnífico poeta, Fernando Pessoa…
“Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade.
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada,
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos,
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.”Alberto Caeiro, 1-10-1917
23/05/2001 às 0:24 #73861Miguel (admin)Mestre“parece-me que a verdade é de cada um….” quem sabe um princípio que pode ser usado em alguns momentos(?)
quando afirmei que a dúvida era o preço da pureza buscava demonstrar(sem querer demonstrar) que a verdade, e penso que nos referimos a uma verdade última, em nada é útil para a ciência.. ela, a ciência, gosta de chaves de fenda e de fechaduras móveis com enormes asas.. este foi o meio encontrado para satisfazer a vaidade dos homens de ciência…a busca constante….
o nosso maior erro é julgar, pois vivemos em uma morada de corrupção…se queremos entender devemos nos ajustar para compreender.
23/05/2001 às 17:28 #73862mceusMembrode pleno acordo…
o homem é um ser que gosta de “prender” as coisas em seus conceitos, em seus juizos do objeto…como podemos compreender com tão poucas ferramentas (a linguagem)?
Um abraço28/05/2001 às 2:38 #73863Miguel (admin)MestreILUMINADO 2
O 'homem do sapato' olhou para o 'homem da chave' com um riso pequeno, meio desajeitado, daqueles de quem investiga o que não precisa ser investigado, e lego observou:
– Não é possível matar uma fechadura!
– Como não é possível?… Você acabou de matar uma.
– Ora, não foi fechadura, foi uma barata, olhe para o chão!
– Por que olhar para o chão? Olhe para a porta. Veja se ela tem fechadura!Lá permaneceu ele, o 'homem da chave' quieto, calado, ausente, sem olhar para coisa alguma. O 'homem do sapato' não quis mais insistir naquele diálogo absurdo. Penalizava-se do outro e muito confuso disse-lhe:
– Moço… Diga-me o que posso fazer para ajudá-lo, preciso ir…
– O senhor?… Nada! Por que haveria de fazer alguma coisa?…
– Mas o senhor não vai entrar em sua casa?
– Evidente que não, não tenho motivos!De repente, o 'homem da chave', como em um despertar de muito longe, afirmou:
– Há um impasse na existência, os equívocos das impossibilidades.
– Como?… Não entendi…
– Não precisa entender: isto pode não ter importância, se quiser.
___________________A pureza tão evocada, a precedência ou procedência?…
Como a dúvida não se permite na pureza, não serve ela, a pureza, à demonstração de que é inútil a verdade à Ciência, mesmo “quando se busca demonstrar sem querer demonstrar”.
A pureza é uma perfeição última que se vislumbra, um extremo do plano humano, pois é o que se depura derradeiro no filtro do moralismo do homem em sua desistência de si mesmo. No caso, que se diga Pureza, nunca pureza, pois é o mito que ele elabora para a sua renúncia, a sua recusa à sua natureza.
Assim, necessário o outro extremo, aquele em que o homem sempre se arremessa em si mesmo, a catástrofe do existir humano, porquanto há uma dualidade que se vence em um longo fio de alternativas impuras. O tenebroso fio das obscuridades concretas dos enigmas, de questionamentos eternos, de plena corrupção, da transcendência da linguagem.
Ora, para o surgir e o florescer, necessário o estrago, a decomposição da causa desse surgir, portanto, a corrupção, a impureza, portanto, a realização do homem em sua alteridade. A impureza é a permissão da dúvida, nunca a Pureza.
Daí, cabe a lembrança e talvez a oportunidade de máxima de quem viveu por volta do século XVI a.C. , Anaximandro de Mileto (segundo tradução de Nietzsche, do grego para o alemão):
“De onde as coisas têm seu nascimento, ali também devem ir ao fundo, segundo a necessidade; pois têm de pagar penitência e de serem julgadas por suas injustiças, conforme a ordem do tempo”.
Afinal, o que é verdade e o que é Ciência? Será a Ciência uma injustiça?
28/05/2001 às 2:40 #73864Miguel (admin)MestreILUMINADO 2
O 'homem do sapato' olhou para o 'homem da chave' com um riso pequeno, meio desajeitado, daqueles de quem investiga o que não precisa ser investigado, e lego observou:
– Não é possível matar uma fechadura!
– Como não é possível?… Você acabou de matar uma.
– Ora, não foi fechadura, foi uma barata, olhe para o chão!
– Por que olhar para o chão? Olhe para a porta. Veja se ela tem fechadura!Lá permaneceu ele, o 'homem da chave' quieto, calado, ausente, sem olhar para coisa alguma. O 'homem do sapato' não quis mais insistir naquele diálogo absurdo. Penalizava-se do outro e muito confuso disse-lhe:
– Moço… Diga-me o que posso fazer para ajudá-lo, preciso ir…
– O senhor?… Nada! Por que haveria de fazer alguma coisa?…
– Mas o senhor não vai entrar em sua casa?
– Evidente que não, não tenho motivos!De repente, o 'homem da chave', como em um despertar de muito longe, afirmou:
– Há um impasse na existência, os equívocos das impossibilidades.
– Como?… Não entendi…
– Não precisa entender: isto pode não ter importância, se quiser.
___________________A pureza tão evocada, a precedência ou procedência?…
Como a dúvida não se permite na pureza, não serve ela, a pureza, à demonstração de que é inútil a verdade à Ciência, mesmo “quando se busca demonstrar sem querer demonstrar”.
A pureza é uma perfeição última que se vislumbra, um extremo do plano humano, pois é o que se depura derradeiro no filtro do moralismo do homem em sua desistência de si mesmo. No caso, que se diga Pureza, nunca pureza, pois é o mito que ele elabora para a sua renúncia, a sua recusa à sua natureza.
Assim, necessário o outro extremo, aquele em que o homem sempre se arremessa em si mesmo, a catástrofe do existir humano, porquanto há uma dualidade que se vence em um longo fio de alternativas impuras. O tenebroso fio das obscuridades concretas dos enigmas, de questionamentos eternos, de plena corrupção, da transcendência da linguagem.
Ora, para o surgir e o florescer, necessário o estrago, a decomposição da causa desse surgir, portanto, a corrupção, a impureza, portanto, a realização do homem em sua alteridade. A impureza, nunca a Pureza ou pureza, é a permissão da dúvida.
Daí, cabe a lembrança e talvez a oportunidade de máxima de quem viveu por volta do século XVI a.C. , Anaximandro de Mileto (segundo tradução de Nietzsche, do grego para o alemão):
“De onde as coisas têm seu nascimento, ali também devem ir ao fundo, segundo a necessidade; pois têm de pagar penitência e de serem julgadas por suas injustiças, conforme a ordem do tempo”.
Afinal, o que é verdade e o que é Ciência? Será a Ciência uma injustiça?
28/05/2001 às 2:43 #73865Miguel (admin)MestreDesculpem-me a repetição. Atrapalhei-me com o computador.
30/05/2001 às 1:01 #73866Miguel (admin)Mestreolá CAIO…
sem querer rasgar seda, posso dizer com todas as palavras, pois é a expressão da minha verdade, o quanto é bom tê-lo como intelocutor nesta página de debates, e não me refiro apenas a vc, como tb ao MCEUS….APRENDO BASTANTE COM OS TEXTOS E AS MENSAGENS DEIXADAS.
CONCORDO COM TUDO QUE VC ACABA DE DIZER, CONTUDO, QUANDO DIGO QUE A “DÚVIDA É O PREÇO DA PUREZA” NO TOCANTE A VERDADE COMO ALGO ÚTIL A CIÊNCIA, PROCURO DEMONSTRAR QUE A CIÊNCIA É ÚTIL NA DESCOBERTA DE ALGUMAS “VERDADES”, E O SEU MAIOR ESTIMULO(E A VAIDADE NOS ESTIMULA MUITO) É JUSTAMENTE NUNCA ALCANÇAR A VERDADE ÚLTIMA.
DIZEM ALGUNS: : “DEUS ESCREVE CERTO POR LINHAS TORTAS”
A CIÊNCIA É UMA VERDADE DESDE QUE NÃO TENHA A PRETENSÃO DE SER UMA VERDADE ÚLTIMA, A CIÊNCIA É MUITO ÚTIL, E ATÉ MESMO ESSÊNCIAL.
A CIÊNCIA É BELA E JUSTA PQ A ETERNA DÚVIDA QUE ELA CARREGA COM SIGO ACERTA OUTROS ALVOS(E NÃO AQUELES QUE MUITOS HOMENS DE CIÊNCIA DESEJAM) QUE SÃO ESSÊNCIAS AO HOMEM, PENSO QUE ELA(A CIÊNCIA) CUMPRI O SEU FIM.
UM GRANDE ABRAÇO
OBS: PEÇO DESCULPAS PELAS LETRAS MAIÚSCULAS É QUE O PREGUIÇOSO AQUI ESQUECEU DE TECLAR O CAPS LOCK.
30/05/2001 às 1:04 #73867Miguel (admin)Mestredesculpem o pouco tempo, p/ responder mais apropriadamente.
02/06/2001 às 3:10 #73868Miguel (admin)MestreOlá Alex:
Não se preocupe com a seda rasgada, ela é sempre assim mesmo, e bem rasgada, engana-se quem pensa ao contrário. Assim considere o que digo e sinta o ar trazido pelo vento que sempre chega ao corpo destes desprezados trópicos exuberantes a que tanto pertencemos e nem desconfiamos, ou talvez não queiramos, porque estamos longe das europas, ao sul do Equador, estamos onde não tem pecado e nada há para perdoar-se; portanto, todos se martirizam com o peso da inferioridade de uma elaborada cruz inexistente.
Entenda, não é o vento que chega dos trópicos, pois o corpo é que é dos trópicos e, demais, já somos dos trópicos. E não se queira em tanta verdade, vez que é ela atributo do definitivo, da quimera perigosa, terrível à vida e à liberdade, a mais extrema recusa a qualquer conseqüência do ato de ser. Ciência é só uma inteligência de qualquer objeto, mesmo inventado, que se faz com método. Ciência em si já é verdade, e só em si, mas também contingência – estas são as relações possíveis.
E não se equivoque tanto! Veja: aqui, nestas palavras, é que está o discípulo, aquele que movimenta seu querer com empenho em função de um mestre que suscita questões surpreendentes. Um mestre com sutileza de quem sabe ensinar e, principalmente, despertar. Aliás, dois mestres, pois também o Mceus. E um deles, que sempre diz concordar, tange às distâncias, sem paradeiro, o pensamento e o imaginário, o imenso sentir sempre inquieto e trôpego de um aprendiz.
Entenda: tanto o ar como o vento que o traz se fazem em uma só invisibilidade dos dias e das noites. Há uma mesmice não só necessária, mas imprescindível, pois luz e escuridão, tanto faz, há um só sentido, uma só possibilidade. Que Deus escreva certo em linhas tortas, porque, no fundo, nem há de existir escrita e muito menos linha e Deus pode ser a razão da catástrofe, há um caos preponderante.
E para que tudo se pacifique, eis-me aqui, rendo-me, que “a dúvida seja o preço da pureza”, vez que é exigido o pleno sacrifício da dúvida para que se tenha a pureza. Não tem importância. Os astecas eram exaltados e santificados, vangloriavam-se e perdiam-se na plenitude dos sonhos, quando morriam sacrificados nos ritos religiosos. Não era para menos: eles iam ao encontro dos deuses, iam falar-lhes pessoalmente, tornavam-se quase iguais a eles, eram portadores das mensagens de seu povo, maior grandeza era inconcebível. A Ciência não deixa de ser uma injustiça.
01/07/2001 às 22:09 #73869Miguel (admin)Mestrealo a todos!
creio que na verdade a ciencia é que é objeto da verdade! pois pelos “caminhos errados” como fora sabiamente comentado acima, é que achamos o caminho certo, ou um parecido…quanto ao fato de nos limitarmos a linguagem, podemos ao menos aumentar esse potencial aprendendo linguas novas, pois essas consequentemente acabam mudando o modo de pensar.
o problema com a pergunta é que seria mais facil confirmar que algo é verdade em vez de criar a verdade e usa-la…a ciencia é o que conseguimos entender, “traduzir” da verdade, enquanto a verdade é a progenitora da ciencia, que busca apenas aprender novas linguas…
grato pela atençao!
27/07/2001 às 9:27 #73870Miguel (admin)MestreOs colegas escrevem maravilhosamente se procurarmos em suas palavras algo de poético. Contudo devemos salientar que a clareza à qual aspira a ciência (quem disse que ela visa a verdade?)deve ser respeitada tratando-a com o mesmo tom, ou seja, limpidamente.
Não, colegas, não faz sentido essa palavra “Verdade”. Eis uma ficção engendrada pelo espírito humano e fixada com honrarias e méritos por si mesma. A verdade, se existisse algo correspondente a essa silabada, jamais seria apeensível pelo intelecto humano, em sua fragilidade. A ciência não almeja a verdade (entenda-se: não deve desejar o que não pode ser cobiçado)e, se o contrário ocorre, é por um ledo engano dos seus cultivadores: os humanos, que estendem suas características e desejos à ciência, antropomorfizam a natureza. A ciência é unicamente uma prática, útil ou não, mas sempre prática…
Obrigado pela atenção.02/08/2001 às 2:00 #73871césarMembroPercebo que, nessa busca pela verdade, há um nítido distanciamento do objeto que por sua vez se faz existir quando relacionado. A própria existência do sujeito depende do objeto analisado. Separá-los é cair na armadilha da estagnação. É ficar parado quando tudo corre. não podemos, como a ciência faz, destacar o objeto de estudo para afirmar algo de verdadeiro. A essência estará sempre subjacente e o objeto totalmente num mar de incertezas. Morre o objeto e o sujeito morrerá instantaneamente. A verdade foge, como foge uma partícula subatômica de sua determinação. É na relação que a luz da verdade poderá, se puder, mostrar sua verdadeira cara, mas teremos que nos despir dessa racionalidade imposta culturalmente e que nos obriga a essa eterna busca daquilo que estará sempre diante de nós. A verdade!
02/08/2001 às 14:37 #73872Miguel (admin)MestreDe minha parte, sigo o esquema kantiano: não podemos conhecer a verdade fora do sujeito, absoluta. Esta é inacessível. O homem pode conhecer o objeto apenas em relação, através do seu sistema perceptivo. O objeto da ciência, são os fenômenos, as coisas tais quais elas aparecem a nós, mas não tais quais realmente são. A ciência se baseia na repetição de fenômenos e não na verdade última (algo inalcançado, matéria de fé). Podemos também relativizar o conceito de verdade, afirmando que a verdade pertente a um conjunto de crenças e valores, ou que o homem cria a verdade a partir de seu próprio raciocínio em relação com o mundo.
t+
21/10/2001 às 3:31 #73873Miguel (admin)Mestrenenhuma verdade é uma verdade absoluta, por isso ninguem usufrir dela.
04/11/2001 às 1:11 #73874Miguel (admin)Mestrea verdade é uma relação entre o discurso e a realidade. a verdade se afirma no compreender dessa relação. há mais de um tipo de correspondência do discurso com a realidade (essa relação depende de uma epistemologia e de uma metafísica associadas). entretanto o conhecimento científico pressupõe a possibilidade da existência dele mesmo e da possibilidade da compreensão e aplicação dessas teorias. a noção de verdade é modificada junto com a prática científica, não nela mesma, mas em função da sua relação com o discurso científico. a verdade, na minha opinião é uma propriedade atribuída pela língua a certos estados de coisas.
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