é a verdade objeto da ciência?

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  • #73918

    “para a ciência é considerado realidade todo o que pode ser captado por nossos sentidos,”Este é um dos pontos-chave da questão. As ciências naturais, que formaram um modelo invejável e bem-sucedido, ocupam-se de fenômenos, e não do ser mesmo das coisas. Retomando a distinção entre fenômeno e coisa em si: fenômeno são as coisas tais quais aparecem ao sujeito, e não as coisas tais quais elas são em si mesmo.A ciência precisa da repetição de fenômenos para extrair suas leis e conceitos. O problema é que isso se contrapõe aos objetos clássicos da metafísica, que estuda o ser. Para a metafísica, o ser não é sensível, mas inteligível, e você conhece verdades de mundo-auto consistentes através do pensamento.Contra o ataque à metafísica, os fenomenólogos e existencialistas focaram justamente no fenômeno, ou seja, no que toca o raio de atenção subjetivo, pretendendo eliminar as discotomias entre ser X aparecer e essência X aparência pela raiz, através da redução fenomenólogica. Mas foi isso que causou uma crise no conceito de verdade, abrindo a brecha para o fortalecimento no relativismo e a reflexão sobre a linguagem.

    #73919
    Philipon
    Membro

      Amigo Miguel,  "para a ciência é considerado realidade todo o que pode ser captado por nossos sentidos,"    Eu coloquei “Para a ciência é considerado realidade o que pode ser captado por nossos sentidos, perdura no tempo e pode ser medido”.  Da colocação citada se pode deduzir que se a realidade perdura no tempo significa que é independente do observador, fator essencial de uma realidade.  Um fenômeno é uma coisa rara e surpreendente que precisa de um observador, pelo tanto, não pode ser considerado uma realidade.  “A ciência precisa da repetição de fenômenos para extrair suas leis e conceitos”.   A ciência precisa da repetição de resultados não de fenômenos.    Não se deve confundir experiência com realidade. A experiência é uma realidade que não perdura no tempo e ademais precisa de um observador.  “O problema é que isso se contrapõe aos objetos clássicos da metafísica, que estuda o ser. Para a metafísica, o ser não é sensível, mas inteligível, e você conhece verdades de mundo-auto consistentes através do pensamento”.  Os objetos clássicos da metafísica estão errados o ser está formado de um “organismo mais a psique” os sentidos pertencem ao organismo e a inteligência à psique e ambos são dependentes um do outro.

    #73923

    Ora, o “perdura no tempo e pode ser medido” é, ao meu ver, justamente o que disse: a repetição dos fenômenos. Numa perspectiva idealista, se você considerar que o mundo se forma para o sujeito a cada vês, é necessário que o fenômeno ocorra de forma regular, ou seja, “perdure”, para que possa ser medido de acordo com os experimentos científicos. O fenômeno em filosofia não é algo raro e surpreendente, falo do conceito filosófico, não no sentido do senso comum.Isso nas ciências naturais, como a física, que mesmo assim pode ter um extrato inteligível, com episódios idealizados para melhor trabalhar com as leis. Na matemática acontece uma questão interessante. A geometria tem uma de suas origens no espaço físico, ou no mundo sensível, a gaia-metria, ou seja, a medição da terra durante as cheias do Rio Nilo. O rio enchia e precisam medir para dividir a terra fértil.Porém o desenvolvimento da matemática vai indo em direção à abstração. No modelo de exposiçao geométrico o que cumpre é a relação de Idéias. Esse é um dos pontos chaves do argumento do empirista Hume no "Essay", quer dizer, a soma dos ângulos de um triângulo é igual à soma de dois retos, mesmo se não haja nenhum triângulo no mundo, porque é assim por definição, pela relação de idéias.Isso dá uma noção do que se tem tido sobre o conceito de verdade, as verdades são referentes e relativas à sistemas conceituais, válidas dentro de certos postulados e relações de enunciados, ou, no caso de certas abordagens perceptivas da realidades, mas não se pode tomar essa verdade nunca como algo 'absoluto'. No caso, essa preocupação extrapolaria o papel da ciência, e isso tem se mostrado um erro: a crença ou otimismo exagerado no poder da razão de conhecer e dos sentidos de perceber, renegando a sua circularidade e limitação, e colocando-se como única válida dentro do discurso sobre o conhecimento.

    #73922
    Philipon
    Membro

         “Ora, o "perdura no tempo e pode ser medido” é, ao meu ver, justamente o que disse: a repetição dos fenômenos”.    Amigo Miguel, a realidade não se repete, existe por se mesma. O que se repete é a experiência. Através das análises das experiências obtemos conhecimento, através da análise do conhecimento obtemos verdades. Se estas verdades são comprovadas por meio de fatos reais, então, são consideradas uma realidade.    “Numa perspectiva idealista, se você considerar que o mundo se forma para o sujeito a cada vês, é necessário que o fenômeno ocorra de forma regular, ou seja, "perdure", para que possa ser medido de acordo com os experimentos científicos”.    Você está tomando como base o pensamento de Platão ou a tese da física quântica?  Platão era um pensador dialético não era um filosofo. Platão considerava que a realidade era um resultado intelectual. Para os filósofos a realidade é obtida através da experiência vivencial e é captada por meio dos sentidos.   A tese da física quântica de que nós fazemos a realidade é muito fraca e muito difícil de sustentar.   “O fenômeno em filosofia não é algo raro e surpreendente, falo do conceito filosófico, não no sentido do senso comum.”   Você está empregando o conceito alegórico de filosofia. A filosofia realmente é a procura da verdade, a verdade é uma dedução a partir de um conhecimento e o conhecimento é o resultado da análise de uma realidade.  O termo fenômeno não deve ser considerado como alegoria de uma realidade.    ”Porém o desenvolvimento da matemática vai indo em direção à abstração”   Amigo Miguel o que ocorre é o contrário. Para o filósofo a matemática é uma realidade, por isso, os pensamentos abstratos para serem considerados verdades devem ser comprovados através da linguagem matemática (fórmulas).    ”Isso dá uma noção do que se tem tido sobre o conceito de verdade”   Esse é o pensamento dos praticantes da dialética que consideram a verdade como uma realidade intelectual e pelo tanto subjetiva.

    #73916
    Ariadne
    Membro

    O Oliveira, que tudo ideologiza, evidentemente tem um conceito de Ciência limitado não apenas à visão instrumental mas especialmente à noção marxista segundo a qual seria esta um instrumento para reforçar a dominação da burguesia sobre o proletariado. Seja como for, é interessante constatar como tal “instrumento de dominação” melhorou a qualidade de vida e trouxe a cura de inúmeras doenças e sofrimentos físicos insuportáveis dos quais a humanidade por tanto tempo padeceu. De todo modo, acho fundamental nesse tipo de discussão distinguir Ciência das posturas e imposturas de alguns de seus representantes. Todo conhecimento, não apenas o chamado conhecimento científico, está sujeito a servir a interesses, das mais diferentes esferas de poder. Mas é da essência da Ciência desde suas origens, ainda que cética em relação à possibilidade de encontrar uma verdade absoluta, a busca de um conhecimento verdadeiro, não de um falso conhecimento. Nas palavras do professor Alberto Mesquista sobre o cético filósofo (da Ciência) Karl Popper: "Eu só conheço um ceticismo sensato e a ser observado pelos cientistas. Éaquele que diz que o cientista é aquele que procura pela verdade, mesmosabendo que jamais a encontrará. Ou seja, ele é cético com relação aoencontro da "pedra fundamental", mas ainda assim continua procurando-a.Quero crer que Popper defendia algo bastante parecido com isso. Quanto aomais, existe um ceticismo estudado pelos filósofos, mas não há comoconfundir os objetivos. Mesmo porque o cientista deve adotar uma mentalidadecética mesmo que nunca tenha estudado o ceticismo. "Procurar pela verdade"implica em desconfiar das verdades aceitas como tais, e "saber que jamais aencontrará" implica em persistir na procura, mesmo após ter chegado ao fimde uma picada. Infelizmente existem muitos que se dizem céticos mas sabemapenas criticar, sem nada produzir. Isso pode ser apropriado para osaposentados, jamais para um cético. Para um verdadeiro cientista cético,sequer existe um fim de linha. Estamos caminhando em um túnel que nãosabemos se tem fim, e não obstante prosseguimos sempre em frente, oratomando atalhos, ora escolhendo um ou outro de seus ramos."

    #73925

    Cara Ariadne,Não discordo de maneira alguma que a Ciência trouxe diversos avanços, muito além da relação entre dominados e dominadores. Talvez, você não tenha entendido que o tópico em questão trata-se de uma pergunta direta. Assim, sem muitas elucubrações procuramos apenas, dentro de nossa concepção, relacionar, minimamente, Ciência, objeto, objetivo e verdade (qual?).Dessa forma, acredito que nossa resposta transcenda a questão da ideologia marxista.

    conhecimento verdadeiro, não de um falso conhecimento.

    Diante de sua afirmação acima, quando traz a dualidade do "verdadeiro" e o "falso", se analisarmos em uma perspectiva histórica verificaremos que determinado "conhecimento verdadeiro" que perdurou por décadas, talvez séculos, verificou-se posteriormente que tratava de uma grande falsidade. Isso ocorreu com diversas teorias e "verdades" científicas, podemos citar a questão da Astronomia, da Biologia, ou propriamente, as Ciências Humanas, a química, física.  Basta verificar a homérica discussão sobre os movimentos do corpos, as teorias de Copérnico.Portanto, entendo que o "a busca de um conhecimento verdadeiro, não de um falso conhecimento" torna-se extremamente relativo e impreciso.att

    #73926
    Ariadne
    Membro

    Oliveira, até agora não li nada de sua autoria que valesse a pena refutar. Este tópico não é exceção.

    #73928

    Prezada Ariadne,Gostaria apenas de argumentar ainda que sua citação de Popper, K., contradiz o sentido linear de sua conclusão acerca dos objetivos da Ciência, conforme explicado a seguir:Citação de Popper, K.

    "Procurar pela verdade"implica em desconfiar das verdades aceitas como tais, e "saber que jamais a encontrará" implica em persistir na procura, mesmo após ter chegado ao fim de uma picada

    Sua afirmação:

    a busca de um conhecimento verdadeiro, não de um falso conhecimento

    Confrontando as duas perspectivas, ainda que a Ciência par excellence seja positivista, é evidente que a primeira se diferencia da segunda à medida que, em uma abordagem dialética, a segunda possibilidade é plenamente refutável, inatingível.Não entendo, ou por limitações outras, não consigo visualizar uma forma de assegurar um conhecimento verdadeiro no campo da Ciência dentro de sua amplitude, por considerar a historicidade das relações, da realidade em sua totalidade. Novamente recorro a história, pois, vários foram os "conhecimentos verdadeiros" que caíram, ou seja, eram falsos. Dessa forma a Ciência é incapaz de apontar o verdadeiro conhecimento, pois, nada se reduz ao fenômeno.Portanto, como apontar e tornar um "conhecimento verdadeiro"? Talvez você poderia nos elucidar melhor.

    #73927
    Ariadne
    Membro

    Oliveira, não há contradição nenhuma entre a primeira e a segunda frase que você recortou. Simplesmente vc não compreendeu o que foi dito. Ninguém falou em “GARANTIA” de conhecimento verdadeiro e sim em BUSCA de um conhecimento verdadeiro.

    #73929
    nickoss
    Membro

    Verdade: é a representação fiel de algum ente (coisa, ser) da natureza, ou de um fato (causa) ocorrido. Só existe uma verdade para cada ente ou fato.  :smile_mini2:A verdade é condição básica para a formação da moral do super-homem tão esperado para o futuro.A verdade não ampara os tabus das crenças religiosas, as fábulas, as histórias fantásticas, o sobrenatural, a ficção, o metafísico.Com relação às verdades dos entes da natureza, existem a dúvida e a imprecisão. Não existe a meia-verdade ! :chok_mini:Do fatoQuando de um fato, a verdade se manifesta tranqüila, quando a pessoa tem coragem de assumir as conseqüências de seus atos.Na nossa cultura cristã, a moral da maioria das pessoas, e consequentemente da sociedade, está em crise devido a atitudes como:1 – Os advogados de defesa de criminosos, não só pedem para o criminoso, confesso a eles, negar a autoria do crime, mais absurdo ainda é que muitos advogados mentem pelos seus clientes criminosos. 2 – Muitas vezes o criminoso conta o homicídio para seus pais e irmãos, e ao invés destes orientarem-no para a confissão da verdade e assumir as conseqüências, ficam calados, deixando a tarefa para o júri popular.3 – Um homicida confessa o crime para o seu padre, pastor, etc. e estes se dizem obrigados a guardar segredo, e assim a verdade ficará oculta.4 – O mesmo acontece com a maioria dos médicos e jornalistas, que argumentam segredo de profissão. Então, como chegar a essas verdades para que a pena seja aplicada? – Negue a verdade, que é problema de quem acusa provar ! – Bando de advogados e profissionais imorais ! Com essa moral as avessas, certamente não se pode falar em ética. A lógica dessa amoralidade é “ter coragem” para enfrentar um júri popular, jogando com 50% de chances de sair livre. – Acredito que a consciência do profissional que orientou seu cliente para a mentira, se funde com a deste. – Bando de imorais !  :diablo_mini:Do ente(coisa ou ser)Mais tranqüila é a busca das verdades, num certo estágio, dos entes da natureza. Mesmo quando os nossos sentidos nos traem com relação a sua forma, cor, estado, geometria; a interpretação que fazemos deles, ainda que imprecisa naquele momento, mas se de interesse, são verdades, por estas estarem contidas no ente, principalmente se vão ter alguma utilidade. Tempos depois, verificamos que não era bem o que imaginávamos, mas vamos estudando e aperfeiçoando, e assim as verdades vão se revelando mais precisas a cada passo. A mentira existe porque dói muito a crueza da verdade, numa sociedade de fariseus hipócritas. Esse talvez seja o motivo maior de precisarem tanto de uma religião. É nela que o covarde vai buscar a sua proteção.AbraçosNickoss    :dirol_mini:

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