Em que consiste a verdade?

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  • #74642

    Em que consiste a verdade, ou onde anda a verdade, a várias v, se vc perguntar para um amigo seu,ele lhe dara a resposta dele, pergunte a um Pastor ,a um Padre, a uma Senhora, a um Político, a uma Professora, a um Reitor,a um Mendigo, a um Assassino, a um Policial e você o que consiste a verdade, a uma ética,a uma Sociedade,a uma tradição Rligiosa ou esta dentro de uma Justiça onde se julga o certo ou errado.
    O mito da caverna de Platão expõem uma versão, eu coloco outra; Se fosse um homem que vivendo na corrupção quase toda sua vida, quando ele quis se libertar dessa”verdade”, os outros dentro da caverna o chamariam de louco e o matariam.

    #74643

    Bem, o conceito de verdade tem múltiplos significados…a discussão dependerá dos aspectos que se venham a priviligiar.A verdade está intimamente relacionada com alguns conceitos centrais: realidade, pensamento, acção, comunicação e cultura.
    O problema da verdade pode ser visto de diferentes planos e perspectivas:
    -a dimensão intersubjectiva da verdade (dimensão hermenêutica)
    – a verdade enquanto dependente de um contexto cultural
    -a verdade como adequação, acordo, conformidade (aquilo que normalmente temos em mente quando pensamos em verdade…)
    – a verdade como desvelamento (veja-se a concepção heideggeriana)
    -a verdade como coerência (estamos ao nível da verdade lógica)
    -a verdade como conquista (resultado de em empenho colectivo da própria humanidade resultante de um diálogo intersubjectivo da racionalidade humana)…
    Enfim, penso que sem termos em vista esta perspectivação se torna difícil discutir a questão porque poderemos todos estar a falar legitimamente de diferentes coisas …

    A propósito:

    ” Este (o Buda) escutou-os e em seguida apresentou-lhes a seguinte parábola: em tempos recuados, um rajá convocou todos os cegos da sua capital e colocou no meio deles um elefante. Um dos cegos apalpou a cabeça do animal, outro uma das orelhas, outro uma das presas e um outro o tufo da cauda. Pedindo-lhes depois que descrevessem o animal, um disse tratar-se de um enorme caldeirão, outros de uma peneira, de uma relha de arado ou de um espanador. Em suma, cada qual descreveu o elefante conforme a parte que havia tocado O rajá riu-se a bom rir. Assim, concluiu Buda,são esses errantes que, cegos, tontos, desconhecedores da verdade, ainda teimam ser ela isto ou aquilo.”
    C.Humphreys

    #74644

    sinceramente acredito que a verdade absoluta não existe , é apenas um ente de razão , um conceito.A verdade para existir depende de uma circunstância , situação qualquer que se possa julgar entre o que é verdade e não-verdade. No campo da ciência assistimos de tempos em tempos , às contradições daqueles que julgam ter descoberto as verdades últimas e absolutas, a verdade é que nada sabemos de concreto e absoluto em área nenhuma , todas as ciências são questionáveis. No campo dos sentidos também não podemos confiar em todos os dados que se apresentam , pois , não são absolutamente confiáveis. Entre a fé e a razão existem milhares de km de distância, a ciência nem sempre tem elementos lógicos comprobatórios de verdades possíveis, por outro lado a fé não pode ser negada logicamente. O fato é que existimos e ainda não sabemos por quê , nem a origem da vida foi ainda explicada com coerência. Existem especulações a respeito de tudo , mas , a verdade. Essa ainda não conhecemos na íntegra. É claro que existem coisas que não podem simplesmente recusadas , mas , tratamos apenas de verdades captadas pelos sentidos e constatados pelos mesmos. Falo da verdade universal que não pode ser confundida com a verdade particular , de grupos , ou ideologias .O homem é um ser racional e empírico também , agora estabelecer regras ou verdades grupais , depende de uma convenção social simplesmente , o que não faz alguma coisa ser aquilo que ela é, essência. O que me interessa é a verdade primeira que pudesse explicar todas as nossas dúvidas. Deixo a frase final que acredito resumir de forma profunda a nossa realidade. Tudo tem a mesma importância, a mesmíssima importância , ou seja , nenhuma .

    #74645

    Sim..não há, com certeza, verdade absoluta embora nós tenhamos o desejo de atingir um nível de verdade absoluto que garanta segurança…sim…aliás, se analisarmos um pouco a clássica concepção de verdade já tão em “desuso” mas ainda defendida por tantos somos confrontados com um sem número de interrogações..experimente perguntar ao mais comum dos mortais o que é a verdade e ele dir-lhe-á, mais ou menos, que a verdade é o que é, que a verdade é o que as coisas são, a realidade…e aí é atirado para a pergunta das perguntas, sem a qual nunca poderá pensar a questão da verdade e que é: o que é a realidade??? Sim, como disse e, muito bem,”A verdade para existir depende de uma circunstância”, a verdade é sempre por relação a um contexto…isso relativiza-a..por outro lado, só poderemos falar de verdade em relação ao que conhecemos, a uma dada circunstância?? Então, é verdade que a Terra gira à volta do Sol, sempre foi verdade…(?),mas durante séculos não era verdade (desconhecia-se) e, no entanto, a Terra já girava à volta do Sol…haverá uma verdade universal que simplesmente negamos por que desconhecemos??? Tudo aquilo em que acreditamos pode ser uma mentira que tomamos como verdade por desconhecermos outra?…Como construir algo de sólido??…

    abs.

    #74646

    Oi, posso entrar na discussao?
    Estava lendo as msgs e ocorreu-me o seguinte:

    O problema que se coloca é o da existência de uma fundamentação última (uma base segura, uma justificação absoluta ou um “ponto arquimédico”) para o conhecimento. Existe ou não uma fundamentação última para o conhecimento?

    Descartes foi quem primeiro apresentou o ideal de um conhecimento absolutamente seguro (“inteiramente indubitável” ou “necessariamente verdadeiro”). Mas esse ideal não permaneceu incontestado: a ele, opõe-se o ceticismo.

    Temos, então: de uma lado, o cartesianismo, que defende a necessidade e a possibilidade de uma base segura para o conhecimento; e, de outra parte, o ceticismo, que nega a possibilidade de encontrar-se esse fundamento. Esse conflito ainda não encontrou uma solução definitiva.

    Wittgenstein e a superação do conflito entre cartesianismo e ceticismo:
    As anotações de Wittgenstein reunidas sob o título “Da certeza” constituem-se num “diálogo tríplice” em que os parceiros de Wittgenstein são, de um lado, o cartesianismo (representado por Moore) e o ceticismo filosófico.
    Em “Da certeza”, Wittgenstein propõe uma possível mediação ou superação do conflito entre o cartesianismo e o ceticismo.

    [1] Crítica wittgensteiniana de Descartes:
    Com o objetivo de encontrar uma base segura para o conhecimento, a partir da qual fosse possível construir todo o sistema da ciência, Descartes adotou, como procedimento metodológico, a dúvida universal: ou seja, ele se pôs a duvidar de tudo onde fosse possível imaginar a menor possibilidade de engano. Por essa via, ele chegou ao “cogito” (“Penso, logo sou”), que não é mais possível colocar em dúvida.

    Segundo Wittgenstein, em seu recurso à dúvida universal, Descartes não respeitou as condições de sentido do operador epistêmico “duvidar”.
    Com efeito, se atentarmos para a “gramática” (isto é, para as regras sintáticas, semânticas e pragmáticas) do uso do operador epistêmico “duvidar”, veremos que ele possui certas condições de sentido. Veremos que:

    (a) para duvidar, é preciso ter razões: uma dúvida que não é motivada não é compreensível; ora, Descartes, para justificar a sua dúvida universal, inventa o “gênio mau” ou recorre ao argumento do sonho;

    (b) a dúvida deve ter importância prática: isto é, ela deve fazer alguma diferença na vida de quem duvida; ora, também esse aspecto é ignorado pela dúvida cartesiana; ele mesmo declara que a sua dúvida não é prática, mas especulativa;

    (c) a dúvida pressupõe um jogo de linguagem: quem não tem certeza de absolutamente nada também não pode ter certeza do significado das suas palavras; desse modo, a dúvida cartesiana destrói-se a si mesma, porque seria impossível exprimi-la;

    (d) a dúvida não pode estar no início: a dúvida vem depois da crença; é preciso acreditar, aceitar, primeiro, determinadas coisas antes de poder expressar dúvidas que façam sentido; ou seja, a dúvida não pode estar no início, como queria Descartes;

    (e) a dúvida universal é impossível: pode-se duvidar isoladamente dos fatos relacionados com determinado jogo de linguagem, mas duvidar de todos simultaneamente destruiria o jogo de linguagem e, conseqüentemente, também a própria dúvida;

    (f) a dúvida supõe a certeza: a dúvida supõe a possibilidade de verificação ou comprovação; esta, por sua vez, supõe algo que não é colocado em dúvida nem é testado; ou seja, o próprio jogo da dúvida pressupõe a certeza; aquilo a que Descartes pretendia chegar ao fim do seu recurso à dúvida universal já está pressuposto desde o início.

    Todas essas condições de sentido do operador epistêmico “duvidar” são ignoradas por Descartes, o que invalida o meio pelo qual ele chegou ao “cogito” como base segura para o conhecimento (isto é: a dúvida cética).

    [2] Crítica wittgensteiniana de Moore:
    Em sua tentativa de refutação do ceticismo filosófico, Moore valeu-se de uma série de sentenças que ele chamou de “truísmos” (ou verdades do senso comum), as chamadas “sentenças tipo-Moore”. Exemplos:
    – “Existe presentemente um corpo humano vivo que é o meu corpo”;
    – “A Terra existiu muito antes do meu nascimento”;
    – “Nunca estive na lua”;
    – “Sou um ser humano” etc.

    Moore pretendia que essas sentenças fossem verdades indubitáveis, certezas necessárias ou metafísicas, capazes de refutar o ceticismo, acreditanto, ademais, estar diante de proposições empíricas.

    Wittgenstein, por sua vez, demonstrou que Moore interpretou erroneamente as sentenças tipo-Moore ao pretender usá-las na refutação do ceticismo.
    Com efeito, proposições empíricas apresentam bivalência veritativa, isto é, admitem ser afirmadas ou negadas.

    Mas a negação de uma sentença tipo-Moore resulta em algo incompreensível, sem sentido. Analogamente, operadores epistêmicos afirmativos podem ser negados; contudo, a negação de um operador epistêmico em conexão com uma sentença tipo-Moore resulta em algo incompreensível, sem sentido.

    Isso significa que as sentenças tipo-Moore têm um caráter não-epistêmico, isto é, que são epistemicamente neutras. Elas não possuem valor informativo, mas são meramente formulações de regras semânticas, são proposições lógicas ou gramaticais. Sendo assim, elas não podem ser apresentadas como refutação do ceticismo filosófico como pretendia Moore.

    [3] Conclusões (implicações epistemológicas):
    Para Wittgenstein, há justificação para o conhecimento: permanece valendo a concepção tradicional de que o conhecimento é um saber certo ou verdadeiro baseado em razões.

    A justificação do conhecimento tem um fim; o “regresso ao infinito” (de que fala H. Albert) é, de fato, inaceitável .

    Segundo o “trilema de Münchhausen”, de H. Albert, a exigência de uma fundamentação absoluta para o conhecimento resulta em três alternativas, todas elas inaceitáveis:
    (1) o regresso ao infinito: A é fundamentado em B, este em C, e assim, indefinidamente;
    (2) o círculo lógico: A é fundamentado em B, este em C, e C novamente em A;
    (3) a interrupção (arbitrária, dogmática) do processo de fundamentação: por uma razão qualquer, determinada instância é considerada como sendo a última, que já não necessita de justificação.

    Ocorre que esse fim não consiste em determinadas proposições imediatamente evidentes, nem em algum pressuposto não fundamentado, mas numa forma de vida partilhada.

    O fundamento último é epistemicamente neutro: as nossas formas de vida, base sobre a qual repousam os nossos jogos de linguagem, não são nem verdadeiras nem falsas; elas são neutras epistemicamente.

    Portanto, tanto o ceticismo filosófico quanto a tentativa de estabelecer verdades indubitáveis é sem sentido.

    []´s

    #74647
    márcio
    Membro

    Um diagrama para pensar …
    fe

    #74648

    Como provar uma verdade?
    Através do empirismo(observação de fatos através de experimentos?
    Existe algum pensamento lógico-filosófico?
    Existem verdades inquestionáveis do tipo: Eu existo, pq se não existisse não ia sentir, nem me preocupar, pois não existo.

    #74649

    Olá Márcio Bandeira…

    Não…penso que não. A verdade é-o sempre em relação a um contexto,por referência a uma área de estudo..isso confere-lhe relatividade e temporalidade. Por outro lado, falar de verdade remete, inevitavelmente, para a questão de “O que é a realidade”…sim, por que a verdade só pode sê-lo em relação a uma (à?) realidade, como já tivemos oportunidade de discutir neste tópico…

    abs.

    #74650

    Como um cientista afirma, isso é comprovado ciêntificamente. Como ele faz para comprovar uma teoria?

    #74651

    Olá Márcio…

    desculpe, não o entendi…a que se refere quando diz “isso”???
    abs.

    #74652

    Isso, é qualquer coisa, como a lei da gravidade por exemplo, você acha qie existe uma coisa certa nesta vida, ou nada é certo, não acredite em nada.

    #74653

    De acordo com o gráfico que fora mencionado, anteriormente aqui, como se prova um teoria ciêntifica, atravéz do empirismo? Da lógica? Ou realmente não tem como se provar nenhuma verdade absoluta?

    #74654
    márcio
    Membro

    Ola Marcio,

    Existe um outra lista de debate neste site, chamada “É a verdade objeto da Ciencia ?”.
    Talvez fosse interessante dar uma olhada la.

    De qualquer forma, extrai um comentario que eu deixei la: “A verdade em ciência pode ser definida como a hipótese de trabalho melhor adequada para abrir caminho para uma próxima que seja melhor”. (nao sei quem disse isso, mas concordo).

    Com relacao ao diagrama, eu deveria ter colocado a palavra verdade entre aspas, pois entendo que nao existe uma Verdade absoluta.
    Estava tentando mostrar que pela Religiao somente se chega até a “Verdade” pela Fé.
    Ja pela Ciencia, o caminho é mais complicado, pois em principio é necessario estabelecer uma Hipotese (acabei usando a palavra Teoria) e documentar (tipo uma receita) como reproduzir um determinado “fenomeno”. Se outros conseguirem o mesmo feito entao estamos nos aproximando de uma “Verdade”.

    Recentemente uma brasileira (acho que o nome dela é Thereza) esteve envolvida em um caso infeliz no contexto Genoma. Ela forneceu a “receita” e os dados da “verdade” que ela obteve. Outros cientistas nao conseguiram comprovar e acusaram-na de falsear os dados. Ela se defendeu dizendo que foi um problema de desorganizacao.
    Escreveu nao leu …

    #74655

    “A verdade eh apenas algo que nao posso conceber como sendo falso” –William James

    Ola,
    Venho aqui tentar clarificar e discutir alguns pontos postos por nosso companheiro Wallace.
    Quero acrescentar que acho que o conhecimento eh algo necessariamente contextual. Em outras palavras, o conhecimento eh algo elusivo. Em certos contextos, como contextos ceticos onde os padroes de conhecimento sao elevados, nao se pode saber nada—se voce olhar muito de perto, o conhecimento desaparece. Porem, em outras outras ocasioes (vida cotidiana), onde existem padroes baixos e costumeiros de conhecimento pode-se saber: pode-se formar intuicoes epistemicas sobre as coisas pertencentes a tal contexto.
    Devo acrescentar que nao concordo com a defesa linguistica de Wittgenstein. Proposicoes e a realidade das coisas sao duas coisas distintas. Eh claro que soh podemos nos referir as coisas atraves de proposicoes. Mas porque as vezes tais proposicoes possam parecer sem sentido ou ateh contradictorias, isso nao significa que as coisas a que se referem na realidade sao incoerentes. Alem de tudo, no fim das contas, o que conta como certeza para o individuo nao serah a perfeicao logica/linguistica com que se apresenta o argumento, mas a intuicao que tem sobre as coisas.


    “(a) para duvidar, é preciso ter razões: uma dúvida que não é motivada não é compreensível; ora, Descartes, para justificar a sua dúvida universal, inventa o “gênio mau” ou recorre ao argumento do sonho”

    Resposta:
    1) Parece-me claro, assim como para todos, que qualquer afirmacao epistemica deve possuir evidencia. Por exemplo, soh afirmo “Sei que tenho maos” pelo fato de as constatar, atraves de meus sentidos, e formar a intuicao que “Possuo duas maos.” Porem, nao posso afirmar que “Sei que nao estou sendo enganado por um demonio,” pois nao tenho nenhuma evidencia que eu nao estou—e logo, nao posso formar tal intuicao epistemica. Como entao explicar a inconscistencia evidenciaria entre as reivindicações de que “Eu tenho evidência para a hipótese de que eu tenho mãos” e “Eu não tenho nenhuma evidência para a hipótese de que eu nao estou sendo enganado por um demonio”? Filosofos contemporaneos possuem explicaoes para tal contradicao. Um exemplo eh o filosofo Ram Neta. Sua explicacao eh a seguinte:

    “Quando se levanta uma hipótese H, que é uma contra-possibilidade nao-eliminada com respeito a “S sabe que P em t,” se restringe ao que conta como corpo de evidencia para S, no contexto estimado aos estados mentais que S tem e teria em t se H fosse, ou nao, verdade.” (Contextualism and the Problem of the External World, Neta 30, http://www.hum.utah.edu/philosophy/faculty/neta/ ).

    Observando-se que uma contra-possibilidade nao-eliminada com respeito a “S sabe que P em t” é uma hipótese (H) que satisfaz duas condições: 1) H implica que S nao sabe que P em t; e 2) H e “S sabe que P em t” são introspectivamente indistinguiveis para S. Em outras palavras: 1) H implica a negação de “S sabe que P em t;” e 2) H e “S sabe que P em t” produzem estados mentais diferentes (M1 e M2), onde a diferença entre M1 e M2 não é intropectivamente disponível a S.

    De qualquer forma, com isso em mente, torna-se claro que o mestre da logica, Wittgenstein, ao tentar reduzir toda a filosofia e realidade aos dominio da lingua e da logica, falhou (ou pelo menos, nosso amigo Wallace nao a expressou aqui) em aderecar essa questao fundamental ao fazer esta reivindicacao.

    2) Alem do mais, para quem conhece a filosofia cartesiana, sabe que os motivos que levaram Descartes a duvida nao foram apenas seus sonhos ou a hipotese remota—que no entanto, por ser de natureza filosofica, deve ser considerada como plausivel—de um genio maliguinio:
    “Thus, because our senses sometimes deceive us, I wished to suppose that nothing is just as they cause us to imagine it to be; and because there are men who deceive themselves in their reasoning and fall into paralogisms, even concerning the simplest matters of geometry, and judging that I was as subject to error as was any other, I rejected as false all the reasons formerly accepted by me as demonstrations.” (Descartes Selections. 1927. R. Eaton, Trans., New York: Scribner’s)

    3) Ainda, o que ha de errado com o argumento do sonho? Isso nao pode ocorrer?


    “(b) a dúvida deve ter importância prática: isto é, ela deve fazer alguma diferença na vida de quem duvida; ora, também esse aspecto é ignorado pela dúvida cartesiana; ele mesmo declara que a sua dúvida não é prática, mas especulativa”

    Resposta:
    Quem eh Wittgenstein pra falar de practicidade tendo em vista que ele rejeitava a etica (assim como as outras areas da filosofia com excessao da logica) e que, para explicar sua doutrina moral, ele tinha que se tornar mistico e obscuro (pois eh claro, “tinha que permanecer em silencio”)? Pode-se falar que tal ideia—a duvidas das nossas percepcoes—nao tem significado pratico e que por “nao ter” uso, tambem “nao tem” sentido. Porem, apesar dessas reivindicacoes—e apesar dessa ideia nao ter uso nas discussoes da vida pratica e cotidiana que compoem os dominios, ao meu ver, eticos e nao epistemologicos—ainda assim tal ideia nao eh usada em debates filosoficos? E os filosofos envolvidos em tais discussoes epistemicas ainda assim nao se entendem?
    Deve o filosofo, discutindo epistemologia—considerando todas as possibilidades e alternativas, e nao apenas o lado ‘pratico’ da vida—e investigando se suas experiencias realmente representam o mundo externo, “permanecer em silencio” porque Wittgenstein afirma que isso nao tem sentido, que nao tem uso? Afinal, nao somos nos quem determinamos o uso da lingua?


    “(c) a dúvida pressupõe um jogo de linguagem: quem não tem certeza de absolutamente nada também não pode ter certeza do significado das suas palavras; desse modo, a dúvida cartesiana destrói-se a si mesma, porque seria impossível exprimi-la”

    Resposta:
    1) Por favor, nao vamos reduzir a realidade a linguagem! A lingua eh composta por conceitos (universais), formados por um processo de cognicao, pelos quais podemos nos referir aos objetos de nossa percepcao. Por exemplo: sentimos, por meio da visao, uma cadeira, percebemos esse objeto atraves do nosso entendimento e, por um processo de cognicao, reduzimos e associamos essa percepcao particular ao conceito, ou simbolo descriptivo, “cadeira.” A lingua e sua logica nao sao, assim, precondicoes de realidade! Nao se pode reduzir a experiencia a proposicoes! A lingua, eh apenas uma ferramenta pela qual podemos integrar nossas percepcoes simbolicamente (melhorando nossas habilidades comunicativas, computacoes mentais e, consequentemente, nossas vidas). Se a logica da lingua fosse uma precondicao para a realidade, poderia eu afirmar: “Eu estou mentindo.” ou “Esta afirmacao eh falsa.”? (ver logica paraconsciente).

    2) Um cachorro nao eh capaz de desenvolver a lingua. Porem, quando, ao atravessar uma rua movimentada, ele para e hesita—por um erro de calculo—nao estah ele duvidando? Outro exemplo: um sujeito desconhecido me encontra na rua, me dah uma paulada na cabeca e eu grito: “AI!!” Pergunto entao, preciso eu dizer ou formar em minha mente a sentenca “Isso doi!” para saber que eu sinto dor?

    Parece-me claro que as intuicoes que temos sobre as coisas no mundo nao se encontram necessariamente ao nivel conceitual ou linguistico. Tais intuicoes se encontram ao nivel perceptivo. Logo, permanece a duvida—a qual nao eh subordinada a lingua.


    “(d) a dúvida não pode estar no início: a dúvida vem depois da crença; é preciso acreditar, aceitar, primeiro, determinadas coisas antes de poder expressar dúvidas que façam sentido; ou seja, a dúvida não pode estar no início, como queria Descartes”

    Resposta:
    Concordo com a afirmacao. Para poder duvidar, precisa-se, crer, ter certeza sobre algo e, somente apos ser provado errado pela experiencia, duvidar (afinal nao eh assim, por tentativas e errors, que o mundo progride e as teorias cientificas sao colocadas a prova?). Todavia, nao eh isso mesmo o que Descartes fala em sua argumentacao? Nao se justifica afirmando que “porque as vezes somos enganados pelos nossos sentidos, desejei supor que nada eh como imaginamos ser”? Ou ainda quando fala que “porque os homens se enganam em suas razoes e caem em paralogismo ateh nos assuntos mais simples sobre geometria, e julgando que era sujeito a erros como qualquer outro, rejeitei como falsas todas as razoes formalmente aceitas por mim como demonstracoes”? (ibid) Nao implica ele jah ter experienciado tais erros? Nao demonstra que, apenas pelo fato de que suas mais fortes conviccoes poderem estar erradas eh que ele levantou a duvida em que se baseia seu sistema?

    (Devemos manter a mente que Descartes nao questiona: “Posso eu duvidar de minha lingua?” Sua pergunta eh outra: “Posso conceber, intuir, setir na minha mente a certeza das coisas?” Sua preocupacao nao eh semantica, mas metafisica/epistemologica)


    “(e) a dúvida universal é impossível: pode-se duvidar isoladamente dos fatos relacionados com determinado jogo de linguagem, mas duvidar de todos simultaneamente destruiria o jogo de linguagem e, conseqüentemente, também a própria dúvida”

    Resposta:
    Como jah falei, a lingua e sua logica nao sao um requerimento de realidade, e assim, nao sao um prerequisito para a duvida.


    “(f) a dúvida supõe a certeza: a dúvida supõe a possibilidade de verificação ou comprovação; esta, por sua vez, supõe algo que não é colocado em dúvida nem é testado; ou seja, o próprio jogo da dúvida pressupõe a certeza; aquilo a que Descartes pretendia chegar ao fim do seu recurso à dúvida universal já está pressuposto desde o início.”

    Resposta:
    “A dúvida supõe a certeza” ou a “possibilidade de verificacao”… mas porque se supoe algo, ou porque se concebe que algo seja possivel, isso significa que este algo realmente existe na realidade? Soh porque tenho o conceito “existente” isso nao significa que o conceito “nada” (ou “nao-existente”) realmente exista. Eu nao tenho a experiencia do conceito “nada,” porem, formo tal conceito metaforicamente…apenas como referencia a uma relacao que jah me ocorreu no passado: a relacao de um existente que deixou de ser o que era. Do mesmo modo, pode se argumentar que a duvida supoe a certeza ou a possibilidade de certeza apenas pelo fato de que, em algum momento no passado, tive a falsa impressao da relacao entre duvida e certeza.


    Quanto a Moore, vou ser breve:
    1) A reposta de G.E. Moore nao era aderessada aos ceticos, mas aos idealistas
    2) Quando essa resposta eh usada para combater o ceticismo, as “verdades indubitaveis” sao vistas nao como verdades, mas como sugestoes ou apelos (como que em “Eh preferivel acreditar que voce possui um corpo ou que eh uma mente sendo enganada por demonios?”). Se alguem usar como verdade tais sentencas para refutar a hipotese cetica, esse alguem estara apenas usando como premissa a propria afirmacao que se tenta provar (begging the question).
    3) Eh verdade que, em contextos comuns e costumeiros, nao ha sentido na afirmacao de duvida sobre nossas percepcoes, mas no momento que se adentra em um contexto filosofico/cetico, tal ideia terah sentido e logo, deve ser debatida.

    #74656

    Para os que querem saber se o conhecimento cientifico eh absoluto, precisam apenas olhar a hitoria da ciencia: quantas teroias jah nao foram 'provadas' falsas e substituidas?
    O conhecimento cientifico nao eh absoluto. Existe o problema da inducao (o qual foi, de certa maneira, resolvido por Popper).
    Como Popper afirma, uma verdade scientifica nunca pode ser provada certa e absoluta. Uma verdade cientifica soh pode ser falsificada.

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