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13/09/2005 às 11:47 #80123Miguel (admin)Mestre
Renan,
Eu já havia lido esta parábola em um livro chamado “A doutrina de Buda”. E também a do Grão de mostarda. São muito “populares” estas parábolas, pois eu já havia lido em mais de um livro…
Me permita contar um negócio rápido. Tentei entrar na USP ano passado no curso de Filosofia, cheguei na segunda fase mas não consegui passar. Esse ano eu tento de novo.
Outra coisa que queria contar é sobre uma pessoa iluminada chamada Osho. Você já ouviu falar dele? Se tiver a oportunidade de ler algum livro dele (e são muitos…), nós poderíamos debater sobre ele também…
Sabe o que mais me impressiona, o que eu considero a idéia mais importante do Budismo? É a negação do “eu”. A consequente unificação com toda a existência com essa negação, a quebra da dualidade “eu-você” (não sei exatamente como chamar isso) é algo que me atrai. Penso que somente ela acaba com todo o sofrimento causado por este nosso modo “ocidental”, se é que posso chamar assim, de pensar. O que você pensa sobre isso, Renan?
Outra questão : Já que você falou em semelhanças entre a filosofia grega e a filosofia oriental, você acha possível conceitualizar iluminação?
Abraço forte!14/09/2005 às 3:16 #80124Miguel (admin)MestreRodrigo,
Persista na sua meta enquanto achar que ela vale a pena. Descubra o que é a felicidade para você. Se sua felicidade for filosofia, estude. Se for amor, veja as qualidades das pessoas e não seus defeitos. Se for dinheiro (essa é difícil, mas tem que tentar).
O sentido de felicidade é você quem define. E o caminho para a felicidade é sua escolha pessoal.
Lembra de Alice nos País das Maravilhas? Ela caminhava e caminhava, até que a estradinha onde estava se dividiu em várias. Então ela perguntou ao coelho que caminho deveria ela tomar. E este perguntou a Alice:
-Onde você quer chegar?
-Não sei.- respondeu Alice.
-Então, não importa o caminho que você tomar.- afirmou o coelho.Saiba definir o que é a felicidade para você (sua meta, onde você quer chegar). Depois trace o caminho que achar melhor. As escolhas não são fáceis, mas errando ou acertando, a escolha é sempre sua. Não ponha a culpa no coelho!
Isso eu digo para você como se dissesse para mim mesmo.
Uma coisa para você pensar: os fins justificam os meios? Sempre? Às vezes? – pense nisso.
Um último conselho: Conhece-te a ti mesmo.Sinceramente:
Coragem!Sobre Osho, nunca ouvi falar dele. Se você diz que é bom, acredito que seja. Em curto prazo, tenho outras metas de leituras mais urgentes, mas agradeço muito mesmo a dica. Vou me lembrar. Valeu mesmo!
Você mencionou um ponto interessantíssimo: “a negação do eu”. Dentre vários outros temas também interessantes que você tocou, esse é um dos que eu gostaria de discutir primeiro.
Gostaria de primeiro de ver o que você acha sobre isso. Eu sei pouco. Tenho uma idéia pessoal, baseada na somatória de várias outras idéias, sobre um tipo de panteísmo. Mas esse panteísmo se baseia no budismo, hinduísmo, espiritismo (cardecismo e cadomblé) e de certa forma, até no cristianismo. E também se baseia em filósofos como Platão e Espinosa.Minha idéia é a seguinte: Imagine que exista deus. Este seria um ser eterno, imutável e perfeito. Ele não é apenas criador, mas também criação. Tudo e todos são deus. Quando você conhece a si mesmo, você conhece deus. Quando você conhece a si mesmo, você conhece o outro. Isso porque existe uma ligação entre nós e todas as outras coisas. Porém este tipo de conhecimento do qual falo não é um conhecimento racional. Na verdade, é um não-conhecimento, e isso não pode ser descrito apenas racionalmente. Você precisa somar razão, emoção (sentidos) e espírito (vontade), porém essa união atinge um “conhecimento” além da simples somatória desses três elementos.
É um tipo de “conhecimento agnóstico” (se é que posso descrever assim). Ou seja, uma dúvida semeada, um não-conhecimento. É como a iluminação: se você tem, você não diz que tem, você sabe.
Nessa minha idéia, a verdade é algo inerente ao ser humano (da mesma forma que Sócrates dizia que a razão é inata a todo ser humano)
Esse meu pensamento, não tem base lógica, mas também não é religião (longe disso). É apenas um pensamento baseado em vários outros, mas não obedeci nenhum critério metodológico para isso. Porém também não é livre associação.
Se não entendeu me pergunte.Às vezes eu defino a mim mesmo como agnóstico. Mas hoje, nem essa definição pode me definir. Prefiro não usar rótulos. Eu acredito que o ser humano tem necessidade de deus. Essa necessidade, por si só, já é suficiente para fazer com que deus exista. Ou então, posso dizer que essa necessidade é suficiente para fazer com que “eu” exista. Mas o mais próximo da “verdade” seria descartar as dualidades “eu e deus”, “eu e você”, “eu e ele”. O universo é 1 (um). A unidade é a perfeição. Por isso, o mais próximo da verdade é afirmar que essa necessidade por si só faz com que nós existamos.
Sobre o conceito de iluminação, o melhor que já vi até hoje é este:
“A natureza da mente quando compreendida
Não há palavras humanas que possam abranger ou revelar,
A iluminação não é para ser alcançada
E aquele que a encontra não declara que sabe.”Fonte: Elementos da Meditação, David Fontana.
Um grande abraço e espero retorno.
14/09/2005 às 19:25 #80125Miguel (admin)MestreRenan,
Suas primeiras palavras dessa ultima mensagem me deixaram feliz, porque jamais imaginaria que seriam ditas. Eu tinha o livro da Alice, me considero um pouco de Alice com coelho…
Quanto a estabelecer metas, sabe o quanto é difícil. As vezes (talvez seja um pouco de buda me dizendo isso) é difícil ter um fim a se chegar, porque o que mais importa é o meio…Estou deixando o fluir me levar…Foi o fluir que me trouxe até este fórum, por exemplo.
Renan, as melhores e únicas idéias que fazemos sobre a realidade, são pessoais. Não há meios de fugir disso. É isto que torna a realidade tão interessante. Esta multiplicidade dentro de uma unidade…Este “paradoxo” inescapável.
É estranho pensar em Deus como eterno, imutável e perfeito e vê-lo como todas as coisas do universo, que são, basicamente, não-eternas, mutáveis e imperfeitas (é claro que essa visão é relativa). Mas entendo o que você quer dizer. Também penso assim. Mas você cre que esse Deus sejá pessoal? Que ele tenha um “eu”? Pois este “panteísmo” é, em tese, incompatível com a idéia de um Deus pessoal…
A descrição sobre a iluminação que você deu eu também a acho boa. Mas, gostaria de saber se é possível fazer com o fato “iluminação” o que se faz com o fato “genes”, por exemplo. De dar causas e efeitos, do mecanismo de funcionamento, de acordo com a ciência e com sua crença (em átomos, moléculas, gravidade, etc).
Um abraço forte pra você também…15/09/2005 às 0:26 #80126Miguel (admin)MestreOlá Rodrigo,
Vou comentar a seguinte afirmação:
“as melhores e únicas idéias que fazemos sobre a realidade, são pessoais.”-Concordo com você. Mas há duas coisas aí.
1-Por um lado, existe a ilusão do pensamento racional, que muitas vezes se considera independente dos sentimenos, vontades, intenções, etc. Isso também ocorre nas ciências e sua falsa objetividade. Então, quando julgamos estar fazendo uma escolha racional, na verdade sempre estamos fazendo uma escolha pessoal e movida por sentimentos irracionais. Nesse ponto de vista, o “racionalismo puro” é ilusão.
2-Por outro lado, existe a ilusão do nosso “eu” de achar que nós criamos tudo. Quando na verdade, tudo já estava pronto quando nascemos, e nós só aprendemos, copiamos e recriamos a realidade. Então, nesse outro ponto de vista, nada é pessoal, pois somos produtos do meio, inclusive nossa identidade.
3-Num terceiro ponto de vista, nós não somos produtos do meio social, mas o meio social é produto de nossas ações.
A dicotomia entre o segunto e terceiro pontos de vista foi superada no materialismo histórico dialético (Marx).
Nascemos num meio natural pronto, perfeito, acabado, (e até hostil), por isso precisamos recriar o meio e nos adaptar a ele. O meio impõe a nossa consciência a necessidade de agir. Nossas ações materiais (e não nossa consciência) recria o meio. O meio deixa de ser natural e passa a ser social.
O meio natural criou nossa consciência. Nossas ações recriam esse meio. Essas ações materiais executadas para recriar o meio, recriam nossa consciência para esse novo meio.Isso se resume na frase materialista: “Não é a consciência que determina o ser social, mas ao contrário, o ser social que determina sua consciência”.
Entenda que o termo “ser social” pode algumas vezes ser substituído por “prática material”. Então, é a prática material (o modo como agimos) que determina nossa consciência e determina o meio social. Ou seja, nós interferimos no meio através de nossas ações, e não através do pensamento. Parece óbvio, mas muitas pessoas acreditam em milagres e esperam as coisas “caírem dos céus”. Muitos intelectuais revolucionários lêem, estudam, mas nunca agem.
Isso é o que eu entendo da filosofia de Marx.
Sobre o pateísmo que descrevi, imagine um exemplo:
Na frase: “meu deus interior saúda o teu deus interior”. No meu modo particular de entender, essa frase nos diz que “o meu eu” interior, livre de preconceitos, de julgamentos, de ideologias, etc… está saudando “o seu eu” interior, também livre desses preconceitos e ideologias. É como se a nossa sabedoria da superfície fosse dogmática, alienada, doente e convencidade de si mesma, enquanto nosso eu ou nossa sabedoria mais profunda está livre disso, ela é sincera e não cristaliza essas coisas. A sabedoria mais superficial é produto do meio, enquanto nossa sabedoria mais profunda produz o meio. Essa sabedoria profunda é nosso deus interior. Ela é nossa verdadeira consciência. Já a sabedoria superficial é uma falsa consciência que usamos no dia a dia de forma automática.
Outro exemplo:
-“Deus esteja convosco” – alguém diz.
– “Ele está no meio de nós”- responde a multidão.Nesse caso, eu compreendo dois sentidos. Um sentido é o cristão, que aparentemente não concordo. O segundo é minha interpretação particular.
No meu particular, eu entendo que a frase “Deus esteja convosco” é um apelo, um chamamento, uma evocação da nossa verdadeira consciência. Para que nesse momento se desfaça em cada um, os preconceitos, por exemplo. Ou seja, a pessoa que pronuncia essas palavras, espera, deseja que as pessoas ao ouvi-la se desfaçam dos preconceitos, da falsa consciência e olhem para dentro delas mesmas. Isso tem muito a ver com a filosofia oriental, e também com Sócrates:
“Conhece-te a ti mesmo” – olhe para dentro de si e não julgue.
“Só sei que nada sei” – desfaça os pré-conceitos.A resposta da multidão é: “Ele está no meio de nós.” Talvez a maioria das pessoas ao ouvirem essa frase, entendam que deus está nos espaços vazios entre cada pessoa, ou sobre as pessoas flutuando, etc
Eu entendo no meu modo particular, que quando dizemos “Ele está no meio de nós.” não significa que ele esteja nos vácuos entre cada um de nós. Isso significa que ele está “entre nós” (entre=dentro). Ou seja, ele está entre cada pessoa (mas não nos espaços vazios, apesar de também estar no vácuo). Na verdade, ele a expressão “está entre nós” ou ele está “no meio de nós” significam que ele está no interior de cada um de nós (nossa consciência). Dizer “entre nós” significa isso, no dentro, no íntimo. E dizer “no meio de nós”, significa no coração, na alma, no nosso interior (entre). O que dá no mesmo, entre nós e no meio de nós.Então, quando Marx dizia que a religião é o ópio do povo, ele falava da ideologia, das relações automáticas, da fala de interpretação e criatividade, da falssa consciência.
Por outro lado, quando ele fala da imporância da religião, ele fala não daquela religião cristalizada, mas do deus interior, que cria, que contesta, que duvida, da nossa verdadeira consciência.Mas isso tudo é uma visão particular minha.
A partir daí, você pode tentar reinterpretar ou reelaborar o sentido da sua frase:
“as melhores e únicas idéias que fazemos sobre a realidade, são pessoais.” -se você quiser.Acho que consegui responder as suas perguntas. Com exceção da questão a respeito da iluminação.
Acho que a iluminação é esse deus interior, essa consciência verdadeira, esse verdadeiro “eu”, que todos nós temos lá no fundo de nossa sabedoria.
Nesse caso, para atingir a iluminação, você não caminha em direção a uma meta (externa) você caminha em direção a você mesmo. Por isso é um retorno as origens, e daí vem a palavra religião (significa re-ligar-se com deus).
Então, atingir a iluminação é re-ligar-se com seu deus interior (religar-se com você mesmo, autoconhecer-se), e ao mesmo tempo, re-ligar-se com as outras pessoas e com a natureza.Um grande abraço.
15/09/2005 às 12:10 #80127Miguel (admin)MestreOlá, Renan.
Poxa, não sei como você consegue escrever tanta coisa, participar de tantos tópicos…1
– Sim, o pensamento racional é ilusório, justamente porque separa a unidade da existência, “achando-se” ser independente de todo o resto, sentimentos, vontades, intenções, etc, como você disse. O pensamento oriental sempre busca harmonizar todos estes aspectos do ser humano para que nenhum deles seja esquecido.
– Também não concordo que criemos TUDO, mas que criamos algo, isso é inegável. Buda falava muito em Carma. E isso tem tudo a ver. Nós criamos carma constantemente, a maioria deles são tão sutis que nós não conseguimos enxergar, graças a essa nossa visão “ocidental” do mundo e a nossa sociedade “desesperada” e distraída para este tipo de coisa. (não sei se estou escrevendo de forma clara, você podia me dar umas dicas sobre isso…) Como você mesmo disse, “nós aprendemos, copiamos e recriamos a realidade.”.
– Poderiamos pensar o seguinte, também. O Budismo, por exemplo, nega a existência de um “eu”. Então não há uma visão pessoal das coisas, porque não há alguém para ter essa visão, entende? Mas, este é só mais um ponto a se considerar.2
Concordo com Marx em suas teorias. Mas, vamos aproveitar que este é um tópico sobre Filosofia Oriental, e vamos ampliar isso tudo. “Ser social” e “prática material” poderiam ser substituídos por, vejamos, “todo universal”. O que quero dizer é que, não só os fatores mais próximos influênciam nosso ser, mas fatores não espaciais, ou fatores “não conhecidos”. Não só os fatores “terrestres”. Na verdade, só estou tendo uma visão holística do “problema”. Eu acho que é inescapável este tipo de visão.
Enrolei, enrolei com este último parágrafo, mas acho que não cheguei a nada. A principal questão aqui é se negando nosso “eu” poderemos dizer que existe um Deus dentro de nós, ou que existe uma consciência (outro conceito a se questionar) dentro de alguma coisa que poderíamos chamar de “eu”?3
Eu entendi perfeitamente sua explicação de seu panteísmo, e acho ela bastante interessante. Apenas me confundo um pouco, porque você usa a palavra Deus, para dizer consciência, entende?4
Sobre iluminação, acredito também que ela seja interior. Mas, isso, de uma certa forma, entra em contradição com o conceito de negar o “eu”. Acho que não sobra mas um interior quando se ilumina. Poderíamos dizer que não sobra “nada”, ou seja, nada que possa ser categorizado, conceitualizado, dito…Por enquanto é isso. Obrigado por tudo até agora.
Abraço forte!15/09/2005 às 17:46 #80128Miguel (admin)MestreOlá Rodrigo.
Não se preocupe, você escreveu bem claro. E a questão do carma é outro ponto interessante para ser levado em consideração.
Você também perguntou:“O Budismo, por exemplo, nega a existência de um “eu”. Então não há uma visão pessoal das coisas, porque não há alguém para ter essa visão, entende?”
-Sim, Rodrigo, eu entendi e concordo com esse ponto também.
Questionamos se existe um deus, questionamos se existe um “eu” e questionamos se existe uma consciência. Eu acho que ambas as respostas estão corretas. Então, ficaria assim:
Deus existe e não existe.
A consciência existe e não existe.
O eu existe e não existe.Você diz que eu uso a palavra deus para expressar consciência. Você acertou, é isso. Mas não é apenas isso. Eu uso a palavra deus para referir-me a nossa “verdadeira consciência” (e não a consciência que geralmente usamos no dia a dia, esta está cheia de presunção, preconceitos, e ideologias. A “falsa consciência” é produto do meio.) A verdadeira consciência é “pura”.
Mas também uso a palavra deus para referir-me a natureza, a unidade entre ser e espírito, a tudo, ao nada, as pessoas, aos animais, ao universo, etc….não apenas a consciência. Quero dizer com isso, que a minha verdadeira consciência está ligada a sua verdadeira consciência e ambas estão ligadas a tudo. Por isso, não devemos fazer o mal. Quando você fere ao outro, você fere também a si mesmo. – Não tenho certeza se isso é budismo ou hinduísmo. Mas acho que pode ser ambos.Sobre a iluminação, você acha que pode haver uma contradição entre “ela vir do interior” e “negar o eu”. Você acertou novamente. Na lógica, realmente há contradição entre esses termos. Mas não se preocupe, a filosofia oriental não é estritamente lógica, racional. Algumas coisas não têm explicação para a mente lógica, mas podemos entender de outras formas.
Se após negar o eu, sobra apenas o nada, esse nada é tudo. Entende? Não tente entender. Tente “não-entender”.
A máxima de René Descartes é “Penso, logo existo”. Toda nossa cultura ocidental é baseada nisso, mas na meditação, essa máxima se transforma em “Existo, logo penso.” Lembre-se que a meditação tem uma definição totalmente diferente no ocidente. Para os ocidentais, meditar é pensar, refletir. Essa definição está completamente equivocada. Na meditação você não pensa, mas também não pára de pensar. Você se deixa observar os pensamentos, sem seguir seu fluxo caótico, mantendo uma atenção unidirecional. Você descobre que você não é seus pensamentos. Os nossos pensamentos são apenas uma parte importante de nós, assim como pernas e mãos. Existo, logo penso, logo ando, logo vejo, etc
Até mesmo na filosofia ocidental existem paradoxos, mas isso não quer dizer que uma idéia nega a outra. As idéias não se anulam. Veja um exemplo de paradoxo ocidental: “Você é livre para todas as coisas, exceto para deixar de ser livre” – Jean Paul Sartre. Quer outro exemplo: “Só sei que nada sei” – Sócrates. Ambas frases são paradoxos.
Por isso, eu afirmei antes:
Deus existe e não existe.
A consciência existe e não existe.
O eu existe e não existe.São contraditórias, paradoxos, mas as idéias não se anulam. Ambas as possibilidades são verdadeiras (e ao mesmo tempo falsas) Por que? Não sei. Esse tema o qual discutimos exige uma coisa além da abstração comum da chamada filosofia ocidental.
Você já reparou que quando escrevemos algo, as idéias que saem da nossa cabeça e vão para a folha em branco não eram conhecidas por nós até escrevermos? Não sentiu isso, como se nossa mão escrevesse livremente, sem pensar, como se tivesse anotando um ditado? É como se deus estivesse ditando, e você simplesmente escrevendo. Ou talvez livre associação, ou ainda estaria manifestando sua verdadeira consciência. Todas essas hipóteses são verdadeiras, e ao mesmo tempo, nenhuma delas.Você já leu O Mundo de Sofia? Se não leu, leia.
Três motivos para ler esse livro:
1-Você vai aprender sobre “todos” os filósofos mais “importantes”, desde os pré-socráticos até o nosso tempo.
2- A estória que acontece paralelamente a aula de historia da filosofia é muito boa. Você vai ter até uma saudável crise existencial após ler esse livro.
3- O livro acrescenta muito ao nosso conhecimento de história, literatura, artes e filosofia. Você só tem a ganhar. O conto do livro é muito bem bolado. Além disso é didático. Serve como fonte rápida de consulta. E dá uma visão geral, total da história da filosofia, de modo que você consegue amarrar o desenvolvimento de uma corrente filosófica a outra.
Li O Mundo de Sofia duas vezes e pretendo ler outras vezes.Mas por que eu mencionei este livro?
Em certo momento, o autor fala sobre literatura. Não me lembro bem o nome do estilo literário, mas ele fala sobre essa coisa de escrever por “livre associação”. Seria mais ou menos isso. Não consigo me lembrar agora os termos que o autor usava. De qualquer modo, eu consegui entender exatamente o que ele queria dizer. Eu tenho alguma pratica em escrever. Já escrevi vários poemas, músicas, histórias, análises, etc. Quando eu escrevo esse tipo de coisa, principalmente quando é uma historinha, o roteiro se desenvolve sozinho. Eu não tenho a impressão de estar criando, é como se deus criasse para mim. Não dá para explicar, mas tente escrever uma historia e talvez você entenda o que estou dizendo. Talvez você já escreveu e já sentiu isso.
De qualquer modo, se você ainda não leu O Mundo de Sofia, leia. Você vai gostar.
Ah, uma coisa que esqueci de comentar da sua penúltima mensagem. Você disse:
“É estranho pensar em Deus como eterno, imutável e perfeito e vê-lo como todas as coisas do universo, que são, basicamente, não-eternas, mutáveis e imperfeitas (é claro que essa visão é relativa).”
-Você acertou eu dizer que essa visão é relativa. Além disso, você deve conhecer aquele pensamento: “nada se perde tudo se transforma”. Então, de certa forma, as todas as coisas são perfeitas, imutáveis e eternas. Eterna porque não se perdem se transformam. Imutáveis porque lá no fundo, a essência permanece. Perfeita porque são feitas até o final (do verbo perfazer= fazer até o final) e também pela harmonia entre as coisas. Tenho certeza que você entende.
Obs: esse fórum sobre filosofia oriental me permite falar sobre coisas aparentemente absurdas para a filosofia tradicional. Mas só escrevo isso porque a filosofia oriental não separa ciência, de filosofia e religião. E como já disse, estou escrevendo meio que por “livre-associação”. Então, não sei se a “culpa” é minha, ou da minha mão, ou do meu eu interior, ou de deus, ou do meu inconsciente, etc.
Rodrigo, convido-o a participar também de outros fóruns:
1-Você abdica de sua privacidade em nome de algo?
2-Fórum consciência, nossas máscaras caíram?
3- Simbolismo e mitologia
4- Matrix, suas referencias mitológicas, literárias, etcSe tiver tempo e interesse, aparece lá.
Um grande abraço, meu amigo!
16/09/2005 às 13:18 #80129Miguel (admin)MestreOi Renan,
Fiquei muito feliz com esta sua última mensagem. Principalmente com sua conclusão…Realmente é muito difícil debater sobre Budismo, já que ele não é lógico. Mas, me parece que o mais importante aqui é o que estamos aprendendo e não a chegarmos à uma “lógica budista” ou à uma “lógica oriental”.
De qualquer forma, eu entendi todos os seus conceitos:
– de Deus
– de falsa consciência e real consciência
– de nada ser tudoTemos um ponto duvidoso no que você disse. Logicamente (e “budisticamente”) pensando, não poderíamos dizer que “Existo, logo penso”, pois, o que existe de fato que possa existir? Ou seja, que “eu” pode existir para pensar? Esse “eu” só pode ser um só, que é Deus(no que entendi do seu modo de pensar). Deus é o que existe de fato e é o único que pode pensar. Então “somos” pensamentos de Deus ao mesmo tempo que somos Deus, então pensamos também. (deve haver muitos paralelos com a filosofia ocidental nisso). E tudo que existe é este “pensar divino” e tudo que existe pensa também. “Existo, logo penso.”
Eu, antes de começar a escrever esta mensagem, não imaginava que chegaria a estas conclusões que cheguei, como você apontou. Eu já escrevi contos sim e sei como a história parece ter vida própria. Ela nasce quase como se nós não precisássemos pensar nela…Poderíamos dizer que é Deus quem escreve?
Há muito tempo atrás eu tentei ler O Mundo de Sofia, mas acabei não coseguindo. Sobre ter uma visão geral sobre filosofia, descobri um livro aqui em casa, que foi de meu pai, que se chama Fundamentos de Filosofia, de Garcia Morente. Conhece? Se sim, me diga o que acha dele.
No final das contas estamos nos entendendo muito bem…Fico feliz com isso.
Um grande abraço para você também, meu amigo…16/09/2005 às 16:57 #80130Miguel (admin)MestreOlá Rodrigo,
Fico sempre muito feliz em “falar” com você.
Não conheço esse livro (Fundamentos da Filosofia). Talvez eu já tenha lido, mas não em lembro.
Sobre O Mundo de Sofia, pode ser que na época que você tentou ler, você não tinha essa preparação e esse gosto por filosofia que você tem hoje. Isso é muito comum. Por exemplo, quando eu era mais criança, tentei aprender violão. Eu adorava, mas acabei desistindo. Achei muito difícil. Quando me tornei adolescente, tentei aprender de novo. E em apenas um dia aprendi uma música. Hoje toco razoavelmente (bem mas amador). Acho que é questão de momento e vários outros fatores.
Talvez hoje você não só consiga ler o livro como também irá aprecia-lo. Como eu disse, li duas vezes e pretendo ler mais outras vezes. E não levei muitos dias para concluil-lo. Para mim foi uma leitura muito fácil e gostosa.Outros livros que recomendo:
1-Elementos da Meditação, de David Fontanta (você vai adorar, tem muito a ver com o nosso papo no fórum)Esse livro fala sobre a meditação, buda, os koan, as mandalas, etc.2- Ilusões de Richard Bach (autor de Fernão Capelo Gaivota)Esse livro é conta a estória de um homem iluminado, ou um messias que não quer ser messias. Ele abandona sua cidade e busca a solidão, mas aí encontra um aviador e os dois começam a conversar. Esse livro nos traz várias lições.
Achei interessante isso:
“Então somos pensamentos de Deus ao mesmo tempo que somos Deus, então pensamos também. ”
-Essa pode ser uma verdade, e eu acrescento: apesar de sermos pensamentos de Deus, nós temos liberdade, pois ao mesmo tempo, nós somos Deus.
Isso explicaria essa ligação que eu tento demonstrar haver entre todos nós, a natureza e o universo como um todo. A unidade é a perfeição.
E isso acaba com a dicotomia entre determinismo (ou providência divina) e livre-arbítrio.
E isso também explica porque que quando se faz mal a alguem, também estamos fazendo mal a nós mesmos.Resumindo, somos todos pensamentos de deus, ao mesmo tempo que todos somos deus. Cada um tem sua liberdade, mas dependendo da ocasião, já que estamos todos “conectados” um acaba influenciando na ação do outro e nas decisões do outro.
Tudo em nossa vida é assim. Temos liberdade, mas os outros influenciam em nossas decisões. Esse nosso pensamento exemplifica o porquê disso.É como se num oceano, no qual os peixes ao mesmo tempo que nadam, determinassem o sentido da correnteza. Então todos tem liberdade para nadar na direção e sentido que quiserem, mas há um limite para essa liberdade. Esse limite aumenta ou diminui, de acordo com o sentido que nada o cardume. Às vezes eles precisam obedecer o fluxo para conseguirem nadar, outras vezes precisam ir contra a correnteza para conseguir sair do lugar. Cada peixe influencia um pouquinho no sentido da correnteza. E a correnteza influencia no sentido da natação do conjunto de peixes (cardume).
Esse é um pensamento simples. Isaac Newton dizia que a verdade do universo está na simplicidade das coisas:
“A verdade sempre se encontrará na simplicidade e não na multiplicidade e confusão das coisas…Ela é o deus da ordem e não da confusão”- Isaac Newton.
Ele não via contradição entre Deus e as leis matemáticas que regem o universo. Um dos maiores cientístas de todos os tempos passou os ultimos anos de sua vida dedicando-se exclusivamente a teologia. E no final da vida ele se comparou a uma criança que brinca na praia com uma conchinha, mas com um oceano a ser descoberto pela frente.
Sobre o ato de escrever uma história e ela parecer ter vida própria, a ponto dela escrever-se sozinha:
Você me perguntou se “Poderíamos dizer que é Deus quem escreve?”Acho que sim. E na definição de Deus que temos adotado aqui, poderiamos dizer até mais:
1-Posso dizer que, de certa forma, foi VOCÊ quem escreveu o que estou escrevendo agora. Ou você teve importante influência no ato de eu escrever agora, e VOCÊ teve importante papel nas decisões do CONTEÚDO das minhas palavras e pensamentos aqui postados.
Você escreveu ou pensou o que eu ia escrever. Você é o deus que escreve minhas ações. Mas não é só você, é todo o universo. E o que vale para mim, vale também para você. Então, todo o universo se escreve nossa ações, e nós escrevemos o universo. Isso é deus (?)
Obs: Lembre-se que não somos determinados, mas também não temos livre-arbítrio total. Existe uma relação entre os dois, como a metáfora do oceano, os peixes, a correnteza e o cardume.2- Todo o universo e uma gama de acontecimentos conspiraram para que “eu” chegasse a esse momento e a esse pensamento. Cada momento em nossa vida é especial e por mais que dois momentos se pareçam, eles nunca são os mesmos. Esse pensamento não é criação exclusiva minha, também é sua e de várias outras pessoas e coisas. OU seja, é Deus.
Daí vem a negação do “eu”…3- Deus não é nada sobre-natural. Não existem duas naturezas. Isso na definição que temos adotado até agora. Acho que você já tinha entendido isso sozinho sem eu explicar. Então, deus, nós e o universo estamos submetidos as mesmas leis da natureza. E quem faz as leis? Todos nós, ou seja, as pessoas, as coisas, os animais, todo o universo, resumindo: Deus.
Talvez devessemos criar um tópico para discutir só isso. Esse assunto não tem classificação nenhuma que eu conheça dentro da filosofia. É um misto de filosofia oriental com metafísica. Se topar, eu vou abrir um novo tópico. Mas não há problema em continuar aqui, talvez é até melhor para consultarmos as coisas que escrevemos antes. Assim fica toda nossa “teoria” no mesmo lugar.
Obs: teo-ria significa: “sorrir com deus”Um abraço e até a próxima!!
17/09/2005 às 12:16 #80131Miguel (admin)MestreOi Renan,
Vamos continuar por aqui mesmo. Para facilitar nosso “trabalho”.
Hoje eu estou meio sem tempo para responder adequadamente sua mensagem. Nos fins de semana sempre tenho um monte de coisas a fazer. Segunda-feira eu escrevo mais…Mas se você tiver algo a acrescentar, fique a vontade.
Renan, Deus é bom mesmo. Estou muito contente com nossas conversas…
Até mais (segunda-feira talvez)…
Abraço!18/09/2005 às 2:58 #80132Miguel (admin)Mestresenti que havia algo mais do que mente e corpo em mim há poucos anos e desde aí k tenho vindo a descobrir a realidade da filosofia oriental, tenho uma mente muito analítica que me tem vindo a prejudicar,mas acho que isso se deve ao facto de eu “precisar” de me sentir rodeada de pessoas que gostem de mim, nao sou do tipo de pessoas k deixa de viver a sua vida pra agradar os outros por isso n percebo porkê k nao consigo viver sem uma paixao carnal… será este o motivo para os orientais insistirem k é mais dificil para as mulheres alcaçarem a espiritualidade profunda?
18/09/2005 às 3:58 #80133Miguel (admin)MestreLuá Naíde,
Não sei se os orientais dizem ou diziam isso. Nunca li a respeito. Mas se diziam, isso não pode se tornar um obstáculo para que você deixe de buscar uma “espiritualidade profunda”. E isso também não pode ser obstáculo para você deixar de alcançar essa “espiritualidade profunda”.
Não sei se existe uma diferença espiritual entre homem e mulher, mas supondo que houvesse, a mulher teria muitos pontos vantajosos para sair na frente do homem: A maternidade por exemplo, não é só carnal. Esse fenômeno também traz à tona sentimentos e razões que acredito, só a mulher deve conhecer.
O homem, por outro lado pode se tornar pai. Mas as dádivas da vida não são somente a reprodução.E a idéia de alcançar uma espiritualidade não deve ser confundida com uma guerra entre os sexos, ou uma corrida espacial. Sei que você não disse nem pensou isso. Sua pergunta foi clara, e vou tentar responde-la:
A questão de buscar a espiritualidade mais profunda é uma questão de você com você mesma, ou seu “eu”, consigo mesmo.
Mas tente não se limitar exclusivamente a minha opinião. Conversar sobre isso, pensar, ler, etc, tudo ajuda. Mas a escolha final é sua.
Rodrigo,
Por enquanto, não tenho nada de novo a acrescentar. Mas vamos continuar sim. Estou gostando de nossas conversas.
Um abraço
19/09/2005 às 12:05 #80134Miguel (admin)MestreLuá e Renan,
Li uma vez que um dos problemas, em épocas remotas, não era exatamente com as mulheres, mas sim, com a sociedade em que os budistas viviam. Buda previu que se deixasse mulheres entrarem no sangha, a sociedade de sua época iria acabar com o budismo. Buda era sábio a ponto de sacrificar uma coisa para ganhar muito mais…Hoje, eu acredito que não haja mais esse problema social.
É claro que existem algumas diferenças “materiais” entre homens e mulheres, e o “aprendizado” para a iluminação budista talvez deva ser diferente para os diferentes sexos, mas, em essência, eu também acredito que não haja diferença alguma.
Concordo com meu amigo Renan. A questão é sua, a resposta é sua. Isso não significa se fechar em si mesma, mas acho que justamente o contrário. Você deve se abrir para existência e encontrar o que procura por si mesma. Entende? Ao mesmo tempo que as coisas ao seu redor serão fundamentais na sua “caminhada”, “VOCÊ” será fundamental.
E, como disse Renan, a minha opinião não é a única, nem a mais correta, nem a mais objetiva, nem nada. Você pode fazer com ela o que quiser. Se minha mensagem não te disse nada, não tente dar sentido à ela.
Mas, nunca desista.Renan,
Você tocou em mais um ponto extremamente interessante, que é a LIBERDADE. Você encontrou uma bela resposta sobre Livre-arbítrio. Vê como a unidade existencial é maravilhosa, ela é livre, e, como somos elas, somos livres também, mesmo que, ao mesmo tempo, sejamos guiados por DEUS e guias de DEUS.
“O monje disse ao discípulo, com um bastão na mão: Quem está segurando isso, eu ou você? Se você responder que sou eu, eu dou com o bastão na sua cabeça. Se você responder que é você, eu também dou com o bastão na sua cabeça. Então, qual é a resposta? Eu ou você?”
Abraço forte, meu amigo…
19/09/2005 às 16:14 #80135Miguel (admin)MestreOlá Rodrigo,
Também concordo com o que você disse a Luá. Gostei muito de ler sua ultima mensagem. Gostaria até que você falasse um pouco mais sobre:
1- essa questão abordada no exemplo do monje e o bastão. Vamos falar um pouco mais disso e sobre a liberdade.
2-A negação do “eu”. Comente um pouco mais sobre esse assunto.Pergunta:
Você conhece uma escola de filosofia chamada Nova Acrópole? Ela existe em todo o mundo e em algumas cidades brasileiras. Tente descobrir se existe em sua cidade. Você vai gostar. Ela ensina filosofia baseada nos moldes da filosofia clássica grega e da filosofia oriental.Pergunta:
Você acha que a bondade e maldade são conceitos humanos, relativos, ou realmente existem? Se existem, no que devemos nos basear para definir algo como bom e outro como ruim?Aguardo comentários e respostas.
Até breve e um grande abraço.20/09/2005 às 11:52 #80136Miguel (admin)MestreOi Renan,
Que bom que as coisas estão fluindo bem entre nós, porque leio os outros tópicos e vejo que tem certas pessoas que estão por aqui apenas para polemizar e reforçar o próprio ego e não para construir algo, para ser produtivo, para encontrar alguma verdade nisso tudo.
Vamos ao que interessa a nós no momento.
“1- essa questão abordada no exemplo do monje e o bastão. Vamos falar um pouco mais disso e sobre a liberdade.”
Esse texto sobre o monje e o bastão, eu fiz baseado em um texto budista, mas que é diferente na questão. O monje, no original, pergunta ao discípulo, segurando o bastão: “O que tenho em minha mão? Se você responder que é um bastão, eu dou com ele na sua cabeça. Se você responder que não é um bastão, eu também dou com ele na sua cabeça. Então, o que tenho em minha mão?”
Se não me engano de nome, esse é mais um daqueles koans budistas que são feitos para quebrar a linha de raciocínio lógico do discípulo. Sabe, enquanto estava escrevendo aquela mensagem, isto veio em minha mente, porque achei que caberia perfeitamente em nosso debate e em nossa “teoria”. Não há resposta lógica que possamos dar a esta pergunta, que contenha alguma verdade. Liberdade eu também vejo assim, como que sem respostas, ou melhor, com respostas que, num momento são X e, noutro momento, são Y. Liberdade é também paradoxal, como nosso DEUS. Acredito que a Liberdade seja perfeita quando flui junto com o Universo, quando está “aqui e agora”. Acho que isto é ser livre, viver AQUI e AGORA.“2-A negação do 'eu'. Comente um pouco mais sobre esse assunto.”
Eu já pensei muito sobre isso, inclusive tentando achar uma resposta lógica para o problema. Me deparei com uma questão importante. Sobre a consciência e o pensamento. O que faz pensarmos? O que faz pensarmos sobre nós mesmos?
Onde fica nosso 'eu'?
Nunca achei resposta para estas perguntas, e talvez nunca ache, porque quando fazemos este tipo de pergunta direcionada, nós já estamos esperando uma determinada resposta que nos agrade. O que me levou a tentar achar respostas, tentar achar meu 'eu'? A idéia de Morte me levou, e talvez ainda me leve a tudo isso. Mas, como dizem os budistas, se 'eu' não existe, 'eu' não nasci e, se 'eu' não nasci, 'eu' não posso morrer. Simples.…
“Você conhece uma escola de filosofia chamada Nova Acrópole?”
Não ouvi falar. Acho bastante difícil que exista uma unidade dela na minha cidade, esta “cidadezinha” é realmente bastante “atrasada”. Não sei se você já ouviu falar em Itanhaém, no litoral paulista.
De qualquer forma, eu vou me informar melhor sobre isso, quem sabe?…
“Você acha que a bondade e maldade são conceitos humanos, relativos, ou realmente existem? Se existem, no que devemos nos basear para definir algo como bom e outro como ruim?”
Esta pergunta é muito difícil de ser respondida. Se eu parar para pensar, vou responder que Bondade e Maldade são conceitos relativos. Mas, veja que curioso. Se parar DE pensar, e apenas sentir, vou te responder que eu sinto a Bondade e sinto a Maldade, e que elas existem.
Vejamos! Se pensarmos que DEUS somos todos nós, uma coisa que fazemos de ruim com um outro ser humano (ou com qualquer outra coisa) está sendo feita conosco mesmo. Isso também não é relativismo?
Mas, acho que sua pergunta não foi sobre isso. Eu entendi sua pergunta.
O que pode ser considerado Maldade e Bondade?Aquilo que ME faz sofrer é Maldade. Aquilo que ME faz ser feliz é Bondade. Esse 'me' não é só eu, é tudo. Então, aquilo que faz qualquer coisa que exista sofrer é Maldade; e aquilo que faz qualquer coisas que exista ser feliz é Bondade.
Acho que essa resposta está de acordo com o que dissemos até agora sobre DEUS e o conceito de 'eu'. Talvez seja este um dos sentidos do Carma que Buda tanto falava.…
Estou mais contente ainda, cada vez mais com tudo isso que está acontecendo em minha vida. O que escrevi hoje me deixou animado para muitas outras coisas, Renan.
Espero sua resposta e agradeço por qualquer coisa…
Abraço forte!20/09/2005 às 16:42 #80137Miguel (admin)MestreOlá Rodrigo,
A parábola do monge e o bastão veio mesmo a acalhar. Concordo com você no conceito de liberdade. Não há nada o que acrescentar, você foi exato.
Provavelmente essa história do monge é um koan sim. Existe um livro cheio de koans. Veja se você conhece este koan:
“Qual o som de uma mão batendo palmas?”Só não compreendi muito bem a questão da “negação do eu”. O budismo nega o eu em dentrimento de algo maior? É por isso? Eles querem dizer que eu não sou apenas eu, mas sou algo além?
Você conhece mais sobre budismo do que eu conheço. Eu só sei algumas coisas que li, mas eu li mais sobre meditação.
Obs: Quando digo que “eu sei” ou “conheço” não entenda que eu quero dizer que conheço tudo a respeito, ou que sou sábio. Quando digo que sei algo, é só uma expressão simplificada, pois nossa linguagem lógica as vezes é limitada. Na verdade, não sei de nada.
A escola Nova Acropole tem site na internet. Agora eu não tenho o endereço, mas posso lhe passar posteriormente. De qualquer modo, é fácil de achar na internet. Procure em português. Talvez haja muito conhecimento, textos, informações, curiosidades, etc no site.
Você iria adorar, eu fiz cinco aulas gratuitas na escola. Eles falaram sobre o “Bagava Gita”- texto hindu. Se quiser depois entro em detalhes…E mais uma vez eu concordo com você:
“Então, aquilo que faz qualquer coisa existente sofrer é Maldade; e aquilo que faz qualquer coisas que exista ser feliz é Bondade.”Essa sua frase resume o nosso pensamento. É exata.
E eu fiz essa pergunta, porque numa mensagem anterior você disse que Deus era bom. Então eu pensei: será que bondade não é um conceito humano? Será que existe bondade ou é relativo?
Na verdade, são as duas coisas. Pode ser relativo, mas tudo que faz alguém sofrer é Maldade. Entende com é as duas coisas?
Algumas coisas podem me fazer sofrer, e essas mesmas coisas podem ser boas para você. Então, é relativo, pois depende do ponto de vista seu e meu. Mas ao mesmo tempo, algumas coisas são sempre Bondade e outras sempre Maldade, não importa o ponto de vista.
Então poderiamos entrar num debate sobre ética. Mas não há necessidade. O que é mal é mal, o que é bom é bom. O que é mal? aquilo que faz alguém sofrer. O que é bom? Aquilo que faz alguém feliz.E quando fazemos uma pessoa “sofrer” para o seu próprio bem? Exemplo: Uma criança não gosta de tomar injeção. Ela chora, tem medo, dói, etc…mas é para o bem dela.
Então, para tudo é preciso bom senso. O bom senso pode ser distorcido ou pode entrar em conflito com a opinião de outros. Mas não adianta, pois os conflitos entre opiniões sempre existirão (eu acho). O bom senso, o justo, o equilíbrio, são conceitos difíceis de serem atingidos de uma mesma forma por pessoas diferentes.Ainda no exemplo na injeção e da criança. Fazer a criança sentir medo, sentir a dor, sofrer, fazer-la chorar (fazer o mal a criança) teve um objetivo bom, uma boa justificativa.
E uma revolução? Se fazemos as pessoas sofrerem agora para atingir um equilíbrio econômico justo, uma justiça social, justa distribuição de renda, etc. E se fazemos algo que pode sacrificar alguns, mas benefeciar a maioria? É certo? É justo?
É mais complicado de responder, né?Por isso eu digo: só sei que nada sei.
Meu amigo, estou muito feliz com nossas conversas também. Um grande abraço e
Dominus vobiscum -> “Deus esteja convosco” -
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