O FIEL PEDRO
Fonte: Os melhores contos Populares de Portugal. Org. de Câmara Cascudo. Dois Mundos Editora.
Diz que era uma vez um príncipe que se estava, banhando num rio quando perdeu pé e se ia afogando quando um rapaz, vendo-o em perigo, saltou para dentro da água e salvou-o. Ficaram muito amigos, o príncipe e Pedro, aprendiz de sapateiro. Andavam sempre juntos e o príncipe convidou o amigo para que deixasse de ser remendão e viesse viver com êle no palácio. Pedro não quis mas todos os dias procurava um ao outro para caçar, pescar ou passear pelos bosques.
Uma tarde em que se tinham distanciado da cidade, perderam-se no caminho e andaram toda a noite sem atinar como voltar. Agasalharam-se num galho de castanheiro e, pela madrugada, continuaram a caminhar. Rompendo o dia viram deitada a uma vala uma moça linda, toda esfarrapada e com o rosto vermelho de chorar. Levantaram-na e a moça disse ser filha do rei, raptada pelos ladrões, aos quais conseguira fugir e correra toda a noite para livrar-se. O príncipe, apiedado, cobriu-a com sua capa e, acompanhado por Pedro, vieram caminhando na direção certa. Já meio dia, cansados, deitaram-se para refrescar sob umas árvores frondosas e a moça e o príncipe adormeceram. Pedro ficou acordado e viu tres pombinhas esvoaçando até que pousaram perto dele e começaram a conversar.
— O príncipe está tão satisfeito com a noiva mas não sabe o que lhe sucederá. A rainha sua madrasta não quer outra mulher no palácio e, como é feiticeira, já. soube do encontro e vai matar a futura nora antes do casamento.
— Bem sei. Quando a moça pisar na soleira ia porta do palácio cairá para trás morta.
— E se escapar, há-de vestir um manto que a minha velha lhe dará e morrerá.
— E se ainda desta escapar, uma serpente entrará no seu quarto e a devorará.
Disseram as tres pombinhas uma de cada vez:
Quem isto ouvir e se não calar . Em pedra mármor há-de se tornar…
Pedro ouviu tudo e entristeceu-se com o destino que aguardava a princesa tão confiante no seu futuro. Despertaram os dois e continuaram caminhando até que avistaram a cidade e foram ter ao palácio. Quando subiram a escada para a porta, poucos degraus antes da soleira, Pedro correu, empurrou o príncipe e levantou a moça nos braços atravessando com ela os últimos batentes.
Lá dentro depôs a princesa no chão e sem dizer porque fizera aquele ato, ficou calado. O príncipe admirou-se do atrevimento mas nada disse.
O rei e a rainha fizeram muita festa ao filho à moça, mandando servir o jantar. Quando a princesa ia andando para a mesa, a rainha velha disse:
— Minha filha! Estás toda esfarrapada. Toma essa minha capa.
A princesa tomou a capa e vestiu-a. Pedro, vendo aquilo, arrebatou um prato de sopa que um criado trazia e, fingindo escorregar, entornou todo o caldo em cima da capa, sujando-a por inteiro. Pediu desculpas, mas a moça não pôde ficar com a capa, e o príncipe voltou a emprestar a dele.
Preparou-se a festa do casamento e Pedro procurou o príncipe:
— Príncipe, meu senhor. Sempre ouvi dizer\ pelo senhor que tudo quanto eu pedisse seria satis-, feito. Nunca pedi coisa alguma para mim, mas hoje tenho um favor muito grande a pedir, e que também não me seja perguntado porque estou pe\ dindo.
— Oh! meu amigo! Pede o que quiseres. O que estiver nas minhas mãos será teu…
— Pois príncipe, meu senhor, consinta que eu durma no mesmo quarto dos noivos na primeira noite do casamento e que o noivo não fique lá a noite inteira.
— Tu estás doido, Pedro? Que pedido ê esse?
— E’ um pedido muito sério e se o príncipe meu senhor fizer, nada mais terei que pedir no resto da minha vida.
— Bem, Pedro, como és o meu maior amigo, não te quero recusar esse pedido.
Armou-se uma cama para Pedro, perto da cama dos noivos e, depois da festa, todos se recolheram. Pedro deitou-se, com a espada nua. 0 príncipe e a mulher conversaram até que a moça adormeceu e o marido retirou-se, como tinha prometido. Pela madrugada entrou pela janela uma serpente enorme e foi escorregando, de boca aberta, com os dentes
Dormes, para a princesa adormecida. Pedro puxou a espada e acometeu a serpente com golpes, fazendo-a retirar-se meio morta.
Na luta, Pedro bateu na cama da moça que acordou gritando que a estavam agarrando. O príncipe entrou furioso e mandou prender Pedro como falso e traidor ao seu amo. O rapaz pediu que o rei, a rainha, o príncipe e a mulher o acompanhassem até 0 jardim, e depois receberia o castigo. Seguiram l>ara o jardim e lá chegando Pedro mostrou a serpente morta, toda varada de golpes de espada. E disse:
— Quando eu arrebatei a princesa minha senhora nos braços, é porque se ela tocasse com os pés na soleira havia de morrer logo.
E ficou tornado mármore até os joelhos.
— Quando eu derramei a sopa em cima da prin cesa minha senhora, é que a capa estava enfeitiçada e ela morreria algum tempo depois.
Ficou mármore até o peito.
— Quando eu pedi para dormir no mesmo quarto dos noivos e que o príncipe meu senhor saísse, é porque esta serpente havia de vir devorar a princesa minha senhora.
O príncipe, arrependido, gritou:
— Pedro, meu amigo, e quem é o causador dessa desgraça?
Pedro não falou porque se transformara numa estátua de mármore. A rainha velha caiu morta e 0 príncipe mandou colocar a estátua no jardim, cercada de flores, passando o dia inteiro perto dela, lembrando-se do amigo.
Um ano depois a princesa deu à luz a uma: criança bonita como o sol. O príncipe estava descansando ao pé da estátua quando ouviu um passa-, rinho dizer ao outro:
— O príncipe não desencanta o Pedro porque não lhe tem amor!
— Que deve o príncipe fazer?
— Cortar o pescoço do filho e passar o sangue na estátua. Pedro volta logo a ser homem.
O príncipe nem vacilou. Correu, com a espada na mão, até o berço do filho, degolou-o, encheu uma bacia com o sangue o sacudiu-o em cima da estátua. Imediatamente Pedro saltou para baixo, voltando a ser gente. Nem olhou para o príncipe; saiu até o quarto, onde a princesa chorava a bom chorar vendo o filhinho morto, e segurando a cabeça juntou-a ao corpo, e o menino abriu os olhinhos, chorando por leite. Só ficou um tracinho vermelho no pescoço da criança. Os príncipes abraçaram Pedro e este disse que era feliz porque sabia quanto era querido pelo príncipe.
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Bixa de sete cabeças, de Teófilo Braga, Pedro e Pedrito, de Adolfo Coelho, Pedro e o Príncipe de Consiglierj Pedroso. Minha versão é do Porto e o título obedeceu ao nome do personagem. O tema é popular na Europa, resumindo o tipo do servo fiel. Constitue o Mt. 516 de Aarne-Thompson, Faithful John, o Fiel João, dos contos dos irmãos Grimm, conhecido nas versões orais alemãs, estonianas, finlandesas, dinamarquesas, suecas, flamengas, checas, etc*
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