robledo

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  • em resposta a: Qual o sentido da vida? #73016
    robledo
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    Prezado Vinny

    Vou tentar de novo, mas, em primeiro lugar, baixe as armas.
    Percebo que você formou uma imagem mental do meu tipo de personalidade, assim como eu já formei do seu (com certeza as duas devem ser bem equivocadas), e enquadrou este tipo entre os seus clichês para definir pessoas. Provavelmente o clichê em que eu fui enquadrado não lhe é agradável, posto que todas as suas respostas são agressivas e jocosas.
    Ao ler qualquer mensagem postada por uma pessoa que esteja identificada com idéias pelas quais você possui antipatia (para não dizer desprezo), o texto passa a ter um sentido que, muitas vezes, as palavras não lhe atribuem.
    Não é meu interesse alimentar qualquer tipo de animosidade contra a minha pessoa.
    Não vejo o debate como uma disputa de egos.
    Qualquer discussão só é válida quando, além de usarmos a língua, usamos também os ouvidos(no nosso caso, os olhos) com sabedoria.
    Tentei lhe dirigir algumas perguntas que me pareciam pertinentes com suas colocações anteriores.
    Ou não compreendi a sua resposta, ou não foram compreendidas as minhas perguntas.
    No caso da segunda hipótese, vou explicá-las abaixo:

    – O nosso aparato neurólogico não superou (ou desviou-se) em muito as nossas necessidades de manutenção da espécie? Considerando isto verdadeiro, este fato seria conseqüência de um erro na aleatoriedade biológica ou uma adaptação necessária?
    Você colocou em uma mensagem que nossas particularidades mentais, psicológicas e psíquicas (não com essas palavras, mas foi o que entendi) são fruto da evolução do nosso aparato neurológico frente à necessidade de adequação para a sobrevivência da espécie.
    Ao meu ver, muitas das nossas aptidões (ou predisposições) mentais, psicológicas e psíquicas, vistas somente dentro do âmbito da sobrevivência, parecem ser supérfluas, senão prejudiciais (você citou a metafísica).
    Considerando, que segundo a sua ótica, o nosso aparato neurológico tem sua origem e manutenção na evolução, o fato de ele conter mecanismos que, aparentemente, são supérfluos ou nocivos à nossa sobrevivência, seria um erro biológico ou o amparo a uma necessidade que ainda não reconhecemos ou que não existe mais?
    Havendo erro, ele poderia nos custar a extinção?

    – Em que ponto da nossa história (e por quê?) teria havido o desvio parcial da atividade intelectual da aplicação tecnológica para a busca do conhecimento por si mesmo? Qual(is) o(s) evento(s) que teria(m) motivado este fato?
    A nossa curiosidade é fruto de uma falha genética?
    Quando o homem aprendeu a manipular o fogo, a cozer alimentos, a usar peles de animais como vestimenta, a fazer abrigos, etc…, ele usava de forma nítida a sua capacidade intelectual para desenvolver uma tecnologia que lhe trouxesse bem-estar e lhe garantisse a sobrevivência. Notamos, porém, que alguns de nós, senão todos, temos a tendência de buscar aprender sobre coisas que não têm essa aplicação prática específica.
    Sempre fomos assim? Em caso contrário, em que momento e por quais motivos se processou esta mudança? Seria a curiosidade gratuita uma falha genética?
    Ao invés de pretender refutar precipitadamente a sua opinião, gostaria de conhecê-la melhor.

    Com relação às suas colocações de cunho social, embora me agradasse discutí-las (seria mais fácil chegar ao consenso nestas questões), não sei se esse é o local apropriado.

    Peço desculpas aos demais participantes, caso esteja me desviando demasiadamente do tema da discussão.

    Paz.

    em resposta a: Qual o sentido da vida? #73014
    robledo
    Membro

    Prezados

    Alguns tópicos:

    – Fico impressionado com a compreensão (Vinny e Mceus) tida de uma frase colocada com o intuito de fazer uma alegoria de situações simples em que o ser humano demonstrava iniciativas que, aparentemente, escapavam dos nossos condicionamentos primitivos básicos, considerando que esse tipo de comportamento, embora típico da nossa espécie, não é comum em outros animais. O exemplo me pareceu pertinente para efeito de distinção e não de hierarquia. Creio que V. Sas. preencheram as lacunas de percepção com seus conceitos pré-estabelecidos (preconceitos).

    – Dei uma repassada nas mensagens deste longo fórum e não vi menção alguma de hierarquização das espécies, muito menos posicionando o homem no topo de tal hierarquia.

    “A definição de um Sujeito indeterminado do qual somos o Objeto. Mas a vida de cada um, enquanto existência, é um Objeto do qual não nos reconhecemos como Sujeito.”

    – Com esta frase tentei dizer que posicionamos a temática do Sentido da Vida, tornando este o Sujeito (pratica ações) que agiria sobre nós (Objeto), sendo que polemizamos a maneira como este Sujeito nos condiciona e não, necessariamente, a existência deste condicionamento (sob o qual seríamos passivos). Com isto aceitamos tacitamente que existe um princípio que rege a vida, discutindo somente de que maneira este princípio atua e de onde ele se origina.
    Concluí afirmando que, nesta discussão, não reconhecemos ainda uma predisposição ativa do homem em moldar e dar sentido à vida.

    Prezado Vinny

    O nosso aparato neurólogico não superou (ou desviou-se) em muito as nossas necessidades de manutenção da espécie? Considerando isto verdadeiro, este fato seria conseqüência de um erro na aleatoriedade biológica ou uma adaptação necessária? Necessária para quê? Havendo erro, ele nos custaria a extinção?
    Em que ponto da nossa história (e por quê?) teria havido o desvio parcial da atividade intelectual da aplicação tecnológica para a busca do conhecimento por si mesmo? Qual(is) o(s) evento(s) que teria(m) motivado este fato?
    A nossa curiosidade é fruto de uma falha genética?

    Prezado Mceus

    Na minha opinião, qualquer concepção de vida que venhamos a criar é mais imaginária que real. Sentido puro? Realidade pura? Se observarmos com atenção, veremos que padecemos de uma obsessão por certas simetrias que não existem. Definimos a nossa realidade usando uma ciência que só valida o conhecimento quando este provir de fenômenos que podem ser repetidos e como isto só acontece em condições específicas, explicamos o mundo apenas em certas condições específicas. Me parece ridículo quando vejo, por exemplo, um biólogo renomado dizendo que as Leis da Física isso, as Leis da Química aquilo, como se o universo tivesse que obedecer às regrinhas que formulamos para tentar compreendê-lo com as nossas cabecinhas quadradas.
    É tolice pensar que o que não vemos não existe e o que vemos é real.
    Com base no que vemos diariamente, temos mais razões para acreditar que a Terra é plana do que uma esfera que não é esfera, que gira no vácuo, ao redor de si mesma e de um Sol que arde continuamente pela fusão do Hidrogênio em seu interior. No âmbito das nossas percepções, se a Navalha de Occam tivesse algum valor, dispensaria a segunda hipótese pela sua complexidade, sem precisar chegar na parte da gravidade como curvatura no espaço-tempo.
    Um dos princípios da Leitura Dinâmica é que não precisamos ler uma palavra em sua totalidade (todas as letras) para identificá-la. Os fragmentos de palavras que visualizamos em um texto são instantaneamente comparados com o nosso vocabulário, de maneira que, como um banco de dados, o nosso cérebro preenche as lacunas existentes.
    Por que isso acontece? Porque temos, instintivamente, a necessidade de que o que apreendemos tenha sentido. O nosso cérebro preenche os vazios da nossa percepção com conteúdos já conhecidos (nosso vocabulário).
    Pense que o seu modelo de mundo, subjetivo e pessoal, é fruto deste trabalho de preenchimento de seus vazios de percepção com o seu vocabulário específico. Vocabulário que é proporcional ao âmbito das suas experiências e ao seu aprendizado. Talvez, o incômodo em relação à certas questões, seja conseqüência do fato de que, preenchidas as lacunas com o nosso vocabulário disponível, as mesmas permaneçam sem sentido para nós.

    Por que complicar tanto?
    Porque comemos da fruta da árvore do conhecimento. Porque abrimos a caixa de Pandora.
    Estes mitos tratam disso, de como a curiosidade traz o desconforto. De como, à partir do momento que o homem desperta para o mundo, necessita de uma resposta.
    O “Ganharás teu pão com o suor do teu trabalho.” talvez signifique: “De agora em diante, se queres conhecer a verdade, a procureis, porque não terás descanso enquanto não a encontrares.” ou ” Saberás tanto quanto o teu esclarecimento (ou discernimento) te fizer saber.”
    Olhe ao seu lado e verá quantas pessoas vivem ao sabor de suas paixões, elas não acham nem o mundo, nem a vida complicados.
    Há pessoas que aceitam com a mesma atitude positiva a boa fortuna e as vicissitudes da vida.
    Há pessoas que não aceitam com facilidade nem a boa fortuna nem as vicissitudes da vida.
    Se sentir instigado por questões metafísicas, que, aparentemente, nunca terão uma resposta definitiva é uma opção individual e não uma obrigação.
    Existem pessoas que ao olhar um copo com água até a metade, dizem que ele está meio cheio. Chamam estas pessoas de otimistas.
    Existem pessoas que ao observar o mesmo copo, diriam que ele está meio vazio. Chamam estes de pessimistas.
    Há ainda uma diversidade de minorias que querem saber quanta água há no copo, de onde ela veio, a quem pertence e assim por diante.
    A melhor resposta para todos os cultuadores do copo seria a do sapo de Gibran, ao ser convidado para resolver uma contenda filosófica: “Todos vocês estão certos e nenhum de vocês está errado.”
    Só que, por causa dessa resposta, o sapo foi jogado ao rio.

    em resposta a: Qual o sentido da vida? #73004
    robledo
    Membro

    Prezados

    O nosso pequeno planeta parece, muitas vezes, o reino do caos e em meio a isso procuramos um sentido intrínseco na nossa existência, que consiga justificar os aparentes desníveis que os nossos olhos vêem quando tentam apreender o universo no qual estamos inseridos.
    Vejo o homem como um ser naturalmente subjetivo e pessoal, seguindo estas tendências mesmo quando se propõe a ser objetivo e impessoal.
    Tudo o que produzimos está, portanto, carregado destes dois elementos: subjetividade e pessoalidade.
    Embora tenhamos uma natureza que nos impulsiona a vivermos em grupos (seremos sociais ou, simplesmente, gregários?), temos sérias dificuldades nos relacionamentos com os da nossa espécie. Creio que boa parte destas dificuldades se deve ao fato de que os diversos conceitos subjetivos e pessoais individuais se chocam continuamente e a nossa persistência em defender posições muitas vezes irracionais, só demonstra a transferência da disputa atávica dos animais por espaço, do âmbito territorial para o de uma pseudo-afirmação do indivíduo. Em outras palavras, cada um fala a sua língua e está mais interessado em fazer com que os outros indíviduos a entendam, do que necessariamente falar a língua destes. Todos querem ser compreendidos, mas se dão pouco ao trabalho de compreender. Parecemos todos, pelo menos um pouco, com o americano estilizado que, ao tentar se fazer entender por pessoas que não dominam o inglês, fala alto e devagar, achando que problema de seu interlocutor é de audição ou de inteligência.
    Mesmo no campo das idéias, o ser humano busca a associação em grupos, anulando por tempo indefinido as diferenças dos integrantes ou as assimilando e camuflando de forma que não pareçam conflitantes, na tentativa de, num primeiro momento, sobreviver à agressão de outros grupos antagônicos e, posteriormente, tentar se impor hegemonicamente e é nessa situação última, que seria um hiato de potencial harmonia, que vemos as diferenças intestinas, antes amenizadas, adquirirem uma representatividade que não possuíam.
    Embora, tantas vezes, a defesa da individualidade (em suas mais diversas manifestações) obedeça a um padrão similar à defesa territorial, o que surpreende aqui não é a forma como defendemos as opiniões e as idéias (das mais frívolas às mais complexas), mas o valor que damos a estas expressões, usando mecanismos biológicos de salvaguarda da espécie para preservar as nossas concepções.
    Enquanto o alimento, a água e o ar são vitais à preservação do corpo, parece que as nossas idéias, valores e concepções são fundamentais para a preservação do indivíduo como indivíduo, tendo este a necessidade de se sentir como tal.
    Muitas vezes o contraste da nossa espécie em relação às outras parece ser maior quando rompemos com situações de relativa harmonia tribal para buscar uma afirmação individual que, freqüentemente, não nos traz mais satisfação, que dissabores, dúvidas e insegurança.
    Temos debatido, tentando encontrar um conceito que nos responderia à pergunta: Qual o sentido da vida?
    Porém buscamos um conceito em relação ao qual sejamos passivos, ou seja, uma regra ou lei que nos subordina, condiciona, que determina no todo ou em parte as nossas ações, que é o fiel da balança dos nossos juízos.
    O mais próximo que chegamos desse fiel, com o nosso conhecimento tradicional, é tentar esboçar um quadro dos condicionamentos exercidos pelos mecanismos biológicos no nosso comportamento. Me parece óbvio dizer que a ciência ainda terá muito a nos esclarecer sobre isso.
    Poderíamos usar aqui a filosofia ou a teologia, mas muitos não aceitariam diretivas tão abstratas.
    Entretanto parece que a definição de um sentido específico para a vida é um assunto urgente, na medida de que todos vemos o nosso tempo passando e queremos saber se somos sujeito ou objeto nessa história.
    Como já coloquei antes, temos buscado uma abordagem que nos torna passivos em relação a um conceito de vida, neste contexto cabe a cada um, dentro da sua subjetividade, encontrar a verdade que lhe alimente o espírito e o impulsione a produzir o seu melhor, porque não temos hoje uma verdade que fale a todos com a mesma intensidade. Para uns uma vida pela manutenção da vida basta, para outros é necessário Deus e mesmo esse Deus é diferente segundo a inteligência e a experiência individuais. Para uns a morte é o fim de tudo, para outros há a reencarnação ou transmigração, para outros há paraíso, há o inferno e, talvez, o purgatório. Mesmo que qualquer uma destas acepções ou todas elas sejam verdade, a nossa compreensão desta realidade é limitada pela nossa linguagem e pela nossa própria ignorância, pois em meio a tantas incertezas, uma coisa parece certa: nossa espécie não está no seu ápice.
    Na impossibilidade atual de ter esse conceito de passividade, adequado a todos os tamanhos, sugiro introduzir no debate o conceito de Sentido da Vida no qual somos ativos.
    Colocamos a busca do sentido da vida como a definição de um Sujeito indeterminado do qual somos o Objeto. Mas a vida de cada um, enquanto existência, é um Objeto do qual não nos reconhecemos como Sujeito.
    Embora não veja o ser humano como uma espécie adulta, à partir do momento que resolvemos transformar o mundo para adequá-lo às nossas necessidades, não somos mais crianças e temos de assumir tal responsabilidade de forma individual e coletiva.
    Para encerrar (a mensagem, não o assunto) há uma piada que serve tanto para ateus quanto para crentes:
    “Havia um padre muito piedoso e crente que vivia em uma pequena cidade do interior.
    Certa feita, houveram chuvas fortes nesta cidade, e, em conseqüência disso, uma grande inundação. O padre não se deixou abalar quando a água começou a invadir a sua igreja, permanecendo ali tranqüilamente com a mesma batendo nos joelhos. Algum tempo depois, com a água já na cintura, o padre viu se aproximar, em um pequeno barco, um moço que ele conhecia desde pequeno e que, ao vê-lo falou:
    – Venha padre! Venha que eu vou lhe salvar!
    A isso o padre retrucou calmamente:
    – Não se preocupe, meu filho. Pode ir embora que eu vou ficar aqui. Deus irá me salvar.
    O moço não quis pôr em dúvida a fé do padre, até por que isso é pecado, e foi embora contrariado.
    Passado mais algum tempo, e o padre já com a água no pescoço, se aproximou um helicóptero de salvamento. Um ocupante do mesmo gritou para o padre, jogando uma escada de corda:
    – Venha padre! Segure firme na escada que nós o puxaremos!
    A isso o padre retrucou, não tão calmamente, por causa da água que já entrava pela boca e pelo nariz:
    – Pode ir embora, meu filho. Não se preocupe que Deus irá me salvar.
    O pessoal do helicóptero não entendeu muito bem o que estava acontecendo, mas como haviam outras pessoas a salvar eles foram embora.
    Passados alguns momentos, a água subiu um pouco mais e o padre, que não sabia nadar, morreu afogado.
    Ao se ver no céu (afinal de contas era um padre piedoso), o nosso protagonista irrompeu contra os grandes portões que eram guardados por São Pedro bradando:
    – Quero falar com Deus, agora!!!
    Como Deus é um pai bondoso, que não faz distinções entre seus filhos, recebeu o padre, que chegou logo reclamando:
    – Senhor, sempre fui bom filho, obedeci todos os mandamentos, só fiz o bem e, no momento que deposito a minha vida em tuas mãos, me abandonas?
    A isso Deus respondeu:
    – Te abandono? Primeiro te mando um barco e depois um helicóptero. Que mais queria que Eu fizesse? Fosse lá te buscar?”

    P.S.
    Prezado Vinny

    Se olhar com um pouco mais de atenção, verá que, dentre todos os animais, o homem é o único animal que usa sapatos, que se veste, que cozinha, que escreve e lê livros, que manda E-Mail e que se preocupa em provar que a opinião dos outros está errada. Talvez seja o único animal que se pergunta: qual o sentido da vida? E, casualmente, é o único que se preocupa com metafísica. Por que, afinal, somos tão atípicos?

    em resposta a: Qual o sentido da vida? #72995
    robledo
    Membro

    Prezado Mceus

    Na verdade, não foi identificado ainda este ancestral comum, o legendário Elo Perdido.

    Com minhas colocações tento dizer que, acatada a premissa de que o homem pode ser definido exclusivamente como um ser vivo inserido em um determinado meio, devemos buscar sentido para nossas vidas somente na luta contínua pela sobrevivência e proliferação da nossa espécie, pois esse é o caminho ao qual a concepção científica ortodoxa nos conduz.
    Eu discordo desse posicionamento, embora não possa invalidá-lo.
    Afirmo, porém, que esta tese não deveria ser discutida no nível filosófico porque, estando certa ela responde à pergunta que foi feita (qual o sentido da vida?), e, estando errada, ela não admite outra resposta que a si própria.
    Penso que teremos que aventurar-nos no pantanoso terreno da metafísica.

    Até mais.

    em resposta a: Qual o sentido da vida? #72993
    robledo
    Membro

    Caro Mceus

    Penso que, na sua opinião, me corrija se eu estiver errado, você vê o ser humano como um animal que é regido pelos seus condicionamentos naturais, mesmo vivendo nas cidades, mandando e-mails e vestindo terno. Estes condicionamentos têm a sua raiz na luta contínua pela sobrevivência da espécie, que vem sendo travada há milhões de anos, sendo este comportamento análogo ao de outras espécies, principalmente se comparado com o de nossos parentes mais próximos na árvore genealógica da vida.
    Se essa é a sua posição, digo que, ao meu ver, parece uma opinião sensata e esclarecida.
    Em outra mensagem por mim postada, coloquei o fato de que tantas vezes, fora dos círculos acadêmicos, a dimensão animal do ser humano e o seu reflexo no nosso comportamento era esquecida, ignorada ou tratada superficialmente.
    Apesar de reconhecer o fato de sermos animais, penso (e essa é apenas minha opinião) que o ser humano (e talvez tudo na natureza) possa ter uma outra dimensão, uma outra conotação, e que essa nossa inquietação em relação à nossa origem e finalidade seja a percepção (ou instinto) de que existe algo além daquilo que os nossos olhos conseguem ver e os nossos ouvidos conseguem ouvir.
    Com relação à questão da evolução existe por parte da ciência um dogmatismo. O caso do homem, por exemplo, se aceita hoje que a nossa espécie evoluiu de uma mesma árvore de nossos parentes símios. Do ponto de vista da ortodoxia científica, isso é inqüestionável. Mas e a evidência física?
    Não quero contestar o que a “ciência” prega, até porque esta explicação está calcada na investigação científica séria e continuada. O principal aqui é dizer que a ciência rompeu com a religião para que não mais se submetesse aos dogmas e não somente aos dogmas religiosos. Tanto quanto os criacionistas se negam a abrir mão do Gênesis, os cientistas se negam a abrir mão da evolução, só que uns são chamados de fanáticos e os outros de esclarecidos. Dos fanáticos se espera fanatismo, mas dos esclarecidos se espera bom senso e humildade.
    Se a ciência moderna nos ensinou alguma coisa, foi o fato de que nenhuma explicação que ela nos dá é definitiva.
    Penso que a busca por melhores respostas, deve motivar ainda mais o questionamento do nosso modelo de aquisição de conhecimento, visto que o mesmo parece se esgotar, fato já acontecido há cerca de 5 séculos.

    Caro Vinny

    Não compreendi a sua resposta, tanto quanto você não entendeu a minha.
    Considerei o seu exemplo inadequado por considerar como modelo de evolução uma situação em que havia uma população reduzida de indivíduos, número ínfimo de gerações (3) e uma seleção arbitrária (sua) de óbitos (estatisticamente a sua seleção teria a mesma probabilidade de ocorrer que exatamente o contrário, porém, obviamente, o mais provável seria uma população mista, à menos que alguma característica genética dos míopes os tornasse mais aptos neste dado momento, mas aí já seria a sobrevivência do mais apto, não é?).

    Até mais.

    em resposta a: Qual o sentido da vida? #72987
    robledo
    Membro

    Prezados

    A Teoria da Evolução de Darwin tem como objetivo tentar explicar como os seres vivos, interagindo continuamente com o seu meio, se modificam de modo a preservar e proliferar a própria espécie.
    Poderíamos conceber a questão da evolução das espécies como uma demonstração de uma ordem natural das coisas em que os seres buscam uma ascensão qualitativa contínua, porém isso já não seria Biologia, porque o que a ciência só pôde nos mostrar até hoje (e na forma de teoria, vejam bem, “teoria”) é que o espetáculo que a vida tem encenado no decorrer de milênios é a história da sobrevivência.
    No sentido estritamente biológico, o Márcio parece ter razão, pois tudo o que temos visto pelos olhos da Ciência Observacionista Experimental Moderna nos leva a crer que o sentido da vida é um esforço contínuo pela sua própria manutenção.
    Só que este fórum não é sobre assuntos de Biologia, mas sim de Filosofia. Dessa maneira zera-se o placar e geramos outras indagações: Somos somente os nossos genes? Temos uma razão específica para existir? Qual seria essa razão? Devemos atingir alguns objetivos específicos em nossas vidas? E assim vai…
    Para os mais pragmáticos somos somente um ser biológico e toda esta história de alma, anseios, sonhos, etc… é bobagem. Para estes somos controlados pelas nossas predisposições genéticas e nada mais.
    Sendo assim, creio que a participação desta linha de pensamento no debate filosófico já se esgotou, porque a mesma não gera novas idéias nem respostas, somente a defesa de uma posição já conhecida e compreendida há bastante tempo. Uma posição árida e avessa a qualquer conceito metafísico e que, mesmo sendo passível de estar correta, carece de evidências maiores que conjecturas e teorias. Se satisfaz a fome de saber de seus defensores, ótimo, porém isto não parece bastar para tantos outros e assim o trem prossegue a sua viagem, deixando cada qual em sua estação.
    Com relação à idéia de compreender a vida partindo de um ser mais simples para o mais complexo (existem seres mais simples que as bactérias), isto nada mais é que a aplicação do método analítico cartesiano para a compreensão das coisas. Este método é muito interessante e útil, apesar da sua idade (500 anos), porém, atualmente, temos o debate de como essa maneira de ver as coisas (Paradigma Analítico-Mecanicista) nos conduz a percepções parciais do objeto de estudos, à partir do pressuposto de que isola este do sistema do qual faz parte. Aqui chegamos à pertinência de outra colocação do nosso amigo Márcio: a complexidade sistêmica e as suas “conseqüências”. Este tema talvez deva ser melhor debatido em outro fórum, específico do assunto.
    Resumindo: segundo este enfoque, mesmo biologicamente, o sentido da vida da bactéria poderia ser definido pelas suas características individuais e pelas suas relações com o meio ambiente (ativas e passivas). Mesmo identificando analogias biológicas entre o ser humano e as bactérias, temos que reconhecer que a complexidade maior do homem não só orgânica, mas também, de forma ampliada, no nível de suas relações com o seu meio, desqualifica qualquer comparação que busque respostas mais profundas. Outra coisa: até onde sabemos bactérias não filosofam.
    Prezado Vinny
    Seu exemplo não é um pouco forçado, é demasiadamente forçado.
    Primeiro porque a evolução, quando acontece de forma natural, se procede através de longos períodos e inúmeras gerações. Segundo, porque as características que hoje você consideraria como uma vantagem, amanhã podem se tornar um entrave. Nossos conceitos são frutos de nossos padrões e valores e não necessariamente de uma consciência (ou inconsciência) de capacidade de sobrevivência. Terceiro e último: o ser humano, através de seu desenvolvimento tecnológico, conseguiu ludibriar, em parte, o processo evolutivo natural, permitindo que nossas inaptidões sejam transmitidas às gerações futuras (talvez a miopia seja um caso destes).

    Até mais.

    em resposta a: Qual o sentido da vida? #72953
    robledo
    Membro

    Prezado Mceus

    “Mas será que este poder não existe por si?”
    Para esta pergunta não tenho a resposta, somente uma opinião.
    O ser humano, desde que se reconheceu como agente em seu meio, sempre viveu entre sentimentos e percepções conflitantes à respeito de sua origem e finalidade. Aliás, no meu modo de ver, penso que a diferença principal entre nós e os outros animais está no grau de percepção que temos de nós mesmos. Em outras palavras, até onde vai o meu parco entendimento das coisas, considerando a alternativa de nós humanos sermos os animais mais evoluídos do nosso planeta, diria que os seres mais evoluídos são os que possuem maior consciência de si mesmos. Dentro desta perspectiva eu até afirmaria que aqueles dentre nós que possuem, teoricamente, um nível superior, são aqueles que apresentam esta consciência expandida em relação à maioria (os grandes sábios estariam no topo da cadeia evolutiva? – Darwin que não me escute ou leia.). Falar que nós somos racionais, enquanto os outros animais são irracionais, para mim, é demasiadamente simplista, além de errôneo, posto que podemos identificar com facilidade a aplicação de atividade racional, ainda que simples, em diversos animais, ao mesmo tempo que não conseguimos ter a mesma facilidade em relação à nossa espécie (quantas atividades você executa em um dia, fazendo uso de sua capacidade racional?).
    Por outro lado, vejo que a nossa espécie acumulou uma dose suficiente de arrogância, com o passar dos anos, para acreditar-se apartada dos processos naturalmente biológicos. Isto se transformou em um grande engano, na medida que, na maioria das vezes, podemos explicar com mais propriedade o comportamento humano pela sua similitude com o comportamento de outros animais mamíferos do que pela Teoria Psicanalítica de Freud.
    Penso que o nosso inferno íntimo se deve ao fato de que estamos no meio do caminho entre a besta e os anjos. Talvez a nossa evolução nos leve aos anjos, mas, nesse meio tempo, temos que viver com a fera interior, que, deslocada em uma selva de pedra, confunde cargos e salários com comida e água. Talvez sempre decidamos o nosso destino: umas vezes cedendo aos impulsos atávicos, muitos deles agora desnecessários, outras vezes os dominando e tentando alcançar os céus.
    Com relação a este assunto, creio que os memes do Jocax podem ser úteis.
    Um abraço.

    em resposta a: Qual o sentido da vida? #72951
    robledo
    Membro

    O debate que tem acontecido neste fórum prima pelo rico valor da diversidade de idéias aqui postadas e pela maneira cordial com que posicionamentos distintos são assimilados e digeridos.
    Em virtude disso me atrevo a participar com algumas linhas.
    Com relação à concepção de Livre-Arbítrio, copio abaixo mensagem por mim postada no Fórum específico do assunto (Livre Arbítrio ou Determinismo ?):

    Sexta-Feira, 21 de Setembro de 2001 – 03:57 pm



    Prezado Jocax

    O LA conceitual, por definição, prevê que uma força aja somente pela vontade desta força, no caso do indivíduo, segundo este princípio, ele determinaria a sua ação, única e exclusivamente, pela sua vontade.
    A meu ver, isto parece impossível por alguns motivos:

    1- Este conceito, sendo individualista, descarta, como você já bem afirmou, os elementos externos ao indivíduo, aos quais ele, quer queira ou não, está irremediavelmente atrelado. Estes elementos o influenciam e são influenciados por ele continuamente.
    2- O LA pleno, neste conceito, permitiria ao indivíduo fazer o que quiser, não estando sujeito a sofrer as conseqüências de seus atos, a menos que ele desejasse isso.

    Até aí creio que poderíamos concordar. Porém, com tudo isso, não quero afirmar que o ser humano não possui poder algum sobre o seu “destino”.
    Acredito que possuímos algum poder para ditar nossos rumos e alcançarmos sucesso ou fracasso nos nossos intentos.
    Vejo na caminhada dos homens elementos que me induzem a crer em uma boa combinação de um Arbítrio Individual (embora não plenamente “Livre”, ainda assim existente), um Determinismo condicionado por este Arbítrio e um algo mais que você chamaria de aleatoriedade enquanto outros chamariam de Destino, Vontade ou Desígnio Divino (isto já é tema para outra discussão).
    Falando dos dois primeiros (Arbítrio Individual e Determinismo): assim como estudando a história de nosso país compreendemos o nosso presente e vemos um elo de determinismo do passado com a nossa condição atual, o indivíduo também sofre efeitos deterministas, no presente, condicionados pelas suas ações e decisões pregressas.
    As nossas ações atuais, que têm poder de determinar a nossa condição futura, são baseadas nos nossos valores e no nosso conhecimento do mundo, da sociedade e de nós mesmos.
    É bem verdade que existem fatos imponderáveis sobre os quais, aparentemente, não exercemos controle algum, mas talvez o nosso desgosto e sensação de impotência em relação ao ambiente que nos cerca seja mais fruto da nossa ignorância do que de real incapacidade


    Se eu compreendi a posição do Alex, ele fala de interrelação sistêmica entre os diversos elementos (conhecidos e desconhecidos) que formam um Universo dinâmico.
    Concordo com o seu ponto de vista, principalmente na medida em que a mente do ocidental é tradicionalmente linear e dicotomizada.
    Isto se verifica claramente na nossa obsessão por formatos de realidade que tenham claramente delimitados os seus inícios e fins. Por concepções binárias como sujeito e objeto, certo e errado, bom e mau, limpo e sujo, preto e branco, serve e não serve, etc… Verificamos isto na lógica binária utilizada pelo Márcio, que evoluída na forma matemática se transformou na Álgebra Booleana, mãe da revolução digital. É óbvio que esta lógica, hoje, tem espectro reduzidíssimo para responder a questões de maior profundidade, visto que, mesmo no âmbito de algumas aplicações de engenharia, ela teve que ser extrapolada com a criação, nos anos 60, da Lógica Difusa, que apesar de poder admitir muito mais do que apenas 2 respostas possíveis, ainda assim busca as suas respostas através da relação de pertinência de um elemento com 2 conjuntos considerados opostos. A Lógica Difusa nasceu da percepção de que as situações reais do mundo são, em sua grande maioria, predominantemente cinzas e não pretas ou brancas (quantas vezes catalogamos diversas nuances de cinza como preto ou branco?).
    Atualmente é importante que as mentes se tornem mais lúcidas para que deixem cair as barreiras imaginárias que impusemos à nossa avaliação do mundo que nos cerca.
    Creio que me alonguei demasiadamente, portanto deixarei para outro momento o desenvolvimento destas idéias, com o auxílio dos demais participantes.
    “A realidade de um homem é o seu campo de visão” – Edgar Morin.

    em resposta a: Determinismo ou livre-arbitrio? #73544
    robledo
    Membro

    Prezado Jocax

    O LA conceitual, por definição, prevê que uma força aja somente pela vontade desta força, no caso do indivíduo, segundo este princípio, ele determinaria a sua ação, única e exclusivamente, pela sua vontade.
    A meu ver, isto parece impossível por alguns motivos:

    1- Este conceito, sendo individualista, descarta, como você já bem afirmou, os elementos externos ao indivíduo, aos quais ele, quer queira ou não, está irremediavelmente atrelado. Estes elementos o influenciam e são influenciados por ele continuamente.
    2- O LA pleno, neste conceito, permitiria ao indivíduo fazer o que quiser, não estando sujeito a sofrer as conseqüências de seus atos, a menos que ele desejasse isso.

    Até aí creio que poderíamos concordar. Porém, com tudo isso, não quero afirmar que o ser humano não possui poder algum sobre o seu “destino”.
    Acredito que possuímos algum poder para ditar nossos rumos e alcançarmos sucesso ou fracasso nos nossos intentos.
    Vejo na caminhada dos homens elementos que me induzem a crer em uma boa combinação de um Arbítrio Individual (embora não “Livre”, ainda assim existente), um Determinismo condicionado por este Arbítrio e um algo mais que você chamaria de aleatoriedade enquanto outros chamariam de Destino, Vontade ou Desígnio Divino (isto já é tema para outra discussão).
    Falando dos dois primeiros (Arbítrio Individual e Determinismo): assim como estudando a história de nosso país compreendemos o nosso presente e vemos um elo de determinismo do passado com a nossa condição atual, o indivíduo também sofre efeitos deterministas, no presente, condicionados pelas suas ações e decisões pregressas.
    As nossas ações atuais, que têm poder de determinar a nossa condição futura, são baseadas nos nossos valores e no nosso conhecimento do mundo, da sociedade e de nós mesmos.
    É bem verdade que existem fatos imponderáveis sobre os quais, aparentemente, não exercemos controle algum, mas talvez o nosso desgosto e sensação de impotência em relação ao ambiente que nos cerca seja mais fruto da nossa ignorância do que de real incapacidade

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