Início › Fóruns › Questões sobre Filosofia em geral › A verdade › é a verdade objeto da ciência?
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23/04/2001 às 3:16 #69864Miguel (admin)Mestre
Sabemos que é possível se fazer iogurte acrescentando uma pequena quantidade de iogurte velho em uma parte maior de leite, pois o bacillus bulgaricus converterá o todo do leite com o tempo em iogurte novo….
Um belo dia, alguns amigos viram Nasrudin, de joelhos, à beira da lagoa, adicionando um pouco de iogurte velho à água. Um dos homens perguntou:
– O que está tentando fazer, Narudin?
– Estou tentando fazer iogurte.
– Mas vc não pode fazer iogurte desse jeito!
– Sim, eu sei; mas imagine se isso der certo!24/04/2001 às 5:03 #73846Miguel (admin)MestreA subjetividade impera. Quando eu olho para uma barra de um metro de largura, vejo uma coisa que só eu vejo, posto q qualquer pessoa vê diferente. As palavras, idem; nenhuma folha é capaz de comportar a verdade, já q ela é uma experiência subjetiva. Daí concluir q a verdade não é só objeto da ciência, mas de qualquer ser racional, e os caminhos são muitos: ciência, filosofia, religião, arte… cada um desses tópicos se desdobrando em um leque de opções.
07/05/2001 às 18:16 #73847Miguel (admin)MestreVelho o iogurte e água em vez de leite?…
Não tem importância: é de uma lagoa a água, uma lagoa pode ser grandeza, e o iogurte, já estragado em sua velhice, tem a relevância do apodrecimento das coisas que se depuram, o contato das semelhanças à substância conclusiva.
O ato de Nasrudin!?… Ah, é o mais importante!… Aí está o termo de ser, pois transcendência do sonho, vontade, o que se sobrepõe à grandeza e à substância, a diferença primordial.
E pouco significa que o iogurte velho seja largado na lagoa e muito menos se a lagoa é grande ou pequena, mesmo quase uma poça, porque de qualquer maneira é o que se tem, o concreto, a grande oportunidade, e há uma alma sempre se diluindo no jogo das formas, no desaparecimento essencial daquilo que ainda é, o iogurte.
11/05/2001 às 4:40 #73848Miguel (admin)MestreTransportando de barco um pedante por um trecho de água revolta, Nasrudin disse qualquer coisa que contrariava as normas gramaticais.
– Você nunca estudou gramática? – perguntou o erudito.
– Não.
– Nesse caso, a metade da sua vida se perdeu.
– Minutos depois, Nasrudin voltou-se para o passageiro.
– Você nunca aprendeu a nadar?
– Não. Por quê?
– Nesse caso, toda a sua vida se perdeu: estamos afundando!quanto ao iogurte…
interpreto de duas formas:
1 – ao adicionar água ao iogurte velho para fazaer mais iogurte estamos tentando descobrir a verdade por um meio incorreto e jamais iremos obter o resultado desejado, neste caso refiro-me a ciência como o método errado.
2 – ao adicionar água ao iogurte velho obtendo com isso o resultado desejado, aprendemos que a lógica na qual estamos habituados por vezes nos impede de saltarmos para dentro da verdade última do homem, ou seja, como Dante ensina para se chegar a Deus devemos soltar as amarras razão e antes de Dante temos Platão com sua caverna.
14/05/2001 às 0:20 #73849Miguel (admin)MestreConveniente o poema do americano J. Michel Yates, “três linhas duas vezes”:
Dentro do rio, pedras rolam
E descobrem seus fundos escuros e molhados.
Debaixo delas, tudo morre de viagem e luz.Olhe para o alto.
Verifique os gansos.
Siga o outro caminho.15/05/2001 às 23:07 #73850Miguel (admin)Mestrebastante…belo poema
17/05/2001 às 0:44 #73851mceusMembroSe há verdade, há tbm sua antítese, a “anti-verdade”, o falso, se não encontrarmos a verdade, encontramos o que é falso, ou até a quase verdade, ou quase mentira, falsidade, ora, pq aquilo que não é verdade, é falso, ou quase verdade? Pq nos limitamos gramaticalmente? Pq nossa consciência é apenas reflexo da gramática? Notem, algo está errado, a ciência busca essas verdades, mas elas já não existem? Pq descobri-las as tornam verdades?
…
Olhe para o alto.
Verifique os gansos.
Siga o outro caminho.17/05/2001 às 1:16 #73852Miguel (admin)MestreVERDADE?
Um dia Nasrudin estava sentado na corte. Queixava-se o rei de que seus súditos eram mentirosos.
– Majestade – disse Nasrudin -, há verdade e verdade. As pessoas precisam praticar a verdade real antes de poderem usar a verdade relativa. Mas sempre tentam inverter o processo. Resultado: sempre tomam liberdades com a sua verdade humana, porque sabem, por instinto, que se trata apenas de uma invenção.O rei achou a explicação complicada demais.
– Uma coisa tem de ser verdadeira ou falsa. Farei as pessoas dizerem a verdade e, com essa prática, elas adquirirão o hábito de ser verazes.Quando se abriram as portas da cidade, na manhã seguinte, uma forca se erguia diante delas, controlada pelo capitão da guarda real. Um arauto anunciou:
– Quem quiser entrar na cidade terá de responder primeiro com verdade à pergunta que lhe será formulada pelo capitão da guarda.Nasrudin, que estava esperando do lado de fora, foi o promeiro a dar um passo à frente.
O capitão dirigiu-se a ele:
– Aonde vai? Diga a verdade; a alternativa é a morte por enforcamento.
– Vou – replicou Nasrudin – ser enforcado naquela forca.
– Não acredito em você!
– Pois, muito bem. Seu eu disse uma mentira, enforque-me!
– Mas isso faria dela uma verdade!
– Exatamente – confirmou Nasrudin -, a sua verdade.17/05/2001 às 14:09 #73853Miguel (admin)MestreVERDADE MESMO?
O tão cativante Nasrundin atrapalhou-se!… Ele nunca devia ter dito a última frase, nunca – exatamente, a sua verdade!… Ele tropeçou, concluiu o espanto, deu termo à verdade.
Ele quis imperativos, como quase todos, e, com certeza, isto nunca se recomenda, nunca! O ilimitado ainda não tem limites, embora os equívocos também tenham lá os absurdos de suas validades.
E não cabem os rigores de uma Lógica que se quer dual. O mundo consome-se múltiplo e infinito, perde-se em impossibilidades, o dual pode ser presunção, talvez heresia, não obstante (ainda importante repetir Heráclito) o sol tem a largura do pé humano – é só levantar o pé e coloca-lo diante do sol para conferir.
Dentro do rio, pedras rolam
E descobrem seus fundos escuros e molhados.
Debaixo delas, tudo morre de viagem e luz.18/05/2001 às 1:32 #73854Miguel (admin)Mestreconcordo com vc.
não posso deixar de concordar que o mestre nasrudin com a sua última frase perde parte do impacto da sua demonstração…nasrudin contudo não tem a pretensão de produzir a iluminação completa… nasrudin busca apenas agir feito um espírito livre que coça as feridas das pessoas e depois deixa o cenário… deixa o cenário da verdade que já existe… as verdades já existem é verdade! mas onde elas estão???? nasrudin brinca com isto… brinca com as verdades perenes
obs; legal o comentário sobre Como ser filosofo….
19/05/2001 às 3:01 #73855Miguel (admin)MestreNasrudin não é mestre, Nasrudin é Nasrudin.
Nasrudin não tem pretensão, Nasrudin tem fatos que se constroem nas contingências…E a luz pode não produzir iluminação, embora Nasrudin também não é luz, pois se investe nas contingências e estas já tem luz.
É certo, Nasrudin sempre “deixa o cenário da verdade que já existe”. Mas só o cenário, não a verdade. E que coce as feridas das pessoas… Talvez é cativante também por isso.
Demais, sejamos justos, poupemos Nasrudin: já que é conhecido, ele não é mais passível de definição. Entendam: ele foi mostrado, já não se pode dizer quem é Nasrudin, não mais há cabimento defini-lo. Ele já passa a existir e é livre e pleno nos entendimentos de todos que o vêem.
Finalmente, ante tanta confusão, necessária uma pergunta: em que a verdade serve à Ciência? É possível respondê-la?
19/05/2001 às 13:17 #73856Miguel (admin)MestreERRATA (com as devidas escusas):
Onde se lê: Ele já passa a existir e é livre e pleno nos entendimentos de todos que o vêem.
Ler o seguinte: Ele já passa a existir e é livre e pleno nos entendimentos de todos que o vêem e, deste modo, também não há como reprová-lo em sua frase “exatamente, a sua verdade”, restando o protesto apenas em um jogo de preferências.
22/05/2001 às 0:51 #73857mceusMembronão, realmente o equívoco está no objeto, se serve como objeto não pode apenas ser subjetivamente ostentado pelo observador, deve independer deste, parece-me que a verdade é de cada um…portanto não pode ser objeto da ciência…
22/05/2001 às 3:55 #73858Miguel (admin)MestreLUZ E ILUMINAÇÃO
Em uma ocasião um vizinho encontrou Nasrudin de joelhos como se estivesse a procurar algo….
– O que foi que vc perdeu , mulla?
– Minha chave – respondeu Nasrudin.entretidos na busca por alguns minutos, o outro homem pergunta:
– Onde foi que deixou a chave cair?
– Em casa.
– Então por que, santo homem, está procurando-a aqui?
– Por aqui há mais luz.quanto a pergunta…. sei lá…“…a dúvida é o preço da pureza…”
22/05/2001 às 12:12 #73859Miguel (admin)MestreO ILUMINADO
Eis que um indivíduo procurava acertar uma barata com a ponta de uma chave. Era uma barata um tanto grande, daquelas bem pretas e repugnantes, com os poderosos ares dos esgotos, que dá arrepios a muitas senhoras e senhoritas.
A barata estava em uma porta. Nela, ora andava de um lado para outro, ora ficava parada balançando suas antenas compridas e um pouco encurvadas, à espera não se sabe de que… Havia um extremo jogo entre a persistência e a habilidade.
O indivíduo segurava a chave, mostrando grande firmeza e precisão, repetidamente tentava acertar a ponta da chave na barata. Então esta, ligeira como toda barata, também repetidamente mudava de lugar bem lépida e o pobre do homem acertava o nada da tábua da porta. A determinação do homem era tanta que, mal sucedido, se desequilibrava e às vezes caia.
Uma pessoa que ia passando não pôde conter a curiosidade. Estranhou sobremaneira a atitude daquele indivíduo. Resolveu facilitar as coisas: equilibrou-se em um só pé e retirou o sapato do outro. Incisivo deu boa sapatada na barata que caiu fulminada no chão.
Então indivíduo da chave, muito contrariado, disse ao intrometido: Homem, por que fez isso? E agora, como vou entrar em minha casa?… Você matou a fechadura!!!
O preço da pureza não é a dúvida, mas outro, a certeza.
Afinal, cabe a insistência na pergunta: em que serve a verdade à Ciência?
ADEMAIS: Se a verdade é de cada um, como o que serve de objeto, ou mesmo o equívoco, não pode ser subjetivamente ostentado pelo observador? Como a verdade de cada um não pode ser objeto da Ciência?
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